Montagem com cenas dos dez filmes da lista AFI's 10 Top 10 - Faroestes.
Montagem com cenas dos dez filmes da lista AFI's 10 Top 10 - Faroestes.

O American Film Institute (AFI) (ou Instituto Americano de Cinema, em tradução para o português) é uma importante organização sem fins lucrativos que visa educar cineastas e homenagear a herança das artes cinematográficas nos Estados Unidos. Criada em 1967, por mandato do então presidente norte-americano, Lyndon B. Johnson, o AFI ajuda a preservar o legado da herança cinematográfica norte-americana, educar a próxima geração de cineastas e homenagear os artistas de cinema e seu trabalho.

Entre os trabalhos e programas desenvolvidos pelo American Film Institute estão uma escola de cinema, um complexo de salas de cinema, projetos para formação de novos cineastas, organização de festivais e premiações para reconhecer filmes e profissionais do cinema norte-americano e, claro, suas famosas listas de melhores filmes da história, chamada de “AFI 100 Years… series” (ou “Série AFI 100 Anos”, em tradução para o português), iniciada em 1998. É sobre uma dessas listas que falaremos hoje. Além disso, já falamos tudo sobre o American Film Institute em outro texto.

American Film Institute 100 Years… series

Provavelmente, o “empreendimento” mais famoso do American Film Institute, a série AFI 100 Years (ou “AFI 100 Anos”, em tradução para o português) começou em 1998, quando a primeira de suas famosas listas foi divulgada. No caso, era uma lista dos 100 melhores filmes da história do cinema norte-americano, em comemoração aos 100 anos de cinema. Isso porque, em 1995, completavam 100 anos da primeira exibição pública de um filme, pelos Irmãos Lumière, em Paris, na França.

Logo do American Film Institute.
Logo do American Film Institute.

Chamada de “AFI’s 100 Years…100 Movies” (ou “100 Anos…100 Filmes”, em tradução para o português), a lista foi um enorme sucesso e fez com que nos anos seguintes, o American Film Institute publicasse inúmeras outras listas do tipo. Entre 1999 e 2008, a AFI publicou diversas outras listas, que compilavam os 100 melhores filmes em diversos gêneros. Além disso, o instituto também elaborou lista de maiores heróis e vilões, maiores estrelas do cinema, maiores paixões, melhores canções, melhores trilhas sonoras e diversas outras listas que compilavam melhores aspectos do cinema.

Nesse texto, falaremos sobre a última lista divulgada pelo American Film Institute, lá em 2008, ou seja, há mais de 15 anos atrás, a “AFI’s 10 Top 10”, que compila os 10 melhores filmes, segundo os votantes do AFI, em 10 gêneros cinematográficos diferentes. No caso aqui, listaremos os 10 melhores filmes de faroeste segundo o American Film Institute. Abaixo falaremos um pouco mais sobre a lista e sobre os critérios para sua elaboração.

American Film Institute’s 10 Top 10 – Faroestes

Os escolhidos pelo American Film Institute (AFI) para integrar a lista de 10 melhores filmes em 10 gêneros cinematográficos diferentes, chamada de “AFI’s 10 Top 10”, foram anunciados em uma cerimônia televisiva transmitida pelo canal CBS para todo o território norte-americano em 17 de junho de 2008. A transmissão contou com a presença de nomes ilustres do cinema, como Clint Eastwood, Quentin Tarantino, Kirk Douglas, Harrison Ford, Martin Scorsese, Steven Spielberg, George Lucas, Roman Polanski e Jane Fonda.

Para estar na lista de dez melhores faroestes da história, segundo o American Film Institute, um filme deve ser, primeiramente, um faroeste (ou “western”, como esse gênero também é conhecido). Para o AFI, o faroeste é “um gênero de filmes ambientados no oeste americano que incorpora o espírito, as lutas e o legado da nova fronteira (americana)”. Além disso, como todos os filmes escolhidos para integrar as listas da série AFI 100 Years, para ser incluído nessa lista, a animação deve ser também um longa-metragem. O que, para o American Film Institute, é toda produção cinematográfica em “formato narrativo” com duração igual ou superior a 60 minutos.

Por último, e não menos importante, a produção deve ser “americana”, o que para o AFI é todo “filme em língua inglesa com elementos significativos de produção criativa e/ou financeira dos Estados Unidos”. Isso porque, como dito acima, o American Film Institute é uma organização norte-americana, criada para preservar e promover o cinema produzido naquele país.

Dito isso, os filmes contidos nessa lista, foram escolhidos por um corpo de mais de mil jurados membros da chamada “indústria criativa” norte-americana. Dessa forma, entre os jurados estão pessoas ligadas a produção cinematográfica, como diretores, roteiristas, produtores, atores, atrizes, etc., críticos de cinema, historiadores e estudiosos da sétima arte.

Para a produção da AFI’s 10 Top 10 inteira, que contêm 100 filmes (dez em cada gênero), 500 filmes foram pré-selecionados pelo American Film Institute, para a escolha final do júri. Essa lista de 500 produções pode ser encontrada no site do AFI. Lembrando mais uma vez, que nesse texto em específico, falaremos apenas das dez produções que integram a lista de 10 maiores faroestes da história do cinema norte-americano, segundo o American Film Institute. Lembrando que já publicamos essa mesma lista para animações e ficções científicas. Sem mais delongas, vamos a lista.

10 – Dívida de Sangue (1965)

O décimo colocado dessa lista do American Film Institute é uma mistura de faroeste com comédia, que usa o humor justamente para satirizar (e de alguma forma homenagear) clássicos do gênero faroeste. No filme, Jane Fonda interpreta Catherine “Cat” Ballou,uma jovem que contrata um famoso (e, a princípio, ineficiente) pistoleiro para proteger o rancho de seu pai e, posteriormente, vingar sua morte.

Dirigido por Elliot Silverstein, Dívida de Sangue foi o seu primeiro trabalho notório para cinema, já que ele havia construído praticamente toda a sua carreira na televisão. Junto com Um Homem Chamado Cavalo (1970), também um faroeste, o filme seria o mais importante de sua carreira. O roteiro de Dívida de Sangue, que é baseado em um livro de Roy Chanslor, foi escrito por Walter Newman e Frank Pierson, dois grandes roteiristas que foram responsáveis pelo roteiro de grandes clássicos e que receberam diversas indicações ao Oscar.

Com sua mistura de faroeste e comédia, Dívida de Sangue foi um grande sucesso de público, arrecadando mais de 20 milhões de dólares em bilheterias e se tornando um dos dez filmes mais vistos de 1965. O filme também foi bem recebido pela crítica especializada da época, apesar de que alguns aspectos de sua produção, como a direção de Elliot Silverstein, foram criticados. Já o tom satírico da obra e as atuações de Jane Fonda e, principalmente, de Lee Marvin no papel duplo de Kid Shelleen e Tim Strawn, foram amplamente elogiados.

Marvin, aliás, ganhou praticamente todas os prêmios importantes de Melhor Ator naquela temporada de premiações, levando para casa o Oscar, o BAFTA, o Globo de Ouro e o Urso de Prata do Festival de Berlim. Além disso, Dívida de Sangue também foi indicado ao Oscar em outras quatro categorias, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora, Melhor Canção Original (para “The Ballad of Cat Ballou”) e Melhor Edição, mas não venceu nenhuma delas.

Cenas iniciais de Dívida de Sangue que conta com a canção The Ballad of Cat Ballou interpretada por Nat King Cole.

Além disso, o filme também foi indicado a três BAFTAs, além de Melhor Ator Estrangeiro, para Marvin, a produção também foi indicada a Melhor Atriz Estrangeira, para Jane Fonda, e Ator Revelação, para Tom Nardini. Como dito, apenas Marvin levou o prêmio para casa. No Globo de Ouro, Dívida de Sangue foi indicado em cinco categorias.

Além de Lee Marvin que venceu o prêmio de Melhor Ator em uma Comédia ou Musical, Jane Fonda foi indicada a Melhor Atriz em uma Comédia ou Musical e Tom Nardini foi indicado a Revelação do Ano. Ademais, a obra também foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor Filme – Comédia ou Musical e Melhor Canção Original, para “The Ballad of Cat Ballou”. Dívida de Sangue também recebeu indicações no Festival de Berlin, no National Board of Review Awards, no New York Film Critics Circle Awards e no Writers Guild of America Awards.

Isso tudo, sem falar que Dívida de Sangue foi o último filme a contar com a presença de Nat King Cole, que morreria de câncer de pulmão naquele mesmo ano antes mesmo da estreia do filme nos cinemas. Cole, é considerado um dos maiores e mais importantes jazzista da história da música mundial. Atualmente, Dívida de Sangue é considerado um dos melhores faroestes da história e um dos responsáveis por, pelo menos, tentar revitalizar o gênero, em um momento em que ele passava por profundas mudanças, depois de décadas dominando o cinema hollywoodiano.

9 – No Tempo das Diligências (1939) – O filme mais antigo da lista do American Film Institute

O nono colocado dessa lista do American Film Institute pode ser considerado quase um “filme fundador” do cinema faroeste. É quase impossível falar sobre o gênero sem citar No Tempo das Diligências. Isso porque, a obra reúne dois dos maiores nomes do faroeste, John Ford e John Wayne. Aliás, foi devido ao sucesso da produção que Wayne se tornou uma dos maiores nomes do cinema e se tornaria também o mais importante ator da história do faroeste.

E o mais interessante é que ninguém queria financiar a produção de No Tempo das Diligências por considerá-lo caro demais e também por considerar que John Wayne não tinha cacife suficiente para ser a principal estrela de um filme. Ford, que insistia em dirigir a obra e também em ter Wayne como protagonista, teve que apelar para Walter Wanger e dar o papel de protagonista (pelo menos, no papel) para Claire Trevor, que era na época, bem mais famosa que John Wayne, para conseguir fazer o filme.

No Tempo das Diligências representa um retorno de John Ford ao faroeste, já que desde os anos 1920, ele não dirigia uma produção do gênero. Escrito pelo grande roteirista Dudley Nichols, que era um dos principais parceiros profissionais de Ford, o filme conta a história de um grupo de desconhecidos, em 1880, viajando em uma diligência (um tipo de carruagem fechada de quatro rodas utilizada para o transporte, de longas distâncias, de passageiros e mercadorias) entre os estados norte-americanos do Arizona e do Novo México. Uma viagem perigosa, devido ao fato de atravessar o território dos Apaches, um povo indígena que habitava a região na época.

Lançado comercialmente em todo os Estados Unidos em março de 1939, No Tempo das Diligências foi um sucesso de bilheteria. Produzido a um custo de cerca de 500 mil dólares, a obra arrecadou mais de 1.1 milhão de dólares em bilheterias, dando um lucro de quase 300 mil aos produtores da obra. Um resultado muito bom para um filme faroeste, um gênero que havia sido praticamente abandonado pelos grandes estúdios a partir do advento do som no cinema, no final dos anos 1920.

Trailer oficial de No Tempo das Diligências.

No Tempo das Diligências também foi muito bem recebido pela crítica especializada, sendo imediatamente considerado um clássico já na época de seu lançamento. No Oscar daquele ano, o filme recebeu sete indicações, incluindo algumas em categorias principais, como Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (para Thomas Mitchell) e Melhor Trilha Sonora. A obra, inclusive, venceu esses dois últimos. O ano, no entanto, era de …E o Vento Levou, que venceu quase todos os prêmios daquela temporada.

No Tempo das Diligências ajudou a revitalizar o gênero faroeste, que passou a ser visto como viável financeiramente pelos grandes estúdios, o que fez com que os filmes do gênero voltassem a ser produzidos em grande estilo. Com isso, o faroeste praticamente dominaria o cinema nas duas décadas seguintes. Além disso, o filme também fez com que John Wayne e John Ford, trabalhassem em diversos outros filmes do gênero, trazendo ao mundo alguns dos maiores clássicos do faroeste.

No Tempo das Diligências também se tornou uma espécie de modelo copiado a exaustão por diversos outros filmes faroeste e por diversos outros diretores de cinema mundo a fora. Por isso, o filme é considerado um dos mais importantes e influentes já feitos. Por esse motivo, em 1995, a produção foi escolhida para preservação no National Film Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural.

Atualmente, No Tempo das Diligências é um dos poucos filmes a manter uma taxa de aprovação de 100% no Rotten Tomatoes, principal agregador de críticas especializadas da internet. O filme, no entanto, é criticado até hoje pela forma como retrata os povos nativos norte-americanos, como sendo selvagens e violentos, desprovidos de qualquer boa intenção. Contudo, é necessário notar que todos os faroestes desse período padecem desse defeito, já que essa era a visão que se tinha dos nativos norte-americanos na época.

8 – Onde os Homens São Homens (1971)

Lançado em junho de 1971, o oitavo colocado dessa lista do American Film Institute foi produzido em uma época em que o faroeste tentava se reinventar. Depois de cerca de duas décadas de sucesso absoluto, o gênero precisa se adequar aos novos tempos e ao novo cinema que estava sendo produzido, criando histórias mais profundas e com personagens mais desenvolvidos. Nesse contexto, o grande Robert Altman dirigiu Onde os Homens São Homens, que ele próprio chamou de “anti-western”, e que hoje é uma das obras fundamentais do chamado “western revisionista” (ou “ anti-faroeste” ou “pós-faroeste”, como também é conhecido esse subgênero).

No filme, Warren Beatty interpreta John McCabe, um sujeito misterioso que chega a uma pequena cidade e devido a sua inteligência e capacidade superiores em relação ao resto da população local, logo se destaca nos negócios. Com o auxílio de Constance Miller (Julie Christie), uma “madame” britânica igualmente misteriosa, eles constroem quase que um império financeiro na pequena cidade.

Contudo, seu sucesso logo chama a atenção de uma empresa de mineração que se oferece para comprar todos os seus negócios. McCabe, no entanto, pede um valor muito alto e os representantes da empresa decidem que o melhor curso de ação é matá-lo e, para isso, contratam três assassinos de aluguel. Com a corda no pescoço, McCabe agora terá que encontrar uma forma de salvar sozinho sua própria vida.

Onde os Homens São Homens foi feito propositalmente de uma forma que ele subvertesse as características mais fortes do filme faroeste. Aqui não temos um heroí. John McCabe é mais um anti-herói querendo se dar bem na vida e, posteriormente, sobreviver. Ele também não tem a coragem típica dos cowboys nos filmes faroeste. Ele, na verdade, tenta de todas as formas não enfrentar diretamente os assassinos contratados para matá-lo, tentando, sem sucesso, resolver tudo pacificamente.

Aliás, o filme nem sequer tem um duelo final entre “mocinhos” e “vilões”, algo típico dos faroestes clássicos. Aqui, McCabe tem que matar seus algozes de qualquer forma que lhe for possível para assim tentar salvar sua própria vida. Não há disputa em torno de quem é mais forte ou mais rápido, até porque ele não é mais forte ou mais rápido que seus assassinos, apenas mais esperto. O final de Onde os Homens São Homens também está longe de ser o que poderia ser considerado um final feliz.

Onde os Homens São Homens foi o segundo filme que Robert Altman dirigiu após ter se tornado famoso por seu trabalho em M*A*S*H (1970), filme que também lançou a carreira de Donald Sutherland. O roteiro de Onde os Homens São Homens foi escrito pelo próprio Altman em colaboração com Brian McKay e Ben Maddow, esse último, no entanto, não recebeu crédito por seu trabalho no filme.

Apesar de ser hoje considerado um grande clássico do faroeste, Onde os Homens São Homens dividiu a crítica na época de seu lançamento. Estreando em Nova York sem ter realizado sessões prévias para os críticos de cinema, o filme recebeu críticas negativas de diversos críticos locais, inclusive, alguns notórios, como Vincent Canby do jornal The New York Times. Contudo, um sem número de críticos nacionais de grande renome elogiaram fortemente a obra na época de seus lançamento.

Entre os que mais gostaram de Onde os Homens São Homens, estava Judith Crist e Pauline Kael, da icônica revista The New Yorker, além da consagrada dupla de críticos Gene Siskel e Roger Ebert. Ambos, inclusive, deram quatro de quatro estrelas em seu famoso sistema de avaliação de filmes. Ebert, que se tornaria o crítico de cinema mais famoso do Estados Unidos, foi mais longe e incluiu a obra em sua lista de “maiores filmes”, dizendo que Onde os Homens São Homens era um faroeste, “como nenhum outro” e que com o filme, Robert Altman havia cimentado seu nome definitivamente entre os grandes cineastas da história.

Cena de Onde os Homens São Homens.

Devido as críticas negativas em Nova York, principal cidade dos Estados Unidos, Onde os Homens São Homens não conseguiu arrecadar um grande bilheteria. No entanto, o filme arrecadou pouco mais de 8 milhões de dólares em bilheteria e foi considerado um sucesso comercial moderado. A produção recebeu uma indicação ao Oscar, de Melhor Atriz, para Julie Cristie, e uma indicação ao BAFTA, de Melhor Fotografia, para Vilmos Zsigmond. Contudo, ele saiu derrotado em ambas as premiações.

Atualmente, Onde os Homens São Homens é celebrado pela inovação, não apenas de seu enredo, mas também de sua estética, com uma fotografia, edição e até mesmo uma forma de apresentar os diálogos dos atores diferentes de tudo o que havia sido feito no cinema faroeste até então. O filme também é celebrado no Canadá, já que apesar de ser uma produção americana, ela foi toda filmada e editada no “vizinho do norte”. Além disso, a obra conta com três canções originais, compostas para o filme por Leonard Cohen, um dos maiores músicos canadenses.

Por toda a sua importância, em 2010, Onde os Homens São Homens foi escolhido para preservação no National Film Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural. Em 2012, o filme também foi escolhido pela BBC, como o 16º melhor filme americano de toda a história. No mesmo ano, a produção também recebeu cinco votos na famosa lista de melhores filmes da história da respeitada revista Sight & Sound, publicada pelo British Film Institute.

7 – Butch Cassidy (1969)

O sétimo colocado dessa lista do American Film Institute é um dos dois filmes aqui presentes que foram lançados no ano de 1969, um época em que o cinema faroeste tentava se adaptar ao novo estilo de cinema que surgia. Dirigido por George Roy Hill e escrito por William Goldman, Butch Cassidy é baseado na história real de dois foras da lei que fugiram para a Bolívia no inicio do século XX, para escapar da perseguição de homens da lei.

Na obra, Robert LeRoy Parker, conhecido como Butch Cassidy (Paul Newman), e seu parceiro Harry Longabaugh, apelidado de “Sundance Kid” (Robert Redford), lideram um bando de foras da lei conhecido no Oeste americano. Um dia, eles decidem realizar um plano audacioso de roubar o mesmo trem duas vezes, na ida e na volta. Contudo, o assalto faz com que o chefe da ferrovia contrate um bando para perseguir e matar os dois.

Sem muita escolha, eles decidem fugir para a Bolívia ao lado da amante de Sundance, Etta Place (Katharine Ross). No novo país, eles primeiro tentam continuar a vida de crimes e depois “se endireitar”. No entanto, mesmo lá, eles percebem que seus algozes ainda os perseguem. Contando com um elenco de primeira linha e o “star power” de Newman e Redford, Butch Cassidy foi um tremendo sucesso de público.

Produzido a um custo estimado de cerca de 6 milhões de dólares, a obra arrecadou, durante seu lançamento inicial, quase 30 milhões de dólares, só nos Estados Unidos, em “theatrical rentals”, ou seja, a parte da arrecadação que fica com o estúdio distribuidor do filme. Com isso, Butch Cassidy se tornou dono da maior bilheteria do ano, em 1969. Calcula-se que no total, o filme tenha arrecadado pouco mais de 102 milhões de dólares em bilheterias no mundo todo.

Apesar do sucesso de público, a produção não foi tão bem recebida assim pela crítica especializada na época de seu lançamento. Diversos críticos importantes da época, como Vincent Canby, Gene Siskel e, até mesmo, Roger Ebert, viram sérios defeitos no filme. Ebert, por exemplo, disse que o filme não tinha um final satisfatório e se perdia na segunda metade da história que, para ele, era bem inferior em relação a primeira.

Mesmo assim, Butch Cassidy foi uma das produções que mais receberam indicações na temporada de premiações daquele ano. Só no Oscar, o filme recebeu sete indicações, incluindo algumas nas principais categorias, como Melhor Filme, Direção, Roteiro Original, Trilha Sonora e Canção Original. E, apesar de não vencer os principais prêmios da noite, a obra sairia com quatro vitórias no Oscar daquele ano, mais do que qualquer outro filme. Entre as suas vitórias mais importantes, estavam a de Melhor Roteiro Original, para William Goldman, e as duas vitórias do genial compositor Burt Bacharach, nas categorias de Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Canção, ao lado de Hal David, por “Raindrops Keep Fallin”.

A famosa cena de Butch Cassidy em que “Raindrops Keep Fallin’ on My Head” é tocada.

No BAFTA, o sucesso foi ainda maior, com Butch Cassidy sendo indicado em 9 categorias, incluindo Melhor Filme, Direção, Roteiro, Trilha Sonora, Atriz (para Katharine Ross) e duas indicações na categoria de Melhor Ator, para Paul Newman e Robert Redford. Incrivelmente, o filme venceu em todas as categorias que disputou. Apenas Newman não levou nenhum prêmio para casa, perdendo justamente para Redford.

No Globo de Ouro, foram quatro indicações, mas apenas uma vitória na categoria de Melhor Trilha Sonora, para Burt Bacharach. Além do sucesso estrondoso de Butch Cassidy, sua canção título “Raindrops Keep Fallin’ on My Head” também foi um enorme sucesso comercial, vendendo mais de 3 milhões de cópias no mundo e alcançando o topo da lista de canções mais tocadas nos Estados Unidos e em diversos outros países.

Atualmente, Butch Cassidy é amplamente considerado um dos melhores filmes de toda a história do cinema mundial. Em 2003, a obra foi foi escolhida para preservação no National Film Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural. Além disso, o filme também foi incluído em ambas as listas “100 Years…100 Movies”, do American Film Institute, compilando os 100 melhores filmes da história do cinema norte-americano, tanto na original de 1998 quanto na atualizada de 2007.

Isso sem falar na inclusão em listas de melhores filmes da história de diversas publicações importantes, como o jornal norte-americano The New York Times e a revista britânica Empire. Além disso, o roteiro de Butch Cassidy é considerado pelo Writers Guild of America, o sindicato dos roteiristas dos Estados Unidos, como o 11º melhor roteiro já escrito em toda a história do cinema norte-americano.

6 – Meu Ódio Será Sua Herança (1969)

O sexto colocado dessa lista do American Film Institute também foi lançado em 1969 e isso não é nenhuma coincidência. A Warner Bros.-Seven Arts, estúdio que bancou a produção e que distribuiu Meu Ódio Será Sua Herança, escolheu produzi-lo exatamente para concorrer com Butch Cassidy, cujo roteiro, escrito pelo renomado William Goldman, havia acabado de ser adquirido pela 20th Century-Fox. O roteiro de Meu Ódio Será Sua Herança havia “sobrado” e devido a suas similaridades com o roteiro escrito por Goldman, a Warner Bros. achou que ele poderia tirar alguma bilheteria de Butch Cassidy.

Aliás, na vida real, o bando liderado por Butch Cassidy e Sundance Kid era chamado de “Wild Bunch” (ou “Bando Selvagem”, em português), exatamente o nome original de Meu Ódio Será Sua Herança, em inglês, “The Wild Bunch”. É claro que assim que a produção de Meu Ódio Será Sua Herança foi autorizada, Sam Peckinpah, que dirigiria o filme, reescreveu quase que completamente o seu roteiro.

Assim, a história de Meu Ódio Será Sua Herança não tem nada a ver com o “bando selvagem” liderado por Butch Cassidy e Sundance Kid, mas sim com um bando de foras da lei já envelhecidos e decadentes liderados por Pike Bishop (William Holden), já no início dos anos 1910 e, portanto, já também no fim do chamada “conquista do Oeste”. Como todos os chamados”westerns revisionistas”, Meu Ódio Será Sua Herança passa uma sensação de desalento e fim de uma era.

Além disso, assim como grande parte dos westerns revisionistas, Meu Ódio Será Sua Herança não tem heróis e sim anti-heróis, já que seus protagonistas são pessoas desprovidas de qualquer heroísmo no sentido clássico da palavra e que farão qualquer coisa para sobreviver. Meu Ódio Será Sua Herança também é extremamente cru e violento, a ponto de chocar o público, e tem claros tons políticos.

Aliás, a violência e a crueza com que os personagens são tratados são características típicas do cinema de Sam Peckinpah e que aqui ficam ainda mais evidentes. O cultuado diretor também praticamente reinventaria como um filme é rodado e, principalmente, montado. Quase todo rodado em locações no México, Meu Ódio Será Sua Herança foi filmado em um processo anamórfico para permitir que objetos e pessoas, tanto em primeiro quanto em plano de fundo, pudessem aparecer em perspectiva na tela.

Peckinpah rodava cada tomada de Meu Ódio Será Sua Herança com diversas câmeras em diversos ângulos para obter diversas perspectivas diferentes de uma mesma cena. Com isso, quando a fotografia principal do filme foi concluída, o diretor tinha em mãos mais de 100 metros de película com quase 1300 setups de câmera diferentes para poder montar seu filme. Assim, ele e o editor Louis Lombardo passaram mais seis meses no México afim de conseguir terminar a montagem do filme.

No processo de reduzir todo esse material para chegar a um produto final, Lombardo e Peckinpah tiveram a ideia de criar cenas misturando takes diferentes e diversos ângulos diferentes de maneira combinada e em cortes rápidos, mostrando diversas perspectivas de um mesmo acontecimento, de forma quase caótica.

Cena de Meu Ódio Será Sua Herança.

Isso daria ao espectador a sensação de como era estar no meio de um tiroteio de verdade, o que era um dos objetivos de Sam Peckinpah ao iniciar as filmagens de Meu Ódio Será Sua Herança. Essa estética era completamente incomum na época e foi considerada praticamente uma revolução na forma de se fazer cinema.

Apesar de ter sido produzido com a perspectiva de concorrer com Butch Cassidy pela atenção do público, Meu Ódio Será Sua Herança não passou nem perto disso. Produzido, assim como seu concorrente, a um custo estimado de 6 milhões de dólares, a produção arrecadou cerca de 10.5 milhões de dólares em bilheterias. Bem menos do que os mais de 100 milhões que calcula-se que Butch Cassidy tenha arrecadado no mundo todo.

No entanto, assim como Butch Cassidy, Meu Ódio Será Sua Herança não foi muito bem entendido pela crítica especializada na época de seu lançamento e dividiu opiniões. A maioria das críticas ao filme se concentraram em sua violência explícita e, para muitos, desnecessária e a maioria dos elogios se concentram na beleza da fotografia e na criatividade das cenas e da montagem do filme. Meu Ódio Será Sua Herança recebeu apenas duas indicações ao Oscar daquele ano, nas categorias de Melhor Roteiro Original e Melhor Trilha Sonora, perdendo em ambas. A produção também recebeu indicações ao DGA Awards, ao National Society of Film Critics Awards e ao DGA Awards.

Atualmente, Meu Ódio Será Sua Herança é amplamente considerado um dos melhores filmes já feitos. Em 1999, o filme foi escolhido para preservação no National Film Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural. Ademais, a produção também foi incluída em ambas as listas “100 Years…100 Movies”, do American Film Institute, compilando os 100 melhores filmes da história do cinema norte-americano, tanto na original de 1998 quanto na atualizada de 2007.

Isso sem falar que Meu Ódio Será Sua Herança vem sendo consistentemente incluído em listas de melhores filmes da história de diversas publicações importantes, incluindo as revistas Empire, Sight & Sound, Entertainment Weekly, Business Insider, Time Out e Variety e os jornais Los Angeles Times e The New York Times.

Ademais, o Writers Guild of America (o sindicato dos roteiristas dos Estados Unidos) considera o roteiro de Meu Ódio Será Sua Herança um dos melhores da história, o Directors Guild of America (o sindicato dos diretores de cinema e televisão dos Estados Unidos), considera o filme o 63º mais bem dirigido da história e o Motion Picture Editors Guild (sindicato dos editores de cinema e televisão dos Estados Unidos), considera a sua edição a 23ª melhor da história. Dito tudo isso, fica claro porque o filme está nessa lista.

5 – Rio Vermelho (1948)

O quinto colocado dessa lista do American Film Institute é mais um faroeste estrelado pelo ícone John Wayne. Produzido em 1948, no período de ouro do gênero, Rio Vermelho traz um elenco recheado de grandes nomes, incluindo Montgomery Clift, que protagoniza a obra ao lado de Wayne, Joanne Dru, Coleen Gray, Harry Carey, John Ireland, Hank Worden, Noah Beery Jr., Harry Carey Jr., Paul Fix e Walter Brennan, que na época já havia vencido três Oscars e era um dos atores coadjuvantes mais requisitados de Hollywood.

Isso sem falar que Rio Vermelho foi dirigido pelo cultuado cineasta Howard Hawks, que já era àquela época um dos cineastas mais respeitados do cinema mundial. Filmado em 1946, mas só lançado em 1948, o filme conta a história da tensão surgida entre um rancheiro (Wayne) e seu filho adotivo (Clift) durante a primeira condução de gados entre os estados americanos do Texas e do Kansas, ocorrida em 1851.

Filmado boa parte em locação, Rio Vermelho foi um sucesso de público e crítica ainda na época de seu lançamento original. Produzido a um custo estimado de menos de 3 milhões de dólares, o filme arrecadou mais de 4.5 milhões de dólares apenas nos Estados Unidos e Canadá em “theatrical rentals”, ou seja, a parte da arrecadação que fica com o estúdio distribuidor do filme. Se tornando assim, dono da segunda maior bilheteria do ano de 1949, ficando atrás apenas do drama britânico Os Sapatinhos Vermelhos.

Cenas finais de Rio Vermelho.

Rio Vermelho também foi muito bem recebido pela crítica especializada, tendo sido elogiado por diversos críticos importantes da época, como Bosley Crowther, do jornal The New York Times, e John McCarten, da revista The New Yorker. A maioria dos elogios eram em relação a atuação dos atores, especialmente de John Wayne, que durante toda sua carreira nunca foi considerado um grande ator.

Assim diversos críticos e até mesmo o diretor John Ford consideraram a atuação de Wayne a melhor de toda a sua carreira até então. Rio Vermelho também foi considerado grandioso, bem feito e “um dos melhores filmes desse tipo a ser produzido em Hollywood”. Apesar disso, o filme recebeu apenas duas indicações ao Oscar daquele ano, nas categorias de Melhor História (categoria que deixou de existir em 1956), para o escritor Borden Chase, que escreveu a história original e coescreveu o roteiro do filme, e Melhor Edição, para Christian Nyby.

Desde seu lançamento, a reputação de Rio Vermelho cresceu ainda mais. Em 1990, em seu segundo ano de existência, o National Film Registry, escolheu o filme para preservação devido a sua importância estética, histórica e cultural. Atualmente, a obra é amplamente considerada um dos melhores faroestes já produzidos e também um dos melhores trabalhos tanto da filmografia de John Wayne quanto da filmografia de Howard Hawks.

4 – Os Imperdoáveis (1992) – O filme mais recente da lista do American Film Institute

O quarto colocado dessa lista do American Film Institute é também aquele de lançamento mais recente. Os Imperdoáveis talvez seja também o último grande faroeste produzido em Hollywood, apesar de diversos outros bons filmes do gênero terem sido lançados nas últimas três décadas. O filme é também um dos responsáveis por dar uma sobrevida ao faroeste, já que seu tremendo sucesso de público e crítica fez com que estúdios e cineastas se interessassem novamente em produzir filmes desse gênero que há algum tempo vinha em decadência.

Produzido, dirigido e estrelado por Clint Eastwood, Os Imperdoáveis é, como grande parte dos filmes desse gênero lançados a partir dos anos 1960, um “western revisionista”, ou seja, um filme de faroeste que tenta, de alguma forma, desconstruir os clichês que sempre estiveram presentes nas produções desse gênero. No filme, Eastwood interpreta William Munny, um ex-pistoleiro de aluguel que agora, já viúvo, tenta tocar sozinho uma fazenda e garantir a subsistência de seus dois filhos pequenos.

Munny, que foi um dos maiores e mais cruéis pistoleiros de seu tempo, tem vergonha de seu passado e foge dele. Contudo, ele é visitado por um jovem pistoleiro que lhe fala sobre uma recompensa oferecida pelas prostitutas da pequena cidade de Big Whiskey, no Wyoming, para qualquer um que matar dois vaqueiros que desfiguraram o rosto de uma delas. Munny, a princípio, não quer aceitar o trabalho, mas pensando em seus filhos acaba decidindo fazer esse último trabalho.

Para isso, ele recruta seu velho amigo, Ned Logan (Morgan Freeman), o único de seus companheiros de tempo de pistoleiro que ainda sobrou e parte para Big Whiskey, onde antes de completar sua “missão”, ele terá que enfrentar o habilidoso e impiedoso xerife “Little” Bill Daggett (Gene Hackman), que conhece muito bem (e odeia) todos os pistoleiros de aluguel.

Os Imperdoáveis é como se fosse um modelo para todos os westerns revisionistas. Primeiro, que no filme não temos um herói clássico, mas sim um anti-herói. William Munny não tem nenhuma motivação nobre para agir. Ele quer apenas o dinheiro que está sendo oferecido e pensa apenas em si e em seus filhos. Ele também não é nenhum modelo de ser humano. Atualmente aposentado, ele foi um temido assassino que, inclusive, matava até mesmo mulheres e crianças.

Por isso, ele tem tanta vergonha de seu passado. Munny é também um alcoólatra. É o álcool que o “transforma” no monstro que ele um dia foi. Por isso, ele evita beber o filme todo e só o faz quando é obrigado, no final da história. Os Imperdoáveis também mostra de forma cruel, suja e deprimente os tiroteios e assassinatos. Não há nada de romântico aqui. Até mesmo The Schofield Kid (Jaimz Woolvett), personagem ingênuo que funciona como uma espécie de representação do faroeste tradicional, é uma “fraude” e perde sua inocência no decorrer da história.

O personagem English Bob (Richard Harris), que se apresenta como um pistoleiro heroico e corajoso, também é um fraude e sai de cena humilhado e espancado por Bill Daggett, se mostrando covarde e mentiroso. Enfim, Os Imperdoáveis tem tantos simbolismos e arquétipos que já fizemos uma análise completa sobre ele no texto que você encontra aqui nesse link. Devido a toda sua complexidade e qualidade inegável, o filme foi um imenso sucesso de público e crítica.

Cena de Os Imperdoáveis em que William Munny volta a matar.

Produzido a um custo de pouco mais de 14 milhões de dólares, Os Imperdoáveis arrecadou mais de 159 milhões em bilheterias, se tornando dono da 11ª maior bilheteria do ano de 1992. Um imenso sucesso para um produção cujos principais pilares são uma história bem contada e a atuação brilhante de seu elenco de atores e atrizes.

Os Imperdoáveis também foi muito bem recebido pela crítica especializada ainda na época de seu lançamento. Amplamente considerado una obra-prima e um dos melhores faroeste feitos em muito tempo, a obra foi incluída em 96 listas de melhores filmes do ano de diversos veículos de imprensa dos Estados Unidos e também de outros países. A produção também se tornou uma das grandes vencedoras daquela temporada de premiações.

No Globo de Ouro, Os Imperdoáveis recebeu indicações em quatro categorias, Melhor Filme – Drama, Melhor Direção, Melhor Roteiro e Melhor Ator Coadjuvante (para Gene Hackman), vencendo as categorias de Melhor Direção e Melhor Ator Coadjuvante. No BAFTA, a obra recebeu seis indicações, incluindo nas categorias de Melhor Filme, Direção, Roteiro Original e Ator Coadjuvante (para Hackman). O filme, no entanto, só venceria nessa última.

Os Imperdoáveis, contudo, foi o principal vencedor do Oscar aquele ano, sendo indicado em nove categorias e vencendo em quatro delas, incluindo nas de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Ator Coadjuvante. Com isso, o filme se tornou apenas o terceiro faroeste em toda a história, a vencer o Oscar de Melhor Filme. Aquela também seria a última indicação, e vitória, no Oscar de toda a premiada carreira de Gene Hackman.

Clint Eastwood, que nunca antes fora considerado um bom ator, receberia a primeira indicação a Melhor Ator de toda a sua carreira, perdendo para Al Pacino e sua atuação em Perfume de Mulher. Aliás, essa seria também a primeira indicação e a primeira vitória de Eastwood ao Oscar de Melhor Direção. Depois de Os Imperdoáveis, o seu trabalho seria mais levado a sério e ele se tornaria um habitué nos Prêmios da Academia.

Atualmente, Os Imperdoáveis é amplamente considerado um dos melhores filmes já feitos, tendo sido incluído em ambas as listas “100 Years…100 Movies”, do American Film Institute, compilando os 100 melhores filmes da história do cinema norte-americano, tanto na original de 1998 quanto na atualizada de 2007. Em 2004, apenas 12 anos após seu lançamento, o filme foi escolhido para preservação no National Film Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural.

3 – Os Brutos Também Amam (1953)

O terceiro colocado dessa lista do American Film Institute é um dos grandes clássicos do faroeste produzidos nos anos 1950, a década em que esse gênero provavelmente atingiu seu auge de qualidade e também popularidade. Em Os Brutos Também Amam, Alan Ladd interpreta Shane um vaqueiro misterioso, mas muito habilidoso como uma arma na mão, que acaba sendo contratado como ajudante por um fazendeiro e sua esposa, que vivem em uma propriedade afastada de tudo no antigo Território do Wyoming, nos Estados Unidos.

Shane, no entanto, acaba sem querer se envolvendo em uma disputa por terras, já que um grande fazendeiro da região que expulsar os pequenos proprietários para se apropriar de suas terras. É claro que Shane será obrigado a utilizar sua habilidade com armas para, mesmo forçado, enfrentá-lo. Dirigido e produzido pelo consagrado cineasta George Stevens, Os Brutos Também Amam conta com um elenco de primeira linha que, além de Ladd, inclui ainda Jean Arthur, em seu último papel no cinema, Van Heflin, Brandon deWilde, Jack Palance, Emile Meyer, Elisha Cook Jr., Edgar Buchanan e Ben Johnson.

Apesar de ser um “faroeste tradicional”, o filme inclui níveis de violência que não eram comuns para o cinema da época. Isso porque, George Stevens queria mostrar ao público os “horrores da violência”. Especialmente, a cena em que o vilão, Jack Wilson (Jack Palance), mata a sangue frio outro personagem, Frank “Stonewall” Torrey (Elisha Cook Jr.), chocou muita gente e é considerado por muitos críticos e cineastas um momento de mudança no nível de violência que era aceito nos filmes faroeste da época. Além disso, a cena final do filme em que Shane vai embora enquanto o garoto Joey Starrett (Brandon deWilde) pede que ele volte, ainda é uma das mais icônicas da história do cinema.

Cena final de Os Brutos Também Amam.

Os Brutos Também Amam foi um grande sucesso de crítica e público ainda na época de seu lançamento. Produzido a um custo estimado de 1.5 milhões de dólares, a produção arrecadou cerca de 9 milhões de dólares nos chamados “theatrical rentals” apenas nos Estados Unidos. Como os “theatrical rentals” são apenas a parte da arrecadação de um filme que fica para o distribuidor da produção, calcula-se que Os Brutos Também Amam tenha arrecadado cerca de 20 milhões de dólares em bilheterias. O filme foi dono da terceira maior bilheteria do ano de 1953.

Os Brutos Também Amam também foi bastante elogiado pela crítica especializada da época, sendo considerada uma representação “rica e dramática” do período da expansão da fronteira americana e também uma produção que trazia um novo ponto de vista sobre uma história já conhecida. A produção foi indicada a seis Oscars, incluindo indicações nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator Coadjuvante (para Brandon deWilde e Jack Palance) e Melhor Roteiro Adaptado. A produção acabaria por vencer apenas o Oscar de Melhor Fotografia – em Cores.

Atualmente, Os Brutos Também Amam é amplamente considerado um dos melhores filmes já feitos na história do cinema. A produção foi incluída pelo American Film Institute em sua famosa lista “100 Years…100 Movies”, compilando os 100 melhores filmes da história do cinema norte-americano, de 2007. E em 1993, o filme foi escolhido para preservação no National Film Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural.

2 – Matar ou Morrer (1952)

O segundo colocado dessa lista do American Film Institute é outra produção realizada na riquíssima (pelo menos, para o cinema faroeste) década de 1950. Reunindo um time de grande talento, Matar ou Morrer foi produzido por Stanley Kramer, escrito por Carl Foreman, dirigido por Fred Zinnemann e estrelado por Gary Cooper, todos profissionais do primeiro time de Hollywood. A obra foi revolucionária para sua época por diversos motivos.

No filme, Cooper interpreta Will Kane, xerife de uma pequena cidade do Território do Novo México, no Oeste americano. Kane acaba de se casar e, por isso, pretende se aposentar e mudar-se para outra cidade onde se tornará comerciante. Ele descobre, contudo, que um perigoso criminoso que ele prendeu foi solto e chegará a cidade ao meio dia, um dia antes da chegada do novo xerife. Imbuído de um forte senso de dever e justiça, Kane decide não ir embora do local, que ficará desprotegido, e defender a cidade contra o criminoso e outros três aliados, que estarão com ele.

Desesperado por ajuda para tentar enfrentar os quatro foras da lei, Kane é completamente abandonado por quase toda a cidade. Alguns se escondem para não ajudá-lo, outros o chantageiam, outros dizem na sua cara que não irão mover um dedo para defender a cidade. Os que, eventualmente, se prontificam a ajudá-lo a enfrentar os criminosos, ou são fisicamente incapazes, ou velhos demais, ou jovens demais ou mesmo se acovardam no último momento. Até mesmo sua esposa, a princípio, o abandona. O prefeito da cidade também pretende fugir antes da chegada dos criminoso. Deixado sozinho, ele terá que enfrentá-los sem nenhuma ajuda.

Além de Cooper, que é a grande força motriz de Matar ou Morrer, o filme tem um elenco de primeira linha, que conta com Grace Kelly, Thomas Mitchell, Lloyd Bridges, Katy Jurado, Otto Kruger, Lon Chaney Jr. e Lee Van Cleef, em seu primeiro papel no cinema. O primeiro aspecto que chama atenção em Matar ou Morrer é que sua história é contada em tempo real. Os cerca de 90 minutos de duração do filme, é também o tempo que dura a ação que se passa na telona.

Todo o enredo do filme é mostrado em uma espécie de contagem regressiva e a todo momento nos é lembrado que os criminosos chegaram na cidade ao meio-dia. Aliás, o principal fora-da-lei, Frank Miller (Ian MacDonald), chegará a cidade no mesmo trem do meio dia, em que a esposa de Will Kane, Amy Fowler Kane (Grace Kelly), pretende deixar o local. Assim, somos o tempo todo lembrados de quantos minutos faltam para o meio-dia. Daí, inclusive, é que vem o nome original do filme “High Noon”, algo como “meio-dia em ponto” na tradução para o português.

Esse tipo de técnica narrativa, de contar uma história em tempo real, seria depois amplamente utilizada no cinema e também na televisão, dando origem a produções de enorme sucesso, como a série 24 horas (2001-2010). Outro aspecto que chama muita atenção em Matar ou Morrer é obviamente o seu enredo. Primeiro, temos um herói na acepção mais clássica da palavra. Will Kane tem um senso tão forte de dever e justiça que ele não consegue abandonar uma cidade que o abandona.

Seria muito mais fácil que ele simplesmente fosse embora e deixasse todos à mercê dos criminosos. Era a solução mais simples e é também o que todos o dizem para fazer. Ele não ganhará nada por enfrentar os criminosos, apenas perderá, inclusive, até mesmo sua esposa e sua vida. Se em outros filmes dessa lista, temos personagens obrigados a agir ou agindo simplesmente para ganhar algo, em Matar ou Morrer, temos um herói completamente altruísta e desprovido de qualquer egoísmo.

Outro aspecto do roteiro do filme que chama atenção é, obviamente, o fato de todos abandonarem Kane, até mesmo aqueles que antes pareciam amigos ou aliados dele. Até mesmo, a princípio, sua esposa, uma pacifista que detesta a violência, resolve deixá-lo. Aqui, temos o tema do homem que vai contra todos e que também é deixado de lado por todos, mesmo tendo feito tanto por eles ao longo dos anos. Por fim, temos a questão do final de Matar ou Morrer, quando finalmente Will Kane é obrigado a enfrentar seus algozes.

Aqui, temos a luta suja, violenta e deprimente do velho oeste. É nesse momento, que Matar ou Morrer deixa de lado muito do romantismo do faroeste clássico (se é que em algum momento o filme utiliza-se disso). Temos também um herói sendo salvo, no último momento, por uma mulher. O que era incomum para a época e causou polêmica, já que normalmente, é o mocinho quem salva a mocinha. Temos também Kane, finalmente, abandonando a cidade que o abandonou muito antes. Matar ou Morrer é tão cheio de simbolismos que seria impossível falar de todos aqui, para isso, precisaríamos escrever uma análise completa.

Lançado em 1952, no auge do Macarthismo e da Guerra Fria, Matar ou Morrer causou muita polêmica na época de seu lançamento. Considerado uma alegoria altamente simbólica do contexto político da época, o filme foi rejeitado por muita gente. Carl Foreman, roteirista de Matar ou Morrer, foi colocado na “lista negra” por sua suposta associação com o comunismo e teve que se mudar para a Inglaterra, já que não achava mais trabalho em Hollywood. Por isso, o contexto e as entrelinhas do filme eram claramente políticas para muita gente.

Além disso, a forma como a história é construída, como a cidade inteira se acovarda, como Will Kane tem dificuldades para enfrentar os criminosos e como é salvo, no último momento, por uma mulher, fez com que Matar ou Morrer fosse considerado “anti-americano” e mesmo “anti-faroeste”. John Wayne, que era a primeira escolha para protagonizar o filme, recusou o papel por achar o filme anti-americano, anti-faroeste e também por não apoiar Carl Foreman. Ele chegou a dizer que o filme era o mais “anti-americano já feito”. Como resposta a Matar ou Morrer, Wayne ajudou a produzir e estrelou Onde Começa o Inferno (1959), de Howard Hawks, que se tornaria também um grande clássico dos filmes de faroeste.

Apesar da controvérsia, Matar ou Morrer, foi um grande sucesso de bilheteria. Produzido a um custo estimado de pouco mais de 700 mil dólares, o filme arrecadou quase 4 milhões de dólares apenas nos Estados Unidos e Canadá em “theatrical rentals”, ou seja, a parte da arrecadação que fica com o estúdio distribuidor do filme. Se tornando assim, dono da décima maior bilheteria do ano de 1952. Além disso, a canção tema do filme, “The Ballad of High Noon”, composta por Dimitri Tiomkin e Ned Washington e interpretada por Tex Ritter, se tornou um enorme sucesso comercial e também um ícone do cinema faroeste, aparecendo, inclusive, em diversas outras produções.

Matar ou Morrer também foi um dos principais filmes da temporada de premiações daquele ano. A produção foi indicada a sete Oscars, incluindo indicações nas categorias de Melhor Filme, Direção, Ator, Roteiro Adaptado, Trilha Sonora e Canção Original (para “The Ballad of High Noon”). O filme saiu da cerimônia daquela noite com quatro vitórias, incluindo na categoria de Melhor Ator, para Gary Cooper, no que seria o segundo e último Oscar competitivo de sua carreira.

Trailer de Matar ou Morrer.

O grande compositor russo Dimitri Tiomkin também saiu vitorioso daquela noite. Levando para casa dois Oscars, por seu trabalho na composição da trilha sonora de Matar ou Morrer e também de sua canção-tema. Esses seriam os dois primeiros Oscars da carreira de Tiomkin, que venceria mais dois e seria indicado inúmeras outras vezes. Marar ou Morrer também seria indicado a sete Globos de Ouro, incluindo indicações a Melhor Filme – Drama, Melhor Ator (para Gary Cooper), Melhor Atriz Coadjuvante e Revelação do Ano (para Katy Jurado), Melhor Roteiro e Melhor Trilha Sonora Original. O filme venceria em quatro categorias, incluindo vitórias para Cooper, Jurado e Tiomkin.

Atualmente, Matar ou Morrer é unanimemente considerado um dos melhores filmes já feitos. O filme é amplamente considerado um dos mais revolucionários e influentes faroestes já produzidos e diversos elementos de seu enredo e de sua estética têm sido copiados desde o seu lançamento. A obra também é frequentemente incluída em listas de melhores filmes da história elaboradas por veículos de imprensa e organizações cinematográficas.

A produção, inclusive, foi incluída em ambas as listas “100 Years…100 Movies”, do American Film Institute, compilando os 100 melhores filmes da história do cinema norte-americano, tanto na original de 1998 quanto na atualizada de 2007. Além disso, Will Kane é também considerado um dos mais icônicos e famosos heróis da história do cinema e outros elementos do filme, como a trilha sonora de Dimitri Tiomkin, o roteiro de Carl Foreman e a canção-tema do filme são amplamente lembrados e celebrados até os dias atuais.

Matar ou Morrer também é considerado um dos papéis mais importantes da carreira de Gary Cooper, que foi um dos maiores atores da história do cinema mundial. Além disso, o filme também fez de Grace Kelly, uma estrela global, apesar de muitos terem torcido o nariz para sua atuação na época do lançamento do filme. Em 1989, Matar ou Morrer foi um dos 25 filmes originalmente escolhidos para serem preservados no National Film Registry, em seu primeiro ano de existência.

1 – Rastros de Ódio (1956)

O primeiro colocado dessa lista do American Film Institute também foi lançado nos anos 1950 e é mais um colaboração entre John Ford e John Wayne, dois dos maiores nomes do filme faroeste. Baseado no livro de Alan Le May, Rastros de Ódio traz Wayne no papel de Ethan Edwards (John Wayne), um veterano da Guerra Civil Americana, que ao lado de seu sobrinho adotado (Jeffrey Hunter), passa anos procurando sua sobrinha sequestrada por índios Comanche (Natalie Wood). Daí, inclusive, o nome original do filme em inglês, The Searchers, algo como “os que procuram” ou “os procuradores”, em tradução para o português.

Apesar de aqui, termos em tese um faroeste tradicional, Ethan Edwards, personagem de John Wayne, está longe de ser um herói clássico. Isso porque, ele age de forma obsessiva e quase que maníaca a procura de sua sobrinha. Além disso, Ethan é um personagem amargurado pela derrota na Guerra Civil Americana, onde ele lutou pelos Confederados, e cheio de ideias preconcebidas. Ao encontrar sua sobrinha vivendo, aparentemente feliz, com os indígenas que a sequestraram, ele quer matá-la ao descobrir que ela não quer mais voltar a “civilização”.

Ethan ainda faz de tudo para encontrar e matar o líder Comanche que a sequestrou, em uma espécie de busca por vingança quase que irracional. Além do conflito entre o indígena e o homem branco, Rastros de Ódio toca em diversas feridas, mesmo que, muitas vezes, de forma velada: o estupro das mulheres sequestradas pelos indígenas e sua “contaminação” pelos costumes dos sequestradores; o racismo como, de alguma forma, justificativa para o homicídio e, até mesmo, para o genocídio; a confusão identitária daqueles que, sequestrados, viveram por anos entre os indígenas.

Isso sem falar na relação, no mínimo, estranha entre Ethan e a esposa de seu irmão. Apesar de nenhum diálogo deixar isso claro, nas entrelinhas, é possível notar que eles sentem atração um pelo outro. O fato de Debbie Edwards (Natalie Wood), sua sobrinha sequestrada pelos indígenas, ter oito anos de idade, mesmo tempo que Ethan fica fora de casa, somada a clara atração entre ele e sua cunhada e o fato de John Ford deixar bem evidente essa informação para o espectador, levou muitos críticos e analistas a sugerir que Debbie seria, na verdade, filha de Ethan.

O que justificaria sua obsessão em resgatá-la a todo custo e sua inaceitação de que ela continue a viver com os indígenas. Como toda grande obra-prima do cinema, Rastros de Ódio tem muitas camadas e muitos temas que valem a pena ser analisados. Contudo, é impossível fazê-lo nas poucas linhas desse texto.

Filmado quase todo em locação e explorando extensivamente a paisagem do oeste norte-americano, Rastros de Ódio foi um sucesso moderado de público e crítica. Produzido a um custo estimado de 3.75 milhões de dólares, o filme arrecadou, apenas durante seu lançamento original, cerca de 5 milhões de dólares somente nos Estados Unidos e Canadá nos chamados “theatrical rentals”, ou seja, a parte da arrecadação que fica com o estúdio distribuidor do filme. Assim, apesar de não ter sido um dos dez filmes mais vistos daquele ano, a produção deu lucro para seus produtores.

Cena final de Rastros de Ódio

Rastros de Ódio também agradou a crítica especializada na época de seu seu lançamento, mas não foi poupado por ela. A maioria dos elogios ao filme foram em relação a sua fotografia, sua montagem, a direção de John Ford e as interpretações do elenco e, principalmente, de John Wayne. Contudo, a duração do filme foi critica por alguns, assim como também alguns aspectos de seu roteiro, especialmente, as histórias românticas paralelas a história principal. Para alguns críticos, como Roger Ebert, por exemplo, essas histórias tiram o foco do que o filme tem de melhor que é o personagem de Wayne e sua busca obsessiva.

Apesar de atualmente ser considerado um clássico do cinema, Rastros de Ódio não recebeu nenhuma atenção na temporada de premiações de 1956. A produção passou batida por todos os principais prêmios daquele ano, não recebendo nem sequer uma indicação ao Oscar, ao Globo de Ouro ou ao BAFTA. Esse fato é, inclusive, sempre listado entre os maiores erros cometidos pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos (AMPAS), a instituição que organiza o Oscar, em toda a sua história.

Atualmente, Rastros de Ódio é unanimemente considerado um dos melhores filmes de toda a história do cinema. A produção foi incluída em ambas as listas “100 Years…100 Movies”, do American Film Institute, compilando os 100 melhores filmes da história do cinema norte-americano, tanto na original de 1998 quanto na atualizada de 2007. A obra também quase sempre aparece em lista de melhores filmes da história compilados por veículos de imprensa.

Entre as principais listas desse tipo em que Rastros de Ódio aparece com destaque, estão as da respeitadíssima revista francesa Cahiers du Cinéma, da igualmente respeitada revista britânica Sight & Sound e de diversos outros veículos de imprensa dos Estados Unidos. Em 1989, Rastros de Ódio foi um dos 25 filmes originalmente escolhidos para serem preservados no National Film Registry, em seu primeiro ano de existência. Além disso, o filme tem sido extremamente influente desde o seu lançamento e é quase impossível listar as produções e cineastas que foram influenciados por ele.

Conclusões sobre a lista do American Film Institute

O primeiro fato que chama bastante atenção na lista de melhores faroestes do American Film Institute é que os três primeiros colocados da lista foram produzidos e lançados na década de 1950 aquela que é, provavelmente, a época em que esse gênero mais esteve em destaque. Aliás, diversos outros clássicos do faroeste, que não estão nessa lista, foram lançados nessa década. Os anos 1950 são também a década com mais filmes nessa lista, três no total.

A década de 1960 também possui três filmes na lista, mas dois deles, curiosamente, foram lançados no mesmo ano, 1969. Que, por esse motivo, é o ano com mais filmes nessa lista, exatamente dois. O mais curioso é que os dois filmes lançados nesse ano, Meu Ódio Será Sua Herança e Butch Cassidy estão intimamente relacionados um com o outro. Isso porque, Meu Ódio Será Sua Herança foi produzido justamente para concorrer nas bilheterias com Butch Cassidy e utilizou material não usado na produção desse filme.

Apesar de Butch Cassidy ter feito muito mais sucesso na época, do que Meu Ódio Será Sua Herança, atualmente, ambas as produções são consideradas grandes clássicos do cinema. Os anos 1960 são especialmente interessante, porque o faroeste estava tentando se desconstruir para se reconstruir, com filmes que se afastavam do enredo e também da estética dos filmes de faroeste clássicos.

Além dos seis representantes dessas duas décadas, temos um representante cada, das décadas de 1930, 1940, 1970 e 1990. É interessante destacar os representantes das décadas de 1930 e 1990. No Tempo das Diligências, lançado em 1939, foi responsável por fazer com que o faroeste voltasse a ser considerado comercialmente interessante em Hollywood e foi, mesmo que indiretamente, responsável pela era de ouro que o gênero viveria nos anos 1940 e 1950. Portanto, podemos até mesmo dizer que os três primeiros filmes dessa lista nem sequer existiram se não fosse por ele.

E mais, No Tempo das Diligências também foi responsável por tornar John Wayne famoso e por fazer com que John Ford voltasse a dirigir faroestes. Os dois se tornariam as duas principais figuras desse gênero. Não à toa, Ford dirigiria e Wayne estrelaria, o primeiro colocado dessa lista, Rastros de Ódio. Aliás, Ford dirigiu dois filmes dessa lista, mais do que qualquer outro diretor, e Wayne estrelou três, mais do que qualquer outro ator. O que só demonstra mais uma vez, a importância da dupla para o faroeste.

Já outro ícone desse gênero, Clint Eastwood, é responsável por dirigir, produzir e estrelar o representante dos anos 1990. Lançado em 1992, Os Imperdoáveis foge bastante da estética de outros faroestes estrelados por Eastwood, que fez seu nome aparecendo em produções do chamado “faroeste espaguete”. Os filmes estrelados por Eastwood nessa época não estão nessa lista, pois quase todos eles foram produzidos na Itália e esta lista, como dito na introdução, é composta exclusivamente por filmes produzidos nos Estados Unidos.

Clint Eastwood, no entanto, voltaria ao faroeste em 1992 para produzir um clássico que ajudaria a renovar o gênero que havia passado boa parte dos anos 1970 e 1980 esquecido. Filme complexo, Os Imperdoáveis merece não apenas seu lugar nessa lista, mas também entre os grandes filmes já produzidos pelo cinema mundial.

Outro fato interessante observável nessa lista, é que nove dos dez filmes compilados aqui foram, em algum momento, escolhidos para preservação no National Film Registry, da Biblioteca do Congresso Americano, que é uma coleção dos filmes considerados mais importantes já produzidos pelo cinema norte-americano. A única exceção é Dívida de Sangue (1965), décimo colocado da lista e que, até 2024, ainda não havia sido escolhido para a preservação no NFR.

Também é interessante observar como que alguns dos filmes aqui presentes foram laureados pela crítica especializada assim que foram lançados e receberam indicações (e vitórias) em premiações importantes, enquanto que outros foram veementemente criticados e só com o passar dos anos passaram a ter suas qualidades reconhecidas. No entanto, é interessante que quase todas as produções dessa lista foram, em alguma medida, sucessos de bilheteria ainda na época de seus lançamentos.

Alguns fizeram sucesso mediano, capaz de dar lucro a seus produtores, mas nada além disso. Já outros, como Os Imperdoáveis (1992) e Butch Cassidy (1969), por exemplo, foram gigantescos sucessos de público na época de seu lançamento. A única exceção parece ter sido Onde os Homens São Homens (1971), que realmente sofreu para dar lucro e também com a propaganda negativa na época de seu lançamento.

Apesar das indicações ao Oscar de diversos filmes presentes nessa lista, apenas Os Imperdoáveis (1992) consegui vencer o Oscar de Melhor Filme, considerado a principal premiação do cinema mundial. Aliás, além dele, apenas outros dois faroestes, Cimarron (1931) e Dança com Lobos (1991), venceram o Oscar nessa categoria e nenhum deles foi escolhido para integrar essa lista. Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), que também venceu o Oscar de Melhor Filme, é considerado por muitos analistas e estudiosos um tipo de faroeste, apesar de não se passar na época da expansão territorial norte-americana e carecer também de diversas características típicas do gênero.

Ainda nesse sentido, incrivelmente, o primeiro colocado dessa lista, Rastros de Ódio, foi completamente ignorado pelo Oscar na época de seu lançamento e não recebeu nenhuma indicação a premiação, nem sequer em categorias técnicas. Esse fato, aliás, é considerado um dos maiores erros já cometidos pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos (AMPAS), a instituição que organiza o Oscar, em toda a sua história.

Conclusão

E aí, gostou da nossa lista. Esperamos que sim. Como sempre, tentamos não apenas listar as produções constantes dessa lista, mas também explicar da melhor forma possível porque elas foram escolhidas para estar aqui. Dessa forma, nosso leitor é capaz de entender porque um filme foi escolhido e outro não. Se gostou da nossa lista, não esqueça de deixar seu comentário abaixo. Lembre-se sempre que ele é muito importante para nós.

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