Infelizmente, no último dia 20 de junho, o mundo do cinema perdeu um de seus maiores nomes, o ator canadense Donald Sutherland. Sua família não revelou a causa exata de sua morte, mas disse que Sutherland faleceu depois de uma “longa doença”. O ator tinha 88 anos de idade. Seu último papel havia sido no drama Miranda’s Victim, lançado no ano passado.
Em uma carreira que durou 60 anos, Donald Sutherland atuou em quase 150 filmes e mais de 40 produções televisivas. Suas atuações, tanto no cinema quanto na televisão, lhe renderam oito indicações ao Globo de Ouro, uma indicação ao BAFTA, duas indicações ao Primetime Emmy Award, além de indicações, e vitórias, em inúmeras outras premiações importantes.
Incrivelmente, Donald Sutherland nunca recebeu sequer uma indicação ao Oscar em sua carreira, o que é amplamente considerado uma das maiores injustiças já cometidas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (AMPAS), entidade que organiza e entrega a mais importante premiação do cinema mundial. Em 2017, no entanto, a AMPAS reconheceu a importância de Sutherland para o cinema com um Oscar Honorário pelo conjunto de sua obra.
Além de premiações por seu trabalho, Donald Sutherland também foi condecorado com a Ordem do Canadá, com estrelas nas Calçadas da Fama do Canadá e de Hollywood, com um selo comemorativo em sua homenagem e com diversas outras honrarias concedidas ao longo de sua vida e carreira.
Nessa lista, iremos compilar dez dos trabalhos mais importantes da carreira da Donald Sutherland. Para isso, consideraremos a qualidade de sua interpretação, importância do trabalho para sua carreira, importância geral da obra e também seu legado para o cinema e ainda o reconhecimento do trabalho de interpretação junto ao público geral.
Sutherland, como dito, participou de quase 150 filmes em sua carreira, atuando em diversas obras importantes e sendo dirigido por alguns dos mais importantes, renomados e talentosos cineastas de sua época. Por tudo isso, escolher apenas 10 filmes em sua carreira não será uma tarefa fácil, mas estamos preparados para realizá-la.
Além da lista, também apresentaremos uma breve biografia, contando um pouco do inicio da vida de Donald Sutherland e como ele começou sua carreira como ator. É importante mencionar também que, além de ator brilhante, Sutherland também é pai de outros três atores, incluindo, Kiefer Sutherland, que tem, ele próprio, uma carreira bastante respeitável e bem-sucedida. Então, sem mais demoras, vamos lá.
Donald Sutherland: Do interior do Canadá para o estrelato mundial
Donald Sutherland nasceu na, relativamente, pequena e histórica cidade portuária de Saint John, na costa leste do Canadá. O futuro ator teve uma infância atribulada, em que ele contraiu diversas doenças, incluindo, febre reumática, hepatite e pólio. Seu primeiro emprego foi como correspondente de uma rádio local de Bridgewater, ainda no Canadá, onde ele passou boa parte de sua adolescência.
Donald Sutherland estudou na Univerdade de Toronto e também na Universidade de Vitória, onde ele obteve diplomas em Engenharia e Drama. Nessa época, ele chegou, inclusive, a fazer parte de um grupo de comédia na cidade de Toronto. Em 1957, Sutherland desistiu de ser engenheiro e decidiu que se tornaria ator. Nessa mesma época, ele se mudou para a Inglaterra e ingressou na prestigiada London Academy of Music and Dramatic Art (LAMDA), ou “Academia de Música e Arte Dramática de Londres”, na tradução livre para o português.
Enquanto estudava na LAMDA, Sutherland já começou a participar de produções do West End, que reúne a meca do teatro britânico. Apesar disso, o ator deixou a Academia ainda em seu primeiro ano e se mudou para a Escócia para atuar no Perth Repertory Theatre. Sutherland viveu por cerca de um ano e meio no pais. De volta a Londres, o ator começou a voltar seus olhos para o cinema e para a televisão.
Na primeira metade dos anos 1960, ele começou a aparecer em pequenos papéis em produções televisivas e filmes britânicos. Nessa época, inclusive, ele chegou a atuar, geralmente, em papéis coadjuvantes, em diversos filmes de terror ingleses, incluindo, produções do famoso estúdio Hammer Films. Nessa época, ele chegou a atuar ao lado do mitológico ator Christopher Lee em O Castelo dos Mortos Vivos (1964) e no clássico da Hammer, Fanatismo Macabro (1965).
Nesse mesmo ano, ele apareceu em outro grande clássico do cinema inglês, o filme de guerra O Caso Bedford (1965), ao lado de grandes atores, como Sidney Poitier, Martin Balsam e Richard Widmark. Em 1966, Donald Sutherland apareceu em diversas produções, incluindo episódios de O Santo, série estrelada por Roger Moore e que fazia muito sucesso na época. Foi utilizando um dos episódios da série em que ele aparecia é que Sutherland conseguiu seu primeiro grande papel, no clássico de guerra Os Doze Condenados (1967).
O sucesso do filme, que foi o quinto mais visto do ano em 1967, fez com que Donald Sutherland resolvesse se mudar para os Estados Unidos e ir atrás de uma carreira em Hollywood. Lá, ele conseguiu o papel que o tornaria famoso, na comédia de humor negro M.A.S.H. (1970). Daí por diante, Sutherland participaria de grandes produções, seria dirigido por grandes diretores (incluindo o genial Federico Fellini) e atuaria ao lado de praticamente todos os grandes atores de sua geração.
Ao longo dos anos 1970 e 1980, Donald Sutherland atuaria no que seriam os filmes mais icônicos de sua carreira. Por isso, as produções dessa época são maioria em nossa lista. Contudo, tanto nos anos 1990, 2000 e 2010, o ator teria papéis de destaque em grandes produções e seria reconhecido como um dos atores mais talentosos e versáteis de sua geração. Donald Sutherland se casaria três vezes e teria algumas outras parceiras durante a vida.
O ator também teria cinco filhos, incluindo Kiefer Sutherland, que também se tornaria um dos atores mais reconhecidos do cinema e da televisão mundial. A partir daqui, podemos encerrar essa minibiografia, já que falaremos mais sobre a carreira de Sutherland através da lista de filmes que separamos para vocês. Então, vamos ao que interessa, a lista.
Os Doze Condenados (1967) – O filme que revelou Donald Sutherland para o mundo
Impossível deixar Os Doze Condenados de fora dessa lista. Primeiro, por ter sido o primeiro grande papel da carreira de Donald Sutherland. Segundo, por ser um dos melhores filmes de guerra já feitos na história e um dos maiores clássicos do cinema contemporâneo. O filme, acompanha a rotina de doze condenados treinados pelos Aliados que, durante a Segunda Guerra Mundial, se preparam para uma “missão suicida”, que ocorrerá antes da fatídica Invasão da Normandia, ocorrida em 6 de junho de 1944.
Os Doze Condenados é, pelo menos, parcialmente baseado em fatos reais e além de contar com a direção do consagrado cineasta Robert Aldrich, ainda conta com um elenco de primeira linha. Entre os nomes de maior destaque do elenco estão, Lee Marvin, Ernest Borgnine, Charles Bronson, Jim Brown, John Cassavetes, Richard Jaeckel, George Kennedy, Ralph Meeker, Robert Ryan, Trini Lopez, Telly Savalas, Clint Walker, Robert Webber e, claro, Donald Sutherland.
Apesar de ser uma produção anglo-americana, Os Doze Condenados foi todo filmado no Reino Unido, o que deu a Donald Sutherland a chance de atuar no filme, no papel de um dos condenados, Vernon L. Pinkley. Segundo Roger Moore, Sutherland teria conseguido o papel após apresentar aos produtores do filme trechos de sua atuação em “Escape Route”, episódio de O Santo, série de grande sucesso na Inglaterra na época e que era estrelado pelo próprio Moore.
Ainda no início de sua carreira Donald Sutherland havia atuado em alguns episódios da série, incluindo “Escape Route” que, inclusive, havia sido dirigido pelo próprio Roger Moore. O sucesso de Os Doze Condenados (1967), daria a Sutherland, uma carreira de sucesso em Hollywood. O filme arrecadaria cerca de 45 milhões de dólares em bilheterias no mundo todo, incluindo cerca de 20 milhões de dólares somente nos Estados Unidos e no Canadá, o que daria ao filme a quinta maior bilheteria na América do Norte naquele ano.
A produção também foi bem recebida pela crítica especializada ainda na época de seu lançamento, apesar das críticas em relação ao que foi percebido, na época, como um excesso de violência do filme. Os Doze Condenados recebeu quatro indicações ao Oscar daquele ano, incluindo uma indicação na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (para John Cassavetes), vencendo na categoria de Melhor Efeitos Sonoros. A produção também recebeu uma indicação ao Directors Guild of America Awards, para Robert Aldrich, e uma indicação ao Globo de Ouro, também para Cassavetes.
Com o tempo, Os Doze Condenados acabou se tornando um clássico do cinema, sendo considerado um dos melhores e mais famosos filmes de guerra já feitos. Atualmente, a produção mantêm um índice de aprovação de 81% no Rotten Tomatoes, principal agregador de críticas especializadas da internet. Em 2001, o American Film Institute (“Instituto Americano de Cinema”, em tradução livre para o português) colocou Os Doze Condenados no 65º lugar de sua lista “AFI’s 100 Years…100 Thrills”, que reunia o que o instituto considerava os 100 “filmes mais emocionantes” da história do cinema americano.
JFK: A Pergunta que Não Quer Calar (1991)
Será que é possível aparecer em apenas uma cena de um filme clássico recheado de grandes intérpretes e mesmo assim se destacar? Pois, Donald Sutherland fez exatamente isso em JFK: A Pergunta que Não Quer Calar (1991). Escrito e dirigido por Oliver Stone, o filme tem um elenco de primeiríssimo nível, que conta com nomes como Kevin Costner, Kevin Bacon, Tommy Lee Jones, Gary Oldman, Sissy Spacek, Joe Pesci, Jack Lemmon, Walter Matthau e John Candy.
Em um elenco dessa qualidade, seria difícil de se destacar mesmo em um papel principal, mas Sutherland teve apenas uma cena de poucos minutos em JFK e, mesmo assim, seu personagem é um dos mais lembrados do filme até hoje. Apesar dos poucos minutos em cena, a importância de seu personagem e a ótima atuação de Donald Sutherland fizeram com que essa pequena cena se tornasse uma das mais conhecidas do filme e também um dos trabalhos mais famosos do ator. Por isso, é impossível não incluir o longa-metragem nessa lista.
JFK: A Pergunta que Não Quer Calar conta a história real de uma investigação em torno do assassinato do presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy. Apesar de repleto de teorias da conspiração e alvo de inúmeras polêmicas na época de seu lançamento, a produção foi um sucesso de público e crítica. Produzido a um custo de cerca de 40 milhões de dólares, JFK arrecadou mais de 205 milhões de dólares em bilheterias, se tornando dono da sexta maior bilheteria do ano de 1991.
Apesar de tudo, o filme foi relativamente bem recebido pela crítica e, atualmente, mantêm uma taxa de aprovação de 84% no Rotten Tomatoes, principal agregador de críticas especializadas da internet. JFK: A Pergunta que Não Quer Calar também foi indicado (e venceu) a diversas premiações importantes. A produção recebeu oito indicações ao Oscar de 1992, incluindo indicações nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante (para Tommy Lee Jones) e Melhor Trilha Sonora (para John Williams). O filme acabou por vencer as categorias de Melhor Montagem e Melhor Fotografia.
JFK: A Pergunta que Não Quer Calar também foi indicado a quatro BAFTAs e a quatro Globos de Ouro. No BAFTA, o filme venceu nas categorias de Melhor Edição e Melhor Som e no Globo de Ouro, a vitória foi na categoria de Melhor Direção. A pequena participação de Donald Sutherland no filme ajudou a estabelecer sua fama em Hollywood como alguém capaz de entregar muito mesmo em pequenas participações.
Curiosamente, o papel interpretado por Sutherland no filme deveria ser interpretado pelo mitológico ator Marlon Brando, tamanha a importância que Oliver Stone dava ao personagem. Pode-se dizer sem medo de errar, que o diretor não se arrependeu nem um pouco de escalar Donald Sutherland para interpretar o personagem.
Jogos Vorazes (2012 – 2015)
Apesar de grande parte dos filmes dessa lista terem sido lançados nos anos 1970 e 1980, quando Donald Sutherland atuou nas produções que o tornaram um dos atores mais respeitados do cinema mundial e, por isso, se tornaram também os papéis mais importantes de sua carreira, é quase impossível deixar Jogos Vorazes fora dessa lista. No filme, o ator interpreta o Presidente Coriolanus Snow, um ditador, e uma espécie de vilão, que aparece em quatro filmes da franquia Jogos Vorazes lançados entre 2012 e 2015.
Por diversos motivos é quase impossível deixar os quatro filmes da franquia Jogos Vorazes de fora dessa lista. Primeiro, porque Coriolanus Snow é, provavelmente, o último grande personagem de destaque da carreira de Sutherland. Segundo porque os filmes da franquia representam, provavelmente, o maior sucesso comercial de sua carreira. Juntos, os quatro filmes em que ele aparece como Snow, arrecadaram quase 3 bilhões de dólares em bilheterias. Apesar de ter atuado em vários sucessos de bilheteria, nenhum filme em que Sutherland apareceu chegou perto de obter esse números.
E terceiro, porque os filmes da franquia Jogos Vorazes apresentaram Sutherland, já com quase 80 anos de idade, a um novo público que não conhecia seu trabalho. Tanto é assim, que muitos veículos de imprensa noticiaram a morte do ator ligada justamente a Jogos Vorazes, com manchetes do tipo: “Morre Donald Sutherland, ator de Jogos Vorazes”. Portanto, queira ou não, os filmes da franquia mantiveram Sutherland relevante até a sua morte. E isso, não é pouco, principalmente, porque estamos falando de um ator cuja carreira começou em 1963.
Baseado na série de livros de mesmo nome escritos pela autora americana Suzanne Collins, Jogos Vorazes se passa em um futuro pós-apocalíptico em que todos os anos, adolescentes representantes de 12 distritos são obrigados a lutar até a morte nos chamados Jogos Vorazes. Estrelado por um elenco de primeira qualidade composto por atores jovens, como Jennifer Lawrence e Josh Hutcherson e veteranos, como Woody Harrelson e Stanley Tucci, todos os quatro filmes da franquia foram sucesso de crítica e público.
Em meio a esse elenco renomado, mesmo assim, Donald Sutherland mais uma vez conseguiu chamar a atenção por sua elogiada atuação na pele de Coriolanus Snow, recebendo elogios do público e também da crítica e, novamente, fazendo com que o ator se tornasse um nome conhecido de um público que nem sequer pensava em nascer quando ele começou a atuar.
O Buraco da Agulha (1981)
Mistura de thriller de espionagem com romance, O Buraco da Agulha tem um clima único e uma história bastante original. Baseado no livro de mesmo nome escrito pelo famoso autor britânico Ken Follett, o filme conta a história de um perigoso e frio espião nazista, Henry Faber (Donald Sutherland), que espionando em solo britânico acaba por descobrir informações importantíssimas que podem levar ao fracasso da Invasão da Normandia, no chamado Dia D, acontecimento que foi determinante para a derrota dos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Perseguido por toda a Grã-Bretanha, Faber foge para uma ilha isolada da Escócia, onde ele pretende se encontrar com um submarino nazista. Contudo, o tempo ruim da ilha, impede que isso ocorra. Isolado no local, o espião acaba por desenvolveu um tórrido romance com Lucy Rose (Kate Nelligan), que ao lado de seu marido deficiente, é um dos quatro moradores da ilha. Agora, tanto Lucy quanto Faber, terão que navegar entre seu envolvimento emocional e o interesse dos lados opostos que eles defendem na guerra.
Em O Buraco da Agulha, já com uma carreira consagrada, Donald Sutherland interpreta um dos papéis mais complexos e interessantes de sua carreira. Henry Faber é um nazista, ou seja, está do lado errado da história e é também um assassino frio, calculista e sem emoção. Mas ao mesmo tempo, seu envolvimento com Lucy Rose acaba por, de alguma forma, modificá-lo, a ponto de torná-lo fraco e vunerável. Assim, o personagem acaba por se tornar uma espécie de anti-herói.
O Buraco da Agulha ainda mantêm sua fama de thriller de primeira qualidade com suspense constante, enredo bem amarrado e atuações irretocáveis. Atualmente, no Rotten Tomatoes, principal agregador de críticas especializadas da internet, o filme mantêm uma taxa de aprovação de 85%. Ainda na época de seu lançamento, a produção impressionou muito gente, incluindo o famoso crítico de cinema Roger Ebert, que disse “admirar o filme”, e o cineasta George Lucas, que após assistir a O Buraco da Agulha ficou tão impressionado que convidou Richard Marquand, diretor do filme, para dirigir O Retorno de Jedi (1983), terceiro capítulo da trilogia original de Star Wars.
Clube dos Cafajestes (1978)
Primeiro filme produzido pela famosa revista de humor National Lampoon (que, aliás, revelou o genial John Hughes), Clube dos Cafajestes foi produzido a baixo custo e lançado de forma despretensiosa, mas se tornou um gigantesco sucesso de público. Devido ao enorme sucesso do filme e até a seu inegável legado e impacto no cinema cômico mundial, o personagem Professor Dave Jennings, acabou se tornando um dos mais conhecidos e icônicos de toda a carreira de Donald Sutherland.
Sutherland, aliás, é ao lado de outros intérpretes veteranos, como John Vernon e Verna Bloom, por exemplo, um dos poucos atores com carreira estabelecida que compõe o elenco do filme que, de resto, é composto quase todo por atores e atrizes jovens e em início de carreira. Até porque estamos falando de um filme protagonizado por personagens que são alunos universitários. Somente os personagens “adultos”, são intepretados por atores já estabelecidos.
Clube dos Cafajestes é baseado em algumas histórias escritas por Chris Miller para a National Lampoon que, por sua vez, são baseadas nas experiências universitárias de Harold Ramis. Os dois, ao lado de Douglas Kenney, escreveram o roteiro do filme, que foi dirigido por John Landis e produzido por Matty Simmons e Ivan Reitman. O filme custou apenas 3 milhões de dólares para ser produzido e contava com um elenco quase todo formado por atores em início de carreira.
Entre os atores jovens, apenas John Belushi, que protagoniza o filme, era famoso, devido a seu trabalho no programa humorístico de televisão Saturday Night Live, mas mesmo ele nunca antes havia aparecido em um filme. Os outros atores jovens do filme ou estavam em início de carreira ou ainda não tinha atuado em nenhum papel de destaque no cinema. Apesar de tudo isso, Clube dos Cafajestes arrecadou mais de 140 milhões de dólares em bilheterias no mundo todo, incluindo, 120 milhões só nos Estados Unidos, se tornando o terceiro filme mais visto do país em 1978.
Inicialmente, recebido com algum ceticismo pela crítica especializada, Clube dos Cafajestes acabaria por se tornar um clássico, sendo atualmente amplamente considerado uma das melhores comédias e um dos melhores filmes já feitos em toda a história do cinema mundial. O sucesso do filme fez com que ele fosse bastante imitado, fazendo com que diversas outras produções de comédia no mesmo estilo fossem lançadas e fizessem sucesso nos anos 1980, tornando popular os subgêneros de comédia colegial e comédia adolescente.
Clube dos Cafajestes também fez de John Belushi uma das maiores estrelas da comédia norte-americana e também lançou a carreira de inúmeros outros atores jovens que participaram do filme. A produção também foi responsável por consagrar os profissionais por trás das câmeras, Ramis, Lands e Reitman todos tiveram carreiras de bastante sucesso após participarem de Clube dos Cafajestes, muito por conta também do sucesso do filme.
O personagem de Donald Sutherland em Clube dos Cafajestes é muito lembrado por ser um professor “diferente” que, inclusive, fumava “baseado” com seus alunos baderneiros. Mas sua participação no filme vai muito além disso. O próprio John Landis admitiu em uma entrevista em 1998 que o filme só foi produzido por causa de Sutherland. Segundo o diretor, a Universal Pictures, que financiou e distribuiu a obra, estava receosa em produzir o filme porque eles só tinham uma estrela no elenco, justamente John Belush. Landis, que era próximo a Sutherland, ligou para o ator e pediu para que ele aceitasse um papel no longa-metragem.
Com um ator veterano e já consagrado no elenco, a Universal aceitou bancar a produção de Clube dos Cafajestes. Ironicamente, Donald Sutherland deixou literalmente de ganhar milhões de dólares com o filme. Isso porque, não acreditando muito em um eventual sucesso comercial da obra, ele condicionou sua participação na produção a um pagamento adiantado, rejeitando assim, os 2% sobre a arrecadação do filme oferencido pela Universal Pictures. Com isso, Sutherland ganhou cerca de 25 mil dólares, quando poderia ter ganho, segundo ele próprio, 14 milhões de dólares. Por tudo isso, é impossível deixar Clube dos Cafajestes de fora dessa lista.
Klute, O Passado Condena (1971)
Apenas um ano após se tornar um ator mundialmente conhecido por seu papel em M*A*S*H, Donald Sutherland protagonizaria outro filme que iria consolidar ainda mais sua carreira em Hollywood, o thriller Klute, O Passado Condena. No filme, o ator interpreta um detetive, John Klute, contratado para ajudar a resolver um caso de desaparecimento envolvendo uma acompanhante de alto padrão, Bree Daniel (Jane Fonda), que está sendo perseguida por uma figura misteriosa.
Dirigido por Alan J. Pakula, Klute, O Passado Condena faz parte da chamada “Trilogia da Paranóia” do diretor, que inclui outros dois clássicos, A Trama (1974) e Todos os Homens do Presidente (1976). Lançado em junho de 1971, Klute foi um grande sucesso de público e crítica. Produzido a um custo de cerca de 2.5 milhões de dólares, o filme arrecadou mais de 12 milhões de dólares em bilheterias.
Elogiado pela crítica ainda na época de seu lançamento, Klute atualmente mantêm um índice de aprovação de 95% no Rotten Tomatoes, principal agregador de críticas especializadas da internet. Entre os principais aspectos elogiados no filme estão seu roteiro, não apenas por sua engenhosidade, mas também por seu realismo, principalmente, na composição da personagem de Jane Fonda, que é retratada com qualidades e defeitos e também as atuações de Donald Sutherland e da própria Jane Fonda.
Aliás, Fonda recebeu indicações ao BAFTA, ao Oscar e ao Globo de Ouro por sua atuação no filme, inclusive, vencendo os dois últimos, no que seria o primeiro Oscar da carreira da consagrada atriz. Além disso, Klute também recebeu indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Roteiro Original. Atualmente, o filme é considerado um clássico do cinema de suspense e é também considerado uma das principais produções a contar com a atuação de Donald Sutherland. Por tudo isso, é impossível deixá-lo de fora dessa lista.
M*A*S*H (1970) – O filme que consagrou Donald Sutherland
O filme que realmente tornou Donald Sutherland um ator conhecido e respeitado não apenas em Hollywood, mas em todo o cinema mundial. Dirigido por Robert Altman, M*A*S*H é uma comédia de humor negro que se passa durante a Guerra da Coréia e acompanha uma unidade médica do Mobile Army Surgical Hospital (ou “Hospital Cirúrgico Móvel do Exército”, em tradução livre para o português), daí vem, inclusive, o nome do filme, que nada mais é do que a sigla do tal hospital.
Apesar de o enredo do filme se passar durante a Guerra da Coréia, M*A*S*H faz clara referência a Guerra do Vietnã que estava em curso na época do lançamento do filme. Lançado em janeiro de 1970, M*A*S*H foi um enorme sucesso de público e crítica. Produzido a um custo estimado de cerca de 3 milhões de dólares, o filme arrecadou mais de 81 milhões de dólares em bilheterias, se tornando dono da terceira maior bilheteria daquele ano.
O filme também foi amplamente elogiado ainda na época de seu lançamento. O famoso crítico de cinema Roger Ebert, deu ao filme quatro de quatro estrelas em seu sistema de classificação e rasgou elogios a produção. Escrevendo para a famosa revista The Hollywood Reporter, John Mahoney disse que M*A*S*H era a melhor comédia americana desde Quanto Mais Quente Melhor (1959) e outra crítica famosa, Pauline Kael, disse que não lembrava a última vez que havia se divertido tanto ao assistir a um filme quanto ela se divertiu assistindo a M*A*S*H.
Não à toa, a produção recebeu cinco indicações ao Oscar de 1971, incluindo indicações nas categorias de Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado e Atriz Coadjuvante (para Sally Kellerman). A obra também recebeu seis indicações ao BAFTA de 1971, incluindo indicações a Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Ator (para Elliott Gould). O filme também recebeu cinco indicações ao Globo de Ouro, incluindo uma indicação a Melhor Ator para Donald Sutherland, que seria, inclusive, a primeira indicação a uma premiação de toda a sua carreira. Por fim, M*A*S*H também recebeu a prestigiada Palma de Ouro, no Festival de Cannes de 1970.
Atualmente, M*A*S*H é unanimemente considerado um dos melhores filmes já produzidos em toda a história do cinema. Tendo, inclusive, sido escolhido para preservação no National Film Registry, da Biblioteca do Congresso Americano, por sua importância histórica, estética e cultural. O filme ajudou a consolidar não apenas a carreira de Donald Sutherland, mas também de outros atores que depois teriam carreiras muito bem-sucedidas, como Robert Duvall e Tom Skerritt. Por tudo isso, M*A*S*H é presença obrigatória nessa lista.
Inverno de Sangue em Veneza (1973)
Considerada uma das melhores atuações de toda a carreira de Donald Sutherland, Inverno de Sangue em Veneza é também uma das obras mais polêmicas de sua carreira. Mistura de thriller com terror psicológico, o filme foi dirigido por Nicolas Roeg e acabou se tornando também um dos filmes mais importantes de sua carreira. Na obra, Sutherland interpreta John Baxter, um homem que, após a morte de sua filha, viaja com a esposa, Laura Baxter (Julie Christie), para Veneza, na Itália, com a intenção de que a viagem ajude o casal a superar a perda. No entanto, chegando lá, o casal começa a experimentar inúmeros eventos estranhos e, aparentemente, sobrenaturais.
Inverno de Sangue em Veneza foi extremamente controverso na época de seu lançamento. Primeiro, porque o filme já começa com o afogamento da filha dos personagens de Sutherland e Christie, considerado, inclusive, uma das cenas mais marcantes da carreira do próprio ator. Segundo porque o filme possui uma cena de sexo considerada extremamente explícita e realística para época, o que fez com que a produção fosse, inclusive, censurada tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos. E por último, devido a forma como a obra aborda o luto de um casal que acabou de perder um de seus filhos.
Apesar de tudo isso, Inverno de Sangue em Veneza foi relativamente bem recebido pela crítica especializada da época, recebendo elogios de criticos importantes, como Pauline Kael e Roger Ebert. Entre os principais destaques do filme, estão justamente as atuações de Donald Sutherland e Julie Christie. A produção também recebeu sete indicações ao BAFTA de 1974, incluindo indicações a Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz (para Christie) e Melhor Ator (para Sutherland), a primeira indicação do ator ao mais importante prêmio do cinema britânico.
Inverno de Sangue em Veneza também foi um sucesso de público. Produzido a um custo de apenas 1.3 milhões de dólares, o filme foi um dos mais assistidos da Grã-Bretanha em 1974. Curiosamente, no país, a obra era exibida ao lado de O Homem de Palha, que também se tornaria um clássico. Nos Estados Unidos, apesar de seu lançamento considerado desatroso, o filme foi capaz de dar lucro para a Paramount Pictures, que distribui a produção no país.
Atualmente, Inverno de Sangue em Veneza é amplamente considerado um clássico do cinema mundial e uma das obras mais importantes do cinema de terror e do cinema britânico como um todo. A obra tem constantemente aparecido em lista de melhores e mais influentes filmes da história e tem sido também alvo de análises constantes por parte de teóricos e críticos de cinema.
Com o tempo, Inverno de Sangue em Veneza se tornou extremamente influente, inspirando diversos cineastas e diversos outros filmes e também produções televisivas. Aliás, a obra é tão complexa que poderia ser facilmente alvo de uma análise completa em nosso site. Por tudo isso, Inverno de Sangue em Veneza nunca poderia ficar de fora dessa nossa lista. A obra, aliás, não ficaria fora de nenhuma lista de papéis icônicos da carreira de Donald Sutherland.
Invasores de Corpos (1978)
Lançado em 1978, Invasores de Corpos é, na verdade, a segunda adaptação para o cinema do livro de mesmo nome, escrito por Jack Finney. Dessa forma, o filme é também uma espécie de remake de Vampiros de Almas (1956), primeira adaptação para o cinema do livro. Apesar de serem produções com enredos bastante diferentes, eles compartilham a principal característica comum a todas as adaptações do livro de Finney, ou seja, os seres alienigênas que produzem cópias exatas, mas sem a capacidade de sentir, de pessoas e passam a substítuí-las.
Apesar de Vampiros de Almas, ser considerado um clássico do cinema e o filme que fez com que o livro de Jack Finney se tornasse famoso, Invasores de Corpos é amplamente considerado a melhor de todas as quatro adaptações oficiais do livro para o cinema. Aliás, nós inclusive já ranqueamos esses quatro filmes. Você pode ver esse ranking aqui. No filme, um inspetor de saúde, Matthew Bennell (Donald Sutherland), de San Francisco, nos Estados Unidos e uma colega de trabalho, Elizabeth Driscoll (Brooke Adams), descobrem que as pessoas a sua volta estão sendo substituídas por alienígênas que são cópias exatas suas, mas sem emoções ou qualquer humanidade.
Dirigido por Philip Kaufman e escrito por W. D. Richter, Invasores de Corpos possui um elenco de primeira linha, que além de Sutherland e Adams, conta com outros grandes intérpretes, como Veronica Cartwright, Jeff Goldblum e Leonard Nimoy. Entre os principais aspectos lembrados do filme estão justamente seu final surpreendente, revelado em sua última cena, protagonizada justamente por Donald Sutherland. Aliás, essa cena é, muito provavelmente, a mais conhecida de toda a carreira do ator.
Apesar de hoje ser considerado um clássico absoluto, um dos melhores filmes já feitos e um marco no gênero de ficção científica, Invasores de Corpos dividiu as opiniões de críticos quando foi lançado em 1978. Alguns críticos famosos, como Pauline Kael, Gene Siskel e Kevin Thomas, elogiaram o filme. Kael chegou, inclusive, a dizer que o filme era o melhor “desse tipo” já feito. Outros críticos igualmente importantes, como Roger Ebert, Janet Maslin e Richard Schickel, por exemplo, não gostaram tanto assim de Invasores de Corpos. Ebert, inclusive, chegou a dizer que os elogios de Kael a obra, eram “inexplicáveis”.
O fato é que Invasores de Corpos se tornou uma das produções mais importantes da história do cinema de ficção científica e também um dos filmes mais importantes de toda a carreira de Donald Sutherland, se tornando um de seus papéis mais icônicos. Aliás, ouso dizer que o filme está entre os três mais importantes de toda a filmografia desse brilhante ator. Por tudo isso, é claro que esse clássico não poderia faltar em nossa lista.
Gente como a Gente (1980)
Com toda a certeza o papel mais importante, conhecido e icônico de toda a carreira de Donald Sutherland e também a vez em que ele chegou mais perto de receber uma indicação ao Oscar. Aliás, muita gente até hoje não entende, e acha uma enorme injustiça, que Sutherland não tenha recebido sequer uma indicação ao Oscar por seu papel em Gente como a Gente. Afinal de contas, todos os outros três atores principais do filme foram indicados e Timothy Hutton, na época com apenas 20 anos de idade, inclusive, ganhou o Oscar por sua atuação no filme. Sutherland, no entanto, ficou a ver navios.
Em Gente como a Gente, Donald Sutherland interpreta o chefe de uma rica família de Chicago, nos Estados Unidos, que tem que lidar com a morte recente de seu filho mais velho e com a tentativa de suicídio de seu filho mais novo que se culpa pela morte do irmão. Drama familiar pesadíssimo, o filme foi dirigido por Robert Redford, em sua estreia como diretor de cinema, e escrito por Alvin Sargent, tendo sido baseado no romance de mesmo nome, escrito por Judith Guest. Além de Sutherland e Hutton, o elenco de Gente como a Gente conta com outros atores consagrados, como Mary Tyler Moore, Judd Hirsch, Elizabeth McGovern e M. Emmet Walsh.
Gente como a Gente foi, provavelmente, o filme mais elogiado e premiado de 1980 e, atualmente, é considerado um dos dramas mais importantes lançados nos anos 80. Unanimemente aclamado ainda na época de seu lançamento, o filme recebeu elogios rasgados de críticos importantes, como Roger Ebert, Gene Siskel e Vincent Canby. A produção recebeu seis indicações ao Oscar de 1981, vencendo em quatro categorias, incluindo, Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Roteiro, deixando a cerimônia daquele ano como o maior vencedor da noite.
Gente como a Gente também foi indicado a dois BAFTAs e a oito Globo de Ouro. Nesse último, o filme também foi o principal vencedor da noite, levando para casa os principais prêmios, incluindo, os de Melhor Filme – Drama, Melhor Atriz – Drama (para Mary Tyler Moore), Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Direção. Entre os aspectos mais elogiados do filme estão justamente as atuações de seus atores principais, Donald Sutherland, Mary Tyler Moore, Judd Hirsch e Timothy Hutton.
Moore e Sutherland foram extremamente elogiados por suas performances no filme. A atriz, principalmente, teve sua “audácia” reconhecida ao aceitar um papel dramático em um filme tão pesado, tendo atuado por quase toda sua carreira em produções cômicas. O mesmo elogio foi para Hirsch que na época, atuava na sitcom, Taxi. Hutton foi considerado a principal revelação do ano, apesar de não ter conseguido depois, estar a altura da expectativa inicial em relação a ele. Já no caso de Donald Sutherland, a performance no filme consolidou ainda mais sua fama de ser um dos melhores atores de sua geração.
Apesar de ser um drama familiar pesado, Gente como a Gente foi também um imenso sucesso de bilheteria, arrecadando cerca de 90 milhões de dólares em bilheterias contra um custo de produção de pouco mais de 6 milhões de dólares. Assim, o filme deu um enorme lucro para a Paramount Pictures, que financiou e distribui o filme no mundo todo. Por tudo isso, Gente como a Gente está no topo de nossa lista de papéis mais icônicos da carreira de Donald Sutherland.
Conclusão
E aí, gostou de nossa lista? Esperamos que sim. Elaborar listas desse tipo para atores tão bem-sucedidos quanto Donald Sutherland é sempre um desafio. Nessa caso específico, tivemos que deixar de fora outras papéis icônicos do ator em produções renomadas, como Casanova de Fellini (1976), Novecento (1976), Assassinato Sob Custódia (1989), Seis Graus de Separação (1993), Prova de Fogo (1998), Orgulho & Preconceito (2005), entre outros. Já que como dissemos antes, Sutherland atuou em 141 filmes nos seus 60 anos de carreira como ator. E aí, seu filme favorito estrelado por Sutherland está na lista? Se não, deixe o nome dele abaixo. Nos diga também o que achou da nossa lista. Seu comentário é muito importante para nós.