“O Show de Truman – O Show da Vida” conta a história de Truman Burbank mora em Seahaven Island, uma cidade tranquila e ideal. Contudo, ele desconhece que sua vida é uma farsa: desde que nasceu, foi legalmente adotado por um estúdio de TV e é o protagonista não intencional de um reality show que é transmitido 24 horas por dia para o mundo inteiro. Na realidade, a cidade é um enorme estúdio situado em Los Angeles, no qual tudo, pessoas, ambiente e clima – é controlado por Christof, o criador e diretor do programa.
Truman é cercado por atores, incluindo amigos, vizinhos e até sua esposa, Meryl. Para evitar sua fuga, foram causados traumas, como a falsa morte de seu pai em um acidente marítimo, gerando nele um medo patológico da água. Truman começa a questionar a realidade ao seu redor, especialmente após eventos incomuns, como um refletor caindo do céu ou ouvindo no rádio uma descrição dos seus próprios passos.
Embora haja pressão para que Truman ame Meryl, ele se apaixona por Sylvia, uma figurante que tenta expor a verdade, mas acaba sendo removida do programa. Inspirado pelas lembranças dela, ele sonha em escapar para Fiji. Quando sua suspeita aumenta, ele tenta fugir, mas é impedido por várias manipulações. Depois de encontrar um túnel no porão, consegue escapar de casa e navegar pelo mar.
Christof tenta detê-lo ao provocar uma tempestade, porém Truman persiste até chegar à parede do estúdio. Lá, descobre uma porta de entrada para o mundo real. Em um último diálogo, Christof tenta persuadi-lo a permanecer, mas Truman se despede usando seu bordão: “Caso eu não te veja… boa tarde, boa noite e boa sorte” e vai embora. Enquanto Christof assiste ao término de seu “deus-experimento” sem poder fazer nada, o mundo comemora sua libertação.
Direção de O Show de Truman
A direção do filme “O Show de Truman – O Show da Vida” foi orquestrada pelo cineasta Peter Weir, que teve um papel importante em tornar o roteiro original, sombrio e bizarro, em uma trama mais leve e cômica. Peter Weir é reconhecido por seu estilo reflexivo, focado em personagens deslocados, no confronto entre mundos e na tensão entre o individual e o coletivo.
Seus filmes costumam investigar: Indivíduos confrontando sistemas opressores, e Mundos controlados por uma força opressora. Por exemplo, o filme “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989), ilustra bem a identidade cinematográfica do diretor.
No filme, “O Show de Truman – O Show da Vida”, Peter Weir não optou por cenas mirabolantes e cheias de efeitos, na real o diretor fez o que tinha que ser feito, explorou temas emocionais e filosóficos.
Por exemplo, a cena da chuva isolada, quando Truman caminha pela rua quando uma pequena nuvem o acompanha, provocando chuva somente sobre ele. Podemos interpretar essa cena, à primeira vista, de modo cômico. Contudo, tal cena simboliza a solidão existencial, Truman é literalmente isolado, mesmo em um mundo que finge ser coletivo.
Poderíamos concluir que a intenção principal do diretor desse filme, é criticar a manipulação da mídia, ética das corporações de entretenimento. Contudo, o cineasta se mostrou bem mais profundo, costurando uma trama que nos mostra o quão importante é ter a liberdade individual, e como é bizarro, quando um sistema pode nos privar disse individualismo. Portanto, a direção de Peter Weir se mostrou essencial ao equilibrar humor, drama, e suspense, em uma só obra.
Roteiro de O Show de Truman
“O Show de Truman – O Show da Vida” (The Truman Show) não teve como base nenhum livro ou história real, mas originou-se de um roteiro original de Andrew Niccol. O autor criou a trama como uma sátira contemporânea acerca da mídia, vigilância e da realidade construída pela televisão.
Porém, há conceitos filosóficos em que essa trama se apega fielmente, como por exemplo, “O Mito da Caverna” postulada por Platão: prisioneiros vivem acorrentados dentro de uma caverna, vendo apenas sombras na parede, sem saber que há um mundo real fora dali.
Além disso, a cultura dos reality shows e da televisão comercial já era um assunto bastante importante na América nos anos 90, e O Show de Truman abordou isso de maneira surpreendentemente visionária, prevendo até algumas tendências que se tornaram predominantes até os dias atuais.
A história escrita originalmente por Andrew Niccol conquistou a categoria de melhor em grandes cerimônias como o Oscar, BAFTA, e Writers Guild of America no ano de 1999. Portanto, o roteiro desse filme, é o ponto mais forte da obra.
Detalhes escondidos em O Show de Truman – O Show da Vida
“O Show de Truman – O Show da Vida” não é um filme da Marvel, mas possui diversos detalhes escondidos que só se tornam óbvios após assistirmos o filme pela primeira vez. Por exemplo, quando Truman passa as folhas de seu álbum de infância, podemos ver uma foto sua atrás de grades do que mais parece ser um cercado, essa cena é uma alusão sutil ao seu mundo. Outros detalhes são:
Sol artificial: Enquanto Truman trabalha, podemos ver em sua mesa um pequeno frasco de vitamina D. Isso é um indica que apesar de ter contato com o ar livre constantemente, o sol artificial do domo gigante não é eficaz.
Lua falsificada: Em certo momento do filme, Truman se encontra em uma praia observando o mar de escuridão iluminado por uma Lua incrível. Essa lua é ofuscada por uma raio de milésimos de segundo, mas se observarmos com atenção podemos notar isso.
Barco chamado “Santa Maria”: faz alusão à caravela de Colombo, representando descobertas e “novos mundos”, indicando que Truman também realizaria sua própria descoberta.
O criador: No último ato Christoph manipula o mar criando um temporal devastador, com o intuito de barrar a fuga de Truman. No Barco que Truman, bem na vela há um número, 139. Esse número é uma referência ao Salmo 139: “Tu me cercas por trás e pela frente, e pões a tua mão sobre mim. Para onde me ausentarás do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face?”. Uma alusão perspicaz feita pelos roteiristas sobre o desejo de controle por parte de Christoph.
O roteiro de “O Show de Truman – O Show da Vida” se tornou um dos melhores já criados no cinema, e por isso é referenciado até hoje. Todos esses detalhes são, inegavelmente, uma prova da riqueza e do empenho dos roteiristas.
Orçamento e bilheteria
O Show de Truman teve um custo estimado em US$60 milhões. Esse montante foi visto como elevado para um drama na época, principalmente por não se tratar de um blockbuster convencional. Uma parte considerável do custo foi destinada ao pagamento de Jim Carrey, que recebeu aproximadamente US$12 milhões. Boa parte do orçamento foi direcionada à construção do enorme cenário que retrata Seahaven (inspirado em Seaside, na Flórida).
Esse se tornou um dos maiores comerciais de 1998, arrecadando US$264 milhões. O filme que mais arrecadou nas bilheterias, “Um Lugar Chamado Notting Hill”, arrecadou cerca de US$553. A partir disso, dá para ter uma ideia de como “O Show de Truman – O Show da Vida” se saiu bem comercialmente. Ao unir relevância temática e apelo popular, O Show de Truman transcende seu tempo e se estabelece como um clássico moderno. A mensagem continua atual em uma era dominada por redes sociais, algoritmos e vigilância digital.
Crítica
Desde seu lançamento, O Show de Truman foi amplamente aclamado pela crítica, sendo considerado um filme inteligente, original, emocional e profundamente relevante. Nos dias de hoje, essa é considerada por muitos uma obra cult, e um dos melhores filmes da década de 90. Por exemplo, no ilustre IMDB, esse longa-metragem alcançou 89% de aprovação em uma escala de mais de 250 mil votos.
Particularmente falando, o filme se destaca por sua trama sombria, e sem dúvidas, pela atuação cômica e comovente de Jim Carrey. Dessa maneira, “O Show de Truman – O Show da Vida” foi muito bem recebido no período do lançamento. De fato, o filme ganhou ainda mais relevância ao longo do tempo. A crítica destacou tanto seu valor artístico e emocional quanto sua habilidade de interagir com o zeitgeist midiático, funcionando simultaneamente como um retrato do presente e um aviso para o futuro.
Trilha Sonora de O Show de Truman
A trilha sonora do “Show de Truman – O Show da Vida”, composta majoritariamente por Burkhard Dallwitz, realçam o drama do personagem. Em geral, as faixas presentes nesse filme são composições suaves, melancólicas e etéreas. Esse elementos refletem a combinação de inocência e inquietação no mundo de Truman. Por exemplo, “Truman Sleeps”, ilustra bem o que foi falado. Essa faixa, é tocada em uma cena quando Truman observado enquanto está dormindo. A produção do programa retrata sua imagem como um evento pacífico, enfatizando a noção de que se trata de uma propriedade pública.
Apesar de realçar bem o tom do filme, essa trilha musical tem grande apelo na trama. O trabalho magistral de Burkhard Dallwitz rendeu ao filme o prêmio Globo de Ouro na categoria de melhor trilha sonora em 1999.
Conclusão
Depois de enfrentar a tempestade, ele bate com o barco na parede do mundo falso e subir as escadas até a porta de saída. Após isso, Truman se despede com seu bordão, agora com novo significado: “Caso eu não te veja mais… boa tarde, boa noite e boa sorte”. Podemos interpretar essa frase, pronunciada pelo protagonista tanto no início como no fim do filme, de várias maneiras. No início, ela representa a rotina controlada, a ausência da liberdade individual, e a vida programada de Truman.
Contudo, no fim, essas palavras ganham um novo significado. Ao sair de todo aquele cenário, Truman provou que a ambição, a autonomia, e o poder sobre si próprio é mais valioso que qualquer rotina sistematizada, ainda que se mostre em condições perfeitas. Por fim, “O Show de Truman – O Show da Vida” se destaca, por tratar de um assunto carregado de peso emocional e profundidade, de um modo leve e fácil de se compreender. Até a próxima!