Análise | Kimi: Alguém Está Escutando

Kimi: Alguém Está Escutando
Kimi: Alguém Está Escutando/Teeaser oficial - Imagem: Warner Bros.

“Kimi: Alguém Esta Escutando”, conta a história de Angela Childs, uma jovem analista de dados que atua à distância para a companhia de tecnologia Amygdala, sendo ela a responsável pelo “Kimi”. Angela tem agorafobia, que foi intensificada por um trauma pessoal e pela pandemia de COVID-19, mantendo-se isolada em seu apartamento em Seattle. 

A sua função é revisar as gravações realizadas pelo aparelho para aprimorar o algoritmo de reconhecimento de voz. Em um determinado dia, ela escuta uma gravação perturbadora que aparenta documentar um caso de violência sexual.

Angela, intrigada e apreensiva, aprofunda suas investigações com a assistência de um colega e descobre que a vítima é uma mulher de nome Samantha, enquanto o agressor é ninguém menos que Bradley Haslinger, o CEO da companhia. Healing, ansioso para ganhar dinheiro com a abertura de capital da Amygdala, contratou assassinos para eliminar Samantha e apagar qualquer prova.

Angela tenta denunciar o delito, porém a companhia a sabota, colocando em dúvida sua sanidade e a levando a uma cilada. Perseguida por funcionários de Hashing, ela se evade pelas vias urbanas, superando o seu receio de deixar o lar. Quando é detida e conduzida de volta ao seu apartamento, Angela emprega sua sagacidade e constrói uma arma com uma pistola feita de pregos. Com bravura e a ajuda imprevista de seu vizinho, ela derrota os agressores, recupera as evidências e denúncia o delito.

No desfecho, Bradley Hasling é detido, e Angela, com uma aparência renovada e sinais de recuperação, toma café da manhã ao ar livre com seu namorado, sugerindo que, após superar o medo, ela começa a recuperar o controle de sua própria existência.

Direção de Kimi: Alguém Está Escutando

Kimi: Alguém Está Escutando foi dirigido por Steven Soderbergh, um cineasta com uma extensa filmografia. Soderbergh esteve à frente de grandes sucessos com “11 Homens e um Segredo”, “Magic Mike”, e “Erin Brockovich”. 

Em suma, a direção em “Kimi: Alguém Está Escutando” de Steven Soderbergh é caracterizada por uma mescla de flexibilidade temática, estilo visual artesanal e uma incessante procura por inovação tanto na narrativa quanto na técnica. Ele é um dos diretores mais versáteis do cinema atual, alternando entre produções independentes, mega produções e experimentos audaciosos.

Além disso, nesse filme Soderbergh usa frequentemente câmeras manuais, com movimentos sutis, criando uma sensação de proximidade e introspecção. Esse jogo de câmeras realça bastante a atmosfera de suspense e mistério, como por exemplo o close distante que captura o vizinho estranho encarando a casa de Angela, ainda no primeiro ato.

Particularmente falando, a estética visual do filme é um dos pontos mais fortes, que consistem em Enquadramentos fechados e claustrofóbicos, Uso preciso de janelas, telas e reflexos para reforçar vigilância e paranoia Cor azulada e fria domina a paleta.

Dessa maneira, podemos concluir que tanto as escolhas narrativas quanto estéticas de Steven Soderbergh se mostraram perspicazes. “Kimi: Alguém Está Escutando”, é capaz de nos envolver com suspense e mistério.

Roteiro de Kimi: Alguém Está Escutando

O roteiro de “Kimi: Alguém Está Escutando” foi escrito por David Koepp, o mesmo escritor que produziu textos icônicos como o de “Jurassic Park” e “Homem-Aranha”. Para escrever o roteiro desse filme David se inspirou em muitas coisas presente na pandemia que acometeu o mundo todo, Covid-19, como o isolamento, paranoia, e reinserção social. 

O roteiro desse filme lembra, até certo ponto, tramas como “O Quarto do Pânico”, “Coppola”, e “Hitchcock”. O enredo de Kimi: Alguém Está Escutando apresenta muita riqueza de detalhes. Por exemplo, David Koepp insere meticulosamente trechos de áudios que incluem diálogos triviais, ruídos, sotaques e interrupções, proporcionando um ambiente auditivo intenso e verossímil. Isso humaniza a Inteligência Artificial e reproduz com precisão a atividade de “ouvir o mundo através da máquina”.

Melhores cenas do filme

Apesar de ser um produção bem simples e sem muito apelo de efeitos especiais, “Kimi: Alguém Está Escutando” apresenta cenas de tirar o fôlego. A produção, que custou apenas US$ 3,5 milhões, tem cenas impactantes como quando Angela está a caminho do FBI, e entra em uma multidão de manifestantes, rapidamente é capturada pelos homens de Rivas, mas é salva pelos manifestantes. Apesar da simplicidade do cenário, a cena é angustiante e impactante. Algumas das outras cenas mais memoráveis são: 

O chamado: Esta cena representa o momento crucial do filme. Com fones de ouvido e um olhar vigilante, Angela ouve um “stream” onde uma mulher está evidentemente em risco. A estrutura é delicada, porém a distorção sonora, o silêncio do ambiente e a reação contida de Angela geram uma tensão silenciosa e crescente.

Dura de matar: Angela, confinada em um apartamento com assassinos, cria uma arma improvisada com uma pistola de pregos deixada por trabalhadores. O ruído silencioso dos pregos e a montagem econômica fazem do momento um momento tenso, empoderador e violento na medida certa. No fim,  Angela sofre uma transformação enorme.

Como se nada tivesse acontecido: Sem diálogos, só com gestos e uma trilha suave, o filme mostra que ela agora consegue sair de casa, sentar-se à luz do dia e partilhar algo simples: um café. É um encerramento bem artificial, visto a personalidade vulnerável da protagonista, e toda a situação traumatizante. Chega a ser cômico, até certo ponto.

Toda essa transformação da protagonista é até certo ponto absurda, pois toda a trama do filme se passa em pouco mais de 24 horas. Apesar de tudo, dá para captar a proposta do filme: O cotidiano em símbolo de superação, reafirmando que, às vezes, enfrentar a própria mente é mais difícil do que enfrentar qualquer inimigo externo.

Crítica

Um dos elementos mais importantes desse filme e o maior desafio da protagonista é a exposição social, é uma sensação que a maioria das pessoas já sentiram na vida. Porém, esse elemento tão importante é trabalhado de maneira muito superficial. Por exemplo, no primeiro ato, Angela tenta sair para um encontro mas se debruça no chão, fica ofegante por pouco tempo e desiste, segundos depois ela age como se nada tivesse acontecido.

Alguns filmes que podem servir de parâmetro que trabalharam bem ansiedade, medo, e reinserção social é o “Quarto de Jack”. Até mesmo “Gato de Botas 2: O Último Pedido”, uma animação com uma proposta divertida e de aventura épica, trabalha melhor o medo e o impacto emocional. Esses pontos, se trabalhados melhor, poderiam ter feito desse filme um dos melhores e mais marcantes Thrillers do cinema.

Apesar de tudo, Kimi: Alguém Está Escutando, ainda se destaca pela trama criativa, e estética visual, se mostrando um bom filme para os entusiastas do suspense. Podemos ver o reflexo disso nas grandes taxas de aprovação dessa obra nos maiores portais de crítica da Internet. Por exemplo, no Rotten Tomatoes, esse longa alcançou 91% de aprovação do público. Além disso, conquistou o selo Certified Fresh, se consolidando como um dos filmes mais bem aproveitados de 2022 no Rotten Tomatoes. 

Trilha sonora de Kimi: Alguém Está Escutando

Cliff Martinez é músico que compôs o álbum “Kimi: Alguém Está Escutando”. O compositor tem uma boa relação profissional com Steven Soderbergh, e juntos já trabalharam em grandes produções como, “Traffic”, “Solaris”, e “Contágio”. Lançada em 11 de fevereiro de 2022 pela WaterTower Music, a trilha original de “Kimi: Alguém Está Escutando” conta com 17 faixas instrumentais de Cliff Martinez. 

Em geral, a trilha sonora desse longa parece ter sido tirada de um filme infantil. Por exemplo, A faixa “You’re Right, Dr. Burns”, por exemplo, começa com notas suaves e quase inocentes. Essa faixa lembra a trilha de um filme de mistério infantil, e isso contrasta com a tensão psicológica da cena.

Essa estratégia parece reforçar Angela, como uma figura infantilizada. A protagonista é uma mulher adulta, mas isolada, dependente de tecnologia e com traços de vulnerabilidade emocional.

Essa estratégia lembra o que Danny Elfman faz em Edward Mãos de Tesoura ou até o que Kubrick faz em O Iluminado ao usar música clássica em momentos de horror: um contraste perturbador.

Conclusão

Kimi é um thriller atual que se destaca pelo minimalismo. Ao invés de se concentrar em reviravoltas extravagantes ou sequências de ação grandiosas, o filme constrói sua tensão através dos detalhes: nos sons, nas pausas, nos olhares e nas decisões silenciosas da personagem principal. 

A direção acurada de Steven Soderbergh e o texto contido de David Koepp se fundem com a música ambígua de Cliff Martinez, que converte o simples em perturbador. No entanto, o que se sobressai é a maneira como o filme retrata o trauma e a recuperação sem se apoiar em estereótipos. Angela Childs é uma personagem incomum: delicada, porém sagaz; isolada, porém apta a reagir.

No fim, quando ela se senta para tomar café na calçada, o gesto não é modesto, é simbólico. Kimi nos recorda que encarar o mundo, particularmente quando nos fere, é uma atitude radical. E que, em uma era de tecnologia intrusiva e isolamento social, o simples ato de respirar ar puro pode ser um significativo gesto de resistência.

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