Stop Killing Games é uma iniciativa criada por consumidores para contestar a obsolescência programada que as desenvolvedoras vêm impondo aos seus próprios jogos.
Imagine comprar um jogo, investir centenas de reais e, um dia… ele simplesmente some da sua biblioteca.
Não porque você perdeu o acesso à conta ou danificou a mídia física, mas porque a própria empresa decidiu desligar os servidores e apagar qualquer vestígio de sua existência.
Parece absurdo? Pois é exatamente isso que tem acontecido. Lembra de The Crew? Pois é… tente jogá-lo hoje.
É dessa indignação que nasceu o movimento Stop Killing Games, uma campanha europeia que está se tornando global e promete sacudir a história dos videogames.
Com mais de 1 milhão de assinaturas em uma petição entregue à Comissão Europeia, a iniciativa quer garantir que jogos continuem jogáveis mesmo após o fim do suporte oficial.
Para os defensores, trata-se de preservar não só o acesso do consumidor, mas também o legado cultural de uma mídia inteira. Para as grandes publishers, no entanto, o pedido é visto como um fardo caro e indesejado.
Como Tudo Começou
O ponto de partida foi justamente o desligamento de The Crew, da Ubisoft. Uma década atrás o game, vendido como uma experiência single-player com elementos online, simplesmente deixou de funcionar quando os servidores foram encerrados em 2024.
Para Ross Scott — criador do canal Accursed Farms e fundador do movimento — isso foi a gota d’água.
“Se eu compro um jogo, espero poder jogá-lo para sempre. O que está acontecendo é como se estúdios queimassem filmes antigos porque não querem mais vendê-los”, comentou Scott em vídeo.
O Stop Killing Games pede que as empresas ofereçam soluções como:
- Modos offline ou locais;
- Liberação de servidores privados;
- Preservação das cópias digitais para quem já comprou.
A Resposta da Indústria
Do outro lado, a Video Games Europe (associação que representa publishers como Ubisoft, Activision e EA) afirma que as exigências do movimento são “inviáveis”.
Segundo eles, manter jogos antigos funcionando demanda custos altos e traz riscos legais e de segurança.
Para os críticos da campanha, a obrigatoriedade poderia sufocar projetos menores e forçar estúdios a abandonar ideias criativas com integração online.
Mas será mesmo? Muitos jogadores lembram que empresas menores já conseguiram preservar jogos antigos com modos offline — por que gigantes bilionários não conseguiriam?
Stop Killing Games é o Ideal?
Nem todos na comunidade gamer enxergam o Stop Killing Games como a solução ideal. O streamer e desenvolvedor Jason “Thor” Hall, mais conhecido como Pirate Software, se tornou uma das vozes mais críticas ao movimento.
Em um de seus vídeos, Hall afirmou que a campanha é vagamente formulada e pode acabar prejudicando os próprios jogos que busca proteger.
Segundo o youtuber, exigir que todos os títulos recebam modos offline ou sejam convertidos para servidores privados seria irrealista e economicamente inviável, principalmente para estúdios independentes.
“O movimento, do jeito que está, parece ignorar a complexidade de jogos multiplayer e live service. Transformar isso em algo obrigatório poderia matar projetos menores antes mesmo de nascerem”, argumentou o streamer.
A declaração rapidamente viralizou e dividiu opiniões. Para muitos fãs do movimento, Hall “não entendeu o objetivo” da iniciativa e espalhou desinformação ao sugerir que as exigências valeriam também para jogos já lançados.
Ross Scott, criador do Stop Killing Games, rebateu duramente:
“Pirate Software não leu a petição e está fabricando um espantalho para atacar. Estamos falando de normas futuras, não de forçar cada jogo multiplayer a virar single-player.”
Outros influenciadores, como MoistCr1TiKaL, também defenderam o movimento e destacaram que as propostas focam em preservação cultural e direitos do consumidor, não em sufocar o mercado indie.
No fim das contas, a crítica de Hall acabou jogando ainda mais luz sobre o debate. E o legal é que isso mostra que o Stop Killing Games toca em pontos sensíveis de uma indústria que já vive um cabo de guerra entre criatividade, lucro e conservação.
Mais do que Nostalgia
O debate vai além do saudosismo. O Stop Killing Games também chama atenção para a fragilidade do contrato da mídia digital.
Diferente dos discos e cartuchos antigos, os jogos atuais dependem cada vez mais de servidores e DRM, o que significa que basta um desligamento para perder o acesso ao que você comprou.
Para Ross Scott, o que está em jogo é também a preservação cultural dos videogames.
“Se não mudarmos isso, teremos gerações inteiras de jogos que vão desaparecer como se nunca tivessem existido.”
Com mais de 1.2 milhões de assinaturas, a petição europeia será analisada e pode gerar novas regulamentações. No Reino Unido, outro abaixo-assinado já superou 100 mil assinaturas e deve ser debatido no Parlamento.
Enquanto isso, o movimento cresce com apoio dos maiores influenciadores, jogadores e até ex-desenvolvedores que questionam: se você não pode jogar o que comprou, será que você realmente é dono dele?
Comprar é Possuir?
Enquanto grandes publishers parecem cada vez mais obcecadas em controlar o que você pode ou não jogar, a GOG (Good Old Games) escolheu remar na direção contrária, e isso faz toda a diferença.
Na GOG, quando você compra um jogo, você realmente possui uma copia legitima sua. Nada de DRM, nada de autenticações constantes, nada de servidores que, um dia, vão simplesmente sumir e levar sua licença de uso junto.
Você baixa o instalador completo, guarda onde quiser e ele é seu para sempre. Simples assim.
Vale mencionar que a GOG vai além de vender jogos sem DRM: ela atua como uma verdadeira guardiã da história dos videogames.
O time trabalha para localizar, licenciar e adaptar títulos antigos, muitos dos quais já haviam sido condenados ao esquecimento pela própria indústria.
É um trabalho quase arqueológico, que envolve restaurar códigos, recriar compatibilidades e salvar obras que, de outra forma, seriam perdidas para sempre.
Num mercado onde até as maiores franquias correm o risco de desaparecer com um simples clique corporativo, a filosofia da GOG soa quase como um ato de resistência. Ela não apenas vende jogos — ela devolve ao jogador o direito de possuir o que comprou. Algo que, em tempos não tão distantes, parecia óbvio e inegociável.
Porém, quando falamos de jogos como serviço, com foco online ou dependentes de conexão constante, nem mesmo a GOG consegue “salvar” esses títulos da obliteração total.
Nesses casos, nem a pirataria teria seria capaz resgatar o que foi desativado.
A única saída é que os próprios desenvolvedores criem um plano de contingência. Bastaria um patch para garantir que, quando o suporte oficial chegasse ao fim, o jogo não se tornasse um peso de papel.
Como eu Posso Ajudar o Movimento SKG?
Infelizmente, a petição do Stop Killing Games só pode ser assinada por residentes da União Europeia e do Reino Unido.
Por enquanto, aqui no Brasil, a melhor forma de apoiar o movimento é ajudando a espalhar esta mensagem. Quanto mais pessoas souberem o que está acontecendo, maior será a pressão sobre as grandes publishers para repensarem suas práticas e respeitarem os jogadores.
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