“A Balada de Buster Scruggs” é composta por seis histórias independentes que exploram a violência, o acaso, a moralidade e a morte no Velho Oeste, sempre com ironia e humor negro característicos dos irmãos Coen.
No primeiro segmento, Buster Scruggs, um cowboy cantor habilidoso e de aparência angelical, derrota bandoleiros com facilidade e estilo, até ser superado por um jovem pistoleiro mais rápido. Seu espírito ascende cantando, aceitando que ninguém permanece o melhor para sempre.
Em Perto de Algodones, um cowboy desajeitado tenta assaltar um banco, falha de maneira absurda e escapa, apenas para ser capturado novamente e enforcado por um crime que não cometeu. Sua morte tem um tom irônico, marcada pelo sorriso final de uma jovem na plateia.
Bilhete de Refeição acompanha um artista sem braços e pernas que recita obras clássicas sob os cuidados de um empresário. À medida que o lucro diminui, o empresário encontra uma galinha que atrai mais público. Em uma decisão brutal e silenciosa, abandona o artista à morte para substituí-lo pelo animal.
Em All Gold Canyon, um garimpeiro experiente encontra um vale intocado e descobre uma rica veia de ouro. Um jovem tenta matá-lo e roubar sua descoberta, mas ele sobrevive, mata o rival e parte, deixando o vale como encontrou.
A Moça Que Ficou Assustada segue Alice, jovem vulnerável que, após a morte do irmão, encontra esperança no líder da caravana. Contudo, um ataque indígena e um trágico mal-entendido fazem com que ela tire a própria vida, destruindo a promessa de futuro que surgia.
Por fim, Os Restos Mortais coloca cinco desconhecidos em uma diligência rumo a um hotel misterioso. Conversas sobre moralidade e natureza humana revelam tensões crescentes, culminando na descoberta de que dois viajantes são caçadores de recompensas, enquanto o destino final, possivelmente metafísico, permanece ambíguo.
Direção de A Balada de Buster Scruggs
“A Balada de Buster Scruggs” (2018) é um filme em antologia dirigido por Joel e Ethan Coen. Reúne seis histórias de faroeste, cada uma com tom próprio, variando do humor ao drama, explorando temas de violência, destino e ironia no Velho Oeste. O trabalho dos dois cineastas resultou em filmes incríveis, e bem sucedidos. Por exemplo, “Onde os Fracos não Têm Vez”, “Fargo” e “Queime Depois de Ler”. Os filmes que esses cineastas dirigiram tem particularidades bem fortes como deixar de lado os diálogos e apostar na encenação do elenco juntamente com a cinematografia.
Um exemplo nítido disso é Harrison (O artista sem braços e pernas e o seu empresário. Em todo segmento que mostra uma parte da jornada entre eles, não há nenhum diálogo direto. Apenas a troca de olhares deles, e a contextualização, nos deu a ideia do desfecho do artista, trocado por uma galinha treinada e posteriormente jogado de uma ponte.
Cada conto dentro do filme carrega várias mensagens profundas. Por exemplo, no capítulo “Near Algodones”, o bandido (interpretado) por James Franco, escapa de sua sentença à força, e logo depois é pego novamente, ironicamente por um crime que não cometeu. Sua última visão é uma moça incrivelmente linda, e depois tudo fica preto (Morte).
“Near Algodones” explora a ironia e o fatalismo típicos dos Coen: o Cowboy tenta controlar sua vida, mas é arrastado por coincidências absurdas. Condenado uma segunda vez por um crime que não cometeu, aceita serenamente o destino, encontrando beleza momentânea na garota antes da morte inevitável. Os irmãos Coen se destacaram em “A Balada de Buter Scruggs” por explorar a quebra de expectativa, e uma narrativa inteligente.
Em que foi baseado A Balada de Buster Scruggs?
A Balada de Buster Scruggs é baseada em contos originais dos irmãos Coen, produzidos ao longo de várias décadas. O filme é inspirado na literatura do Velho Oeste, revistas pulp, parábolas morais e no cinema clássico de faroeste, mesclando humor negro, fatalismo e a estética clássica do gênero.
Porém, dois dos segmentos do filme são inspirados em livros já existentes. O primeiro é ”All Gold Canyon” de Jack London. E o segundo “The Gal Who Got Rattled” de Stewart Edward White, enquanto os outros quatro são originais dos Coen. O projeto começou como série da Netflix e mantém humor negro, fatalismo e tom western. De qualquer modo, os contos originais ficaram excepcionais e impactantes.
Crítica
A Balada de Buster Scruggs recebeu forte aclamação crítica: elogios à fotografia, direção dos Coen, performances e ao equilíbrio entre humor negro e melancolia. Alguns apontaram ritmo irregular e mudanças bruscas de tom, típicas de antologias. No geral, tornou-se um título respeitado e cultuado, especialmente entre cinéfilos. As histórias ricas em ironias crueis são o ponto mais forte do longa, o que rendeu uma indicação de melhor roteiro adaptado no Oscar de 2019.
A Balada de Buster Scruggs caiu nas graças do público, e podemos ver o reflexo disso nos maiores portais de crítica na internet. Por exemplo, esse longa alcançou 78% de aprovação no Rotten Tomatoes. Já no IMDB, a aprovação está em 7.2/10 estrelas, em uma escala de 180 mil classificações.
Muitos filmes de faroeste servem como palco para coleções de histórias, marcadas por drama, injustiça, e desumanidade. Por exemplo, Sete Homens e um Destino, Relatos do Mundo, Django Livre, entre muitos outros que se enquadram nessa categoria. Porém, “A Balada de Buster Scruggs” se diferencia por se aprofundar profundamente no drama, e equilibrar isso com humor e leveza.
Trilha sonora de A Balada de Buster Scruggs
A trilha sonora original do filme foi composta por Carter Burwell, parceiro habitual dos irmãos Coen e criador da música de filmes como Fargo e Onde os Fracos Não Têm Vez. No filme A Balada de Buster Scruggs, escutamos bastantes sons típicos do velho oeste, caracterizado principalmente por melodias lentas de violão, gaita, e banjo.
As músicas ressaltam um clima reflexivo. Por exemplo, a canção indicada ao Oscar, “When a Cowboy Trades His Spurs for Wings”. Essa música é cantada por Scruggs quando ele está subindo aos céus em forma de anjo, logo depois de levar um tiro no meio da testa. A ideia dessa canção é mostrar que mesmo estando no auge, sendo quase imbatível, estamos sempre caminhando para o fim.
As músicas tem um tom irônico, como por exemplo a canção “How Deep” tocada no fim do capítulo “All Gold Canyon”. Em suma, esse é o capítulo do velho mineiro que após ter tanto trabalho para encontrar ouro, um ladrão atira em suas costas. No final o velho mineiro se salva milagrosamente e caminha de volta para casa ao som de “How Deep”. A cena toda parece remeter ao velho sonho americano, de encontrar riquezas e ganhar a vida, em contraste com o desejo de pessoas ruins em explorar e roubar os frutos do trabalho dos outros.
De fato, a trilha sonora desse filme, nos ajuda a imergir na trama de cada segmento e é marcante. Não atoa, “When a Cowboy Trades His Spurs for Wings” indicada ao Oscar, na cerimônia de 2019, na categoria de melhor canção original.
Conclusão
É importante destacar que A Balada de Buster Scruggs foi lançado em 2018 com um orçamento relativamente modesto, estimado em aproximadamente US$ 5 milhões. Por ser uma produção original da Netflix, sua estreia aconteceu principalmente no streaming, com apenas uma exibição restrita nos cinemas para fins de premiação. Por essa razão, não é viável avaliar seu desempenho comercial de maneira convencional, uma vez que a plataforma não fornece dados exatos sobre audiência ou receita.
Em última análise, A Balada de Buster Scruggs é um filme bastante distinto do habitual, organizado como uma antologia com seis narrativas independentes. Embora cada segmento seja curto, objetivo e tenha sua própria atmosfera, todos têm a marca registrada dos irmãos Coen: humor negro, ironia, violência estilizada e uma visão crítica dos códigos morais do Velho Oeste. Embora cada conto seja breve, eles apresentam personagens cativantes, situações marcantes e reflexões significativas sobre destino, justiça e mortalidade.















