Em 1995, os jogos do PlayStation começaram a impressionar com o que o console era capaz. A Sony já estreava reescrevendo as regras da indústria para aquela geração.
Trinta anos atrás, o som magnético de um CD girando dentro do primeiro console da Sony representava uma revolução. Os jogos do PlayStation não eram apenas mais do mesmo – eram o futuro. Os mundos ficavam tridimensionais, os polígonos substituíam Sprite e a imaginação ganhava mais profundidade.
O primeiro PlayStation não nasceu modesto. Ele chegou para desafiar os consoles da Nintendo e da Sega, oferecendo algo que parecia distante: maturidade. O console da Sony falava com adolescentes e adultos, misturando velocidade, atitude e trilhas sonoras que lembravam a filmes num cinema interativo.
Naquele ano, o catálogo ainda era pequeno, porém cheio de experimentação. Jogos de corrida futurista, combates explosivos e RPGs ambiciosos começaram a moldar a identidade da marca. Ali nascia muitas das franquias mais poderosas da história dos videogames.
Três décadas depois, revisitar esses títulos vai além da nostalgia. Para muitos, é abrir um álbum de memórias e notar como o futuro parecia ousado em 1995.
Para quem é mais jovem, esses jogos não apenas marcaram o início do catálogo do PlayStation – eles ajudaram a definir o que significava jogar nessa plataforma.
Battle Arena Toshinden (1 de janeiro)
Desenvolvedores: Tamsoft / Takara / Digital Dialect / Playmates Interactive Entertainment
Antes de Tekken dominar as arenas, Battle Arena Toshinden deu o primeiro grande passo do PlayStation nas lutas 3D. O estilo extravagante, os personagens carismáticos e as arenas giratórias impressionaram quem saía dos fliperamas 2D. Além disso, o jogo exibiu o poder do console e ajudou a vender milhares de unidades nos primeiros meses. No fim, funcionou como vitrine perfeita da nova era tridimensional nos jogos do Playstation.
- Primeiro título de luta 3D totalmente poligonal no PS1.
- Rivais o apelidaram de “o Virtua Fighter da Sony”.
- Introduziu figuras icônicas como Eiji e Sofia, símbolos dos anos 90.
- Suportava som estéreo de alta qualidade, raro no gênero à época.
- Mais que um jogo, Toshinden virou cartão de visitas do 3D no PlayStation.
Jumping Flash! (28 de abril)
Desenvolvedor: Exact e Implicit Conversions Inc.
Jumping Flash! era difícil de descrever na época. Um coelho-robô saltava em primeira pessoa por um mundo colorido e flutuante. Contudo, a mistura de experimentação e charme rendeu história: foi o primeiro platformer 3D real do mercado. A câmera inclinada durante o salto e a leveza da física criaram uma sensação inédita de liberdade vertical.
- Registrado no Guinness como o primeiro jogo de plataforma 3D.
- A câmera inclinava para baixo para ajudar a mirar o pouso.
- Robbit virou “quase mascote” do PlayStation por um breve período.
- Nasceu de uma demo técnica para exibir a renderização do console.
- Provou que a 5ª geração não vivia só de velocidade – podia ser estranhamente encantadora.
Rapid Reload (28 de abril)
Desenvolvedor: Media.Vision
Quando a ação 2D parecia ultrapassada, Rapid Reload (Gunners Heaven, no Japão) provou o contrário. Inspirado por Gunstar Heroes, o jogo misturou cores vibrantes, armas absurdas e ritmo frenético. Assim, ele testou reflexos, paciência e mostrou que o 2D ainda tinha estilo no PS1.
- Famoso pela dificuldade brutal e animações fluidas.
- Armas elementais podiam ser trocadas em tempo real.
- Considerado um dos melhores run and gun esquecidos do PS1.
- Desenvolvido pela mesma equipe que criaria Wild Arms.
- Pura adrenalina condensada em apenas 16 MB e gravado em um CD de 700 MB.
Air Combat (29 de junho)
Desenvolvedor: Bandai Namco Entertainment
Antes de Ace Combat virar franquia lendária, existiu Air Combat. Era simples, porém ambicioso: um jogo de caças totalmente em 3D com sensação inédita de altitude. Assim, entre os primeiros jogos do PlayStation, ele mostrou que o console podia levar “simuladores” ao público doméstico sem perder o apelo arcade.
- Baseado no fliperama da Namco, porém refeito para o console.
- Deu origem ao Project Aces, estúdio que segue com a série.
- Usava nuvens renderizadas e profundidade impressionante para 1995.
- A dublagem “robótica” virou piada querida entre fãs.
- Foi o primeiro jogo a transformar o céu em playground.
Arc the Lad (30 de junho)
Desenvolvedor: G-Craft / Sony Computer Entertainment
Lançado inicialmente só no Japão, Arc the Lad mostrou que a Sony levava o RPG tático a sério. Com combates em grade, trilha épica e elenco memorável, o jogo conquistou fãs além das fronteiras. Apesar do atraso no Ocidente, a reputação cresceu – e virou lenda entre donos de PS1.
- Base de uma franquia que cresceria até o PS2.
- Um dos primeiros RPGs exclusivos da Sony.
- Cenas animadas e dublagem impressionavam para a época.
- Chegou ao Ocidente em coletâneas anos depois, virando item de colecionador.
- Foi indício claro de que o PlayStation tinha coração japonês.
J. League Jikkyō Winning Eleven (21 de julho)
Desenvolvedor: Konami
O que começou como um jogo de futebol licenciado no Japão virou a semente de uma das franquias esportivas mais amadas do mundo. J. League Jikkyō Winning Eleven serviu de embrião para Pro Evolution Soccer e, depois, eFootball. Mesmo simples, já entregava física de bola convincente, passes precisos e a base da simulação moderna.
- Focado na liga japonesa, com clubes e jogadores reais.
- Primeiro passo da série que evoluiria para Winning Eleven e depois PES.
- Introduziu movimentação fluida e câmeras dinâmicas inéditas em 1995.
- O sucesso local acendeu a rivalidade histórica contra FIFA.
- Ponto de partida de uma lenda do futebol virtual.
King’s Field (21 de julho)
Desenvolvedor: FromSoftware
Antes de Dark Souls e Elden Ring, existia King’s Field. Lento, obscuro e misterioso, o RPG em primeira pessoa jogava você em um labirinto medieval sem tutoriais. Não havia minimapa, nem piedade. Entre os primeiros jogos do PlayStation, ele marcou o primeiro passo da FromSoftware rumo à fama – e plantou o DNA das futuras Soulsborne.
- Lançado apenas no Japão em 1995; o Ocidente conheceu a série na sequência.
- Entre os primeiros RPGs 3D totalmente exploráveis do console.
- Ambientação sombria e ritmo metódico antecipavam a assinatura da FromSoftware.
- Combate e exploração soavam experimentais para a época.
- O ancestral esquecido que moldou a filosofia de desafio e descoberta do estúdio.
Dragon Ball Z: Ultimate Battle 22 (28 de julho)
Desenvolvedor: TOSE / Bandai
Muito antes de Budokai e FighterZ, fãs de anime duelavam com sprites em Ultimate Battle 22. Apesar da jogabilidade truncada, o título virou símbolo da febre de Dragon Ball no Ocidente. Para muitos, ele realizou o sonho de reviver os combates do anime no controle.
- O “22” indica a quantidade de personagens jogáveis.
- Foi um dos primeiros jogos de Dragon Ball lançados fora do Japão (2003, nos EUA).
- Misturou sprites 2D com efeitos de profundidade 3D.
- Ganhou status cult principalmente pela nostalgia, não pela técnica.
- Desbalanceado, caótico e falho – mas, para uma geração, foi o primeiro Kamehameha do PS1.
Rayman (1 de setembro)
Desenvolvedor: Ubisoft
Quando todos corriam para o 3D, Rayman seguiu na contramão. Michel Ancel criou um mundo 2D vibrante, com personagens animados como desenho e trilha encantadora. Assim, o jogo virou um dos primeiros grandes sucessos da Ubisoft. Além disso, lembrou ao mercado que arte pode pesar mais que tecnologia.
- Desenvolvido originalmente para o Atari Jaguar e adaptado para o PS1.
- Chamou atenção pela suavidade das animações e pelas cores vivas.
- Tornou-se um dos mascotes mais reconhecidos dos anos 90.
- Ficou famoso pela dificuldade crescente e pelo design criativo de fases.
- Foi poesia pixelada em um mundo que começava a se render aos polígonos.
WipEout (29 de setembro)
Desenvolvedor: Psygnosis
O futuro ganhou trilha própria – e batia a 140 BPM. WipEout não era só corrida futurista; era declaração de estilo. Com estética de raves britânicas e direção visual da The Designers Republic, o PlayStation passou a parecer o console da geração adulta. Além disso, o jogo conectou velocidade, design e música como poucos.
- Primeira grande trilha eletrônica nos games, com The Chemical Brothers e Orbital.
- O design gráfico influenciou campanhas da própria Sony.
- Apareceu no filme Hackers (1995), reforçando o apelo futurista.
- Tornou-se sinônimo de velocidade, música e atitude.
- Foi o nascimento da “cultura PlayStation”.
Twisted Metal (1 de outubro)
Desenvolvedor: SingleTrac / Sony Interactive Studios America
Em 1995, ninguém imaginava que destruir carros seria tão viciante. Twisted Metal transformou o caos em entretenimento: combate veicular, humor sombrio e personagens insanos. Era Mad Max com DualShock na mão. Entre os primeiros jogos do PlayStation, ele fez o console ganhar um ícone selvagem.
- Criado em cerca de três meses por ex-engenheiros de simuladores militares.
- Cada veículo tinha personalidade e história, raro no gênero.
- O protótipo nasceu do experimento interno High Octane.
- Definiu um subgênero e influenciou Vigilante 8 e outros clássicos.
- Mostrou que o PlayStation não tinha medo de ser violento, insano e superdivertido.
Destruction Derby (20 de outubro)
Desenvolvedor: Reflections Interactive
Antes dos simuladores realistas, existia o prazer de amassar lataria. Destruction Derby colocou a destruição no centro da corrida e provou que perder podia divertir mais que vencer. Com física ousada e colisões convincentes, o jogo virou marco técnico e visual do PlayStation. Além disso, trouxe um espírito “arcade” que grudava nos controles por horas.
- Primeiro jogo de corrida com deformação em tempo real nos veículos.
- Sistema de colisão calculava cada impacto individualmente – inédito em 1995.
- Modo “Destruction Arena” virou espetáculo de caos e febre entre amigos.
- Criado pela Reflections, estúdio que depois assinou Driver e Stuntman.
- Ensinou uma lição simples: às vezes, o caminho mais divertido termina em ferro retorcido.
Beyond the Beyond (3 de novembro)
Desenvolvedor: Camelot Software Planning
Primeiro RPG original lançado no Ocidente para o PS1, Beyond the Beyond ficou marcado pelo charme e pelas limitações. Com trama clássica de heróis e reinos, o jogo deu os primeiros passos do gênero dentro dos jogos do PlayStation. Depois, Final Fantasy VII mudaria tudo. Ainda assim, Beyond the Beyond ajudou a preparar o terreno.
- Desenvolvido pela equipe que criaria Golden Sun anos depois.
- Batalhas em turnos com sprites 2D sobre cenários poligonais.
- Entre os primeiros RPGs oficialmente traduzidos para o inglês.
- Apesar das críticas, manteve base fiel de fãs.
- Não virou lenda, mas pavimentou o caminho para que outras nascessem.
Warhawk (10 de novembro)
Desenvolvedor: SingleTrac / Sony Interactive Studios America
Se Twisted Metal era o caos em terra firme, Warhawk levou a guerra para o céu. Misturando combate aéreo e ação cinematográfica, o jogo exibiu escala e fluidez raras no PS1. Como resultado, Warhawk parecia maior que o próprio console.
- Usava renderização 3D total, com cenários abertos e liberdade de voo.
- Ganhou sequência espiritual no PS3, com multiplayer online.
- Foi desenvolvido em paralelo a Twisted Metal pela mesma equipe.
- Trazia cutscenes em FMV filmadas com atores reais.
- Transformou o poder do CD-ROM em espetáculo visual e narrativo.
Ridge Racer Revolution (3 de dezembro)
Desenvolvedor: Namco
Se o primeiro Ridge Racer apresentou a velocidade, Revolution refinou o estilo. Com gráficos mais limpos, pistas novas e multiplayer via cabo link, a Namco mostrou evolução em menos de um ano. Assim, o PlayStation provou que conseguia se reinventar com rapidez.
- Incluiu modo espelho e pistas inéditas em relação ao original.
- Suportou o acessório “link cable”, permitindo corridas entre dois consoles.
- Permit ia ejetar o disco do jogo para tocar CDs de música durante a sessão.
- Virou demonstração técnica favorita da Sony em feiras.
- Não foi apenas sequência – confirmou o domínio do PS1 no gênero de corrida.
Loaded (15 de dezembro)
Desenvolvedor: Gremlin Interactive
Caótico, violento e estilizado – Loaded mostrou o lado mais sombrio do catálogo inicial do PlayStation. Com visão isométrica e trilha industrial, o shooter parecia um pesadelo cyberpunk. Além disso, foi um dos primeiros a provar que o PS1 podia ser adulto, pesado e perturbador.
- Notável pelo uso intenso de sangue e ambientação gore.
- Cada personagem jogável trazia armas e habilidades únicas.
- Visual mesclava quadrinhos, ficção científica e estética punk.
- A sequência, Re-Loaded, ampliou o universo com humor ácido.
- Provou que o PlayStation não era brinquedo – era válvula de escape para jovens adultos.
NBA In The Zone (12 de dezembro)
Desenvolvedor: Konami
No fim de 1995, a Konami arremessou seu primeiro grande título de basquete no PlayStation. NBA In The Zone trouxe ritmo, energia e realismo inéditos ao esporte nos consoles. Enquanto outras séries soavam arcade, ele buscou simular de verdade o jogo profissional da NBA.
- Licenciado oficialmente pela NBA, com times e atletas reais.
- Entre os primeiros jogos de basquete 3D no PlayStation.
- Tinha narração e comentários – impressionante para a época.
- A franquia evoluiu até o PS2 antes de ceder espaço à NBA 2K.
- Mostrou que o PlayStation podia competir nas quadras – não só em luta e velocidade.
Suikoden (15 de dezembro)
Desenvolvedor: Konami
Em meio a explosões e velocidade, Suikoden surgiu como o primeiro grande RPG do PlayStation. Inspirado em lendas chinesas, o jogo apresentou trama política complexa e mais de cem personagens jogáveis. Além disso, em uma época de cartuchos, Suikoden trouxe profundidade e alma ao formato em CD.
- Baseado na lenda chinesa Shui Hu Zhuan, sobre 108 heróis rebeldes.
- Primeiro RPG do PlayStation lançado pela Konami.
- Trilha sonora orquestrada e tempos de carregamento surpreendentemente rápidos.
- Decisões do jogador alteravam o curso da história – raro em 1995.
- Provou que o PlayStation podia contar grandes histórias, não apenas exibir gráficos.
O Playstation em 1995
Em 1995, o mundo dos games mudava diante dos nossos olhos. Nos primeiros meses, o PlayStation ainda engatinhava, mas já exalava personalidade e potencial. Cada novo lançamento parecia um salto no escuro – e, justamente por isso, empolgava.
Trinta anos depois, revisitar esses títulos é como abrir um diário esquecido da indústria. Cada disco, cada polígono e cada batida eletrônica contam a história de uma era em que jogar significava descobrir o futuro. Assim, a memória vira mapa – e o passado mostra onde tudo começou.
Em 2025, o PlayStation completa 30 anos. Muitos jogos desapareceram, engolidos pelo tempo e pelo mercado. Outros viraram franquias lendárias e eternizaram o nome de seus criadores. Ao olhar para trás, porém, surge um vazio: ideias ousadas demais, séries esquecidas e universos que poderiam ter continuado.
Os jogos do PlayStation brilharam graças a ousadia. E talvez seja hora da Sony lembrar disso outra vez.