Gang of Dragon foi anunciado oficialmente durante o The Game Awards 2025 e, desde então, não sai dos debates de quem acompanha a franquia Yakuza há mais tempo. O motivo não é puro hype nem nostalgia barata. É preocupação legítima.
O projeto marca o retorno de Toshihiro Nagoshi, criador e diretor executivo da franquia Yakuza, agora fora da Sega.
Nagoshi deixou a empresa em 2021, logo após finalizar seu trabalho em Lost Judgment, spin-off que muitos consideram um dos pontos mais altos da Ryu Ga Gotoku Studio no quesito narrativa.
Pouco depois, ele fundou a Nagoshi Studio Inc. e iniciou o desenvolvimento de um novo jogo. Esse jogo, agora sabemos, é Gang of Dragon.
Um concorrente para Yakuza?

À primeira vista, as semelhanças saltam aos olhos. Gang of Dragon parece Yakuza demais – ou, pelo menos como costumava ser.
Luta como Yakuza, se passa em áreas que remetem diretamente a Kabukicho e carrega uma identidade visual extremamente familiar. Isso cria um desconforto imediato. Não soa como homenagem. Parece sucessão espiritual direta. Só que Yakuza, ou melhor, Like a Dragon, ainda está muito vivo.

Aqui entra um ponto importante. A mudança oficial do nome da franquia para “Like a Dragon” no Ocidente coincidiu com uma transformação clara de tom. A entrada de Ichiban Kasuga trouxe o RPG por turnos, o humor escancarado e uma abordagem mais cartunesca. Yakuza: Like a Dragon funcionou muito bem. Infinite Wealth, por outro lado, ampliou tanto o lado cômico e o conteúdo secundário que o drama policial perdeu espaço.

A comparação, portanto, não é só visual. Ela é criativa e identitária. Existe uma sensação estranha de Nagoshi estar recriando a “versão antiga” da própria obra, enquanto a RGG segue outro caminho. Isso não soa como plágio, mas levanta uma pergunta incômoda: Quem ficou com a essência original da franquia?
O que Yakuza deixou de ser

Historicamente, Yakuza sempre viveu do contraste. Desde os tempos de PlayStation 2, a história principal se apoiava em crime, corrupção e tragédia, tratadas com seriedade quase melodramática.
Enquanto isso, as substories e minigames funcionavam como válvula de escape. O humor existia, mas ficava bem delimitado. Esse equilíbrio era a essência da franquia.
Podemos citar Yakuza 0 como um ótimo exemplo: drama pesado de um lado, absurdo controlado do outro, sem jamais perder o tom.
Hoje, esse equilíbrio parece totalmente quebrado. Like a Dragon: Infinite Wealth, por exemplo, soa mais interessado em acumular atividades do que em contar uma história com peso. Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii, embora seja assumidamente um spin-off experimental, virou o ponto de ruptura para muitos fãs.
Para quem esperava um retorno às raízes após Yakuza: Like a Dragon, o jogo acabou sendo a consolidação definitiva dessa virada cômica.

É nesse cenário que Gang of Dragon surge como um retorno às raízes. Pancadaria crua, narrativa mais contida e uma atmosfera urbana séria – exatamente aquilo que muitos fãs de longa data sentem falta na franquia principal.
O problema não é a existência desse projeto. O desconforto vem do que ele representa. Gang of Dragon não parece uma alternativa qualquer, mas um resgate direto da identidade que Yakuza gradualmente desconstruída.
Isso cria uma divisão inevitável. Parte do público pode migrar emocionalmente para o projeto de Toshihiro Nagoshi, enquanto a RGG Studio segue expandindo o lado mais caricatural da série.
Reivindicando um espaço vazio

No fim, Gang of Dragon não ameaça Yakuza por ser “mais do mesmo”. Pelo contrário. Ele chama atenção porque parece exatamente o jogo que Yakuza parou de ser.
Não se trata de nostalgia cega, nem de rejeição ao novo. A franquia sempre evoluiu, arriscou e sobreviveu justamente por isso. O problema surge quando essa evolução começa a diluir a identidade que a tornou única. Conforme o humor foi deixando de ser contraste e virou regra. Quando o exagero deixou de ser respiro e passou a conduzir tudo.
Talvez Gang of Dragon não seja um concorrente externo, mas um lembrete. Um sinal de que aquele equilíbrio delicado entre drama policial sério e excentricidade japonesa ainda é valorizado. E que, ironicamente, pode estar sendo recuperado fora da própria casa que o criou.
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