Mickey 17
Mickey 17/Teaser oficial - Imagem: Warner Bros. Pictures

“Mickey 17” se passa em um futuro sombrio e desesperador, Mickey Barnes, um homem comum tentando escapar de um agiota cruel, se inscreve como um “Dispensável” numa missão interestelar. Esse tipo de trabalhador-clone descartável morre continuamente em prol do avanço humano. 

Contudo, quando Mickey consegue sobreviver a uma missão que deveria ter resultado em sua morte, ele retorna à nave e descobre que já foi substituído por Mickey 18, uma versão agressiva de si mesmo. A partir deste ponto, os dois clones embarcam num jogo de sobrevivência e identidade arriscado, buscando ocultar sua dupla personalidade em uma sociedade que os julgaria por coexistirem.

Mickey precisa escolher entre disputas políticas, um affair com a agente de segurança Nasha, conspirações de poder e o aparecimento de uma estranha raça alienígena, os Creepers, que se revelam mais sensíveis e inteligentes do que se supunha.

Conforme a revolta se intensifica contra a tirania do comandante Marshall, sacrifícios são realizados, alianças se transformam e Mickey toma uma decisão decisiva: aniquilar o sistema que o considerava descartável e restaurar o direito de ser simplesmente humano.

Em que foi baseado Mickey 17?

Mickey 17 é um dos filmes mais criativos de 2025. A premissa de um jovem pé-rapado que se inscreve para colonizar outro planeta, com o intuito de recomeçar a vida, não só gera identificação como também desperta curiosidade. Mas o que muitos não sabem é que esse filme foi inspirado em um romance de nome semelhante.

Mickey 7, escrito Edward Ashton tem a mesma ideia: Humanos colonizaram planetas inóspitos com a ajuda de trabalhadores clonáveis chamados dispensáveis. Esses “dispensáveis” morrem em missões de alto risco e são recriados com as memórias intactas, como se fossem substituíveis. O protagonista, Mickey, é o sétimo de sua linha, Mickey, e a trama começa a se complicar quando ele sobrevive a uma missão e retorna, ao mesmo tempo em que seu clone já foi criado. Agora, dois Mickeys existem, algo proibido.

Obviamente há algumas diferenças entre o filme e o livro. Por exemplo, o livro tem um tom mais sério sobre conceitos filosóficos e políticos. Esse livro, indicado ao “Best Sci‑Fi Books of 2022” do NPR, em geral, recebeu críticas muito positivas em revistas e sites especializados.

Diferenças entre o filme e o livro

Mickey 7 é um livro rico em detalhes e elementos narrativos, e claramente nem todos os elementos do livro foram aproveitados no filme. Por exemplo, Alfa é a esposa de Marshall, e ela desempenha um papel até relevante, tendo uma influência forte sobre as decisões do marido. Alfa, se mostra como uma das personagens mais frias e apáticas do filme. Contudo, no livro ela não faz parte da trama do livro. Algumas outras diferenças entre o livro e o filme são:

17 vs 18: No livro Mickey 7 e Mickey 8 não se diferenciam em praticamente nada. A maior diferença entre o livro e o filme é a personalidade dos dois personagens. A versão adaptada dos livros, sem dúvidas trouxe um melhora uma complexidade a mais para a trama.

O salafrário: Timo, é a grande piada de mal gosto do filme, pois ele tentou matar Mickey para se salvar, o traiu, e sempre demonstrou falta de caráter. No livro, Timo é um atleta bem sucedido, e nunca teve uma ligação empresarial com Mickey.

Infestação Manikova: Alguns elementos do livro que não vieram para o filme, são realmente impressionantes. Por exemplo, Malikova, um serial killer que usou a máquina de impressão para criar mais outros 2 clones, no livro, dominou um planeta inteiro com seus clones.

Rastejadores não são bonzinhos: No filme os rastejadores são seres tão lógicos e civilizados quanto os próprios humanos. No livro, os nativos representam uma ameaça verdadeira à integridade dos humanos. Um rastejador já conseguiu matar um humano, no livro.

Em suma, o filme apresenta uma complexidade silenciosa cede lugar ao espetáculo, e sutilezas filosóficas são substituídas por um drama mais direto em equilíbrio com situações cômicas. Em última análise, tanto o livro quanto o filme proporcionam experiências complementares, uma mais introspectiva, outra mais simbólica.

Direção do filme Mickey 17

Bong Joon-ho é um dos cineastas mais inteligentes da atualidade, uma das maiores marcas desse diretor é trabalhar críticas sociais intensas em seus filmes. Por exemplo, o filme Ok Já que tem uma premissa que consiste na indústria alimentícia e a ilusão do “produto sustentável”. Podemos destacar o filme “Parasita” que aborda desigualdade social, que rendeu 4 Oscar de melhor diretor.

Em Mickey vemos questões muito interessantes como política, facismo, existencialismo. Quando falamos sobre o que mais chama a atenção no filme não consigo imaginar outra cena se não Marshall (antagonista) fazendo discursos sobre supremacia e extermínio para os tripulantes da nave. O personagem interpretado pelo ilustre Mark Ruffalo se apresenta como um homem carismático e rende cenas cômicas no início do filme. Porém sua personalidade podre é revelada gradualmente no decorrer do filme. 

Uma cena que pode ilustrar bem o impacto desse personagem é quando ele ergue a mão em mais ou menos 45 graus incitando e influenciando a plateia, algo como os discursos de Hitler. 

Além disso, podemos destacar como o filme trabalha com questões de vida e morte e levanta perguntas como: “O que constitui a vida?”. 18 Mickeys precisaram ser impressos para nos dar conta de que um indivíduo é um conjunto de experiências vividas. Em outras palavras, por mais que uma cópia de você seja feita igual, átomo por átomo, as experiências que vocês passam vão diferenciá-los.

Portanto, as escolhas narrativas que Bong Joon-ho fez para esse filme são um dos pontos mais altos, bem como o visual estético e os efeitos visuais realistas. Mickey 17 apresentou uma direção espetacular.

Roteiro de Mickey 17

Assim como na direção, o roteiro desse filme foi escrito por Bong Joon-ho. Em suma, o enredo de Mickey 17 recebeu diversas adaptações que deram ao filme um tom mais leve, se comparado ao livro. Apesar de ter recebido diversas mudanças criativas, o filme preservou muito da natureza introspectiva e desafiadora da obra original.

Uma das adaptações mais geniais do roteirista no longa-metragem, é o falecimento de Mickey 18 é uma decisão narrativa astuta que eleva o conflito interno da trama a um nível mais dramático e simbólico. Ao contrário do livro, que apresenta várias versões de Mickey convivendo quase sem atrito, o roteiro escolhe converter o embate entre os dois clones em uma batalha real pela sobrevivência e pela determinação do “eu” autêntico.

No final das contas, Mickey 17 demonstra que um roteiro adaptado pode ultrapassar a literalidade e, ao mesmo tempo, preservar a essência filosófica do material original. Ao transformar dilemas de identidade em conflitos tangíveis, unir crítica social a grandes cenas de ação e levar o público a um ápice de sacrifício repleto de significado, Bong Joon‐home evidencia um domínio completo da linguagem do cinema e da arte da dramaturgia. Esta fusão de inovação estrutural, profundidade temática e apelo emocional não apenas destaca o filme na temporada de prêmios, mas também o coloca, com justiça, entre os principais candidatos ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.

Trilha sonora do filme

Jung Jae-il produziu a trilha sonora de “Mickey 17”, o compositor é conhecido por ter feito álbuns para “Parasita” e “Okja”. Em suma, as músicas tocadas nesse filme transmitem uma sensação de animação, quase como os sons típicos de animações dos anos 80. Melodias com notas abertas, graves e tensas, com marcações constantes, desviam o tom desumano e onde Mickey se encontra. A música “Arrival” representa bem isso. 

Assim como os cartoons antigos criticavam sociedade, guerra ou consumo com humor bizarro. Em outras palavras, a trilha de “Mickey 17” reforça a ideia de que estamos assistindo uma sátira disfarçada de ficção científica. 

As músicas também parecem remeter a leitmotifs exagerados e caricaturais, como por exemplo, o próprio Marshall, líder da nave. Assim, a trilha sonora de Mickey 17 não se limita a acompanhar a história, mas também a comentar, provocar e perturbar. Jung Jae-il, ao combinar referências sonoras do passado com tensões contemporâneas, cria um cenário musical que acentua a natureza ambígua do filme: por vezes cômico, por vezes cruel, mas sempre perturbador. Esta combinação do lúdico com o distópico confere à trilha um papel narrativo singular. Por fim, tal combinação elevou a experiência do espectador e expandindo o tom crítico do trabalho.

Conclusão

Uma das coisas que mais me chamou a atenção em Mickey 17, é como a apatia foi trabalhada. Essa tendência está cada vez mais presente em obras da cultura pop. Por exemplo “Duna: Parte 2”, a civilização dos Harkonnen não tem nenhuma sensibilidade social, e segue uma cultura bárbara. 

Também podemos ver essa falta de ética em obras como “Blade Runner 2049”, onde a Terra é dominada por corporações que criam replicantes (humanos artificiais). “Black Mirror” é outra obra que trata disso, pessoas vivem pedalando para gerar energia e consumir entretenimento vazio. As emoções são substituídas por recompensas digitais.

O tema da apatia institucional e social realmente tem ganhado força na cultura pop recente, especialmente em obras de ficção científica, distopia e dramas futuristas. Mickey 17, realmente me fez pensar no momento atual, quando a humanidade trata as guerras entre países como os espetáculos em coliseus como na Roma antiga. Será que isso é um sinal de que estamos retrocedendo, ou o futuro que nos aguarda será tão absurdo como as obras citadas aqui? Por fim, espero que essa análise tenha ampliado sua percepção sobre Mickey 17. Até a próxima!

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