Game Consoles - arte de Rachid Lotf - ArtStation
Game Consoles - arte de Rachid Lotf - ArtStation

A maioria de nós, gamers, iniciou no mundo dos videogames muito cedo e, com o passar dos anos, fomos acumulando experiência memoráveis em diversas plataformas. Mas aposto você nunca parou pra pensar por que os consoles têm os nomes que têm.

Não se engane, quando falamos de ícones como Atari, Nintendo, PlayStation ou Xbox, não estamos falando apenas de nomes de produtos de consumo – estamos falando de narrativas cuidadosamente construídas para criar uma identidade e conquistar o coração (e o bolso) do público.

Por trás de cada um desses nomes, existe uma história, um conceito e, quase sempre, o desejo de impor domínio em um mercado que, assim como em outros segmentos, também é marcado pela competição feroz entre as grandes corporações. E não é à toa que esses nomes acabam influenciando tanto a nossa relação com os videogames. Já percebeu isso?

Hoje vamos explorar juntos o que está por trás de alguns dos nomes mais icônicos e como eles refletem as ambições, as estratégias e as manobras das gigantes do videogame.

Cada escolha teve um propósito e, por vezes, revela a necessidade de se adaptar ou se reinventar em um mercado que não perdoa “os vacilos”.

Então, fique conosco até o fim e descubra os significados dos nomes ficaram na nossa memória de infância e como, no fundo, dizem muito sobre a maneira como essas corporações enxergam o mundo.

Os Primeiros Consoles e Suas Identidades

No início da era dos videogames, a tecnologia era vista quase como um toque de bruxaria, algo que prometia abrir portas para um futuro que ninguém ainda conseguia imaginar por completo.

Cada console lançado trazia consigo uma aura de novidade, e seus nomes eram parte essencial dessa identidade. Além de sustentar um fetiche pelo misterioso.

Aliás, eles não só chamavam a atenção do público, mas também ofereciam um vislumbre do que estaria por vir, encapsulando a promessa de inovação em um período de transformações rápidas e profundas.

Atari 2600 – Nasce Uma Lenda

Quando o Atari Video Computer System (VCS) chegou ao mercado em 1977, ele se tornou bem rápido o primeiro grande sucesso comercial dos consoles domésticos.

Consoles - Nolan Bushnell, criador do Atari - Imagem Getty Images
Nolan Bushnell, criador do Atari – Imagem Getty Images

A própria palavra “Atari” já tem uma origem fascinante. Foi escolhida pelo cofundador Nolan Bushnell, Inspirado por causa do jogo de tabuleiro Chinês “Go”. “Atari” é uma expressão usada quando uma peça está prestes a ser capturada, indicando um momento de tensão e perigo iminente.

Jogo de Tabuleiro chines GO - Imagem Goban1 - Wikipédia
Jogo de Tabuleiro chinês GO – Imagem Goban1 – Wikipédia

Mas o que há por trás do enigmático “2600” que veio depois? Curiosamente, o nome foi retirado do número do protótipo interno do sistema, o “CX2600”.

Na época, a Atari preferiu manter esse código, sem imaginar que se tornaria um dos nomes mais reconhecíveis da história dos videogames.

Essa escolha de nome não foi por acaso, e ela refletia perfeitamente a natureza competitiva e estratégica que definiria o mercado dos videogames.

O termo também transmitia uma sensação de desafio e superação, elementos fundamentais que transformaram a marca Atari em um símbolo de inovação e liderança.

Magnavox Odyssey – Uma Odisseia Tecnológica

Se o Atari 2600 foi o grande nome que popularizou os videogames, o pioneiro foi o Magnavox Odyssey, lançado em 1972.

Muito mais do que um simples console, o Odyssey representava uma verdadeira “odisseia” tecnológica em um tempo onde a ideia de jogar videogames na sala de casa era pura ficção científica. – Uma “viagem” ou algo surreal.

Consoles - Magnavox Odyssey - Imagem Evan-Amos - Wikipédia
Magnavox Odyssey – Imagem Evan-Amos – Wikipédia

E a escolha do nome foi certeira! Isso porquê a palavra “Odyssey” significa aventura, descoberta em uma jornada para o desconhecido. O mercado de videogames nem existia, entende!?

A Magnavox, por sua vez, tinha grandes aspirações para o Odyssey. Ralph Baer não queria só criar uma máquina de entretenimento; ele queria dar início a uma nova era, algo que pudesse unir as famílias em torno dessa nova e empolgante forma de aparelho eletrônico.

Ralph Baer segurando o protótipo do primeiro console de videogame
Ralph Baer, criador do Magnavox Odyssey – Imagem Jens Wolf / AP

O Odyssey foi visto como um passo rumo ao futuro, e seu nome, carregado de simbolismo, representava exatamente essa missão de ser uma “viagem” à frente de seu tempo. Obrigado, Ralph Baer, você estava certo.

Colego Telstar/Vision – Entrando em Orbita

O início da indústria dos videogames também trouxe outros consoles que seguiram essa tendência de nomes megalomaníacos inspirados e carregados de significados.

Consoles -  Coleco Telstar
Console Coleco Telstar

O Coleco Telstar, por exemplo, lançado em 1976, adotou o nome do famoso satélite de comunicação Telstar, que na década anterior havia sido um passo enorme na transmissão global de sinais.

Telstar - O primeiro satelite de comunicações lançado no espaço
Telstar – O primeiro satelite de comunicações lançado no espaço

Ao escolher o nome Telstar, a Coleco quis se associar à ideia de levar a tecnologia de ponta para dentro do lar, conectando as pessoas e oferecendo uma experiência futurista em suas casas.

Perceba que, nessa época, os nomes dos consoles tinham um propósito claro de projetar a ideia de que a diversão eletrônica era a próxima grande revolução.

Mas a Coleco não parou por aí. Quando lançaram o Coleco Vision em 1982, o nome foi definido pelos próprios executivos da empresa para representar sua “visão” inovadora no mercado de consoles.

Imagem do console ColecoVision
ColecoVision – Divulgação

E os caras foram perfeitos nessa previsão. Não eram apenas novas formas de uso para a eletricidade; eram portais para uma nova forma de experimentar o entretenimento, algo que prometia conectar gerações e transformar o que significava brincar, competir e se divertir. E o que temos hoje…??

NES – O Renascimento dos Consoles

Conforme a indústria de videogames saturou no início dos anos 1980, os fabricantes começaram a perceber que os nomes dos consoles precisavam capturar a essência não só da inovação, mas do entretenimento em família ou pequenos grupos.

Cada nome passou a refletir uma visão mais doméstica e pessoal, incorporando conceitos de futuro, tecnologia, mas também a experiência doméstica para toda a família em volta da TV.

No início da década de 80, a indústria de videogames estava em ruínas após o grande crash de 1983, que quase levou o mercado ao colapso.

Foi nesse cenário desanimador que a Nintendo, até então mais conhecida por seus brinquedos e consoles “clones”, decidiu apostar em um novo console doméstico.

FAMICOM – Em 1983, no Japão, surgiu o Family Computer ou apenas Famicom, um console que se aproveitava do hype dos primeiros computadores domésticos e dos videogames. Tudo isso combinado a promessa de entretenimento para toda a família.

Consoles - Nintendo Entertainment System Nintendo Famicom
Nintendo Famicom – Imagem: Evan-Amos – Wikipedia

NES – Já nos Estados Unidos, o Famicom chegou em 1985 com outro visual e nome. O Nintendo Entertainment System (NES), ou “Nintendinho”, precisava se distanciar da imagem negativa dos videogames para ter sucesso.

Vale destacar que a escolha do nome foi novamente uma decisão estratégica e brilhante, porque ao invés de rotular seu aparelho como mais um “videogame”, a Nintendo optou pelo termo “Entertainment System” (Sistema de Entretenimento).

Entenda o raciocínio aqui: Se “brincar” é algo para crianças, “entreter-se” é para todo mundo. “Brincar“ jogando Pong ou “se entreter” jogando Crysis – Qual é a diferença prática, se não o termo mais maduro utilizado?

Veja bem, essa simples mudança semântica tinha um propósito claro de afastar o NES do estigma dos consoles-brinquedo da geração anterior e reposicioná-lo como um produto de entretenimento, inclusive, para toda a família.

O termo “Entertainment System” sugeria algo mais amplo, um sistema que oferecesse uma experiência completa de diversão, transformando o console em um verdadeiro centro de entretenimento doméstico.

E deu muito certo, já que esse posicionamento não só redefiniu a forma como os consumidores enxergavam os videogames, mas também fez com que a Nintendo se tornasse a responsável por revitalizar a indústria e, consequentemente, se tornar um dos fabricantes mais importantes da história dos videogames.

Quem é mais novo, talvez não saiba, mas, “Nintendo” se tornou sinônimo de videogame naquela época, a tal ponto que as pessoas não diziam mais “cara, olha esse jogo”, mas sim, “olha esse Nintendo”. Mesmo que o jogo fosse de outra marca.

Mega Drive – Em Busca do Poder

Enquanto o NES dominava o mercado, a Sega buscava desesperadamente uma maneira de se destacar e desafiar o reinado da Nintendo. Em 1988, a Sega lançou um novo console no Japão, chamado “Mega Drive“.

O nome “Mega Drive” foi pensado para refletir a potência e o avanço técnico do aparelho em relação ao seu concorrente.

Consoles - Mega Drive 1989 - Imagem MD Shock
Mega Drive 1989 – Imagem MD Shock

A palavra “Mega” transmite, até hoje, uma ideia de grandeza e superioridade, enquanto “Drive” remete a sensação de movimento, condução e progresso – conceitos que simbolizavam perfeitamente a visão da Sega para um console de última geração que levaria os jogos a um novo patamar qualidade gráfica.

Mas veja só, nos Estados Unidos, curiosamente o console precisou receber outro nome de última hora.

Como “Mega Drive” já era patenteado por outra empresa e a Sega precisou repensar o nome do console na América.

Então, veio decisão de renomear o console para “Genesis” tinha um significado mais profundo. O nome “Genesis” foi escolhido por sua ressonância cultural e religiosa do público norte-americano.

Console Sega Genesis, lançado nos Estados Unidos em 1989 - Imagem Evan-Amos - Wikipedia
Console Sega Genesis, lançado nos Estados Unidos em 1989 – Imagem Evan-Amos – Wikipedia

A fé cristã é predominante e a palavra “Gênesis” possui um forte significado de “começo” ou “origem”, pois é o primeiro livro da Bíblia.

Dentre muitas ações de marketing, a mudança de nome ajudou a Sega a ganhar mais participação de mercado na américa, já que o Master System não havia ganhado tração.

Super Nintendo – Como Superar a Sí Mesmo?

Quando chegou a hora de lançar o sucessor do fenômeno NES em 1990, a Nintendo optou por uma abordagem simples e eficaz, batizando-o de “Super Nintendo Entertainment System” (SNES) no ocidente e Super Family Computer no Japão.

A adição do termo “Super” era uma forma de comunicar que o novo console era uma versão aprimorada e mais poderosa de algo que já era um ícone absoluto.

Basicamente reforçava a ideia de evolução e progresso que a Nintendo queria transmitir ao público.

Vale comentar que, naquela época, adicionar “Super” ao nome de qualquer coisa era como torná-la automaticamente melhor, criando uma expectativa de que o novo produto ofereceria algo familiar, porém, avançado.

Sega Saturn – Um Console de Outro Planeta

Quando a Sega estava desenvolvendo seu próximo console, que sucederia o Mega Drive/Genesis, eles precisavam de um nome que transmitisse inovação e poder para entrar na era dos gráficos em 3D.

O projeto começou com o codinome “Saturn,” mas, ao contrário de muitos outros consoles que mudaram de nome durante o processo, a Sega decidiu manter esse nome na versão final.

O nome “Sega Saturn” foi escolhido pelos próprios executivos da Sega do Japão, e a decisão não foi aleatória. O Saturno, em referência ao planeta do Sistema Solar, representava a ideia de um console “de outro mundo,” capaz de nos transportar para uma nova dimensão de experiências de jogo.

A escolha também tinha um tom de grandiosidade e inovação, sugerindo que o Sega Saturn estava à frente de seu tempo, pronto para levar os jogadores a um novo “universo” de possibilidades com o 3D.

Além disso, o nome Saturn estava alinhado com uma estratégia que a Sega vinha adotando na época de nomear seus consoles com temas relacionados à tecnologia e ao cosmos. A ideia era criar uma associação entre o console e algo que parecia futurista e avançado, destacando que não se trastava de um novo Megadrive.

Consoles - Sega Saturn Console Set - Mk1 - Imagem Evan-Amos - Wikipédia
Sega Saturn Console Set – Mk1 – Imagem Evan-Amos – Wikipédia

No entanto, apesar de toda a estratégia de branding eficaz em criar uma imagem nova e ainda mais ambiciosa, o Sega Saturn enfrentou dificuldades no mercado com a chegada do PlayStation.

PlayStation – Orgulho Ferido

Quando a Sony decidiu entrar no mundo dos consoles, precisava de um nome que refletisse seu desejo de revolucionar o mercado. Mas, antes disso…

Curiosamente, o nome “PlayStation” surgiu em um projeto fracassado da parceria entre a Sony e a Nintendo para criar um periférico de CD-ROM para o Super Nintendo.

Após o rompimento da parceria, a Sony se sentiu traída pela Nintendo, que fechou um acordo com a Philips no mesmo evento em que, apenas um dia antes, a Sony havia anunciado seus planos de colaboração com a Nintendo.

Com o orgulho feiro, a Sony decidiu seguir em frente com o projeto de forma independente e manteve o nome “PlayStation”.

Ken Kutaragi - Criador do PlayStation
Ken Kutaragi – Criador do PlayStation

O nome “PlayStation” capturou exatamente o que a Sony queria transmitir. A palavra “Play” (jogar) era simples, direta e imediatamente associada à diversão e interatividade.

Já “Station” (estação) sugeria um ponto de encontro, um local dedicado exclusivamente ao lazer e à experiência de jogar e ouvir música.

Ao unir esses dois conceitos, a Sony criou a ideia de uma estação de jogos que ofereceria uma experiência de entretenimento completa, redefinindo o que significava ter um console em casa.

E isso fez cada vez mais sentido com a chegada do PS2, PS3, PS4 e PS5 trazendo novas funcionalidades como assistir filmes, ouvir músicas, acessar a internet e compartilhar conteúdo.

Para a época, o nome “PlayStation” era moderno e futurista, e sua simplicidade e apelo universal transformaram o console em um fenômeno mundial.

Hoje, o nome PlayStation é sinônimo de qualidade e é, talvez a mais fortes na indústria de consoles.

Nintendo 64 – Retomar o Trono na Força Bruta

E aí vem a Nintendo. Lá nos anos 90, a empresa precisava deixar claro que ainda era uma poderia reinar o mercado assim quem entrasse na era 3D. Mas antes de ser chamado de Nintendo 64, o console era conhecido como “Projeto Reality”.

Esse codinome não foi escolhido à toa: ele representava a ambição da Nintendo em entregar um console que proporcionasse gráficos 3D revolucionárias, algo que se aproximasse da “realidade” como nunca visto antes.

O desenvolvimento do Projeto Reality foi resultado de uma parceria entre a Nintendo e a Silicon Graphics, Inc. (SGI), e o objetivo era criar um console que quebrasse barreiras tecnológicas da época. No entanto, ao se aproximar do lançamento, a Nintendo precisava de um nome que comunicasse diretamente sua superioridade.

Console Nintendo 64 - Imagem Evan-Amos - Wikipédia
Console Nintendo 64 – Imagem Evan-Amos – Wikipédia

Foi então que a empresa decidiu batizá-lo de Nintendo 64, com o número “64” fazendo referência ao processador de 64 bits do console.

Uma jogada talvez desesperada, pois ao colocar “64” no nome, a Nintendo transmitia de forma imediata que seu console era tecnicamente superior aos concorrentes da época, principalmente, o PlayStatin, que tinha um processador 32 bits.

Embora o Nintendo 64 não tenha atingido o brilho comercial do PlayStation, seu nome se tornou um símbolo ambição tecnológica, se tornando o segundo melhor console da geração.

A decisão de destacar o poder dos 64 bits foi a última vez que a Nintendo apostou em força bruta como principal diferencial de seus consoles.

A partir da 6ª geração, a empresa mudou sua abordagem, se voltando para conceitos de diversão e inovação que não dependiam apenas de especificações técnicas, reconhecendo que na indústria dos videogames, nem sempre o console mais potente ganha, mas sim aquele com a melhor biblioteca de jogos.

XBOX – Uma Caixa com DirectX Dentro

Na medida em que os consoles foram se tornando mais potentes e o número de empresas se consolidando nesse segmento se tornava cada vez menor, os nomes dos consoles passaram a refletir essa busca por credibilidade e autoridade.

Afinal, as grandes empresas do setor sabiam que não bastava lançar um produto novo, era preciso vender a ideia de que estavam entregando o mais moderno e completo. Não é só sobre vender um videogame; é sobre criar uma identidade, transmitir credibilidade e conseguir ocupar um espaço no mercado.

E a forma mais direta de fazer isso era batizando seus consoles com nomes derivados de outras tecnologias bem-sucedidas ou avançadas.

Quando a Microsoft entrou no mercado de consoles em 2001, eles não estavam para brincadeira. Decidiram que não iriam ficar na sombra da Nintendo, Sony ou Sega. Para isso, precisariam de uma espécie de prova de capacidade ou sucesso prévio.

“DIRECT BOX” seria o password da Microsoft para a indústria dos videogames. Mas, do protótipo até a versão final, chegaram no XBOX que conhecemos hoje.

Consoles - XBOX - Imagem Evan Amos - Wikipédia
XBOX – Imagem Evan Amos – Wikipédia

Explicando: O “X” veio de “DirectX“, a famosa API gráfica da própria Microsoft que já tinha se provado indispensável para jogar no PC. Era a forma de a Microsoft dizer que já possuía experiência no mercado de videogames.

E aí, chamaram de “Box” porque queriam que o console fosse visto como uma verdadeira caixa de ferramentas tecnológicas, capaz de proporcionar uma experiência robusta de entretenimento.

Simples e direto, o Xbox não só entrou no mercado, mas chegou pra mudar a dinâmica do jogo.

A escolha do nome foi a primeira jogada de mestre da Microsoft, mostrando que estavam prontos para brigar de igual para igual com quem quer que fosse, usando sua expertise de outros segmentos a seu favor.

GameCube – De Golfinho a Cubo

O GameCube, da Nintendo, não começou como o “cubo de jogos” que conhecemos. Antes de chegar ao mercado em 2001, ele era um sonho em desenvolvimento chamado “Project Dolphin” (Projeto Golfinho).

Mas por que “Dolphin”? Golfinhos são conhecidos por sua inteligência e agilidade, uma metáfora para a fluidez e versatilidade que a Nintendo queria imprimir em seu novo console. Mas vamos ser honestos: isso era mais do que um codinome bonitinho.

O nome “Projeto Dolphin” veio durante seu desenvolvimento devido ao processador central do console, que foi criado em parceria com a IBM e era conhecido como “Gekko”.

A escolha do nome “Dolphin” refletia a natureza fluida e ágil desse CPU que tinha a proposta de facilitar a vida dos desenvolvedores, algo que a Nintendo aprendera com a Sony/PlayStation.

Além disso, pode-se dizer que era uma tentativa da Nintendo de mostrar que estava abrindo mão de apenas força bruta e criando algo refinado, algo que traria jogos incríveis para o público.

Só que, quando chegou a hora da verdade, a empresa fez o que muitas fizeram na época e optou pelo conceito de óbvio e minimalista.

O nome “GameCube” foi uma escolha pragmática, quase fria. – Por Deus, o que a 6ª geração tinha com “caixas”? – Nada de poesia ou metáforas marinhas. Era literalmente um cubo, e servia para jogar. Simples assim.

Consoles - Nintendo GameCube - Evan-Amos - Wikipédia
Nintendo GameCube – Evan-Amos – Wikipédia

Mas por trás dessa simplicidade, estava uma decisão de marketing calculada, que buscava comunicar de forma direta e sem rodeios o que o produto realmente era.

O “Project Dolphin” representava a ambição, mas o “GameCube” refletia a realidade minimalista da época. A clareza de propósito e a necessidade de ser compreendido de imediato pelo público que não era mais a criançada.

PlayStation 2 totalmente quadrado, XBOX, literalmente uma caixa. DreamCast outro cubinho… Por que o golfinho nadaria contra a correnteza?

DreamCast – Quando o Sonho Enfrenta a Realidade

A história – breve- do Sega Dreamcast é outra que revela muito sobre os sonhos e as lutas (e derrotas) de uma empresa.

Durante o desenvolvimento, nomes como “Katana” e “Blackbelt” foram congitados. “Katana”, a famosa espada japonesa, era uma promessa de precisão e corte afiado na batalha tecnológica que a Sega estava travando.

“Blackbelt” (faixa-preta) soava como um mestre, um especialista, um console que dominaria sua arte como um verdadeiro sensei.

Mas, no final das contas, a Sega escolheu “Dreamcast” – um nome que, de longe, é uma das escolhas mais ousadas e poéticas na história dos videogames.

Veja bem, “Dream” (sonho) e “Broadcast” (transmissão) juntos indicam um console que queria mais do rodar jogos. Queria transmitir uma nova forma de imaginar os games, queria ser a ponte entre os sonhos dos desenvolvedores e os jogadores.

Só que, assim como alguns sonhos, a história não terminou como a Sega esperava.

Consoles - Sega Dreamcast - Imagem Evan-Amos - Wikipédia
Sega Dreamcast – Imagem Evan-Amos – Wikipédia

O Dreamcast não foi o retorno que a Sega sonhava, após o pesadelo comercial que foi o Saturn, mas sua breve passagem é lembrada com carinho e respeito por quem entendeu a proposta.

Nintendo Wii – Um Console Para Todos Nós!

Quando a Nintendo desenvolveu seu console da sétima geração, eles queriam algo que rompesse as barreiras tradicionais dos videogames e alcançasse um público ainda maior. O nome “Wii” foi escolhido pela equipe de marketing e, à primeira vista, pareceu um termo peculiar e fora do comum para um console de videogame.

Mas havia um motivo claro e estratégico por trás dessa decisão. O nome “Wii” é uma referência ao som de “we” (nós, em inglês), sugerindo que o produto para todos – desde os jogadores mais experientes até aqueles que nunca haviam nem relado em um controle antes.

Consoles - Nintendo Wii - Imagem Evan Amos
Nintendo Wii – Imagem Evan Amos

A simplicidade da palavra e a repetição das letras “i” simbolizam dois jogadores lado a lado, novamente sugerindo a ideia de um console que promove a inclusão e a interação entre pessoas.

Além disso, a escolha do nome foi parte de uma estratégia de marketing que buscava um título curto, do tipo “chicletão”, que fosse fácil de pronunciar e memorável em qualquer língua, facilitando a aceitação global.

Com o Wii, a Nintendo conseguiu renovar sua identidade no mercado videogames, declarando que jogar poderia ser uma experiência acessível e divertida em família e grupos pequenos, assim como o NES lá na década de 80.

Wii U – Um Console Para VOCÊ!

Depois do sucesso do Wii, a Nintendo sabia que o próximo console precisaria expandir ainda mais a experiência que havia conquistado o público. Foi então que nasceu o Wii U.

Consoles - Wii U - Imagem Takimata - Wikipédia
Wii U – Imagem Takimata – Wikipédia

A escolha do nome foi visando manter o reconhecimento da marca estabelecida do Wii, mas adicionando um novo elemento que destacasse a diferença da proposta.

O “U” no nome simboliza “you” (você, em inglês), indicando que o Wii U foi pensado para oferecer uma experiência mais individual. Inclusive, isso se refletia principalmente no GamePad, que permitia que cada jogador tivesse uma tela própria, ampliando as possibilidades de jogabilidade e interações únicas.

Nintendo Switch – O Console 2 em 1

Na 8ª geração de consoles nasceu o Nintendo Switch, cujo nome reflete a principal característica: a capacidade de “alternar” entre diferentes modos de jogo.

Nintendo-Switch – Imagem Evan-Amos -Wikipédia

Essa flexibilidade permite que os jogadores experimentem os games no modo tradicional, conectado à TV, ou levem a diversão para qualquer lugar com o console em mãos.

Zeebo – Era o Que Tinha Disponível

Em 2009, o Zeebo foi fruto de uma parceria entre a Tectoy e a Qualcomm, que buscava criar um console acessível para mercados emergentes, como o Brasil e o México.

Mas quando se trata do nome, a história é peculiar. A Tectoy contratou uma agência de Nova York para criar um nome que pudesse ser registrado em todos os países do mundo sem dificuldades. E, após uma longa pesquisa, passando por uma lista de cerca de 10 mil nomes, o resultado foi “Zeebo.”

O que é mais curioso é que “Zeebo” não possui significado em nenhum idioma – nem em chinês, tailandês, ou qualquer outra língua.

Console TecToy Zeebo
Console TecToy Zeebo

Era uma combinação única de letras que não ofendia, não remetia a nada específico, e tinha a vantagem de ser registrável em qualquer lugar do mundo.

De acordo com André Faure, em entrevista exclusiva à Rádio Geek e ao Drops de Jogos no programa NewsGames, esse processo foi detalhado e meticuloso.

Mas aí entra a questão: em um mercado onde a identidade é fundamental, o Zeebo acabou falhando em se conectar com o público. Sua falta de significado e de uma mensagem clara refletia a falta de direção do projeto como um todo. Apesar do esforço em criar algo universal, o console se perdeu não só na falta de identidade, mas também no planejamento e execução do projeto como um todo.

É possível que essa ausência de um propósito concreto tenha contribuído fortemente para o fracasso do Zeebo. Afinal, como dizem, “filho feio nunca tem pai,” e o Zeebo ficou sem significado, sem rumo e, eventualmente, sem lugar.

Último Checkpoint

Ao longo da história dos videogames, muitos consoles surgiram, mas apenas alguns realmente marcaram época.

Se há uma regra que podemos observar, é que, em cada geração, os nomes escolhidos nunca foram uma mera questão de conveniência. Eles refletiram as ambições, as estratégias e até as pressões que as empresas enfrentaram em um mercado em constante mudança. Alguns nomes nasceram de conceitos visionários, enquanto outros foram uma resposta rápida à necessidade de se adequar ao momento.

Houve aqueles que buscaram demonstrar poder e superioridade, e outros que apostaram na simplicidade e inclusão, na tentativa de unir todos em torno da TV, transformando o ato de jogar em uma experiência para todos.

Alguns, no entanto, foram simplesmente fruto da necessidade burocrática de garantir que a marca pudesse ser registrada em diferentes países.

Seja por inovação tecnológica, por questões culturais ou pelo esforço de se adaptar ao mercado global, cada nome carregou consigo uma história. Uma narrativa que, no fundo, revela muito sobre a maneira como as empresas nos veem enquanto consumidores, e como elas desejam ser percebidas.

Como gamers, fazemos parte de algo muito maior. Afinal, somos nós que decidimos quais desses nomes permanecem na memória coletiva e quais serão apagados do mapa. Em última análise, eu diria, somos nós que determinamos quem terá seu lugar garantido na história dos videogames.

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