Montagem com os 10 melhores épicos segundo o American Film Institute
Montagem com os 10 melhores épicos segundo o American Film Institute

Como vocês talvez saibam, nas últimas semanas e meses temos apresentado a vocês algumas listas de melhores filmes da história do cinema norte-americano organizadas e compiladas pelo American Film Institute (AFI). Essas listas são resultado da votação de centenas de especialistas da indústria cinematográfica daquele país. Anteriormente, nós já apresentamos aqui as listas de melhores fantasias, ficções científicas, faroestes, animações e filmes de tribunal compiladas pelo AFI. Nesse texto, apresentaremos a lista de melhores épicos da história segundo o American Film Institute.

Esse gênero cinematográfico, geralmente, se caracteriza por grandes produções que visam impressionar o espectador e, muitas vezes, têm caracter histórico. Por esse motivo, é comum que o enredo desse tipo de filme seja sobre momentos ou passagem históricas de grande importância e que a obra contenha grandes cenas, muitas vezes, envolvendo grandes cenários ou sets e uma enorme quantidade de atores e figurantes. Pode-se dizer que esse gênero teve seu auge nos anos 1950 e 1960, mas até hoje, épicos ainda são produzidos com certa frequência.

Pelas características do gênero, a lista que apresentaremos nos parágrafos abaixo contará com alguns dos mais grandiosos clássicos da história do cinema. Antes de apresentarmos a lista, no entanto, falaremos um pouco sobre o American Film Institute, sobre essa lista e como ela foi feita. Sem mais delongas, vamos lá.

O que é o American Film Institute

A lista que apresentaremos a seguir foi organizada e compilada pelo American Film Institute (AFI) (ou Instituto Americano de Cinema, em tradução para o português), uma organização sem fins lucrativos que é uma das mais importantes da indústria cinematográfica e que foi criada para ajudar na formação de cineastas e para homenagear a herança das artes cinematográficas nos Estados Unidos. O AFI foi criado em 1967 por mandato do então presidente dos Estados Unidos, Lyndon B. Johnson, e tem como missão a preservação da herança cinematográfica norte-americana, além de trabalhar na formação da próxima geração de cineastas e também homenagear os artistas de cinema e seu trabalho.

Afim de cumprir sua missão, o American Film Institute promove diversos programas e desenvolve diversos trabalhos. Entre eles, estão uma escola de cinema, um complexo de salas de cinema, projetos para formação de novos cineastas, organização de festivais e premiações para reconhecer filmes e profissionais do cinema norte-americano.

Além de tudo isso, o AFI também organiza e compila suas famosas listas de melhores filmes da história, chamada de “AFI 100 Years… series” (ou “Série AFI 100 Anos”, em tradução para o português) e que começaram a ser publicadas em 1998. É sobre uma dessas listas que falaremos hoje. Além disso, é bom lembrar, que já falamos tudo sobre o American Film Institute em um texto específico sobre esse tema.

AFI 100 Years… series

Como dito acima, como parte de sua missão, o American Film Institute desenvolve diversos programas e trabalhos. No entanto, o mais famoso desses programas é, seguramente, a serie AFI 100 Years (ou “AFI 100 Anos”, em tradução para o português) que compila listas de melhores filmes, atores, frases e etc. A primeira lista da série foi publicada em 1998 e trazia uma seleção dos 100 melhores filmes da história do cinema norte-americano em comemoração aos 100 anos de cinema. Isso porque, apenas três anos antes, em 1995, se havia comemorado os 100 anos da primeira exibição pública de um filme, ocorrida em 28 de dezembro de 1895 em Paris, na França. Esse dia é normalmente considerado como a data de “invenção oficial” do cinema.

Logo do American Film Institute.
Logo do American Film Institute.

Essa primeira lista, publicada originalmente em 1998 e chamada de “AFI’s 100 Years…100 Movies” (ou “100 Anos…100 Filmes”, em tradução para o português), fez um enorme sucesso com o público e também com profissionais de cinema e jornalistas que cobrem a sétima arte. Por esse motivo, nos anos seguintes, o American Film Institute acabou por publicar diversas outras listas do tipo. Entre 1998 e 2008, o AFI publicou diversos listas que compilavam melhores filmes em diversos gêneros cinematográficos.

Além disso, nesse período, o American Film Institute também compilou e publicou diversas listas de maiores vilões, heróis, maiores atores e atrizes da história do cinema norte-americano, melhores canções e trilhas sonoras, frases mais famosas da história da sétima arte, além de diversas outras listas compilando os melhores em diversas áreas do fazer cinematográfico. Aqui, nesse texto, utilizaremos como base a última dessas listas publicadas pelo AFI.

Publicada em 2008 pelo American Film Institute, a lista chamada de “AFI’s 10 Top 10” compila os 10 melhores filmes da história do cinema norte-americano em 10 gêneros cinematográficos diferentes. No caso desse texto aqui, em específico, falaremos de forma detalhada sobre a seção do “AFI’s 10 Top 10” que lista os dez melhores épicos de toda a história do cinema produzido nos Estados Unidos. Nos próximas parágrafos desse texto, falaremos rapidamente sobre essa lista e sobre como ela foi elaborada.

AFI’s 10 Top 10 – Épicos

Como dissemos acima, as 10 listas que integram o AFI’s 10 Top 10 foram divulgadas em 2008. A divulgação ocorreu durante uma cerimônia televisionada pelo canal CBS e que contou com diversos nomes importantes do cinema norte-americano, como Clint Eastwood, Quentin Tarantino, Kirk Douglas, Harrison Ford, Martin Scorsese, Steven Spielberg, George Lucas, Roman Polanski e Jane Fonda. Dessa forma, como toda a pompa, o American Film Institute anunciaria aquela que seria, até hoje, a última das listas da serie AFI 100 Years.

Para estarem presentes nessa lista, os dez épicos escolhidos para representar esse gênero no AFI’s 10 Top 10 tiveram que obedecer a alguns critérios específicos. Primeiramente, para estar na lista de melhores filmes épicos da história do cinema norte-americano, segundo o American Film Institute, um filme tem que ser, obviamente, um “épico”. O que para o AFI significa ser um filme “em larga escala” e “ambientado em uma interpretação cinematográfica do passado”.

Além disso, da mesma forma que todos os outros filmes presentes em todas as listas compiladas do American Film Institute, para estar presente nessa lista, uma produção tem que ser um longa-metragem. O que para o AFI é todo filme em “formato narrativo” e com uma duração igual ou superior a 60 minutos. Por último, e mais importante que tudo, para estar nessa lista um filme tem que ser “norte-americano”. O que para o American Film Institute é todo “filme em língua inglesa com elementos significativos de produção criativa e/ou financeira dos Estados Unidos”.

Esse é, como dito, provavelmente, o critério mais importante de todos, até porque, como explicado acima, o American Film Institute é uma organização norte-americana criada com o intuito de preservar e promover o cinema produzido nos Estados Unidos. Entre todos os filmes que cumprem esses três critérios, dez foram escolhidos para integrar essa lista.

Por fim, é importante destacar que a escolha dos dez integrantes dessa lista foi feita por meio de votação promovida entre um grupo de 1000 votantes escolhidos entre membros da indústria criativa norte-americana. Dessa forma, estre os jurados estavam pessoas ligadas a produção cinematográfica, como diretores, roteiristas, produtores, atores, atrizes, etc., críticos de cinema, historiadores e estudiosos da sétima arte. Ademais, para a escolha dos 100 filmes que compõem a lista completa do AFI’s 10 Top 10 (10 filmes de 10 gêneros cinematográficos diferentes), cerca de 500 produções cinematográficas foram pré-selecionadas pelo American Film Institute, para a escolha final do júri.

Como já deixamos claro acima, esse texto específico será dedicado a apresentar para nossos leitores apenas as dez produções escolhidas, pelo corpo de jurados do American Film Institute, para integrar a lista de dez maiores épicos da história do cinema feito nos Estados Unidos. No entanto, já publicamos as listas de 10 melhores filmes, segundo o AFI, da história do cinema norte-americano nos gêneros de animação, ficção científica, faroeste, fantasia e filme de tribunal. No mais, sem mais delongas, vamos a lista.

10 – Os Dez Mandamentos (1956)

O décimo colocado dessa lista do American Film Institute é um dos maiores épicos e também um dos maiores filmes bíblicos já produzidos em toda a história do cinema mundial. Além disso, Os Dez Mandamentos é também dono de uma das maiores bilheterias de toda a história do cinema e é, provavelmente, o filme mais conhecido de toda a carreira do grande cineasta Cecil B. DeMille. Aliás, o diretor que era especializado em épicos bíblicos, acabaria por morrer em 1959, pouco mais de dois anos após o lançamento da obra.

Baseado na história de Moisés e como ele deixou o Egito e guiou o povo judeu pelo deserto até a Terra Prometida, Os Dez Mandamentos é, na verdade, o remake de um filme mudo de mesmo nome dirigido pelo próprio DeMille. O filme, em questão, havia sido um grande sucesso de público e crítica, sendo o primeiro épico bíblico dirigido por ele e fazendo com que o cineasta se dedicasse a diversos filmes do mesmo gênero nos anos que se seguiriam.

O filme de 1923 era dividido em duas partes. Uma primeira parte em que era contada a história de Moisés e uma segunda parte, que se passava nos tempos atuais e contava a história de dois irmãos. Como a primeira parte do filme foi a que mais chamou a atenção e recebeu elogios do público e da crítica, ao refazer o filme em 1956, Cecil B. DeMille fez com que o remake fosse inteiramente dedicado a contar apenas a história de Moisés, deixando de fora, assim, a segunda parte do filme original. A escolha se mostrou bastante acertada.

Em 1956, já com uma carreira consolidada, colecionando inúmeros sucessos de bilheteria em sua filmografia e já sendo um dos mais reconhecidos cineastas de Hollywood, Cecil B. DeMille conseguiu que a Paramount Pictures desembolsasse 13 milhões de dólares para a produção de Os Dez Mandamentos, o maior orçamento para a produção de um filme na história do cinema até então.

Com esse valor, DeMille conseguiu contratar um elenco de primeiro linha liderado por Charlton Heston e que contava com nomes, como Yul Brynner, Anne Baxter, Edward G. Robinson, Yvonne De Carlo, Debra Paget, John Derek, Cedric Hardwicke, Nina Foch, Martha Scott, Judith Anderson e Vincent Price. Além disso, o cineasta também pôde contar com uma produção gigantesca para as filmagens da obra.

Os Dez Mandamentos foi filmado em locação, no Egito, no Monte Sinai e na Península do Sinai e também nos estúdios da Paramount, em Hollywood. A produção contou com sets enormes que estavam entre os maiores já construídos em toda a história do cinema até então. Além disso, o filme também contou com a cena mais díficil de ser feita (e possivelmente a mais cara) da história da sétima arte até então.

A famosa abertura do Mar Vermelho levou seis meses para ser completada e contou com cenas filmadas em locação e também cenas filmadas em estúdio, incluindo algumas filmadas em um enorme tanque de água e em uma cachoeira artificial, ambos construídos dentro dos estúdios da Paramount. A cena que combinou diversas técnicas da época é até hoje considerada uma das melhores e mais famosas cenas com uso de efeitos visuais de toda a história do cinema.

Todo esse investimento e trabalho, no entanto, valeu a pena e Os Dez Mandamentos foi um enorme sucesso de público e crítica. Produzido, como dito, a um custo estimado em 13 milhões de dólares, a obra arrecadou, somente durante seu lançamento original, mais de 55 milhões de dólares no mundo todo apenas nos chamados “theatrical rentals”, ou seja, a parte da arrecadação que fica com o estúdio distribuidor do filme, vendendo mais de 122 milhões de ingressos no mundo todo.

Mais de 34 milhões de dólares foram arrecadados somente nos Estados Unidos, garantindo ao filme o primeiro lugar entre as maiores bilheterias de 1956. Os Dez Mandamentos foi também extremamente lucrativo, rendendo mais de 18 milhões de dólares em lucros para o estúdio. A produção não parou de arrecadar nas bilheterias, sendo exibido até o final de 1960 quando a produção já havia ultrapassado a bilheteria de …E o Vento Levou (1939) nos Estados Unidos e também estava a ponto de fazê-lo no mundo todo. Nesse período, o filme começou a enfrentar a concorrência de outro épico bíblico, Ben-Hur (1959), também estrelado por Charlton Heston.

Os Dez Mandamentos foi ainda re-lançado diversas vezes nos anos 1960 e 1970, aumentando ainda mais sua bilheteria. Nominalmente, o filme é dono da segunda maior bilheteria dos anos 1950, aproximadamente 123 milhões de dólares, ficando atrás justamente de Ben-Hur, que arrecadou uma bilheteria estimada em quase 147 milhões de dólares. Calcula-se também que Os Dez Mandamentos tenha vendido, até hoje, 262 milhões de ingressos de cinema no mundo todo.

A famosa cena da abertura do Mar Vermelho em Os Dez Mandamentos (1956). O filme é presença constante em listas do American Film Institute.

No entanto, se considerarmos a inflação, a bilheteria de Os Dez Mandamentos ainda é maior que a de Ben-Hur. Aliás, segundo o Livro dos Recordes se considerada a inflação, o filme seria dono da oitava maior bilheteria de toda a história do cinema, com uma arrecadação estimada em mais de 2.7 bilhões de dólares, se levarmos em conta a inflação até o ano de 2022. Aliás, nós já, inclusive, fizemos uma lista de maiores bilheterias da história do cinema se considerada a inflação.

No mais, Os Dez Mandamentos também fez bastante sucesso com a crítica especializada. Elogiado pela maioria dos críticos da época, o filme acabou por receber sete indicações ao Oscar daquela temporada. Apesar da maioria das indicações terem sido em categorias técnicas, a obra recebeu uma indicação a Melhor Filme, mas acabou perdendo para a aventura A Volta ao Mundo em 80 Dias. Os Dez Mandamentos, no entanto, venceu a categoria de Melhores Efeitos Especiais.

O filme também recebeu uma indicação ao Globo de Ouro, na categoria de Melhor Ator em um Filme Dramático, para Charlton Heston, e indicações em diversas outras premiações importantes. Atualmente, Os Dez Mandamentos é considerado não apenas um dos melhores épicos de toda a história do cinema, mas também um dos melhores filmes da carreira de Cecil B. DeMille. A cena da abertura do Mar Vermelho já é parte do inconsciente coletivo e diversos elementos do filme têm sido usados e copiados em outras produções bíblicas. Em 1999, Os Dez Mandamentos foi escolhido para preservação no National Film Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural.

9 – Reds (1981) – Único representante dos anos 1980 na lista do American Film Institute

O nono colocado dessa lista do American Film Institute é, como a maioria dos filmes dessa lista, sobre um grande momento histórico, na verdade, um dos mais marcantes e importantes do século XX. Ao invés de apenas nos apresentar esse momento, Reds prefere nos mostrá-lo através do olhar de alguém que o viveu de perto, se tornando assim, também um filme biográfico, ou “biopic”, como são conhecidos em Hollywood.

Co-escrito, produzido, dirigido e estrelado por Warren Beatty, Reds conta a história da famosa Revolução Russa de 1917, que transformou a Rússia Czarista na União Soviética, sob o ponto de vista do jornalista e escritor norte-americano John Reed, que viveu todos esses momentos históricos de perto e descreveu-os em seu famoso livro “Dez dias que abalaram o mundo” (1919). Para além disso também, Reds acompanha toda a vida de Reed, e de sua esposa Louise Bryant, durante toda a segunda metade dos anos 1910, até a morte do jornalista em 1920, acompanhando também sua luta política e sua desilusão, até certo ponto, com o que a Revolução havia se tornado.

Projeto pessoal de Beatty, que desde os anos 1960 queria contar a história de John Reed, o ator e diretor só conseguiu convencer algum estúdio a financiar o filme, após o estrondoso sucesso comercial de O Céu Pode Esperar, um mistura de fantasia, comédia, drama e filme esportivo, escrito, produzido, estrelado e dirigido por ele em 1978. Devido a esse sucesso, a Paramount Pictures, que distribuiu O Céu Pode Esperar, aceitou financiar Reds.

Contudo, ao perceber que o tema do filme era extremamente controverso, afinal de contas estamos falando de um filme sobre uma revolução comunista, o estúdio tentou convencer Beatty a abandonar o projeto, prometendo a ele 25 milhões de dólares para que ele investisse em qualquer outro filme que ele quisesse dirigir e estrelar. O ator e diretor, no entanto, recusou a oferta e a Paramount Pictures, por fim, aceitou financiar e distribuir Reds.

A princípio, Warren Beatty só iria produzir Reds, pois sua experiência com O Céu Pode Esperar lhe havia mostrado a dificuldade de produzir, dirigir e estrelar um filme. No entanto, o projeto era tão pessoal para Beatty que ele resolveu, por fim, também estrelar e dirigir o filme. Não apenas isso, o ator e diretor também decidiu dar a Diane Keaton, sua namorada na época, um papel principal no filme, a de Louise Bryant, esposa de John Reed. Dessa forma, Reds se tornou também um filme sobre o relacionamento entre Bryant e Reed.

As filmagens de Reds foram bastante problemáticas, com o perfeccionismo de Warren Beatty fazendo com que os atores repetissem a mesma cena por 70 ou mesmo 80 vezes. A atriz Maureen Stapleton teria, inclusive, questionado a sanidade mental de Beatty após ele fazer com que ela repetisse uma mesma cena 80 vezes. Além disso, outros fatos também afetaram a produção, como o clima desfavorável nas locações, como falta de neve na Finlândia e excesso de chuvas na Espanha.

Isso sem falar na dificuldade em fazer com que membros da produção pudessem trabalhar em alguns países. Na Inglaterra, por exemplo, a produção teve que contratar uma equipe local para conseguir filmar no país, pois não conseguiram autorização dos sindicatos britânicos para que sua equipe pudesse trabalhar em solo inglês. Já nos Estados Unidos, o diretor de fotografia Vittorio Storaro, que era italiano, também não pôde trabalhar devido, igualmente, a falta de autorização dos sindicatos locais.

Com isso, as filmagens de Reds que deveriam durar 15 ou 16 semanas, levaram, de fato, cerca de um ano para serem concluídas. Isso também fez com que orçamento inicial do filme, que era de cerca de 25 milhões de dólares, chegasse ao valor de 32 milhões de dólares, o que equivale a mais de 100 milhões de dólares em valores atuais.

Além disso, Warren Beatty filmou tantos takes diferentes de cada cena que o processo de montagem do filme foi exaustivo, precisando do trabalho de 65 profissionais e levando mais de 1 ano para ser concluído. Dessa forma, o filme que começou a ser rodado em agosto de 1979, só ficou pronto em novembro de 1981. O processo tortuoso para conclusão do filme também causou desarranjo na vida pessoal de Beatty e foi um dos fatores causadores da separação entre ele e Diane Keaton, já que a final das filmagens de Reds, a relação dos dois já estava bastante desgastada.

Lançado nos Estados Unidos em 4 de dezembro de 1981, Reds foi muito bem recebido pela crítica especializada, tendo sido quase que unanimemente elogiado pela maioria dos principais críticos da época. Apesar de seu tema ter causado alguma polêmica, a ponto de o colunista Richard Grenier, acusar o filme de esconder a ideologia comunista dos protagonista do filme. Apesar disso, a produção foi considerada uma das melhores daquele ano.

Por isso, Reds foi também um dos filmes que mais recebeu indicações na temporada de premiações daquele ano. No Oscar, a produção foi indicada em 12 categorias diferentes, incluindo nas de Melhor Filme, Direção, Roteiro Original, Atriz, Ator, Atriz Coadjuvante e Ator Coadjuvante. Nenhum outro filme recebeu tantas indicações quanto Reds naquele ano. Por seu trabalho no filme, Warren Beatty recebeu quatro indicações ao prêmio mais importante do cinema, sendo indicado como produtor (na categoria de Melhor Filme), como roteirista, como diretor e como ator.

Reds, contudo, saiu da premiação daquele ano com apenas três vitórias, nas categorias de Melhor Direção, para Warren Beatty (no que seria o único Oscar competitivo de sua carreira), Melhor Atriz Coadjuvante, para Maureen Stapleton, e Melhor Fotografia, para Vittorio Storaro. Em um ano em que a vitória nas principais categorias foi dividida entre Reds, Num Lago Dourado e Carruagens de Fogo. Sendo que esse último ganhou o Oscar de Melhor Filme daquele ano.

Cena de Reds (1981).

Reds também recebeu sete indicações ao BAFTA, incluindo nas categorias de Melhor Ator, Atriz, Atriz Coadjuvante e Ator Coadjuvante. Aqui, mais uma vez, Maureen Stapleton se saiu bem, vencendo o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante. Já Jack Nicholson venceu o BAFTA de Melhor Ator Coadjuvante, enquanto que Warren Beatty e Diane Keaton perderam, respectivamente, nas categorias de Melhor Ator e Atriz. Dessa forma, Reds venceu em apenas duas categorias no BAFTA daquele ano.

No Globo de Ouro, Reds foi indicado em sete categorias, incluindo Melhor Filme – Drama, Melhor Direção, Melhor Ator – Drama, Melhor Atriz – Drama, Melhor Atriz e Ator Coadjuvante e Melhor Roteiro. O filme, no entanto, acabou só levando para casa o Globo de Ouro de Melhor Direção, entregue a Warren Beatty. Reds também foi indicado (e venceu) diversas outras premiações importantes daquela temporada.

Enquanto a recepção da crítica especializada foi calorosa, a recepção do público a Reds foi bem mais morna. Produzido a um custo, como dito antes, estimado em cerca de 32 milhões de dólares, o filme arrecadou apenas pouco mais de 40 milhões de dólares nas bilheterias norte-americanas. Mesmo assim, a produção foi considerada um sucesso moderado de público e terminou entre os 15 filmes mais vistos dos Estados Unidos naquele ano.

Atualmente, Reds é considerado um dos melhores filmes da carreira de Warren Beatty e também um dos principais filmes e épicos políticos lançados nos anos 1980. Não a toa, a produção foi escolhida pelos votantos do American Film Institute como um dos melhores filmes épicosjá feitos em toda a história do cinema norte-americano.

8 – O Resgate do Soldado Ryan (1998) – Filme mais recente na lista do American Film Institute

O oitavo colocado dessa lista do American Film Institute é o filme mais recente desta lista e também um dos melhores filmes de guerra já produzidos em toda a história do cinema mundial. Dirigido pelo genial Steven Spielberg, O Resgate do Soldado Ryan conta a história de um grupo de soldados que, durante a Segunda Guerra Mundial, é enviado para localizar, resgatar e levar para casa em segurança o soldado James Francis Ryan (Matt Damon), cujo os outros três irmãos morreram na guerra.

O enredo do filme é levemente baseado na história real dos irmãos Niland. Quatro irmãos que lutaram na Segunda Guerra Mundial, sendo que dois deles morreram em combate e um terceiro foi dado como morto, mas foi depois encontrado vivo em um campo de prisoneiros de guerra japonês. Durante o tempo em que se acreditou que apenas um deles havia sobrevivido, o irmão sobrevivente foi enviado para casa.

A história dos irmãos foi recontada pelo escritor Stephen E. Ambrose em seus livros que serviram de base para o roteiro do filme. O enredo de O Resgate do Soldado Ryan foi a princípio concebido pelo roteirista Robert Rodat, a pedido do produtor Mark Gordon que fez com que um rascunho do roteiro chegasse até a Paramount Pictures, onde ele acabou indo parar nas mãos do ator Tom Hanks que se interessou em atuar no filme e levou-o a Steven Spielberg que concordou em dirigir a obra, já que os dois, há algum tempo, queriam trabalhar juntos.

Com a entrada de Spielberg no projeto, a DreamWorks Pictures, do qual o diretor é um dos donos, se tornou uma das co-financiadoras de O Resgate do Soldado Ryan ao lado da Paramount Pictures. Além disso, a Amblin Entertainment, produtora fundada por Spielberg, passou a co-produzir a obra ao lado da Mutual Film Company, de Mark Gordon. Apesar de Gordon e seu sócio, Gary Levinsohn, terem recebido créditos como produtores do filmes eles efetivamente participaram pouco da produção do filme, sendo que quem realmente atuou como produtor foi Ian Bryce, ao lado do próprio Spielberg.

Com esse arranjo e contado com nomes fortes, como Spielberg e Tom Hanks, O Resgate do Soldado Ryan acabou por receber cerca de 70 milhões de dólares para sua produção. Com todo esse orçamento, Spielberg pôde realizar um filme que fosse realístico e conseguisse mostrar de forma bastante aproximada a experiência daqueles que estiveram nos campos de batalha durante a Segunda Guerra Mundial.

A famosa cena do desembarque na praia de Omaha em O Resgate do Soldado Ryan (1998).

Para manter O Resgate do Soldado Ryan o mais realista possível, a obra foi quase toda filmada em locação, principalmente, na Inglaterra e na Irlanda. Além disso, Spielberg completou as filmagens em apenas três meses, imprimindo as filmagens um ritmo mais acelerado do que o normal. O diretor fez isso para não dar descanso aos atores e mantê-los em um estado parecido com o de um soldado em uma guerra, onde não se tem tempo para descanso ou distração.

Spielberg também filmou O Resgate do Soldado Ryan em ordem cronológica, ou seja, as cenas eram filmadas na mesma ordem em que acontecem no filme, algo incomum no cinema profissional, onde as cenas são filmadas na ordem que for mais conveniente e depois são colocadas em ordem no período de montagem do filme. Com a decisão de Spielberg de filmar O Resgate do Soldado Ryan em ordem cronológica, a medida que os personagem iam morrendo os atores que os interpretavam iam deixando as locações, fazendo com o elenco do filme fosse ficando cada vez menor e dando uma sensação de perda parecida com aquela que seria enfrentada por um batalhão em uma guerra.

A cena mais difícil de ser filmada foi a da invasão da praia de Omaha, na França. A cena que, atualmente, é considerada a reprodução mais fiel de uma batalha feita em toda a história do cinema custou 12 milhões de dólares para ser feita e levou cerca de um mês para ser completada. A cena envolveu mais de 1500 pessoas, incluindo atores, figurantes, profissionais por trás das câmeras e, até mesmo, voluntários. O resultado final, no entanto, é impressionante e de tirar o fôlego.

Lançado comercialmente nos Estados Unidos e no Canadá em 24 de julho de 1998, O Resgate do Soldado Ryan foi um sucesso imediato de bilheteria, arrecadando mais de 30 milhões de dólares apenas em seus primeiros dias em cartaz e liderando a bilheteria em seu final de semana de estreia. O desempenho surpreendeu muita gente que não esperava que um épico de guerra, dramático e realista, com quase três horas de duração poderia atrair tanto público assim.

O sucesso comercial de O Resgate do Soldado Ryan, no entanto, continuou, com o filme liderando as bilheterias em seu segundo final de semana em cartaz e batendo recordes de bilheteria ao longo do período em que ficou em exibição. O filme arrecadaria 216.5 milhões de dólares em bilheterias somente nos Estados Unidos e Canadá, se tornando dono da maior bilheteria daquele ano na América do Norte.

Um feito e tanto para um filme “R – Restricted”, ou seja, que só podia ser visto por adultos ou menores de idade acompanhados pelos pais. Fora dos Estados Unidos, O Resgate do Soldado Ryan arrecadou ainda mais de 265 milhões de dólares, fazendo com que a bilheteria total do filme fosse de quase 482 milhões de dólares, a segunda maior no mundo naquele ano, ficando atrás apenas dos quase 554 milhões de dólares arrecadados por Armageddon.

O Resgate do Soldado Ryan foi muito bem recebido pela crítica especializada recebendo elogios unânimes dos principais críticos da época. O filme foi elogiado pela sua descrição da guerra, por seu tom e também pela atuação de seu elenco, principalmente, o desempenho de Tom Hanks. No Oscar daquele ano, a produção recebeu 11 indicações, ficando atrás apenas de Shakespeare Apaixonado que recebeu 13.

A obra foi indicada em todas as principais categorias, incluindo, Melhor Filme, Direção, Ator (para Tom Hanks) e Roteiro Original. Em uma das edições mais polêmicas do Oscar, O Resgate do Soldado Ryan venceu em apenas cinco categorias, quase todas elas técnicas. Em um ano dominado por Shakespeare Apaixonado, Steven Spielberg ainda conseguiu vencer na categoria de Melhor Direção. A segunda e última (até agora) vitória no Oscar de sua carreira.

No Globo de Ouro, O Resgate do Soldado Ryan recebeu cinco indicações, vencendo apenas em um duas delas: Melhor Direção e Melhor Filme – Drama. Assim como no Oscar, o principal vencedor da noite foi Shakespeare Apaixonado, que levou três estatuetas para casa. No BAFTA, o filme recebeu indicações em dez categorias, ficando atrás de Shakespeare Apaixonado (com 15 indicações) e Elizabeth (com 12 indicações). Na premiação britânica, O Resgate do Soldado Ryan venceu em duas categorias, Melhor Som e Efeitos Visuais, não levando o prêmio em nenhuma das categorias mais importantes.

Atualmente, O Resgate do Soldado Ryan é amplamente considerado não apenas um dos melhores épicos de guerra, como também um dos melhores filmes já feitos em toda a história do cinema. A obra também é uma das mais destacadas da recheada filmografia do genial Steven Spielberg, além de ser uma das mais lembradas da década de 1990. O filme tem sido elogiado por seu realismo, recebendo comendas, inclusive, de soldados e veteranos de guerra que elogiam a forma como ele retrata os campos de batalha.

A cena do desembarque na Praia de Omaha é frequentemente considerada a melhor cena de batalha já feita em toda a história do cinema. Além disso, O Resgate do Soldado Ryan também ajudou a lançar ou consolidar a carreira de diversos jovens atores que se consagrariam depois, como Edward Burns, Adam Goldberg e Vin Diesel. Aliás, o elenco do filme é outro de seus pontos fortes.

Devido a sua complexidade e realismo, a obra tem sido alvo de inúmeras análises por parte de cinéfilos, críticos cinematográficos, acadêmicos e estudiosos da sétima arte. Por tudo isso, em 2014, O Resgate do Soldado Ryan foi escolhido para preservação no National Film Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural. Devido a todos esses fatores, não surpreende que o filme tenha sido considerado um dos dez maiores épicos da história pelos votantes do American Film Institute.

7 – Sem Novidade no Front (1930) – Filme mais antigo na lista do American Film Institute

Se o filme anterior era o mais recente da lista do o American Film Institute, o sétimo colocado dessa lista é o mais antigo. Lançado em 1930, portanto, há quase 100 anos atrás, Sem Novidade no Front é considerado por muita gente como um dos primeiros épicos anti-guerra de toda a história do cinema norte-americano. Baseado no livro de mesmo nome escrito pelo romancista alemão Erich Maria Remarque, o filme descreve um grupo de jovens soldados durante a Primeira Guerra Mundial. O livro é baseado na própria experiência de Remarque como soldado.

Estrelado por Lew Ayres, Louis Wolheim, John Wray, Slim Summerville e William Bakewell, Sem Novidade no Front foi dirigido pelo grande cineasta Lewis Milestone. Como era comum naquela época, o filme contou com o trabalho de diversos roteiristas. A obra foi produzida pelo legendário produtor Carl Laemmle, um dos fundadores e, na época, dono da Universal Pictures, estúdio que produziu e distribuiu o filme.

Produzido a um custo estimado em cerca de 1.2 milhões de dólares, Sem Novidade no Front foi filmado com duas câmeras lado a lado afim de se produzir duas versões do filme, uma falada para o mercado norte-americano e uma sonora, mas sem falas, para o mercado internacional, pratica que era bem comum no início do cinema sonoro, entre o final dos anos 1920 e início dos anos 1930.

Sem Novidade no Front também contou com a presença de diversos veteranos do exército alemão que viviam em Los Angeles, na época. Alguns deles tiveram pequenos papéis no filme, outros fizeram figuração e, alguns deles, inclusive, serviram como consultores técnicos do filme. Entre esses figurantes estava Fred Zinnemann, que depois se tornaria um dos mais respeitados e bem-sucedidos diretores de Hollywood e que naquela época, havia acabado de chegar aos Estados Unidos.

Sem Novidade no Front estreou comercialmente nos Estados Unidos em 21 de abril de 1930. Essa primeira versão do filme que chegou aos cinemas norte-americanos tinha 152 minutos de duração. Ao longo dos anos, o filme teria diversas versões diferentes, muitas delas criadas para satisfazer a vontade de censores em alguns países que exigiam o corte de cenas mais violentas e polêmicas do filme para liberar a estreia dele em seus territórios nacionais. Com os relançamentos do filme a partir de 1950, Sem Novidade no Front chegou a ser exibido com apenas 102 minutos de duração e, em algumas versões, até mesmo sua trilha sonora foi alterada.

Cena de Sem Novidade no Front (1930)

Antes de morrer, o diretor Lewis Milestone chegou, inclusive, a perdir a Universal Pictures que restaurasse o corte original do filme. Contudo, o desejo do diretor só foi cumprido, pelo menos parte, em 2006 pela Biblioteca do Congresso que depois de uma busca incessante e uma restauração extensa conseguiu recuperar e restaurar todo o material que ainda existia do filme e assim criar uma versão de 133 minutos que é mais completa e próxima do corte original de Milestone que temos atualmente.

Na época de sua estreia, Sem Novidade no Front foi um grande sucesso de público e crítica. Só nos Estados Unidos, o filme arrecadou mais de 1.6 milhões de dólares nos chamados “theatrical rentals”, ou seja, a parte da arrecadação que fica com o estúdio distribuidor do filme. Com isso, ele se tornou dono da terceira maior bilheteria do ano nos Estados Unidos, ficando atrás apenas das comédias Whoopee! e Check and Double Check. Somando as bilheterias doméstica e internacional, acredita-se que a obra tenha arrecadado cerca de 3 milhões de dólares em “theatrical rentals”.

Sem Novidade no Front também foi bastante elogiado por grande parte dos mais importantes críticos especializados dos Estados Unidos na época. A obra foi considerada um “conto de guerra angustiante, macabro e mórbido” pela Revista Variety, que sugeriu, inclusive, que a produção fosse exibida pela Liga das Nações, organização que precedeu a Organização das Nações Unidas (ONU), em todas as nações do mundo “até que a palavra ‘guerra’ seja retirada dos dicionários”.

Devido a sua representação realista da guerra e também sua clara ideologia pacifista e anti-guerra, Sem Novidade no Front causou polêmica e foi censurado em alguns lugares no mundo. Na Alemanha, os nazistas consideraram o filme anti-alemão e fizeram campanha contra a sua exibição no país, sabotando, inclusive, sua estreia em Berlim. Isso fez com que as autorizadas do país dificultassem ou mesmo banissem a exibição do filme em solo alemão. Assim que os nazistas chegaram ao poder em 1933, o filme foi definitivamente banido do país.

Sem Novidade no Front só voltaria a ser exibido em solo alemão em 1952, após o fim da Segunda Guerra Mundial, e mesmo assim apenas na Alemanha Ocidental. Na Áustria, que seria anexada pelos nazistas, e na Itália, controlada por Benito Mussolini, a obra também foi banida e só voltaria a ser exibida nos cinemas nos anos 1980. Até mesmo na França o filme chegou a ser banido e só voltou a poder ser exibido em 1963.

Nos Estados Unidos, o sucesso de crítica e público de Sem Novidade no Front fez com que ele se tornasse o maior vencedor do Oscar daquela temporada. O Prêmio da Academia que estava apenas em sua terceira edição, deu ao filme quatro indicações e duas vitórias, sendo que as vitórias vieram nas duas principais categorias: Melhor Filme e Melhor Direção. Dessa forma, Sem Novidade no Front se tornou o primeiro filme a vencer o Oscar nessas duas categorias, que são as mais importantes da premiação. Lembrando que, naquela época, o Oscar tinha muito menos categorias do que tem hoje em dia.

Atualmente, Sem Novidade no Front é considerado não apenas um dos melhores épicos e filmes de guerra já produzidos, mas também um dos melhores filmes de toda a história do cinema norte-americano. Em 1998, inclusive, a obra foi incluída pela American Film Institute em sua lista de “100 Years…100 Movies” (100 Anos…100 Filmes”), a primeira das famosas listas do AFI.

O filme também se tornou extremamente influente, o que levou a duas novas adaptações do livro de Erich Maria Remarque, a última delas, inclusive, produzida na própria Alemanha, foi um enorme sucesso de crítica, recebendo inúmeras indicações ao Oscar e ao BAFTA, sendo indicado ao Oscar de Melhor Filme e vencendo na categoria de Melhor Filme Internacional e em outras quatro na cerimônia de 2023. Devido a sua enorme importância estética, histórica e cultural, em 1990, Sem Novidade no Front foi escolhido para preservação no National Film Registry.

6 – Titanic (1997)

O sexto colocado dessa lista do American Film Institute dispensa apresentações. Lançado em 1997, Titanic se tornou dono da maior bilheteria da história da indústria cinematográfica mundial na época de seu lançamento e foi visto e revisto por quase todo mundo que gosta de cinema. Curiosamente, o filme nasceu de um desejo do diretor James Cameron de organizar uma expedição até os destroços do Titanic. Assim, mesmo sem necessariamente querer realmente fazer um filme sobre o tema, ele foi atrás de financiamento em Hollywood, “vendendo” um filme que seria uma espécie de “Romeu e Julieta no Titanic”.

Mesmo sem acreditar que o filme poderia dar lucro, a 20th Century Fox aceitou financiar o projeto, pensando em manter um relacionamento de longo prazo com Cameron que havia acabado de dirigir grandes sucessos como True Lies (1994) e, principalmente, O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final (1991). Com isso, o diretor conduziu diversas expedições aos destroços do Titanic antes mesmo de escrever o roteiro do filme.

Nessas expedições, ele acabou percebendo que o naufrágio do Titanic era mais do que “uma simples história” e se sentiu compelido a criar um filme que homenageasse as vítimas do desastre e que se tornasse a “versão definitiva” do naufrágio, como se nenhum outro cineasta fosse ter a chance de contar novamente aquela história. Foi aí, que o projeto virou algo realmente sério e onde, na realidade, nasceu o filme.

Para tornar realidade o filme que James Cameron tinha em mente, o diretor (que também cuidava da produção da obra) não poupou despesas. A 20th Century Fox chegou, inclusive, a construir um estúdio enorme, com um grande tanque de água de frente para o mar no México. O estúdio adquiriu o terreno e construiu o local do zero. Cameron utilizou todas as principais e mais avançadas técnicas da época para dar o máximo de realismo possível ao filme. Devido a personalidade perfeccionista do diretor e seu desejo por realismo em cada cena, as filmagens foram extremamente demandosas para os atores e para a equipe.

As dificuldades enfrentadas durante as filmagens traumatizaram Kate Winslet, que falou abertamente sobre o tema. A atriz só voltaria a trabalhar com James Cameron em Avatar: O Caminho da Água (2022), 25 anos após o lançamento de Titanic. Já o outro protagonista do filme, Leonardo DiCaprio, nunca mais voltaria a trabalhar com o diretor. As dificuldades durante as filmagens fariam com elas se arrastassem por quase um mês além do planejado.

Famosa cena de Titanic (1997).

Além disso, fariam com que os custos de Titanic chegassem as alturas, levando os executivos da 20th Century Fox a entrarem em pânico. Com um filme cujo custo já chegava a 200 milhões de dólares e que teria uma duração de mais de três horas, eles exigiram que Cameron cortasse cenas de Titanic, acreditando que um filme longo diminuiria o número de sessões em que a produção poderia ser exibida e, dessa forma, diminuiria também a arrecadação do filme.

O diretor, no entanto, se recusou peremptoriamente a fazer isso e, ao invés disso, se ofereceu a abrir mão da parte que teria direito nos lucros do filme. Contudo, a 20th Century Fox acreditando que Titanic não daria lucro algum e que, portanto, a oferta de Cameron era vazia e sem sentido recusou-a. Como o estúdio não tinha outra opção além de continuar com o projeto, já que havia investido muito dinheiro nele, eles passaram a procurar um parceiro para financiar Titanic.

Primeiro tentaram a Universal Pictures, que havia trabalhado com eles em True Lies (1994), mas quando o estúdio viu o tamanho dos custos de Titanic eles desistiram da ideia. Assim, a 20th Century Fox se voltou para a Paramount Pictures, com quem haviam trabalhado em Coração Valente (1995), e o estúdio aceitou a parceria. No acordo firmado, a Fox ficaria responsável por distribuir o filme no exterior, enquanto que a Paramount teria o direito de distribuí-lo nos Estados Unidos e no Canadá.

Como em grande parte dos filmes de James Cameron, Titanic também contou com o que havia de mais moderno no campo dos efeitos visuais. Por isso também, a estreia do filme que deveria ocorrer em julho de 1997, só ocorreu em dezembro daquele mesmo ano. A data fez com que a estreia de Titanic coincidisse com a de 007 – O Amanhã Nunca Morre, o que fez com que muita gente tivesse certeza que o filme seria um fracasso total de bilheteria.

No entanto, quando Titanic estreou comercialmente nos Estados Unidos, ele se mostrou um fênomeno gigantesco de bilheteria, lotando sessões desde sua estreia e causando filas para assistir ao filme. O interesse em Titanic, por parte do público, não diminuiria e ele passaria meses enchendo salas de cinema. Só nos Estados Unidos, Titanic passaria 15 semanas, ou seja, quase quatro meses no topo das bilheterias do país.

Titanic passaria 10 meses em cartaz e arrecadaria 600 milhões de dólares nos Estados Unidos e mais 1.242 bilhão de dólares em outros países, totalizando 1,843 bilhão de dólares de bilheteria no mundo todo. Com isso, Titanic não apenas se tornou dono da maior bilheteria do ano, mas também de toda a história do cinema mundial, superando Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros (1993), que até então era dono do recorde.

Titanic só deixaria o topo de maiores bilheterias da história do cinema em 2010, quando seria superado por outro filme de James Cameron, Avatar (2009). Se contados relançamentos, a bilheteria atual de Titanic é de 2,257 bilhões de dólares, o que quer dizer que o filme ainda é dono da quarta maior bilheteria de toda a história da sétima arte. Já se contabilizarmos a inflação no período, a bilheteria de Titanic seria de 3,677 bilhões de dólares, a terceira maior da história do cinema.

Se entre o público Titanic foi bem recebido, a história não foi diferente entre a crítica especializada. Elogiado pela maioria dos críticos da época por seu realismo e seus valores de produção de qualidade inquestionável, o filme atualmente, mantêm uma taxa de aprovação de 88% no Rotten Tomatoes, principal agregador de críticas especializadas da internet. No entanto, Titanic também foi alvo de criticas negativas que se concentravam, principalmente, em seu roteiro e diálogos, considerados por muitos clichês, pouco originais e fracos.

O sucesso de público e crítica de Titanic se refletiu naquela temporada de premiações, onde o filme acabou se tornando o mais premiado do ano. No Oscar, a produção recebeu 14 indicações, vencendo em 11 categorias, incluindo, as de Melhor Filme, Direção, Trilha Sonora, Canção Original e todas as categorias técnicas, com exceção de Melhor Maquiagem, que foi vencida por MIB – Homens de Preto (1997). Com isso, Titanic empatou em número de vitórias com Ben-Hur (1959) e em número de indicações com A Malvada (1950).

Por causa da popularidade de Titanic, aquela edição do Oscar também foi a mais assistida desde que a audiência da cerimônia começou a ser medida em 1974. Esse recorde, inclusive, nunca foi batido até hoje. No Globo de Ouro daquele ano, Titanic recebeu oito indicações e venceu em quatro categorias, incluindo Melhor Filme – Drama e Melhor Direção. Já no BAFTA, apesar de receber 10 indicações, Titanic não venceu em nenhuma categoria, nem mesmo nas técnicas. No total, o filme recebeu mais de 150 indicações a premiações no Estados Unidos e em outros países.

Atualmente, Titanic é amplamente considerado um dos mais importantes filmes lançados nos anos 1990 e na história recente do cinema mundial. Só para se ter uma ideia, a produção foi incluída em seis listas diferentes da série AFI 100 Years do American Film Institute, incluindo a lista atualizada de “100 Years…100 Movies” (100 Anos…100 Filmes”), publicada em 2007. Titanic ajudou a transformar Kate Winslet e Leonardo DiCaprio em estrelas globais e eles têm, até hoje, carreiras muito bem sucedidas no cinema. DiCaprio, inclusive, se tornou o maior galã dos anos 1990, exatamente por causa do filme e seu pôster era item quase obrigatório no quarto de toda adolescente da época.

“Rose” e “Jack”, seus personagens no filme, acabaram por se tornar uma espécie de versão moderna de Romeu e Julieta. Além disso, a canção “My Heart Will Go On”, assim como toda a trilha sonora de Titanic, se tornaram campeões de vendas, o que fez de Céline Dion uma das cantoras mais conhecidas e bem-sucedidas do mundo. Incrivelmente, James Cameron teve que ser convencido a deixar que a canção entrasse no filme já que ele não queria que a trilha sonora de Titanic tivesse nenhuma canção.

A fala “I’m the king of the world!” (“Eu sou o rei do mundo!”) é ainda hoje uma das falas mais conhecidas da história do cinema mundial. Por tudo isso e por muito mais aspectos sobre os quais ficaria díficil discorrer aqui por falta de espaço, Titanic é um dos mais importantes filmes lançados nas últimas décadas e sua influência no cinema mundial e na cultura pop global pode ser sentida até os dias atuais.

5 – Spartacus (1960)

O quinto colocado dessa lista do American Film Institute é outro grande clássico do cinema mundial. Dirigido pelo genial Stanley Kubrick e estrelado por Kirk Douglas, Spartacus conta a história real de um escravo que liderou uma enome rebelião contra Roma. Curiosamente, a decisão de Douglas de produzir o filme se deu, em alguma medida, pelo fato de ele ter perdido o papel principal em Ben-Hur (1959), para Charlton Heston.

Logo depois desse ocorrido, Douglas teve contato com o livro “Spartacus” de Howard Fast que, assim como Ben-Hur, se passava na era romana e falava sobre um homem escravizado. Douglas se impressionou tanto com o livro que comprou seus direitos com seu próprio dinheiro. O trabalho de convencer um estúdio a financiar o filme foi dificil, primeiro ele tentou a United Artists, mas eles estavam envolvidos em um projeto semelhante, estrelado por Yul Brynner.

Logo depois, ele conseguiu convencer a Universal Studios a financiar o projeto. O próprio Fast foi convidado a escrever o roteiro do filme, mas depois de dois meses de trabalho, o rascunho que ele entregou foi considerado “inútil” e “um desastre”. Sem tempo e pressionado pela concorrência com o filme de Yul Brynner e da United Artists, Douglas chamou Dalton Trumbo para reescrever o roteiro.

Experiente, Trumbo só levou duas semanas para escrever um tratamento do roteiro que agradasse a Douglas. Fast, no entanto, se recusou a trabalhar em cima do que Trumbo havia escrito. Dessa forma, Douglas decidiu demitir Fast e contratar Trumbo como roteirista. O problema é que Trumbo, apesar de já ter carreira consolidada em Hollywood, estava na lista negra por suas atividades políticas e trabalhava já há bastante tempo usando pseudônimos. Douglas, no entanto, decidiu anunciá-lo oficialmente como roteirista de Spartacus, ajudando também a acabar com o sistema de “listas negras” que se perpetuava há mais de 10 anos em Hollywood.

As filmagens de Spartacus também não foram tranquilas. O veterano cineasta Anthony Mann, foi contratado para dirigir o filme. No entanto, seu estilo acabou desagradando a Kirk Douglas e ele deixou o projeto com poucas semanas de filmagens. Sem muito tempo, o ator, que também era um dos produtores do filme, resolveu chamar Stanley Kubrick para dirigir o filme. Kubrick tinha apenas 30 anos de idade na época, mas já tinha dirigido quatro longa-metragens, incluindo, Glória Feita de Sangue (1957), estrelado pelo próprio Kirk Douglas.

Contudo, nenhum filme dirigido por Kubrick até então chegava nem perto de ter o tamanho do orçamento que Spartacus teria. Só para se ter uma ideia, o orçamento de Glória Feita de Sangue tinha sido inferior a 1 milhão de dólares enquanto que o orçamento de Spartacus estava na casa dos 12 milhões de dólares, ou seja, cerca de 12 vezes maior. Mesmo jovem e trabalhando em sua primeira super-produção, Kubrick tentou impor seu estilo. Convenceu, inclusive, o estúdio a filmar as cenas de batalha em locação na Espanha. As cenas grandiosas chegaram a envolver até 8 mil soldados da infantaria espanhola.

Famosa cena de Spartacus (1960).

Kubrick já era perfeccionista nessa época e nas cenas de batalha exigia que cada figurante se comportasse de um jeito específico, controlando até mesmo a posição que os corpos dos mortos nas batalhas apareceriam em cena. Esse perfeccionismo e também discordâncias sobre como deveria ser a luz em cada cena fizeram com que o diretor entrasse em conflito com o experiente diretor de fotografia, Russell Metty, que ameaçou se demitir.

Kubrick então disse que ele poderia ficar sentado e calado que ele próprio faria a direção fotográfica do filme. Curiosamente, Spartacus acabou por vencer o Oscar de Fotografia daquele ano. O diretor também entrou em conflito com o roteirista Dalton Trumbo, por acreditar que o personagem principal do filme não tinha profundidade suficiente, carecendo de defeitos e peculiaridades que todo ser humano normalmente tem.

Spartacus acabou por ser o único filme em toda a carreira de Stanley Kubrick sobre o qual ele não teve total controle criativo. Por isso também, apesar de Spartacus ter sido um enorme sucesso de público e crítica e ter ajudado a consolidar sua carreira em Hollywood, o diretor ao longo dos anos foi cada vez mais se distanciando dele.

Spartacus estreou nos Estados Unidos em 6 de outubro de 1960 e, como dito acima, foi um enorme sucesso de público e crítica. Em seu primeiro ano de exibição nos cinemas, o filme arrecadou 14 milhões de dólares nos Estados Unidos e 17 milhões de dólares no total, somente nos chamados “theatrical rentals”, ou seja, a parte da arrecadação que fica com o estúdio distribuidor do filme. Com isso, Spartacus foi o filme mais visto nos cinemas norte-americanos naquele ano. A produção seria relançada em 1967, aumentando ainda mais sua arrecadação.

Spartacus também foi bem recebido pela crítica especializada, recebendo elogios da maioria dos principais críticos da época. Entre os aspectos mais elogiados da produção estavam a performance de seu elenco, que incluía intérpretes de primeira linha, como Laurence Olivier, Jean Simmons, Charles Laughton, Peter Ustinov, John Gavin e Tony Curtis, além da grandiosidade das cenas. A revista Variety, inclusive, chegou a dizer que com Spartacus, Stanley Kubrick havia substituído Cecil B. DeMille, como um mestre do espetáculo.

Apesar disso, críticos importantes, como Bosley Crowther, criticaram alguns aspectos do filme, como irregularidade do seu roteiro, o clichê de algumas de suas cenas e também o desempenho de alguns de seus atores. A produção também criou polêmica com seu subtexto político, que foi percebido como uma crítica as perseguições políticas da época. Apesar de tudo isso, Spartacus recebeu seis indicações ao Oscar daquele ano, quase todas em categorias técnicas.

No fim, Spartacus venceu em quatro categorias, sendo a principal delas a de Melhor Ator Coadjuvante, que foi entregue a Peter Ustinov. No Globo de Ouro, Spartacus recebeu seis indicações, incluindo indicações a Melhor Filme – Drama, Melhor Ator (para Laurence Olivier), duas indicações a Melhor Ator Coadjuvante (para Woody Strode e Peter Ustinov), Melhor Direção (para Stanley Kubrick) e Melhor Trilha Sonora (para Alex North). A produção acabou vencendo apenas o Globo de Ouro de Melhor Filme – Drama. Já no BAFTA, Spartacus recebeu apenas uma indicação a Melhor Filme, mas também não levou o prêmio para casa.

Atualmente, Spartacus é unanimemente considerado um dos melhores épicos da história e também um dos melhores filmes norte-americanos já feitos. Inclusive, o próprio American Film Institute, incluiu o filme em sua lista atualizada do “100 Years…100 Movies” (100 Anos…100 Filmes”), publicada em 2007. Além disso, todo o subtexto político e religioso do filme vem sendo alvo de estudos e debates praticamente desde seu lançamento.

Ademais, sua trilha sonora tem sido constantemente elogiada e incluída entre as melhores da história. Por fim, não podemos esquecer da emblemática frase “I’m Spartacus!” (“Eu sou Spartacus!”) dita no final do filme e que acabou por ganhar uma enorme repercussão na cultura popular, se tornando lugar comum em paródias e homenagens ao filme. Por tudo isso, em 2017, Spartacus foi escolhido para preservação no National Film Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural.

4 – … E o Vento Levou (1939)

O quarto colocado dessa lista do American Film Institute é, sem sombra de dúvidas, um dos mais importantes filmes de toda a história do cinema mundial. Lançado há quase 85 anos atrás, … E o Vento Levou ainda é lembrado e celebrado até os dias atuais. Produto do talento do legendário produtor David O. Selznick, a obra teve uma produção bastante atribulada. Primeiro, porque as suas filmagens foram adiadas por cerca de dois anos a espera de Clark Glable, que Selznick fazia questão que estrelasse o filme.

Depois, mesmo com a produção do filme já em curso, as dificuldades persistiram. Apesar de a direção de … E o Vento Levou ser creditada apenas a Victor Fleming, pelo menos dois outros diretores de renome, George Cukor e Sam Wood, trabalharam dirigindo cenas do filme. Da mesma forma, apesar de o roteiro da obra ser creditado somente a Sidney Howard, diversos outros roteirista participaram de sua escrita ou mesmo lapidação.

A busca pela atriz que faria o papel de Scarlett O’Hara foi uma verdadeira odisséia e envolveu a testagem de pelo menos 1400 atrizes diferentes, com Vivien Leigh finalmente conseguindo ganhar o papel. As filmagens de … E o Vento Levou também envolveram cenas grandiosas e sets gigantescos, muitos deles, inclusive, sendo destruídos por fogo ou explosão. Por tudo isso, o custo do filme ficou próximo de 4 milhões de dólares, fazendo dele um dos mais caros da época.

Como verdadeiro líder de toda essa empreitada, David O. Selznick acabou por levar grande parte dos louros do sucesso subsequente de … E o Vento Levou e seu nome passou a ser extremamente respeitado em Hollywood, marcando, inclusive, uma era em que os produtores é que tinham controle criativo sobre os filmes. Aliás, quase todo mundo que participou de … E o Vento Levou se beneficiou do sucesso do filme. Vivien Leigh se tornou uma estrela global e Clark Glable, que já era uma estrela, se tornou o maior galã de sua época.

Lançado comercialmente nos Estados Unidos em 15 de dezembro de 1939, … E o Vento Levou foi o primeiro grande filme a utilizar a estratégia de lançar uma produção no final do ano e exibí-lo apenas em sessões limitadas para aumentar a expectativa em torno dela, aumentando assim sua bilheteria e também, ao mesmo tempo, suas chances no Oscar, técnica essa que depois seria conhecida como “Oscar bait”.

A estratégia de Selznick deu certo, já que comercialmente, .. E o Vento Levou foi um gigantesco sucesso, gerando filas de espera e sendo elogiado e assistido por políticos e personalidades da época. Só para se ter uma ideia, entre sua estreia em dezembro de 1939 e julho de 1940, o filme foi exibido apenas em sessões fechadas com ingressos que haviam sido comprados antecipadamente a preços que chegavam ao dobro do praticado na época e com a Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), que distribuía a obra, chegando a coletar até 70% de lucro em cada ingresso. Valor muito superior aos 35% que eram coletados normalmente na época.

Mais famosa cena de … E o Vento Levou (1939), filme que também já apareceu em diversas outras listas do American Film Institute.

Ao fim de sua primeira passagem pelos cinemas, acredita-se que o só a MGM tenha arrecadado pelo menos 32 milhões de dólares com .. E o Vento Levou, o que fez dele o filme mais lucrativo de toda a história do cinema até então. A produção seria relançada com sucesso inúmeras outras vezes e calcula-se que sua bilheteria total tenha sido de pelo menos 390 milhões de dólares.

Entre 1940 e 1966, ou seja, durante 26 anos, .. E o Vento Levou deteve o posto de maior bilheteria de toda história do cinema, até finalmente ser superado por A Noviça Rebelde. Até hoje, nenhum outro filme, conseguiu ficar tanto tempo assim no topo do ranking de maiores bilheterias do cinema. Calcula-se que se corrigida a inflação, a bilheteria atualizada de … E o Vento Levou seja de $4,204 bilhões de dólares, fazendo com que o filme tenha, até hoje, a maior bilheteria de toda a história do cinema norte-americano e mundial.

… E o Vento Levou também foi um imenso sucesso de crítica. Considerado um “grande evento” na história do cinema mundial, a produção foi unanimemente elogiado por seus valores de produção, seus avanços técnicos e também pela coragem e ambição de realizar um filme daquele tamanho.

Apesar disso, alguns de seus aspectos, como a sua longa duração e seu “excesso” (para alguns) de drama foram criticados por alguns jornalistas da época. Além disso, atualmente, … E o Vento Levou é criticado pela forma como a Guerra Civil e os afro-americanos são retratados no filme. Já na época de seu lançamento, a produção foi criticada por parte da população negra justamente por esse motivo.

Devido a seu sucesso de público e crítica, … E o Vento Levou recebeu 13 indicações ao Oscar daquele ano, sendo indicado na maioria das categorias que ele poderia ser indicado. Ao final da cerimônia de entrega, o filme se tornou o maior vitorioso da noite, vencendo em oito categorias, incluindo, Melhor Filme (se tornando o primeiro filme em cores a vencer nessa categoria), Direção, Atriz (para Vivien Leigh), Atriz Coadjuvante (Hattie McDaniel) e Roteiro.

Um recorde para a época e que só seria superado em 1958 pelo musical Gigi. … E o Vento Levou também recebeu dois Oscars honorários, levando um total de 10 estatuetas para casa. Além disso, com sua vitória na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, Hattie McDaniel se tornou o primeiro intérprete afro-americano (homem ou mulher) a vencer um Oscar. Lembrado que 1939 é considerado por grande parte dos críticos e estudiosos de cinema como o melhor ano da história da sétima arte.

Atualmente, … E o Vento Levou é unanimemente considerado um dos melhores e mais importantes filmes de toda a história do cinema. A obra é frequentemente incluída em lista de melhores filmes, muitas vezes, inclusive, ficando entre os dez primeiros colocados dessas listas. Até os dias atuais, … E o Vento Levou continua sendo extremamente popular e influente mesmo depois de quase um século de seu lançamento. Não à toa, a obra foi um dos 25 filmes originalmente escolhidos para serem preservados no National Film Registry, em seu primeiro ano de existência, em 1989.

3 – A Lista de Schindler (1993)

O terceiro colocado dessa lista do American Film Institute é mais uma obra da filmografia de Steven Spielberg. Aliás, A Lista de Schindler é, provavelmente, o filme mais profundo, “pesado” e “triste” da carreira do genial diretor. No filme, acompanhamos a luta do industrial alemão Oskar Schindler para salvar judeus vítimas do Holocauto. Durante a Segunda Guerra Mundial, Schindler salvou as vidas de cerca de 1200 refugiados poloneses ao empregá-los em sua fábricas, pagando constantemente propina para oficiais nazistas para que fizessem vista grossa e deixassem seus “funcionários” em paz, o que, aliás, custou toda a sua fortuna.

Spielberg sempre foi fascinado pela Segunda Guerra Mundial, o que se reflete fortemente em sua filmografia. Inclusive, o outro filme dele presente nessa lista também se passa nesse período. O diretor também é judeu e cresceu escutando o seu pai falar do Holocausto. Por isso, quando o presidente da Universal Pictures na época, Sid Sheinberg, apresentou a ele o livro a “A Arca de Schindler”, do escritor australiano Thomas Keneally, Spielberg ficou imediatamente interessado na história. Ainda em 1983, Sheinberg comprou os direitos sobre o livro e Spielberg prometeu dirigir uma adaptação do livro para o cinema em 10 anos.

Contudo, com o prazo de dez anos se aproximando, Spielberg ainda não se sentia pronto e maduro o suficiente para dirigir um filme tão sério e sobre um tema tão difícil como o Holocausto. Por isso, o diretor tentou de todas as formas encontrar outro cineasta que aceitasse dirigir o filme em seu lugar. Spielberg chegou a oferecer o projeto para diversos grandes nomes do cinema, como Roman Polanski, Sydney Pollack, Martin Scorsese e Brian De Palma. No entanto, nenhuma das tratativas deu certo e no fim, ele próprio resolveu dirigir o filme ao perceber um crescimento do negacionismo do Holocausto e de grupos neo-nazistas.

O diretor queria que A Lista de Schindler fosse o mais realístico possível. Por esse motivo, ele decidiu rodar todo o filme em locação na Polônia, rodando cenas nos locais (ou próximo deles) onde os fatos haviam ocorrido, chegando, inclusive, a filmar no famigerado Campo de Concentração de Auschwitz. Apesar de que, por respeito, a produção não chegou a filmar dentro do campo, apenas em sua parte exterior.

Spielberg também rodou boa parte das cenas de A Lista de Schindler no estilo “câmera na mão”, dando ao filme um ar documental. Além disso, o diretor também filmou quase todo o filme em preto-e-branco para dar ainda mais profundidade e seriedade ao drama vivido pelos personagens do filme. O incrível trabalho de cinematografia feito pelo brilhante diretor de fotografia polonês, Janusz Kamiński, fez com que a obra tivesse um estilo completamente diferente dos outros filmes dirigidos por Spielberg até então.

O estilo quase documental escolhido pelo diretor para rodar A Lista de Schindler combinado com o orçamento relativamente baixo do filme (se comparado a outros dirigidos por ele) fizeram com que a obra fosse totalmente filmada em apenas 72 dias. Isso porque, enquanto filmava A Lista de Schindler, Spielberg ainda cuidava, à distância, dos trabalhos de pós-produção de Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros, que estrearia no ínicio de junho daquele mesmo ano. Apesar de estar a frente de dois filmes ao mesmo tempo, o diretor conseguiu produzir duas das mais icônicas obras de sua filmografia e também da história do cinema.

Cena final de A Lista de Schindler (1993).

Lançado comercialmente nos Estados Unidos em 15 de dezembro de 1993, A Lista de Schindler foi um grande sucesso de público e critica. Produzido a um custo estimado em cerca de 22 milhões de dólares, o filme arrecadou mais de 321 milhões de dólares em bilheterias, o que fez dele dono da quarta maior bilheteria do ano em 1993. Um resultado fenomenal se levarmos em conta que A Lista de Schindler é um filme quase todo em preto-e-branco, com mais de três horas de duração e que trata de um dos episódios mais tristes de toda a história humana.

A Lista de Schindler também foi unanimemente elogiado pela crítica especializada e amplamente considerado um dos melhores filmes daquele ano. Naquela temporada de premiações, a produção recebeu 12 indicações ao Oscar, vencendo em sete delas, incluindo algumas das principais, como Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Trilha Sonora Original. A Lista de Schindler foi considerado o principal vencedor da noite.

Incrivelmente, Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros venceria algumas das principais categorias técnicas daquele ano, fazendo com os dois filmes juntos saissem com 10 estatuetas da cerimônia de entrega naquela noite. Aliás, a vitória de Steven Spielberg na categoria de Melhor Direção foi a primeira de sua carreira. Já a de John Williams na categoria de Melhor Trilha Sonora foi a última, até agora, de sua carreira.

Curiosamente, assim como Spielberg, Williams também não queria trabalhar no filme por acreditar que não era “bom o suficiente” para compor sua trilha sonora. No entanto, o diretor insistiu e o convenceu do contrário dizendo que todos os compositores melhores que ele estavam mortos. Atualmente, a trilha sonora composta por John Williams, com o tema principal do filme tocado pelo violinista israelense Itzhak Perlman, é considerado um dos melhores trabalhos do genial compositor.

A Lista de Schindler também recebeu 13 indicações ao BAFTA, vencendo em sete categorias, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Trilha Sonora Original. Essa seria a única ocasião em que Steven Spielberg ganharia um BAFTA em sua carreira, recebendo a premiação por seu trabalho como produtor e diretor do filme.

Além disso, A Lista de Schindler também receberia seis indicações ao Globo de Ouro, vencendo em três categorias, Melhor Filme – Drama, Melhor Direção e Melhor Roteiro. O filme ainda receberia inúmeras outras indicações e seria premiado em diversas outras premiações importantes daquele ano, se tornando o principal vencedor daquela temporada de premiações.

Atualmente, A Lista de Schindler é amplamente considerado um dos melhores filmes já feitos até hoje e também um dos melhores retratos do Holocausto já produzidos pela sétima arte. O filme também é frequentemente considerado o melhor já dirigido por Steven Spielberg em sua incrível carreira que já dura mais de cinco décadas. Por tudo isso, em 2004, A Lista de Schindler foi escolhido para preservação no National Film Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural.

2 – Ben-Hur (1959)

O segundo colocado dessa lista do American Film Institute é um épico na acepção mais pura da palavra, com produção e cenas grandiosas. O que muita gente não sabe, no entanto, é que Ben-Hur é, na verdade, o remake de um outro filme lançado em 1925, que também era um épico e que foi o filme mais caro da história do cinema na época de seu lançamento e um imenso sucesso de público. Ambos os filmes foram baseados no livro Ben-Hur: Uma História dos Tempos de Cristo, escrito por Lew Wallace e lançado em 1880.

Outra curiosidade é que Ben-Hur foi, a princípio, anunciado em 1952 e o principal objetivo da Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) ao produzir o filme era aproveitar os seus ativos na Itália. Isso porque, no contexto da Segunda Guerra Mundial, afim de tentar controlar uma inflação galopante, o governo italiano havia proibido a saída de Lira, a moeda local, do país. Assim, o estúdio que tinha muitas receitas em Lira tinha que encontrar uma forma de “gastar” esse dinheiro, já que era impossível transformá-lo em dólar.

Dessa forma, a melhor solução seria produzir um filme na Itália, que poderia ser distribuído nos Estados Unidos e outos países do mundo, gerando receita “livre” e em dólar para a MGM gastar no que quisesse, digamos assim. Esse fato e também o fato de os Estúdios Cinecittà, em Roma, possuírem espaço de sobra para os sets grandiosos que o filme exigira, foram os principais motivos que levaram Ben-Hur a ser filmado, em grande parte, na Itália.

É claro que como quase todos os grandes épicos dessa época, Ben-Hur passou por diversos percausos antes mesmo de entrar em produção. Em meio a diversas dificuldades e imprevistos, a produção do filme foi sendo adiada, até que o sucesso de Os Dez Mandamentos (1956) fizeram com que a MGM resolveu colocar o projeto novamente em marcha. Assim, em 1957, o estúdio anunciou que definitivamente o filme seria produzido.

Os problemas, é claro, não pararam por aí. O roteiro, por exemplo, apesar de ser creditado apenas a Karl Tunberg contou, na verdade, com o trabalho de muito mais gente, incluindo roteiristas e escritores famosos, como Gore Vidal e S. N. Behrman, por exemplo. Além disso, ele foi modificado incontáveis vezes, inclusive, durante as filmagens. Encontrar um diretor também foi uma tarefa complicada, até que William Wyler, que já havia recusado o trabalho antes, resolveu aceitar o projeto.

A famosa cena da corrida de carruagens em Ben-Hur (1959).

Para convencer Wyler, a MGM ofereceu a ele um salário base de 350 mil dólares e mais 8% do valor da bilheteria, ou 3% dos lucros com o filme, o que fosse mais vantajoso para ele. Com isso, o diretor receberia o maior salário já pago na história do cinema para que alguém dirigisse um filme. Além disso, o estúdio ainda ofereceu um orçamento de 10 milhões de dólares para a produção de Ben-Hur. Dessa forma, Wyler que queria superar o trabalho que Cecil B. DeMille fez em Os Dez Mandamentos, acabou aceitando dirigir Ben-Hur.

A escolha do elenco também não foi simples, com dificuldades, principalmente, para escolher quem protagonizaria o filme. Diversas estrelas da época recusaram o papel, incluindo, Burt Lancaster (que não gostou do roteiro), Paul Newman (que achava que não tinha pernas bonitas o suficiente para usar túnicas), Marlon Brando, Rock Hudson, Geoffrey Horne e, até mesmo, Leslie Nielsen, que depois ficaria conhecido mais como comediante do que como ator dramático.

Kirk Douglas se interessou pelo papel, mas a MGM preferiu dá-lo a Charlton Heston. Esse fato inspiraria Douglas a produzir e estrelar Spartacus (1960), que se tornaria também um dos maiores épicos de toda a história do cinema. Além da dificuldade com a escolha do ator principal, Ben-Hur também sofreu com a substituição de atrizes na última hora e para encontrar intérpretes para alguns dos pápeis principais.

As filmagens de Ben-Hur foram grandiosas e duraram cerca de 8 meses, entre julho de 1958 e janeiro de 1959. Além disso, elas foram intensas com os atores e a equipe de produção trabalhando entre 10 e 12 horas por dia, durante seis dias por semana. Ademais, muitas vezes os atores e atrizes tinha que ficar dias inteiros usando maquiagem e figurino esperando para rodar cenas específicas. Wyler também foi bastante demandoso com Heston fazendo-o repetir algumas cenas diversas vezes.

Os sets de Ben-Hur foram os maiores já construídos para um filme até então. A produção contou com cerca de 300 sets espalhados por uma área de 60 hectares. A produção de figurinos e objetos de cena contou com cerca de 100 profissionais fabricando os figurinos e mais de 200 artistas fabricando objetos de cena, como estátuas, por exemplo. Sendo que mais um milhão de objetos de cena foram construídos e cerca de 100 mil figurinos e 1000 armaduras foram fabricadas para o filme. Ben-Hur contou também com a presença de centenas de animais, como camelos, cavalos e ovelhas.

Mais de 365 intérpretes tiveram pelo menos uma fala no filme, sendo que 45 deles tiveram papéis com alguma importância para o enredo de Ben-Hur. Além disso, a produção contou com dezenas de milhares de figurantes. Só na famosa cena da corrida de carruagens, 1500 figurantes eram utilizados em cada dia de filmagem.

Aliás, a cena que até hoje é famosíssima, custou cerca de um milhão de dólares para ser produzida, além de cerca de um ano de preparação e cinco semanas de filmagens. Curiosamente, quem dirigiu as cenas da corrida em si, não foi William Wyler, mas sim dois de seus diretores de segunda unidade, Andrew Marton and Yakima Canutt. Além disso, Sérgio Leone foi um dos assistentes de direção que ajudaram nas filmagens da cena na época. Leone, depois se tornaria um dos maiores diretores do cinema mundial.

Depois de completados os trabalhos nas principais cenas do filme (a chamada “Fotografia Principal”), Wyler e o montador John D. Dunning, ainda tiveram que trabalhar em 340 mil metros de material filmado afim de criar o corte final de Ben-Hur. O primeiro corte do filme tinha cerca de quatro horas e meia de duração, mas o diretor queria reduzir isso para três horas e meia, o que exigiu diversos sacrifícios e cortes de cenas. Além disso, editar em 70mm era complicado na época, o que fez com que a pós-produção do filme durasse cerca de seis meses.

Ben-Hur estreou comercialmente nos Estados Unidos em 18 de novembro de 1959, após quase um ano meio de trabalhos e muitos anos mais de planejamento e adiamentos. Ao final de tudo isso, a produção custou mais de 15 milhões de dólares para ser produzido, fazendo dele o filme mais caro da história do cinema até então, superando, nesse quesito, Os Dez Mandamentos (1956). Contudo, o investimento valeu a pena para a MGM.

Ben-Hur foi um enorme sucesso de público. Contando com um investimento massivo em divulgação, o filme se tornou rapidamente um campeão de bilheterias. A obra arrecadou quase 34 milhões de dólares nos Estados Unidos somente nos chamados “theatrical rentals”, ou seja, a parte da arrecadação que fica com o estúdio distribuidor do filme, o que equivaleria a cerca de 75 milhões de dólares em bilheterias.

Com isso, Ben-Hur se tornou dono da maior bilheteria do ano nos Estados Unidos, deixando o segundo colocado a léguas de distância. Fora dos Estados Unidos, o filme arrecadou mais 32.5 milhões de dólares em “theatrical rentals” (ou cerca de 72 milhões em bilheterias), totalizando uma arrecadação de mais de 66 milhões de dólares em “theatrical rentals” ou cerca de 147 milhões de dólares em bilheterias. Com isso, Ben-Hur se tornou não apenas o maior sucesso de arrecadação no mundo em 1960, mas também dono da segunda maior bilheteria de toda a história do cinema, ficando atrás apenas de … E o Vento Levou (1939).

Com a crítica especializada a recepção também foi bem calorosa. Unanimemente elogiado e laureado por quase todos os principais críticos de cinema da época, Ben-Hur recebeu 12 indicações ao Oscar, vencendo em 11 categorias, um recorde que nunca seria superado até hoje e que só seria empatado por Titanic, quase 40 anos depois. A produção venceu praticamente todas as principais categorias da edição do Oscar daquele ano, incluindo Melhor Filme, Direção, Ator (para Charlton Heston), Ator Coadjuvante (para Hugh Griffith) e Trilha Sonora.

De todas as categorias a que Ben-Hur foi indicado, ele só perdeu em Melhor Roteiro Adaptado, provavelmente devido a polêmica em torno de quem realmente teria escrito o roteiro. Ben-Hur também venceu três Globos de Ouro, nas categorias de Melhor Filme – Drama, Melhor Direção e Melhor Ator Coadjuvante (para Stephen Boyd), além de vencer o BAFTA de Melhor Filme e outras premiações importantes, se tornando o maior vencedor daquela temporada de premiações.

Atualmente, Ben-Hur é amplamente considerado não apenas um dos melhores épicos já feitos, mas também um dos melhores filmes de toda a história do cinema. Alguns de seus aspectos, como sua trilha sonora e a famosa cena da corrida de carruagens, são até hoje reverenciados, lembrados e homenageados. Por tudo isso, não é surpresa que em 2004, o National Film Registry tenha escolhido Ben-Hur para preservação na Biblioteca do Congresso devido a sua importância estética, histórica e cultural.

1 – Lawrence da Arábia (1962)

O primeiro colocado dessa lista do American Film Institute foi dirigido pelo genial David Lean, que era especializado em dirigir épicos e filmes históricos. Estrelado por Peter O’Toole e contando com um elenco de peso que inclui Alec Guinness, Jack Hawkins, Anthony Quinn, Omar Sharif, Anthony Quayle, Claude Rains e Arthur Kennedy, Lawrence da Arábia retrata as experiências do militar britânico T. E. Lawrence na região da Península Arábica durante a Primeira Guerra Mundial.

O filme é baseado no livro Os Sete Pilares da Sabedoria, escrito pelo próprio Lawrence e publicado originalmente em 1926. Desde pelo menos os anos 1940 havia interesse na adaptação do livro para cinema e também em trazer para as telonas a vida de Lawrence. Contudo, diversos impecílios impediram que o projeto fosse para a frente.

Até que no final dos anos 1950, David Lean e Sam Spiegel, que haviam trabalhado juntos com sucesso em A Ponte do Rio Kwai (1957), outro grande épico do cinema mundial, resolveram desenvolver outro projeto juntos. A Columbia Pictures, que desde o início dos anos 1950 tinha interesse em trazer a vida de Lawrence para o cinema, aceitou financiar o filme quando Siegel conseguiu convencer o espólio de Lawrence, que havia falecido em 1935, a comercializar os direitos de adaptação do livro para cinema.

Michael Wilson foi contratado para escrever o roteiro de Lawrence da Arábia. No entanto, Lean não gostou do trabalho de Wilson já que ele focava mais nos aspectos políticos e históricos da Revolta Árabe do que na vida de Lawrence em si, que era o que mais interessava ao diretor. Assim, Lean contratou Robert Bolt para reescrever o roteiro do filme de uma forma que ele desse maior destaque a T. E. Lawrence. Dessa forma, Bolt aproveitou o que Wilson já tinha feito e modificou o roteiro para que ele ficasse do agrado de Lean.

As filmagens de Lawrence da Arábia levaram mais de um ano para serem concluídas, começando em maio de 1961 e terminando em setembro de 1962. O filme foi todo rodado em locação, na Jordânia, no Marrocos e também na Espanha. As filmagens deveriam ocorrer todas na Jordânia, com cenas filmadas, inclusive, na famosa cidade de Petra. Contudo, elas acabaram tendo que ser movidas para a Espanha devido a questões de custo e também ao fato de que membros da produção e do elenco ficavam constantemente doentes na Jordânia.

Assim, muitas cenas de Lawrence da Arábia foram filmadas na região de Sevilha, com a cidade “substituindo” cidades do Oriente Médio, como Cairo, Jerusalém e Damasco, em diversas cenas do filme. As cenas internas também foram todas filmadas na Espanha. Já uma das cenas de massacre foi filmada no Marrocos com a presença em cena de diversos soldados marroquinos representando soldados turcos.

Como era uma produção anglo-americana, Lawrence da Arábia estreou primeiro em Londres, na Inglaterra, em 10 de dezembro de 1962. Menos de uma semana depois, em 16 de dezembro, o filme estreou comercialmente nos Estados Unidos. Mesmo contando com quase quatro horas de duração em seu formato original, a obra foi um grande sucesso de público. Produzido a um custo estimado em cerca de 15 milhões de dólares, uma fortuna para a época, Lawrence da Arábia arrecadou, igualmente, cerca de 15 milhões de dólares somente nos Estados Unidos e no Canadá nos chamados “theatrical rentals”, ou seja, a parte da arrecadação que fica com o estúdio distribuidor do filme.

Com isso, Lawrence da Arábia se tornou dono da segunda maior bilheteria do cinema em 1962, ficando atrás apenas, e por muito pouco, do épico de guerra O Mais Longo dos Dias (1962). Calcula-se que se somados todos os relançamentos de Lawrence da Arábia a bilheteria total do filme tenha sido de cerca de 70 milhões de dólares, sendo que pouco mais da metade desse valor tendo sido arrecadado somente nos Estados Unidos e no Canadá.

Cena de Lawrence da Arábia (1962), primeiro colocado dessa lista do American Film Institute.

A produção também foi um grande sucesso de crítica tanto nos Estados Unidos quanto na Inglaterra, recebendo elogios da maioria dos principais críticos de cinema da época. Como resultado de seu imenso sucesso, Lawrence da Arábia recebeu 10 indicações ao Oscar daquele ano, vencendo em sete categorias, incluindo as de Melhor Filme, Direção e Trilha Sonora Original.

Aliás, a vitória nessa última categoria, foi a primeira da carreira de Maurice Jarre, que na época ainda era um compositor relativamente desconhecido. Seu trabalho em Lawrence da Arábia ainda hoje é reconhecido como uma das melhores trilhas sonoras já escritas na história e, depois do filme, Jarre teria uma longa e bem-sucedida carreira no cinema. Já a vitória de David Lean em Melhor Direção seria sua última no Oscar, apesar de ele ainda ter sido indicado a essa categoria mais uma vez em sua carreira.

Lawrence da Arábia também recebeu cinco indicações ao BAFTA, vencendo em quatro categorias: Melhor Filme, Melhor Filme Britânico, Melhor Ator Britânico (para Peter O’Toole) e Melhor Roteiro. Além disso, a produção ainda foi indicada a oito Globos de Ouro, vencendo em seis categorias, incluindo, Melhor Filme – Drama, Direção e Ator Coadjuvante (para Omar Sharif). Ademais, o filme foi indicado (e venceu) diversas outras premiações importantes se tornando o principal vencedor daquela temporada de premiações.

Atualmente, Lawrence da Arábia é amplamente considerado um dos melhores filmes de toda a história do cinema. Curiosamente, por ser uma produção anglo-americana, o filme é, normalmente, listado tanto entre os grandes filmes já produzidos nos Estados Unidos quanto entre os grandes filmes já produzidos na Inglaterra. Além disso, a obra tem sido, até os dias atuais, extremamente influente, sendo citada na lista de filmes favoritos de diversos cineastas importantes, como Kathryn Bigelow, George Lucas, Sam Peckinpah, Stanley Kubrick, Martin Scorsese, Ridley Scott, Brian De Palma, Oliver Stone, Denis Villeneuve, Steven Spielberg e Akira Kurosawa.

Por ser um dos filmes mais importantes já produzidos pelo cinema norte-americano, em 1991, Lawrence da Arábia foi escolhido para integrar o National Film Registry devido a sua importância estética, histórica e cultural. Por tudo isso, não é surpresa para nínguém que ele tenha sido escolhido para ocupar o topo da lista de melhores filmes épicos da história, organizada pelo American Film Institute.

Conclusões sobre a lista do American Film Institute

Ao observamos e analisarmos um pouco mais a fundo essa lista do American Film Institute podemos tirar algumas conclusões. Primeiramente, é possível observar que a década com mais representantes na lista é a de 1990, com três filmes presentes na lista. Dois desses filmes, O Resgate do Soldado Ryan (1998) e A Lista de Schindler (1993), foram dirigidos por Steven Spielberg, conhecido por seus filmes grandiosos e sua obsessão por temas históricos, principalmente, a Segunda Guerra Mundial. Coincidentemente, os dois filmes dele presentes nessa lista se passam nesse período histórico.

Já o terceiro representante dessa década, Titanic, foi dirigido por James Cameron, que apesar de não ser conhecido por seus filmes de fundo histórico, sempre dirige produções grandiosas. Já as décadas de 1950 e 1960, possuem dois representantes cada um na lista. Curiosamente, as quatro produções foram lançados em um período de seis anos. Isso não é coincidência, já que o sucesso de um filme incentivou a produção de outro. Aliás, nessas décadas, especialmente, os filmes épicos tiveram seu auge com diversas produções grandiosas e caríssimas do gênero sendo lançadas.

Como dissemos acima, o sucesso de Os Dez Mandamentos (1956), incentivou a Metro-Goldwyn-Mayer a produzir Ben-Hur. Já o fato de Kirk Douglas não ter sido escolhido para estrelar esse filme, fez com que ele se sentisse compelido a produzir um filme com a mesma temática, nascendo assim Spartacus (1960). Já Lawrence da Arábia (1962) também foi produzido muito porque esses outros filmes anteriores haviam sido um grande sucesso de público e crítica.

Não podemos deixar de citar também a década de 1930 que, igualmente, possui dois representantes nessa lista. Considerado um precursor dos filmes anti-guerra Sem Novidade no Front (1930) influenciou a produção de diversos filmes do tipo. Já o mais que clássico …E o Vento Levou (1939) até dispensa apresentações é um dos mais importantes e memoráveis filmes já produzidos na história do cinema. Por fim, temos a década de 1980, com seu único representante, o drama histórico Reds (1981), um filme ambicioso e polêmico, que destoa um pouco do resto da lista.

Além disso, outro aspecto que chama atenção nessa lista é o custo de produção dos filmes. Como é comum em épicos, quase todos os filmes dessa lista custaram uma pequena fortuna para ser realizados. Com exceção talvez, de Sem Novidade no Front (1930) e A Lista de Schindler (1993), todos os outros filmes aqui presentes podem ser considerados superproduções. E mesmo essas duas excessões não são filmes de baixo orçamento.

Sem Novidade no Front custou quase um milhão de dólares para ser produzido, o que não é pouco se pensarmos que, nessa época, o filme mais caro produzido até então tinha custado cerca de 4 milhões de dólares. Já A Lista de Schindler custou 22 milhões de dólares e só não foi mais caro, porque seu diretor queria produzir um filme mais “documental” e que tivesse mais profundidade do que grandiosidade, já que seu tema era um dos maiores genocídios de toda a história da humanidade.

Ademais, quatro filmes dessa lista (..E o Vento Levou, Os Dez Mandamentos, Ben-Hur e Titanic) foram as produções mais caras da história do cinema na época de seus lançamentos. E um quinto, Lawrence da Arábia, passou bem perto de também deter esse recorde. Esse fato, no entanto, não é surpreendente, já que entre os anos 1920 e os anos 1960, grande parte dos filmes que detiveram o recorde de mais caros da história eram épicos. Só nos anos 1970, quando os épicos perderan popularidade é que os estúdios passaram a deixar de investir nesse gênero.

Falando em popularidade, com exceção de Reds (1981), todos os outros filmes dessa lista foram campeões de bilheteria. Sendo que todos eles, com exceção novamente de Reds (1981), ficaram entre as dez maiores bilheterias do ano em que foram lançados. Aliás, a maioria deles liderou as bilheterias naquele ano. E mesmo os que não lideraram, ficaram em segundo ou terceiro lugar entre os filmes mais vistos do ano.

Dois dos filmes da lista, …E o Vento Levou e Titanic, chegaram, inclusive, a serem donos da maior bilheteria de toda a história do cinema. Já outros dois, Os Dez Mandamentos e Ben-Hur, chegaram a ser donos da segunda maior bilheteria da história do cinema, ficando somente atrás, justamente, de ..E o Vento Levou. Isso tudo mostra o tamanho da popularidade dos filmes épicos.

Também é importante destacar que os filmes dessa lista foram campeões em indicações e vitórias no Oscar, a premiação mais importante do cinema. Seis dos dez filmes presentes nessa lista receberam, pelo menos, dez indicações ao Oscar. Sendo que diversos deles bateram recordes nesse sentido. ..E o Vento Levou recebeu 13 indicações ao prêmio, vencendo em 10 categorias (sendo 8 vitórias em categorias competitivas). Um recorde para a época.

Recorde esse que só seria batido por Ben-Hur, que venceria em 11 categorias. Já esse recorde, nunca seria batido, mas seria empatado, quase 40 anos depois, justamente por Titanic, que além das 11 vitórias receberia incríveis 14 indicações ao Oscar. Dos dez filmes presentes nessa lista, sete seriam os principais vencedores na edição do Oscar em que concorreram, recebendo o maior números de estatuetas e/ou vencendo nas categorias de Melhor Filme e Direção. E isso sem contar Reds, que venceu o Oscar de Melhor Direção, mas não venceu o de Melhor Filme.

Além disso, todos os filmes dessa lista, com exceção de Spartacus, receberam pelo menos uma indicação ao Oscar de Melhor Filme. Esse grande número de indicações e vitórias é explicado pelo fato de que os filmes épicos, em sua maioria, além de terem muita qualidade artística, também fazem um grande investimento em valores de produção, como figurinos, cenários, efeitos visuais, som, etc. Assim, eles recebem indicações nas categorias ditas artíticas e também nas chamadas “categorias técnicas”.

Como não poderia deixar de ser, a principal temática dos dez filmes presentes nessa lista é a guerra. Seja a Segunda Guerra Mundial, que é pano de fundo de dois deles, seja a Primeira Guerra Mundial, que está presente em outros dois, sejam outros conflitos. Pode-se dizer que as únicas três produções que não têm guerras e conflitos como pano de fundo, são Ben-Hur e Os Dez Mandamentos, que são filmes com temática biblica e Titanic, que tem como pano de fundo um naufrágio. Apesar disso, todas as produções dessa lista são, de uma forma ou outra, produções sobre acontecimentos históricos.

Por fim, é importante destacar que o único cineasta a ter dirigido dois filmes presentes nessa lista é Steven Spielberg. Ambos os filmes tem como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial que é, como dissemos antes, sua grande obsessão. Já o único ator a estrelar dois filmes presentes nessa lista é Charlton Heston, que protagoniza Ben-Hur e Os Dez Mandamentos. O ator era um dos campeões de bilheteria nos anos 1950 e 1960. Esperamos que esses comentários ajudem a dar contexto a essa lista do American Film Institute.

Conclusão

E aí, o que você achou dessa lista do American Film Institute? Esperamos que você tenha gostado. Como sempre, tentamos não somente listar os filmes incluídos na lista, mas também explicar, de forma abrangente, porque eles foram escolhidas para estar aqui. Dessa forma, você é capaz de entender melhor os motivos que levaram a inclusão de uma produção na lista. Se você gostou da nossa lista, não se esqueça de deixar seu comentário abaixo. Lembre-se sempre que ele é muito importante para nós.

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