Ralph Baer segurando o protótipo do primeiro console de videogame
Foto: Jens Wolf / AP

Os videogames são hoje uma das formas mais populares de arte e entretenimento em todo o mundo. Entretanto, poucas pessoas sabem da história por trás da origem dos videogames. Desde os primórdios da computação, passando pelos primeiros jogos eletrônicos, até a indústria bilionária que temos hoje, a origem dos videogames têm uma história fascinante e complexa.

Neste artigo, vamos fazer uma pequena viagem no tempo e descobrir um pouco da origem dos videogames, desde a ideia inicial, até o lançamento do primeiro produto comercial – o console de videogames.

William Higinbotham e a origem dos videogames

Desde 1947, o físico americano William Higinbotham, trabalhava como chefe da divisão de instrumentação no Laboratório Nacional de Brookhaven, onde se dedicava a pesquisar usos pacíficos da energia atômica. Uma vez por ano, a instalação de pesquisa do governo realizava uma exposição aberta para o público, sendo um dia dedicado aos estudantes de ensino médio, faculdades e público em geral.

A exibição era basicamente composta por dispositivos tecnológicos estáticos. Na tentativa de torná-los mais interativos e interessantes, Higinbotham, queria trazer algo diferente para entreter os visitantes na exposição de 1958.

William Higinbotham então teve a ideia de criar uma atração interativa ao ler o manual de instruções do modelo 30 de um computador analógico Donner da Brookhaven. Ele descobriu que a máquina poderia calcular a trajetória de um míssil balístico e simular a física básica de uma bola quicando com a resistência do ar e gravidade. Utilizando essa capacidade computacional, Higinbotham desenvolveu um projeto simples e revolucionário, que pode ser considerado o primeiro videogame da história.

A ideia de Higinbotham foi simular uma partida de ping-pong usando um osciloscópio como monitor para exibir as imagens do que estava sendo processadas pelo computador Donner. O dispositivo simulava a trajetória de uma bola que quicava de um lado ao outro e havia uma pequena barreira no meio, que seria uma rede, caso a jogada não fizesse a trajetória correta, a “bolinha” seria barrada ali.

Os controladores eram compostos por um potenciômetro, que girava para os dois lados e controlava a posição do tracinho que representava uma raquete, e um botão simples que acionava a requentada. Tudo isso montado numa pequena caixa de alumínio e conectada ao computador por um cabo elétrico.

“Tennis for Two” – O primeiro dos videogames

A ideia de Hifinbothan era bem simples e, junto com seu colega Dave Potter, elaborou todo o projeto em algumas horas. Três semanas depois, com a ajuda do técnico Robert V. Dvorak, o primeiro dispositivo de videogame estava finalizado e recebeu o nome de Tennis for Two. Pode-se dizer que ele foi a origem dos videogames.

Tennis for Two - primeiro videogame
Tennis for Two – primeiro videogame – Imagem: MEGA – Museu de Arte e Jogos Eletrônicos

Na exposição de 18 de outubro de 1958, Tennis for Two foi exibido pela primeira vez e rapidamente chamou a atenção do público na exposição, recebendo centenas de visitantes, a maioria estudantes do ensino médio, que formavam fila para poder experimentar a grande novidade.

O sucesso foi tão grande que Hifinbothan e sua equipe fizeram uma versão melhorada para a exposição do ano seguinte, trazendo uma tela maior e a possibilidade de simular diferentes níveis de gravidade.

Embora Tennis for Two possa ser considerado a origem dos videogames, o projeto nunca avançou além de uma demonstração tecnológica. Após a exposição de 1959, o equipamento foi desmontado e seus recursos foram direcionados para outros projetos, já que William Higinbotham acreditava que seu trabalho sobre anti-proliferação nuclear era sua contribuição mais relevante para o campo em que atuava. Como resultado, o jogo caiu no completo esquecimento e nunca se tornou um produto comercial.

Ralph Baer e o primeiro console de videogames

Apertar um botão,  em 1972, não significava jogar videogames
Em 1972, o significado de apertar um botão era uma coisa horrível…

No início dos anos 1970, o mundo vivia em um período de tensão geopolítica entre os Estados Unidos e a União Soviética. A Guerra Fria estava em pleno andamento, com ambos os países investindo fortemente em tecnologia militar. Nesse contexto, Ralph Baer, um engenheiro alemão teve a ideia de criar um dispositivo de entretenimento doméstico.

Em 1966, Ralph Baer iniciou suas atividades na Sanders Associates, uma empresa especializada em tecnologia militar. Baer possuía vasto conhecimento em eletrônica e sua experiência o levou a ter um insight: por que não criar um dispositivo que permitisse que as pessoas jogassem jogos eletrônicos em suas próprias casas? Dessa forma, Baer identificou uma oportunidade única para criar um dispositivo que pudesse ser utilizado por consumidores comuns em suas próprias casas. Com a popularidade crescente dos jogos eletrônicos, era evidente que havia uma demanda latente por um produto que oferecesse uma experiência mais acessível e conveniente para os jogadores. Diante disso, Baer decidiu agir e começou a trabalhar no desenvolvimento do que se tornaria o primeiro console de jogos eletrônicos do mundo, o Magnavox Odyssey.

Baer trabalhou em estreita colaboração com a Magnavox, uma divisão da Philips, para desenvolver um projeto de console de videogames doméstico. A Magnavox reconheceu o potencial do projeto e comprou os direitos e o design do console de Baer em 1971.

Em setembro de 1972, foi lançado o Magnavox Odyssey, considerado o primeiro console de jogos eletrônicos de mesa do mundo. Embora “Tennis for Two” tenha sido o primeiro videogame, o Magnavox foi o primeiro produto comercialmente viável dessa categoria. Esse marco histórico dos jogos eletrônicos deu início à indústria multibilionária que conhecemos atualmente.

Um dispositivo simples que encantou

O Magnavox Odyssey - O primeiro videogame
Console Magnavox Odyssey, lançado em 1972 (Foto: Rich Strauss/National Museum of American History, Smithsonian Institution)

O Odyssey era um dispositivo simples e com apenas alguns jogos disponíveis. Ele desbravava um “mar azul” e sem nenhuma concorrência relevante. Os gráficos eram primitivos e o som era rudimentar. O simplicidade do Odyssey encantou a todos oferecendo algo que nunca tinha sido visto antes: a possibilidade de jogar jogos eletrônicos em casa, na televisão, com a família e os amigos. Era incrível, compacto e hipnotizante.

O pacote de lançamento vinha com um conjunto de jogos chamado “Master Game” que incluía alguns títulos:

  1. “Table Tennis” – Um jogo de esportes que simulava um jogo de pingue-pongue usando gráficos de duas linhas na tela. Os jogadores usavam controles para mover suas paletas para bater na bola, e a pontuação era rastreada usando cartões de pontuação que eram fornecidos com o console.
  2. “Ski” – Jogo de esqui onde os jogadores giravam um botão para controlar um esquiador em uma descida de montanha. O objetivo era evitar obstáculos na pista e chegar ao final do percurso no menor tempo possível.
  3. “Simon Says” – Este era baseado no jogo infantil/brinquedo clássico “Simon Says”. O console exibia uma sequência de cores em uma tela, e os jogadores tinham que repetir a sequência corretamente usando botões de controle. A sequência aumentava de tamanho a cada rodada.
  4. “Football” – Um jogo de futebol usando gráficos de duas linhas na tela. Os jogadores usavam controles para mover seus jogadores ao redor do campo e chutar a bola. A pontuação era rastreada usando cartões de pontuação que também eram fornecidos com o console.
  5. “Haunted House” – Um jogo de aventura onde os jogadores moviam um ponto de luz através de uma casa mal-assombrada e tinham que revitar os fantasmas. O objetivo era encontrar tesouros escondidos na casa antes de ser pego pelos fantasmas. O jogo foi um dos primeiros a incluir um elemento de exploração e aventura em um console de videogame, e foi bem recebido pelos jogadores na época.

O legado do Odyssey no mercado dos videogames

Foi um sucesso instantâneo e a Magnavox começou a trabalhar em versões melhoradas do produto. E, já no ano seguinte, a empresa lançou o modelo Odyssey 100, que incluía mais jogos e uma melhor qualidade de imagem.

Em 1975, com concorrendo com a Atari, a Magnavox se põe em movimento continuo e lança o Odyssey 200. Esse novo modelo trouxe a possibilidade de conectar até quatro controladores simultâneos.

Dai em diante, houve uma série de lançamentos bem-sucedidos que chamaram a atenção de outras empresas que abriram concorrência para conquistar uma fatia do mercado. Havia um horizonte muito grande para se explorar e a história da competição entre a Magnavox e Atari fica para um próximo artigo.

O impacto do Odyssey vai além dos jogos eletrônicos. O projeto de Baer foi a origem dos videogames domésticos e demonstrou como a tecnologia pode conectar as pessoas e fornecer entretenimento em um mundo cada vez mais polarizado. Em 1971, o significado de apertar um botão era uma coisa horrível – poderia significar a ativação de uma arma nuclear. E, graças a Ralph Baer e ao Magnavox Odyssey, apertar um botão também poderia significar jogar um jogo com amigos e familiares, e ter um momento de diversão e descontração.

Ralph Baer zerou a vida

Ralph Baer - Criador do primeiro console de videogame
Ralph Baer – Criador do primeiro console de videogame

Ralph Baer faleceu em 2014, aos 92 anos, e seu legado vive até hoje.

Sua história de vida é um exemplo de superação:

  • 1922 – Nasceu em 8 de março em Rodalben, Alemanha;
  • 1938 – Emigrou para os Estados Unidos com sua família para fugir da perseguição nazista;
  • 1943 – Serviu no exército dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial.
  • 1949 – Se formou em Engenharia Eletrônica Instituto de Tecnologia de Nova York (NYIT) em 1949
  • 1953 – Obteve um mestrado em Engenharia Eletrônica pela Universidade de Santa Clara;
  • 1955 – Começou a trabalhar na Sanders Associates, uma empresa de tecnologia militar;
  • 1966 – Apresentou sua ideia para o que se tornaria o Magnavox Odyssey, o primeiro console de videogame doméstico;
  • 1972 – Lançou o Magnavox Odyssey e vendeu cerca de 330.000 unidades;
  • 1984 –  Publicou um livro intitulado “Videogames: In the Beginning”, que contando sua carreira e as primeiras décadas da história dos videogames.
  • 1998 – Entrou para o Hall da Fama da Academia Nacional de Engenharia dos EUA por sua contribuição para o desenvolvimento dos videogames;
  • 2004 – Entrou para o Hall da Fama da Academia de Artes e Ciências Interativas por sua contribuição para a indústria dos videogames;
  • 2006 – Recebeu o Prêmio IEEE Masaru Ibuka Consumer Electronics em reconhecimento ao impacto de suas inovações em eletrônicos de consumo.
  • 2010 – Os Estados Unidos homenagearam com a Medalha Nacional de Tecnologia e Inovação.

Durante sua carreira, muitas organizações reconheceram Ralph Baer com vários prêmios, e a comunidade em geral o considera o pai dos consoles de videogame e sua visão e inovação ajudaram a moldar o mundo da tecnologia de certa forma.

Os videogames domésticos mudaram a forma como nos divertimos. Mesmo em um períodos difíceis em que a humanidade possa viver, eles mostram que é possível usar a criatividade e tecnologia para o bem. A crise sanitária de 2020 foi um caso recente. A demanda por videogames cresceu ao ponto da demanda superar a oferta.

Hoje, os videogames fazem parte da cultura POP e atraem público de todas as idades e gêneros. Ralph Baer, lá na decada de 1970, não poderia imaginar que iniciaria um movimento industrial que movimentaria bilhões de dólares, mais do que o cinema e a música juntos.

E aí, você gostou de conhecer a história sobre a origem dos videogames? Você tem mais algum informação que não citamos aqui? Então compartilhe conosco nos comentários aqui abaixo.

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