“O Castelo Animado”, conta a história de Sophie, uma jovem costureira reservada e dedicada, leva uma vida modesta até se deparar com Howl, um mago enigmático e cativante. Depois desse encontro, a Bruxa do Deserto amaldiçoa-a e a transforma em uma mulher idosa. Determinada a romper a maldição, Sophie deixa sua casa e se dirige ao interior, onde se depara com um espantalho encantado, a quem denomina Cabeça de Nabo, que a conduz ao castelo itinerante de Howl.
No castelo, Sophie se depara com Markl, o jovem discípulo de Howl, e Calcifer, um demônio do fogo que fornece e impulsiona o castelo. Sophie assume o cargo de empregada doméstica e estabelece um pacto com Calcifer: ele a auxiliará a desfazer sua maldição se ela romper a ligação mágica entre ele e Howl. No castelo, Sophie não demora muito para ganhar a confiança de Markl e Calcifer, bem como organizar toda a bagunça.
Enquanto isso, o reino de Sophie se envolve em um conflito com uma nação rival devido ao sumiço de um príncipe. O monarca convida Howl para a batalha, porém ele se nega e designa Sophie para substituí-lo, disfarçada como sua mãe. Ela se depara com Suliman, a verdadeira feiticeira, que ameaça converter Howl em um ser monstruoso. Ele salva Sophie e os dois se evadem com a agora debilitada Bruxa do Deserto e o cão Henn.
No decorrer dos ataques, Sophie descobre que Calcifer detém o coração de Howl. Ao devolvê-lo, ela quebra a maldição que os aprisionava. O espantalho assume a identidade do príncipe desaparecido e, após ser beijado por Sophie, volta à condição humana e se compromete a terminar a guerra. Com a calma de volta, Sophie recupera sua juventude, e ela evoca sua beleza.
Direção de O Castelo Animado
Miyazaki é famoso por inserir uma perspectiva bastante pessoal em seus trabalhos. Em O Castelo Animado, ele utilizou a história como meio para debater questões atuais, mesmo sendo baseada em uma obra para crianças. Uma das coisas mais emblemáticas que caracterizam a direção do cineasta é sempre trabalhar de modo aprofundado questões como empatia, paz e transformação.
Não é atoa que castelo animado tem uma forte apelo sonoro e sensorial. Em outras palavras, há muitas cenas em que não há diálogos, somente a passagem de paisagens deslumbrantes e sons satisfatórios. Por exemplo, na cena em que Sophie usa Calcifer para fritar a comida.
A narrativa contemplativa, adotada por Miyazaki, vai de encontro com o senso comum contemporâneo, rápido, entregando cenas caóticas e mirabolantes. Essa abordagem contemplativa é um dos aspectos mais geniais dos filmes da Ghibli, e não é exagero concluir que até o momento atual, não há nenhum outro cineasta que trabalhe tão bem isso.
Uma das críticas mais impactantes no filme “O Castelo Animado”, gira em torno da guerra e do autoritarismo. Por exemplo, as cenas em que Howl não vê outra escolha a não ser obedecer o rei e partir para o campo de batalha.
A todo momento do filme, podemos notar o descontentamento dos civis com a guerra, e o motivo da guerra aparenta ser deliberadamente vago e absurdo. Isso é mais uma escolha genial do diretor, como uma forma ainda mais sutil de criticar a guerra. Em outras palavras, os civis são envolvidos, injustamente, em uma guerra que grandes líderes começaram. Tudo isso mostra o quão genial é a direção de Hayao Miyazaki.
Em que foi baseado O Castelo Animado?
“O Castelo Animado” foi baseado no romance de mesmo nome escrito pela britânica, Diana Wynne Jones e publicado em 1986. Em geral, o filme apresenta diversas mudanças, porém a própria Diana Wynne Jones adorou o filme, mesmo com as mudanças. Há algumas adaptações no filme como a maldição de Sophie. No livro, a maldição age por meio de palavras mágicas e objetos, no filme a maldição está ligada aos conflitos internos da protagonista.
O tom do livro é bem-humorado e irônico: ao contrário de narrativas épicas ou sombrias, Jones escreve com leveza britânica e sarcasmo afiado.
Narrativa encantadora, mas crítica: A autora mistura elementos de conto de fadas com observações sobre papéis de gênero, autoimagem, vaidade e covardia. Por fim, apesar do livro ter outra atmosfera, ainda vale muito a pena lê-lo, pois a experiência reconfortante é poético se mostra latente
Diferenças entre o filmes e o livro
O Castelo Animado é uma adaptação homônima, cheia de mudanças criativas que dão ao filme um tom mais sombrio, sério, e tenso. Por exemplo, a antagonista do filme Sr. Suliman, é a feiticeira suprema, a mão direita do rei, e também a antagonista principal do filme. Sua personalidade ardilosa e intenções totalitárias se escondem atrás de uma face inofensiva de uma “boa velhinha”. O Sr. Suliman é uma personagem verdadeiramente detestável, cumpre bem o seu papel. Algumas das outras diferenças entre o filme e o livro são
Guerra como núcleo central:
- No filme, há uma guerra devastadora acontecendo. Podemos contemplar vilarejos inteiros sendo carbonizados por bombas. E até o próprio Howl lutando na guerra.
- No livro, a guerra ainda aconteceu. É um evento que todos querem evitar, mas isso só acontece somente se o príncipe Justin for encontrado.
Howl , o cafajeste:
- No filme, Howl é mais romântico, melancólico, e vive inteiramente no mundo mágico.
- No livro, Vaidoso, mulherengo, exagerado e originário do País de Gales (mundo real).
Sophie, e seus poderes:
- No filme, Sophie não tem poderes, a sua maldição só se modifica porque está ligada as sua emoções
- No livro, a jovem tem poderes mínimos, e todos os objetos, tocados pelas suas mão, criam vida própria
A maldição de Howl:
- No filme, Howl vira uma criatura alada, e isso o consome cada vez mais, metáfora da guerra. Sua aparência se mostra ainda mais monstruosa em um dos sonhos de Sophie.
- No livro, não há transformação física em monstro. Sua humanidade está ligada ao coração dado a Calcifer.
Ao reinterpretar os elementos fundamentais da narrativa – a maldição, a guerra e os protagonistas – o filme se distancia da literalidade e assume sua autonomia criativa, resultando em um trabalho que, apesar de distinto, mantém intacta a essência de descoberta e mudança.
Impacto cultural de O Castelo Animado
O Castelo Animado é a obra mais reconhecida do Studio Ghibli. Sua abordagem leve sobre assuntos drásticos como guerra e autoritarismo, é verdadeiramente envolvente. Essa animação contribuiu grandiosamente para estabelecer Hayao Miyazaki como um diretor respeitado não apenas na Ásia, mas também na Europa e América.
Indicado ao Oscar de Melhor Animação (2006), consolidou a reputação internacional de Hayao Miyazaki, após A Viagem de Chihiro.
Recentemente surgiu uma ameaça no mercado da arte, da animação, e ilustração, a inteligência artificial. Filmes como “O Castelo Animado” e tantos outros produzidos pela Ghibli, mostram que a arte não é sobre quantidade, mas sim sobre qualidade. Filmes como “O Castelo Animado”, se mostram como uma resistência, muito mais além disso, é a prova do quão impactante são as animações frame a frame.
Orçamento e bilheteria do filme
O Castelo Animado custou apenas US$ 24 milhões. Essa quantia é bem alta para uma animação japonesa, mas modesta comparado a produções da Disney e Pixar, que frequentemente ultrapassam os US$ 100 milhões. Essa adaptação arrecadou 236 milhões nas bilheterias mundiais.
O Castelo Animado é considerado um grande sucesso comercial, especialmente pelo custo-benefício: gerou quase 10 vezes mais do que seu custo de produção. Dessa forma, podemos concluir que “O Castelo Animado” é o terceiro mais rentável filme da Ghibli Studios, perdendo somente para A Viagem de Chihiro (2001), e o “Menino e a Garça” (2023).
Em suma, financeiramente O Castelo Animado continua entre os maiores triunfos do Studio Ghibli: terceiro no mundo, terceiro no Japão, e ainda um dos melhores “custos-benefício” da história do estúdio.
Melhores Cenas do Filme
Noboru Yoshida, foi o diretor de arte de castelo animado, ele foi responsável pela aparência do filme, aquarelada, com bastante saturação e pouca vibração com muitos detalhes manuais e variações de luz natural. Yoshida conseguiu dar vida a visão de Miyazaki, com maestria e capricho. Mas, podemos destacar as melhores cenas dessa animação:
Primeira aparição do castelo animado: A sequência ocorre logo no começo do longa-metragem, quando Sophie retorna da visita à irmã. Ao caminhar ao redor da cidade, ela olha para as colinas ao longe, e é então que o reconhecemos pela primeira vez: o castelo móvel de Howl que atravessa devagar o campo nebuloso.
Topo do castelo: Depois de ser “contratada” para limpar o castelo de Howl, Sophie inicia uma limpeza compulsiva do local. Conforme Sophie sobe para o andar superior, um local que antes parecia esquecido ou fechado, ela abre uma porta e… Sophie se depara com uma sacada aberta para um vale vasto e iluminado. O vento bate suavemente em seus cabelos brancos, e por um instante, ela apenas observa a paisagem.
Coração de volta no lugar: De súbito, não existem mais rochas ou vento, apenas um céu negro repleto de estrelas e feixes de luz que flutuam, movendo-se como correntes de vigor. Sophie se mantém em pé, porém tudo ao seu redor parece estar parado no tempo. Eles piscam como imensos vaga-lumes, entrelaçam-se como ondas lentas. A tela é dominada por tons de azul cósmico, dourado delicado e lilás translúcido. Existe um silêncio repleto de significado, como se o mundo estivesse sufocando.
De fato, não foi fácil separar as melhores cenas de um filme, que do início ao fim, se mostra belo. O Castelo Animado é encantador, e boa parte desse encanto deve se deve pelos cenários amplos e imersivos.
Trilha Sonora do Filme
Joe Hisaishi (colaborador frequente de Hayao Miyazaki), produziu o álbum de “O Castelo Animado”. Em suma, o álbum oficial de O Castelo Animado consiste em 27 faixas orquestradas que refletem a jornada emocional e visual do longa-metragem. Joe Hisaishi, unindo elementos de música clássica europeia, waltz e instrumentos suaves e melodiosos, tudo isso resultou em uma trilha sonora lírica, saudosista e profunda.
Podemos destacar a faixa principal, “Merry-Go-Round of Life” , caracterizada por ter um estilo de valsa orquestral com toques de música clássica europeia (lembrando compositores como Ravel e Satie), combinada à sensibilidade emocional japonesa típica de Hisaishi. Essa música é um dos elementos que mais ajudou a contribuir para a popularidade do filme, todos os dias milhares e milhares de usuários de plataformas como o instagram, replicam esse áudio.
Uma das coisas que mais me encanta nesse álbum, é que nele podemos achar refúgio de todo caos do mundo moderno. Cada faixa transmite harmonia e serenidade, por isso, a trilha sonora de “O Castelo Animado” é tão relevante para nossa experiência como espectador.
Conclusão
Apesar de examinarmos várias facetas, desde a direção audaciosa de Hayao Miyazaki, a profundidade temática e a crítica social, até a dedicação meticulosa da equipe de arte, animação e música, “O Castelo Animado” se apresenta como uma obra de múltiplas camadas. Cada cena, som e cor possuem significados que ultrapassam a superfície da história.
A beleza do filme reside precisamente nessa diversidade: é um convite para rever, interpretar e redescobrir seus pormenores a cada nova vivência. A combinação de arte, música e história gera um universo tangível, onde ficção e realidade se fundem com delicadeza e vigor. Por fim, espero que essa análise tenha ampliado sua perspectiva sobre o filme “O Castelo Animado”. Continue acompanhando a Proddigital Pop para discutirmos mais sobre as obras geniais da Ghibli Studios, e até a próxima!