Uma violenta tempestade atinge Bridgton, Maine, e faz com que uma árvore caia sobre a residência do artista David Drayton, sua esposa Stephanie e seu filho Billy. Na manhã seguinte, David, Billy e seu vizinho Brent Norton vão à cidade procurar suprimentos, sem notar que uma névoa enigmática está se formando, ao passo que comboios militares percorrem a região. Quando a névoa cobre a cidade, eles ficam retidos ao chegarem ao supermercado local. Dan Miller adverte sobre perigos escondidos.
No interior do supermercado, a Sra. Carmody ganha influência ao afirmar que a névoa é um castigo divino e ao exigir sacrifícios, aproveitando-se do medo dos sobreviventes. Brent, desconfiado, deixa o grupo acompanhado de outros e se desvanece na névoa. David, juntamente com Amanda Dunfrey, Irene Reppler e outros, busca preservar a ordem enquanto enfrenta os ataques das criaturas e a crescente influência da Sra. Carmody.
Um grupo comandado por David se dirige a uma farmácia próxima, porém é atacado por criaturas parecidas com aranhas. O soldado Jessup explica que o desastre foi causado por um experimento militar que criou uma fenda para outra dimensão, mas é rapidamente assassinado por uma criatura.
Quando a senhora Carmody exige o sacrifício de Billy e Amanda. Quando Ollie, o assistente do gerente, os mata, os seguidores recuperam a razão e permitem que David e seu grupo fujam. Ao voltarem à casa de David, encontram Stephanie sem vida. Dando prosseguimento à viagem pela névoa, deparam-se com uma devastação generalizada e avistam uma criatura colossal.
Sem combustível e sem esperança, David usa as últimas balas para eliminar o grupo, incluindo Billy. Quando a névoa se dissipa e o exército chega para exterminar os monstros, ela grita para as criaturas ao sair do carro. Desolado, David desmaia ao perceber que suas ações foram inúteis.
Direção de O Nevoeiro
O diretor de O Nevoeiro é Frank Darabont, um cineasta que apesar de ter uma filmografia curta esteve à frente de grandes sucessos. Por exemplo, alguns dos filmes de Darabont incluem “A Espera de Um Milagre” e “Um Sonho de Liberdade”. Além disso, ele criou e produziu a primeira temporada de “The Walking Dead” (2010), sendo responsável pelo tom inicial da série.
Inegavelmente o diretor tem muita desenvoltura para criar uma narrativa envolvente. Por exemplo, no início do filme “O Nevoeiro” vemos uma introdução breve, porém profunda dos principais personagens da história. Ainda no primeiro ato a tempestade vem, e dá margem para conhecermos melhor David, o pai de família dedicado e Sr. Norton é um vizinho problemático. Em seguida, a trama é conduzida ao Shopping que serve como palco para os ataques viscerais do monstro. Além disso, o monstro do nevoeiro não demora muito para aparecer, o diretor não enrolou muito para introduzir o antagonista.
Para um filmes de 2 horas o ritmo mostrou equilíbrio entre sequências de eventos e o tempo. Outra decisão acertada do diretor foi escalar Rohn Schmidt para cuidar da cinematografia do filme. Uma das cenas mais incríveis é quando David e seus companheiros saem da cidade e posteriormente se deparam com uma criatura colossal com tentáculos.
Vemos apenas uma silhueta enorme escondida entre as nuvens. Essa técnica de mostrar apenas a silhueta de criaturas colossais é bem usada hoje como Ghidorah no filme “Godzilla: O Rei dos Monstros”, também vemos algo parecido na última temporada de Stranger Things. Por fim, uma palavra que define a direção de Frank Darabont em “O Nevoeiro” é ousadia, o cineasta foi além da sua zona de conforto dos filmes de drama, ele adaptou de modo magistral uma das melhores histórias de terror já criadas.
Em que foi baseado O Nevoeiro?
O Nevoeiro é uma adaptação homônima de um conto de Stephen King. O conto foi publicado em 1980, em uma coletânea de contos intitulada Dark Forces e desde então vem conquistando milhares de fãs. Esse conto nunca foi expandido por King, em um romance mais aprofundado, nesse aspecto até lembra o filme “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça”. Em 1985, Stephen King publicou outra coletânea de contos próprios, e também incluiu a história de “O Nevoeiro”. Apesar desse, desses livros terem se tornado Best-Sellers, não ganharam prêmios importantes da literatura americana.
Diferenças entre o livro e o filme
O diretor Frank Darabont adaptou “O Nevoeiro” tomando decisões ousadas e desafiando a percepção dos fãs da obra original. Por exemplo, na obra original King optou por uma abordagem mais enigmática, deixando muitas pontas soltas, como o destino de personagens e origens das criaturas, a fim de motivar o leitor a pensar. No filme, o diretor não teve a menor cerimônia em pôr um fim nos personagens, e trazer à tona os conflitos mais profundos que o cenário possibilita. Algumas das diferenças entre o conto e o filme inclui:
Anos diferentes: Ambientado nos anos 1980, o conto “The Mist” de Stephen King retrata o contexto da época, incluindo as tecnologias e a atmosfera características desse período. Por outro lado, o filme de 2007 atualiza a trama para os anos 2000, incluindo referências mais contemporâneas e o Projeto Arrowhead de maneira mais direta, mantendo a essência da narrativa.
A escolhida: No filme, um inseto gigante caminha sobre a Sra. Carmody sem atacá-la, sugerindo que ela está “protegida” pelo nevoeiro e reforçando seu fanatismo religioso. No conto original, essa cena não existe; Carmody é apenas uma humana fanática, sem qualquer proteção sobrenatural, tornando seu papel menos “místico” e mais terrivelmente realista.
Desfecho final: No filme, David mata todos os sobreviventes por desespero, apenas para ver criaturas gigantes logo após, mas logo percebe seu erro quando um batalhão de resgate enorme chega com dezenas de sobreviventes criando um final tragicamente desnecessário. No conto, ele e sua família continuam a fuga pelo nevoeiro, deixando o desfecho aberto e ambíguo, mantendo suspense e possibilidade de esperança.
O filme tem várias decisões criativas do diretor e apesar de suas decisões ter surpreendido muito os fãs do conto original, o criador Stephen King até mencionou que achou melhor o desfecho final do filme se comparado ao conto.
Outra adaptação de O Nevoeiro
O Nevoeiro não teve nenhuma continuação, porém há uma série que também adaptou a obra de Stephen King. Essa série tem um tom de terror psicológico, por exemplo, as criaturas do nevoeiro estão lá, mas de maneira simbólica. O diretor da série, Christian Torpe, optou por explorar o terror a partir dos medos internos de cada personagem. Diferente do filme a série expande, mostrando personagens presos em diferentes pontos da cidade.
Só foi produzida uma temporada de The Mist (2017), se tornando um fracasso. Podemos ver isso no Rotten, onde a primeira temporada alcançou apenas 45% de aprovação. Esse afastamento da essência da obra original, mostrou a determinação e a ousadia do diretor, porém não passou muito disso, desagradando a maior parte dos fãs.
Orçamento e bilheteria do filme
“O Nevoeiro” teve um custo de produção considerado modesto, estimado em aproximadamente 18 milhões de dólares. O filme conseguiu arrecadar cerca de três vezes esse montante nas bilheteiras, atingindo uma receita mundial de US$ 57 milhões. Embora tenha tido uma repercussão limitada entre críticos e público em geral, o filme pode ser visto como um sucesso comercial dentro do gênero, especialmente considerando seu orçamento modesto e a abordagem mais ousada nas adaptações das obras de Stephen King.
Nesse contexto, a qualidade inconsistente do CGI, que foi criticada, também é justificada, mas não afetou o impacto narrativo da obra. É importante ressaltar que, durante seu lançamento, havia uma concorrência considerável: filmes como Bee Movie – A História de uma Abelha, Onde os Fracos Não Têm Vez e Beowulf estavam em exibição, capturando grande parte do interesse do público e dominando as bilheterias.
Ainda assim, “O Nevoeiro” se estabeleceu como uma obra marcante do terror psicológico, tanto pela sua exploração da natureza humana em circunstâncias extremas quanto pelo final surpreendente que continua a gerar debates.
Crítica
Particularmente, o elemento mais forte de “O Nevoeiro” é o roteiro, cheio de personalidades interessantes, bons diálogos, e profundidade. Por exemplo, o terror externo revela como o medo coletivo faz com que as pessoas procurem líderes carismáticos e soluções imediatas, como a fanática religiosa senhora Carmody, ainda que irracionais. Essa dinâmica se fundamenta na antropologia (ritos de sobrevivência), na psicologia social (obediência e conformidade) e na filosofia (Hobbes, Nietzsche, Camus), expondo o desespero humano frente ao desconhecido.
O personagem Ollie implica que isso é o principal motivo dos humanos terem criado a religião e a política. As críticas mais positivas estão voltadas ao roteiro, atuações do elenco, e cinematografia. Podemos ver o respaldo geral do público no IMDB, onde o filme alcançou 7.1/10 estrelas em uma escala de 364 mil votos.
Vale ressaltar que as críticas mais negativas sobre “O Nevoeiro” gira em torno do CGI que deixou bastante a desejar se compararmos com outros filmes daquele ano. Por exemplo, “Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado”, “Piratas do Caribe: No Fim do Mundo”, e “Homem-Aranha 3” definem bem o padrão CGI bem desenvolvido até aquela época. Assim, “O Nevoeiro” é uma ótima adaptação apesar dos efeitos visuais datados, e proporciona uma verdadeira experiência de terror e suspense.
Trilha sonora de O Nevoeiro
A trilha sonora de “O Nevoeiro” se destaca de várias outras produções do gênero por não incluir uma composição original contínua. O diretor Frank Darabont escolheu usar pouca música, dando preferência a sons do ambiente, como barulhos da tempestade, passos, gritos e ruídos das criaturas, a fim de construir uma atmosfera de realismo opressivo. Essa decisão intensifica a tensão psicológica, inserindo o espectador diretamente no caos experimentado pelos personagens.
A música “The Host of Seraphim”, da banda Dead Can Dance, é o grande destaque do filme, sendo utilizada de forma marcante em seu clímax, intensificando o drama e conferindo ao final uma sensação quase transcendental. Dentro do contexto do filme, essa sonoridade atribui ao desfecho trágico uma sensação de gravidade existencial, intensificando o impacto da escolha de David e criando uma atmosfera de condenação divina ou fatalidade cósmica.
Conclusão
Assim que as pessoas têm medo, elas se voltam para quem as dá alguma explicação. E se essa explicação envolve sangue… então sangue será.” – O Nevoeiro. Acima de tudo, esse filme constrói uma proposta poderosa ao explorar como, diante do medo e da incerteza, as pessoas tendem a se entregar ao lado mais primitivo e bestial da condição humana. Em um cenário de caos, a racionalidade é substituída por desespero e fanatismo, como ilustrado na figura da Senhora Carmody e seus seguidores.
Até o último momento, acompanhamos a degradação emocional de David, que, movido pelo descontrole e pela sensação de que não há mais saída, toma a decisão extrema de matar seu próprio filho e os companheiros de fuga em um gesto que ele acredita ser de misericórdia. Contudo, o desfecho irônico e devastador mostra que, se tivesse respirado e aguardado por mais alguns instantes, poderiam ter sido salvos pelo exército, evidenciando a tragédia da precipitação humana quando dominada pelo medo. Até a próxima!