“Onde Os Fracos Não Têm Vez” começa com a narração de xerife Bell, relembrando histórias sobre xerifes e outras coisas que marcaram sua infância. O filme corta para Anton Chigurh, um psicopata que está sendo preso e logo escapa, após estrangular o policial.
Em paralelo, Llewelyn Moss caça no deserto, e em seu caminho encontra várias pessoas mortas, ele acha uma maleta contendo 2 milhões de dólares em meio aquela bagunça. Naquela noite, ele decide retornar ao local do crime, mas criminosos começam a persegui-lo atrás para reivindicar o dinheiro. Ao retornar para casa, ele manda sua esposa viajar, e foge com o dinheiro.
Enquanto isso, o Xerife Bell começa a investigar e perceber que toda aquela situação esconde um esquema do narcotráfico.
Chigurh é contratado pelos criminosos para recuperar a maleta. Moss, se hospeda em diversos hoteis, mas sempre é localizado por Chigurh. Chigurh encontramos novamente. O psicopata começa a disparar contra Moss o ferindo, mas é ferido na perna e foge. Mesmo ferido, Moss atravessa a fronteira para o México e vai para o hospital.
Carson Wells o encontra Moss no hospital, e explica que Chigurh só vai parar quando conseguir matá-lo. Carson ainda oferece uma saída, mas Moss não aceita. Naquela noite Chigurh mata Carson e liga para Moss, dando uma oportunidade a ele de poupar sua esposa, Moss recusa, preferindo o jeito mais difícil.
Tempo depois, Moss liga para sua mulher, Carla, mandando ela fugir com o dinheiro e encontrá-lo em um hotel. Moss chega no ponto de encontro e é morto por narcotraficantes. Dias depois, Chigurh encontra Carla para cumprir a promessa de matá-la. Ao sair da casa de Carla, ele sofre um acidente e foge a pé. O filme termina com Bell, contando o sonho enigmático que teve com seu falecido pai.
Direção do filme Onde Os Fracos Não Tem Vez
Uma das coisas mais peculiares no filme não é a presença específica de um elemento, mas sim a ausência dele. O uso do silêncio torna as cenas ainda mais tensas como quando Anton Chigurh invade uma casa, pega uma garrafa de leite, senta no sofá e começa a olhar para a TV desligada. A cena deveria ser algo irrelevante mas está carregada de suspense. Dessa forma, o apelo da cena não está só na atuação de Javier Bardem, está também no domínio dos irmãos que optam por composições estáticas nos planos. Isso prolonga a tensão e ajuda a nos prender na trama do filme.
Os diálogos também são muito bem construídos. Um exemplo disso, é quando Chigurh entra na loja de conveniências e começa a discutir sobre coisas aparentemente banais, até que o psicopata manda o velhinho lançar uma moeda. A ideia de colocar a vida do dono da loja em um lance de cara ou coroa, ressignifica a nossa percepção de destino.
Os irmãos Coen já´dirigiram outros longas que foram bem recepcionados pela crítica como “Fargo”, “O Grande Lebowski”, “Barton Fink – Delírios de Hollywood” e muitos outros, Contudo, não se popularizaram tanto quanto o filme ”Onde Os Fracos Não Tem Vez”. Os Coen tem uma identidade visual muito estética, que caracteriza seu filme. Algumas das características são a composição fotográfica com bastante contraste, planos longos e estáticos, e o uso pontual de cores. Normalmente eles trabalham a fotografia com Roger Deakin ( Diretor de fotografia).
Os Coen conseguiram produzir cenas muito importantes no filme “Onde OS Fracos Não Têm Vez”. O resultado desse trabalho magistral foi um alcance gigante, e um sucesso que se perdura ao longo dos anos, dado o ano em que a produção foi lançada.
Em que foi baseado o filme
O filme “Onde Os Fracos Não Têm Vez” foi baseado no romance homônimo escrito por Cormac McCarthy. O livro foi publicado no ano de 2005, e possivelmente foi inspirado no cenário do Texas na década de 80 dado as semelhanças da época com a narrativa do livro, bem como uma abordagem a violência crescente e o impacto do tráfico de drogas na região. Embora a trama seja ficcional, muitos elementos foram baseados em crimes reais da época. O MacCarthy ainda escreveu outras obras como “O Conselheiro do Crime”, “Meridiano de Sangue” e o livro “A Estrada”. O escritor conseguiu se consolidar na literatura Americana e encantar leitores por todo o mundo.
Melhores cenas do filme Onde os Fracos Não Tem Vez
“Onde Os Fracos Não Têm Vez” possui uma história cheia de quebra de expectativas. Por exemplo, quando Chigurh chega ao Eagle hotel e encontra Moss, começa uma perseguição. Por sorte, um carro estava passando no local e Moss conseguiu carro, mas quando estão prestes a fugir, uma bala atravessa o vidro e mata o motorista que iria salvar Moss. Assim, algumas das melhores cenas são:
De igual para igual: Carson, um caçador de recompensas, chamou a atenção de Chigurh. Quando o psicopata encontra Carson e antes de eliminá-lo, questiona, “Se a regra que você seguiu, te trouxe até aqui, de que essa regra serviu?”. É um dos diálogos mais icônicos, e mostra o porquê desse filme ter recebido o Oscar de melhor roteiro adaptado.
Destino de Carla: Quando Carla volta do velório de sua mãe,ela percebe que há alguém em sua casa. Ao entrar em seu quarto percebe Chigurh sentado e olhando para ela com um olhar vazio. Eles conversam, e depois ele lança uma moeda e pede para Carla escolher cara ou coroa, pois era sua vida que estava em jogo. O filme corta para o momento que o assassino deixa a casa, e não revela o que aconteceu com Carla.
Karma: No último ato Chigurh está dirigindo tranquilamente o carro, e sofre um acidente. E sai com fraturas expostas, e todo ensanguentado. Os valores do psicopata estão intimamente ligados à eventualidade, e colidir de forma aleatória com outro carro é uma forma irônica do filme quebrar nossa percepção sobre esse personagem.
A tensão construída em cada cena evidencia a brutalidade da vida e a falta de controle sobre os acontecimentos, reforçando a visão niilista do filme. Portanto, essa abordagem, aliada ao roteiro magistral e à direção dos irmãos Coen, transforma o filme em uma experiência marcante e única.
Curiosidades Sobre os Bastidores
Onde os fracos não têm vez é uma das obras mais intrigantes do cinema. A direção dos irmãos Coen é genial. Além disso, o filme se destaca por ser envolvente em um estilo minimalista. Além das diversas reflexões sobre ética, por trás deste filme há muitos fatos interessantes. Algumas dessas curiosidades são:
Marco de Javier Bardem: A performance do ator Javier Bardem foi excepcional, isso lhe rendeu um Oscar na categoria de melhor ator coadjuvante. Mas o que muitos não sabem é que ele foi o primeiro homem espanhol, em um filme estrangeiro, a ser reconhecido com o tal prêmio.
Poesia sangrenta: O nome original deste filme, “No Country for Old Men”, foi inspirado em um poema intitulado Sailing to Byzantium do dramaturgo William Butler Yeats. Tanto o poema quanto o filme estão fortemente ligados por temas como, amadurecimento e mudança.
Penteado perturbador: Uma das coisas mais marcantes no filme é o penteado excêntrico de Anton Chigurh. O irmão Coen se inspirou em um quadro de um bordel. Curiosamente o ator Javier Bardem em uma entrevista ao ilustre Vanity Fair, mencionou que um dos motivos de entrar para o filme foi o penteado perturbardo do personagem.
Essas curiosidades reforçam a riqueza de referências que inspirou o roteiro e a direção do filme. Cada detalhe, apesar de aparentar ser pequeno, somados contribuem para tornar o filme mais impactante e envolvente. O trabalho por trás do filme onde “Os Fracos Não Têm Vez” é tão minucioso quanto interessante, e os fatos que acompanham a produção do filme o torna ainda mais intrigante.
Orçamento e bilheteria do filme Onde Os Fracos Não Tem Vez
Onde “Os Fracos Não Têm Vez” custou apenas US$ 25 milhões é uma quantia bem alta se compararmos com outras produções dirigida pelos Coen. Por exemplo, “Ajuste Final”, “Na Roda da Fortuna”, “Fargo” e outras longas metragens. Há uma certa tendência dos cineastas em dirigir filmes que não apelam para efeitos especiais mirabolantes. É incrível o fato dele ter construído um filme tão profundo e rico de significado com uma quantia tão modesta.
Nas bilheterias a adaptação desempenhou muito bem e rende mais de 6 vezes mais o que custou para os cofres da Miramax Films. O filme arrecadou US$ 171 milhões, se tornando uma das produções mais rentáveis no ano de 2007. Portanto, essa adaptação desempenhou muito bem nas salas de cinema.
Diferenças entre o filme e o livro
Se compararmos a história contada no livro e a história contada no filme, vamos notar diversas diferenças. Uma das maiores diferenças é o fato do xerife Tom Bell ser o narrador. No livro vemos como a história se desenrola a partir da perspectiva do xerife, enquanto investiga a série de assassinatos. Além disso, há muitas outras diferenças entre o romance e a adaptação, algumas delas são:
Perseguição no rio: No filme, quando Moss retorna para oferecer água a um dos narcotraficantes, percebe que já havia outros no lugar. De repente ele começa a ser alvejado por tiros e tenta fugir por um rio. Um cachorro de caça começa a persegui-lo, até que Moss dispara, pondo um fim na vida do pitbull. No livro, cães de caça não o perseguem.
A morte de Moss: No filme, Moss morre porque a sua sogra entrega sua localização, de forma ingênua. Moss é alvejado por vários disparos em um hotel. No livro, o veterano perde sua vida quando pede carona. Os narcotraficantes pegam o motorista de refém, e posteriormente conseguem matar Moss.
“Por que Chigurh estava sendo preso no início do filme?”: No início do filme antagonista está sendo levado por um xerife, não é revelado o motivo. No livro, Chigurh, preso por matar uma pessoa impertinente, se entrega por vontade própria só para saber se seria capaz de escapar da prisão.
Os contrastes entre o livro e o filme demonstra como cada meio destaca elementos diferentes. Alterações como a falta da perseguição canina e as desfechos do assassinato de Moss evidenciam decisões que tornam a narrativa mais visual e marcante no cinema. Embora existam essas variações, o livro e o filme mantém a essência da história, proporcionando uma reflexão profunda sobre violência, acaso e moralidade em um mundo sem redenção.
Conclusão
No segundo sonho, ele e seu pai estão cavalgando em uma noite fria. Seu pai, que está à frente, carrega uma chama em um chifre , protegendo-a do vento, para mantê-la acesa. Ele não diz nada, mas Belle sabe que seu pai está preparando um lugar quente para ele. O xerife, então, acorda. É assim que o filme termina, com uma história enigmática com tom existencialista.
“Onde Os Fracos Não Tem Vez” tem um desfecho aparentemente sem sentido. Moss e, provavelmente, sua esposa são mortos. O xerife Bell não consegue resolver o caso, e Chigurh escapa.
Uma das melhores coisas dessa obra, é que ela nos obriga a pensar sobre qual o sentido de toda a história. O fato é que o acaso protagoniza o filme, desde o momento em que Moss acha a mala de dinheiro, até a sua morte. Além disso, a natureza psicótica de Chigurh muitas vezes baseando suas decisões em um lance cara e coroa reforça ainda mais essa ideia de destino.
Ainda há o atrito de geração como a honra que Bell tanto defende em contraste com a desilusão de seu pai, que entendeu que a violência é inevitável e sempre tira um pedaço de cada um de nós. A tradução do título do longa também reforça isso: No Country for Old Men / Não há país para velhos. Em última análise, “Onde Os Fracos Não Têm Vez” é uma produção rica em significados e que vale muito a pena assistir. Continue na Proddigital Pop, e até a próxima!