Partindo da premissa da liberdade criativa, os jogos indie têm se destacado como um dos pilares mais inovadores e emocionantes da indústria do desenvolvimento. À medida que grandes títulos de estúdios renomados saturam o mercado, os jogos indie vêm silenciosamente conquistando corações e mentes com suas propostas únicas e muito mais ousadas. Esses pequenos projetos, desenvolvidos por pequenos estúdios ou até mesmo um único cara, são a prova viva de que a paixão e a criatividade podem superar a falta de grana.
Mas afinal, o que são jogos indie? Por que eles conseguiram cativar tanto a crítica quanto o público? A resposta está na liberdade que os desenvolvedores independentes têm para experimentar e explorar novas ideias sem as amarras corporativas. Isso resulta em jogos que muitas vezes desafiam convenções, trazendo à tona experiências profundamente pessoais e inovadoras que grandes estúdios muitas vezes hesitam em criar.
Hoje vamos apresentar uma visão retrospectiva do mundo dos jogos indie. Vamos entender o que caracteriza um jogo indie, explorar a história do movimento independente, e ver como pequenas equipes começaram a mudar a indústria dos games de dentro para fora.
Descubra agora como o conceito de “jogos indie” evoluiu através das décadas e revolucionou a indústria dos games, desafiando expectativas e mostrando que, o tamanho do estúdio não define o impacto que suas criações podem gerar.
O Primeiro Estúdio Indie
Quando pensamos em estúdio indie em 1980, o que vem a mente é um grupo de amigos, programadores, desenvolvendo um projeto paralelo nas horas vagas. Embora seja um tanto difícil apontar com total exatidão, quando e quem deu o primeiro passo no movimento indie, nossa história precisa de um começo. E se for para falar sobre um ponto de ignição dos jogos indie, é impossível não mencionar a Activision, que é considerada por muitos historiadores uma pioneira dos estúdios independentes.
Hoje, mais conhecida por ter criado o Call of Duty, a Activision foi fundada em outubro de 1979 por David Crane, Alan Miller, Bob Whitehead e Larry Kaplan (todos ex-funcionários da Atari), a Activision surgiu como uma resposta a um ambiente um tanto opressivo na Atari, onde os desenvolvedores quase nunca recebiam o crédito que mereciam. Os caras estavam cansados de ser apenas mais um número na linha de produção e queriam mudar isso.
David Crane, que é um verdadeiro pioneiro no mundo dos games, foi uma das figuras centrais dessa revolução, inclusive. Com a criação de “Pitfall!” em 1982, um jogo para o Atari 2600, que virou até um ícone na história dos videogames retro, Crane mostrou que os pequenos estúdios também podiam fazer grandes coisas.
“Pitfall!” não só trazia uma jogabilidade inovadora, mas também apresentava um design de níveis que era bem à frente do seu tempo. Esse jogo foi uma espécie de prenúncio do que os estúdios independentes poderiam produzir.
A visão dos Primeiros Jogos Indie
A Activision pode até ter começado inspirada pela rebeldia, mas ela tinha uma visão bem clara logo de início: valorizar os desenvolvedores e dar a eles a liberdade criativa que tanto buscavam. Os fundadores da Activision não queriam só criar jogos, eles queriam criar um ambiente onde os criadores fossem reconhecidos e recompensados pelo seu trabalho. E, convenhamos, isso fez toda a diferença.
Além do Pitfall!, outros jogos da Activision, como River Raid e Kaboom!, foram verdadeiros sucessos. Esses jogos eram viciantes e inteligentes, e mostravam desde cedo que a criatividade não deveria ter limites. E, olha só, eles foram pioneiros em colocar o nome dos desenvolvedores nas caixas dos jogos! Isso era algo inédito e mostrou que, sim, os criadores mereciam ser reconhecidos.
O impacto da Activision foi enorme. Eles não só abriram caminho para futuros desenvolvedores independentes, como também ajudaram a moldar a cultura da indústria de jogos, promovendo uma abordagem mais centrada no desenvolvedor.
Se num primeiro momento, os jogos eram inteiramente atrelados aos consoles, agora, o movimento da Activision havia levantado uma bandeira que inspirou muitos outros estúdios e desenvolvedores a seguirem o mesmo caminho.
Essa revolução da Activision foi só o começo. Nas próximas seções, vamos explorando cada vez mais como o conceito de jogos indie evoluiu ao longo das décadas, enfrentando desafios e abraçando oportunidades para se tornar uma parte essencial do mundo dos games. E, cá entre nós, essa história só fica melhor.
Desenvolvimento de Jogos Indie
É fato que os custos de desenvolvimento de jogos podem variar enormemente. Veja bem, enquanto os títulos AAA muitas vezes exigem orçamentos de milhões de dólares, os jogos indie operam com recursos muito mais modestos.
Essa diferença de investimento financeiro pode parecer uma desvantagem à primeira vista, mas é justamente aí que reside a magia dos jogos indie.
Comparando os Orçamento para entender melhor, vamos pensar nos grandes blockbusters de Hollywood e compará-los com os filmes independentes. Jogos AAA, como os da série Call of Duty ou Assassin’s Creed, demandam equipes gigantescas, marketing de alto custo e uma infraestrutura técnica robusta. O desenvolvimento pode chegar a custar centenas de milhões de dólares, com um ciclo de produção que pode durar anos.
Por outro lado, jogos indie como o Hollow Knight ou o Celeste foram desenvolvidos por equipes pequenas, com orçamentos que giram entre alguns milhares de dólares. Em muitos casos, inclusive, todo o trabalho é feito por um cara só, no PC de casa, nas horas vagas.
Esse tipo de condição permite que os desenvolvedores indie experimentem mais e assumam riscos criativos que seriam impossíveis em projetos maiores.
Uma das grandes vantagens dos jogos indie é a liberdade para experimentar. Sem investidores “fungando no cangote”, os desenvolvedores independentes podem se concentrar em criar algo verdadeiramente único. É comum ver jogos indie explorando mecânicas inovadoras ou narrativas complexas, algo que muitas vezes é evitado em títulos AAA devido ao risco financeiro.
Quando o investimento é alto, um lançamento “flopado” pode significar o fechamento de um estúdio.
E aqui entra uma pitada de ironia: enquanto grandes estúdios evitam riscos para garantir retorno sobre investimentos massivos, os pequenos estúdios, com seus recursos limitados, têm a ousadia de inovar e redefinir o que um jogo pode ser.
“Somente depois de perdermos tudo é que estamos livres para fazer qualquer coisa.” (Tyler Durden – Clube da Luta)
Exército de um Homem só: Jogos indie geralmente são desenvolvidos por equipes muito pequenas, mas mais impressionante do que isso, são jogos como Stardew Valley que foram criados por uma única pessoa. Eric Barone, dedicou anos de sua vida ao projeto. Isso reduz significativamente os custos de mão de obra, mas também exige um grau incrível de dedicação e competência em diversas áreas por parte do desenvolvedor. Ah! E por falar nisso… Quero comentar ao final sobre as diversas competências que um dev independente precisa ter para tocar um projeto solo.
Ferramentas Gratuitas e Open Source: Um dos maiores geradores de custo na produção de jogos, sem dúvida, é a criação de um motor gráfico. A maioria dos estúdios de grande porte possuem seus motores proprietários somente para uso interno. Com o avanço e crescimento do mercado e de seus modelos de negócio isso mudou com a chegada de ferramentas de código aberto.
O acesso a ferramentas de desenvolvimento gratuitas ou de baixo custo, como Unity, Unreal Engine e Godot, permite que desenvolvedores indie criem seus pretos com qualidade profissional sem gastar inicialmente. Além disso, muitos recursos, como gráficos e sons, podem ser encontrados gratuitamente na internet.
Marketing de Guerrilha: Diferente dos AAA, que têm campanhas de marketing épicas, os jogos indie quase sempre dependem do “boca a boca” e de comunidades online para ganhar destaque e viralizar. Plataformas como o YouTube e a Twitch são essenciais para a divulgação, com influenciadores muitas vezes sendo os primeiros a testar e promover esses jogos.
Financiamento Coletivo (Crowdfunding): Como mencionado anteriormente, o financiamento coletivo é uma ferramenta poderosa para os jogos indie. Ele não apenas fornece os recursos financeiros necessários para o desenvolvimento, mas também cria todo um hype e envolvimento da base de fãs dedicada desde o início.
Vale lembrar que o Crowdfounding foi um dos grandes propulsores da tecnologia de VR, financiando o Oculus Rift em seu estágio embrionário.
Um ótimo exemplo de “Menos Dinheiro, Mais Criatividade” foi o jogo Undertale, desenvolvido por Toby Fox. Com um orçamento inicial de apenas US$ 5.000 levantado no Kickstarter, o jogo se tornou um fenômeno cultural. Sua narrativa envolvente e mecânicas de jogo inovadoras conquistaram milhões de fãs, mostrando que, com criatividade e paixão, é possível criar algo extraordinário sem um orçamento gigantesco. No mínimo, inspirador!
Grande Sucesso com Jogos Indie
Quando falamos de jogos indie que atingiram grande sucesso, estamos nos referindo a verdadeiras joias que transcenderam as expectativas e conquistaram uma legião de fãs ao redor do mundo.
Esses jogos não apenas furaram a bolha dos jogos AAA, mas também redefiniram o que significa ser um jogo indie. Já que, mesmo tendo sido feitos por esquipes minúsculas e pouco orçamento, entregaram experiências que mercaram a história dos videogames.
Desde atmosferas sombrias e enigmáticas até mecânicas de jogo revolucionárias, essas obras-primas tornaram-se parte iconica da cultura gamer. Se você é um entusiasta de videogames, é difícil nunca ter ouvido falar de títulos como “Limbo”, “Amnesia: The Dark Descent”, “Minecraft”, “Rocket League” e “Beat Saber”.
Cada um desses jogos deixou seu nome na calçada da fama, e muitos chegaram até a moldar a forma como pensamos e jogamos videogames hoje em dia.
Limbo – desenvolvido pelo estúdio dinamarquês Playdead, é um dos jogos indie mais icônicos de todos os tempos. Lançado em 2010, esse jogo de plataforma em preto e branco se destacou imediatamente por sua atmosfera sombria e enigmática. A estética minimalista e a completa ausência de diálogos criaram uma experiência visual e emocional única.
Em Limbo, nada é escrito ou falado, mas muita coisa é dita.Imagine-se em um mundo monocromático, onde cada sombra pode esconder um perigo mortal e cada passo pode ser seu último. A jornada do protagonista, um menino sem nome, através de um ambiente hostil e desolado, é uma metáfora visual poderosa para a luta pela sobrevivência. A simplicidade do design de “Limbo” é uma hipérbole do velho ditado: “menos é mais” e o verdadeiro charme está na engenhosidade de seus quebra-cabeças.
Amnesia: The Dark Descent – Gosta de passar sufoco em jogos de terror? Bem, outro marco na história dos jogos indie é “Amnesia: The Dark Descent”, desenvolvido pela Frictional Games e lançado em 2010. Esse jogo de terror psicológico redefine o medo, te colocando na pele de Daniel, um homem que acorda em um castelo escuro sem memória de como chegou lá.
Com sua atmosfera opressiva e trilha sonora perturbadora, “Amnesia” nos leva a um pesadelo vivo, onde a escuridão e os sons sinistros são personagens tão importantes quanto qualquer figura humana. Você não possui armas e é forçado a correr e se esconder, construindo a sensação de estar indefeso e desesperado. É como se o castelo em si estivesse vivo, um gigante adormecido esperando para te engolira qualquer momento. (Jogue de fones e luz apagada, é suave)
Minecraft – E quem poderia deixar de fora o Minecraft? Desenvolvido por Markus “Notch” Persson e lançado lá em 2011 pela Mojang, Minecraft é talvez o maior exemplo de como um jogo indie pode se tornar um fenômeno global. Com gráficos simplistas e uma mecânica de jogo centrada na criatividade e exploração, Minecraft permite que você construa qualquer coisa que possam imaginar em um mundo feito de blocos.
A popularidade de Minecraft é o simbolo da expressão “do zero ao topo”. Começando como um projeto independente, o jogo se tornou um dos mais vendidos de todos os tempos, transformando Persson em uma lenda da indústria dos games. Segundo dados oficiais, Minecraft já vendeu mais de 60 milhões de cópias.
Rocket League – desenvolvido pela Psyonix e lançado em 2015, é um jogo que combina futebol com carros. Sim, parece uma combinação meio zuada, mas essa justamente é a genialidade do jogo. Com uma mecânica de jogo acessível e ao mesmo tempo desafiadora, Rocket League rapidinho conquistou uma base de fãs a nível mundial.
Junte a adrenalina de uma partida de futebol, agora coloca carros voadores, acrobacias insanas e explosões a cada gol marcado. A regra aqui é clara: a combinação de elementos inusitados pode resultar em algo extraordinário. ” Um exemplo perfeito de como a inovação pode transformar conceitos simples em experiências incrivelmente viciantes.
Beat Saber – Por fim, “Beat Saber”, desenvolvido pela Beat Games e lançado em 2018, é um jogo de ritmo em realidade virtual (VR) que conquistou público de diversas idades. Armado com dois sabres de luz, você deve cortar blocos no ritmo da música, criando uma experiência sensorial que é ao mesmo tempo desafiadora e satisfatória. Gosta de temas sobre Realidade Virtual? Não deixe de ler nosso overview sobre Beat Saber!
Jogos Indie Baseados em Mods
Os jogos indie muitas vezes brotam na internet de lugares inesperados, e algumas dos casos mais impactantes da indústria surgiram apenas como modificações de jogos existentes. Aliás, Mods, como são mais conhecidos, permitem que os jogadores alterem e personalizem seus jogos favoritos, e, ocasionalmente, esses mods se transformam em fenômenos próprios, ganhando vida além das limitações dos jogos originais.
É muito comum um jogo ter sua longevidade esticada por mais de uma década graças a comunidade de modders e suas criações impensáveis, transformando títulos que já eram muito bons, em jogos com propostas originais. Vamos citar alguns desses casos icônicos.
Counter-Strike – Um dos exemplos mais emblemáticos para quem pegou o “boom” das lan houses foi “Counter-Strike”. Originalmente era uma modificação do jogo “Half-Life”, desenvolvido por dois amigos, Minh Le e Jess Cliffe, “Counter-Strike” rapidamente virou um fenômeno pela sua jogabilidade tática e competitiva. Lançado em 1999, este jogo de tiro em primeira pessoa se tornou um dos títulos mais jogados e influentes na história dos games. O que começou como um simples mod se transformou em um fenômeno global, criando uma nova tendência em eSports. O mod se popularizou mais do que o próprio Half-Life, para se ter uma ideia.
Pense na adrenalina de um combate tático, onde cada movimento pode significar a diferença entre a vitória e a derrota. Counter-Strike trouzia uma nova dimensão ao gênero de tiro em primeira pessoa, com foco na estratégia e na cooperação em equipe. É como se os participantes da partida fossem peças em um jogo de xadrez, cada um desempenhando um papel crucial na busca pela vitória.
The Stanley Parable – Outro jogo que começou como uma modificação e se tornou um sucesso foi The Stanley Parable. Assim como Counter Strike, começou como um mod de “Half-Life 2”, desenvolvido por Davey Wreden, o jogo foi lançado como um título standalone em 2013. “The Stanley Parable” é uma experiência narrativa interativa que desafia as convenções tradicionais dos jogos, já que explora temas de controle, livre-arbítrio e a natureza das escolhas.
Stanley é um personagem preso em um loop interminável de escolhas e consequências. A ironia do jogo está no fato de que, não importa o quanto o jogador tente se rebelar contra a narrativa, ele sempre acaba voltando ao ponto de partida. The Stanley Parable é uma metáfora brilhante para a luta contra a conformidade e a busca pela individualidade, uma pauta que tem inundado as redes sociais em pleno 2024.
Garry’s Mod – Desenvolvido por Garry Newman, é jogo do tipo “sandbox” que surgiu também como uma modificação de “Half-Life 2”. Lançado em 2004, os jogadores podem criar e manipular objetos e cenários de maneiras infinitas. Aproveitando a física avançada do moto gráfico da Valve e uma comunidade muito criativa, Garry’s Mod se tornou um playground digital para a criatividade.
Você simplesmente tem ao seu dispor um mundo onde você pode construir qualquer coisa que sua imaginação permitir. O jogo oferece uma liberdade praticamente sem limites, transformando jogadores em verdadeiros arquitetos digitais. É fácil perder a noção do tempo criando e experimentando em Garry’s Mod.
DayZ – Aproveitando a temática de zumbis da década de 2010, DayZ foicriado por Dean Hall como uma modificação do jogo ARMA 2 e lançada em 2012. Este jogo de sobrevivência em um mundo pós-apocalíptico infestado de zumbis rapidamente ganhou uma base de jogadores assíduos. A jogabilidade baseada na sobrevivência realista, onde você deve enfrentar tanto os zumbis quanto outros sobreviventes, trouxe uma nova abordagem ao gênero de sobrevivência.
Imagine-se lutando pela sobrevivência em um mundo devastado, onde os recursos são escassos e cada encontro com outros jogadores pode ser mortal. DayZ é uma metáfora para a luta pela sobrevivência em um ambiente hostil, onde a confiança é uma moeda rara e valiosa. Pense bem antes de confiar. Mantenha sua arma carregada e seu facão afiado.
Jogos Indie que Não Parecem Indie
Às vezes, encontramos jogos indie que, pela qualidade e polidez, facilmente se misturam com produções de estúdios mainstream. Estes títulos dão umshow a parte, provando que não é preciso um orçamento gigantesco para criar experiências imersivas e visualmente impressionantes.
Inside – O estúdio Playdead é um exemplo perfeito de talento e competência em criar um jogo que impressiona pela sua qualidade e profundidade.
Lançado em 2016, Inside é um sucessor espiritual do aclamado “Limbo”. O jogo é uma obra-prima de design e narrativa. À primeira vista, ele parece ter sido produzido por um grande estúdio devido à sua polidez visual, mecânicas refinadas e atmosfera imersiva.
O simbolismo em Inside é profundo. Cada cenário, cada som, cada movimento do personagem parece carregado de significados ocultos, criando uma experiência que é ao mesmo tempo bela e perturbadora. A transição suave entre as áreas e a falta de telas de loading nos mergulham em uma narrativa visual contínua e misteriosa.
Você vai se deparar com situações que questionam a noção de livre-arbítrio. A presença constante de forças controladoras, como os guardas e dispositivos de controle mental, ilustram um mundo onde as ações são predeterminadas. Isso ecoa o debate filosófico entre determinismo e livre-arbítrio, nos levando a refletir sobre até que ponto nossas escolhas são realmente livres.
Lost Soul Aside – Ainda é apenas um projeto… mas um projeto ambicioso criado por Yang Bing, um desenvolvedor chinês que trabalhou quase sozinho no jogo por anos. Claramente inspirado por Final Fantasy XV, Lost Soul Aside apresenta gráficos de alta qualidade e uma jogabilidade fluida que rivaliza com muitos títulos AAA. Desde sua primeira apresentação, o jogo chamou a atenção da comunidade gamer pela sua impressionante qualidade visual e design de combate dinâmico.
Lost Soul Aside é a materialização da paixão e a dedicação de um único desenvolvedor, demonstrando a capacidade de criar algo que pareça saído de um grande estúdio. Desde 2017, o jogo já parecia um blockbuster, mas nasceu do esforço solitário de um criador dedicado. A data prevista para o lançamento é 2024. Esperemos…
Life is Strange – desenvolvido pela Dontnod Entertainment e publicado pela Square Enix, é um jogo episódico de aventura gráfica que se destacou pela sua narrativa emocional e envolvente. Lançado em 2015, o jogo segue a história de Max Caulfield, uma estudante de fotografia que descobre ter a habilidade de voltar no tempo. Essa mecânica de jogo é usada para explorar temas complexos como amizade, amor, bullying e tragédia pessoal.
Lifa is Strange é uma obra que vai além de um simples jogo de aventura e oferece uma exploração filosófica através de sua narrativa. Cada decisão tem peso, refletindo a complexidade da vida real e das interações humanas.
Outlast – Desenvolvido pela Red Barrels, é um jogo de terror de 2013 que ganhou grande destaque pelo terror viceral. Ambientado em um hospital psiquiátrico abandonado, o jogo usa gráficos de alta qualidade e uma narrativa bem construida para criar uma experiência aterrorizante e imersiva.
Jogue com fones de ouvido! Você vai explorar corredores escuros e estreitos, onde cada som pode significar perigo iminente. A sensação de impotência é uma ironia dramática — você, o jogador, está armado apenas com uma câmera para “iluminar” seu caminho e registrar os horrores que presencia. Outlast provou que um jogo indie pode ser tão impactante e visualmente impressionante quanto qualquer título AAA. Além disso serviu de inspiração para dezenas de projetos semelhantes que vieram nos últimos 10 anos.
A Polêmica em Jogos Indie
No mundo dos videogames, a polêmica em muitos casos acaba servindo como uma ferramenta poderosa de marketing. No passado, grandes títulos como o Grand Theft Auto (GTA) aproveitaram a controversos de seus primeiros jogos para gerar hype em seus lançamentos seguintes, atraindo tanto jogador ávido quanto críticos fervorosos e até alguns inimigos.
Essa abordagem se mostrou eficaz quando usada de forma intencional. Jogos indie como Postal 2, Hatred e Hotline Miami 2: Wrong Number se destacando não apenas pela jogabilidade, mas pela controvérsia que geraram.
Mas vale comentar que, se por um lado, a indignação e o debate público podem ser usados para aumentar a visibilidade e o interesse, por outro, também podem gerar um efeito contrário, limitando sua distribuição em alguns territórios.
Que foi o caso de Postal 2, por exemplo. O jogo foi desenvolvido pela Running With Scissors e lançado em 2003, é um caso clássico de como a polêmica pode se transformar em marketing poderoso (e gratuito). O jogo é conhecido por seu humor negro, violência extrema e total desrespeito pelas normas sociais e morais.
Em Postal 2, você assume o papel de The Postal “Dude,” um cara simplesmente toca o terror em um pacato vilarejo. O jogo tem missões que vão desde tarefas cotidianas até atos de violência gratuita e crueldade, sempre com um tom sarcástico e desumano.
Essa representação gráfica da violência chocou muitos, gerando debates sobre os limites do aceitável nos videogames. Através de sua ironia dramática, Postal 2 faz uma crítica ácida à sociedade e às convenções morais, expressa de forma exagerada e controversa, dividindo opiniões.
Devido a esse conteúdo brutal, Postal 2 foi banido em vários países, incluindo a Nova Zelândia e a Austrália. Esse banimento, no entanto, só aumentou o interesse da galera em encontrar maneiras de jogá-lo.
Um detalhe interessante é que o primeiro jogo, Postal, de 1997 só não foi mais polêmico que o Postal 2 devido ao seu baixo alcance de distribuição característico da época. No entanto, isso não impediu que ele fosse proibido em muitos países. Enquanto que o primeiro jogo foi um ato ingênuo ou experimental, o segundo foi lançado de forma premeditada.
Depois de Postal e vários GTAs lançados, o mundo ainda seria capaz de se impressionar com violência nos games? Acho que sim… Seguindo uma trajetória semelhante, o jogo Hatred, desenvolvido pela Destructive Creations e lançado em 2015, também usou a polêmica como sua principal estratégia de marketing.
Numa tentativa de replicar o sucesso controverso de Postal, Hatred coloca o jogador no controle de um personagem que decide sair em uma onda de assassinatos brutais, um tema que provocou repulsa e debates intensos. A premissa do jogo, centrada na violência indiscriminada, chocou tanto jogadores quanto críticos. O estilo visual do jogo, monocromático e opressor, intensifica a sensação de desespero e brutalidade. Isso sem falar nas execuções a sangue frio.
Desafio os limites, os criadores de Hatred se posicionaram abertamente contra a tendência dos jogos politicamente corretos, atraindo atenção tanto positiva quanto negativa. O jogo foi inicialmente removido da plataforma Steam Greenlight devido ao seu conteúdo, mas foi posteriormente reintegrado após um pedido de desculpas de Gabe Newell, CEO da Valve, que só serviu para jogar mais álcool no formigueiro.
A notoriedade de Hatred foi aumentada ainda mais, fazendo com que se tornasse um dos jogos mais votados na plataforma. A classificação “Adults Only” (AO) recebida pelo jogo também impediu sua venda nos consoles.
Ainda em 2015, outro jogo que ficou conhecido tanto pela sua jogabilidade intensa quanto pela controvérsia que gerou foi Hotline Miami 2: Wrong Number. Desenvolvido pela Dennaton Games, o jogo continua a história de seu antecessor, mas foi banido em vários países, incluindo a Austrália, devido a uma cena de violência sexual.
O que vale é a intenção e, embora os gráficos de Hotline Miami 2 sejam bastante simples, o jogo é repleto de violência gráfica e brutalidade, características que já haviam sido marcantes no primeiro título da série.
A cena que mostra um ato de violência sexual foi considerada inapropriada e levou à proibição do jogo em alguns mercados. A história complexa e contada fora de ordem adiciona camadas de profundidade (e também de controvérsia), explorando temas de extremismo e violência. Isso não apenas limitou a distribuição, mas também reacendeu o debate antigo sobre os limites da expressão artística nos videogames.
Do Indie ao Mainstream
Conforme mencionei logo no incio, o movimento indie surgiu como uma resposta à rigidez, a falta de reconhecimento dos verdadeiros criadores. Por outro lado, na virada do século, com a evolução da indústria de videogames e eventuais crises econômicas, observamos que muitos desenvolvedores e estúdios indie passaram a lançar suas obras com a expectativa de serem adquiridos, incorporados ou subsidiados por gigantes do setor.
A aquisição de estúdios menores por grandes empresas tem sido uma estratégia comum, proporcionando recursos e suporte para que esses desenvolvedores possam expandir suas visões criativas ou simplesmente continuarem sobrevivendo aos períodos ruins.
A Activision, embora tenha enfrentado as dificuldades nos anos 80, durante o crash dos videogames, ela se manteve resiliente. A empresa sobreviveu à crise ao se expandir para o mercado de software de computadores pessoais e, após uma reorganização em 1988, renomeou-se como Mediagenic.
Se num primeiro momento a Activision nasceu como um grito de liberdade, bastou pouco mais de uma década para a empresa ser obrigada a repensar suas premissas básicas e cogitar uma fusão. Foi somente após ser adquirida por um grupo de investidores liderado por Bobby Kotick em 1991 que a empresa recuperou seu nome original e começou a se reestruturar para o sucesso.
Mais adiante, em 2008, a Activision se fundiu com a Vivendi Games, formando a Activision Blizzard. Essa fusão proporcionou acesso a propriedades de grande sucesso, como World of Warcraft, da Blizzard Entertainment. Sob a liderança de Kotick, a Activision Blizzard se tornou uma das maiores publicadora de videogames do mundo, lançando títulos extremamente populares e lucrativos como os Call of Duty.
E não para por aí… O crescimento e a influência da Activision Blizzard culminaram na sua aquisição pela Microsoft em 2023 pela bagatela de 75,4 BILHÕES de dólares (dinheiro de pinga). Note que nessa segunda aquisição, o objetivo já não era por sobrevivência, mas sim, expansão.
Se alguns estúdios indie buscam abrir mão da independência para sobreviver em meio a crises, outros buscam o mainstream desde o início. A Sony, ciente disso, sempre agiu como um caça-talentos. Abordando pequenos estúdios com propostas de jogo único, ela dava uma oportunidade para a equipe provar seu valor. Se obtivessem sucesso, uma proposta de aquisição era feita. Quer um exemplo?
Conforme contamos em nosso artigo “Syphon Filter e os Primórdios da Bend Studio” o estúdio, começou como um pequeno grupo (Eidetic) que desenvolvia jogos menores até chamar a atenção com Bubsy 3D e encontrar uma brecha para o sucesso com a proposta de produzir “Syphon Filter” para a Sony em 1999.
A qualidade e a inovação do primeiro Syphon Filter conquistaram a atenção da Sony, que adquiriu o estúdio em 2000. Sob a tutela da Sony, Bend Studio continuou a desenvolver títulos importantes da franquia Syphon Filter, passando por Resistance: Retribution e até Uncharted: Golden Abyss, antes de lançar sua própria IP, “Days Gone”, em 2019.
Se por um lado estúdios indie podem crescer e prosperar com o apoio de uma grande empresa, por outro, ficam expostos a vontade da empresa-mãe, e isso muitas vezes não acaba bem.
Para se ter uma ideia, não faz muito tempo que o Ex diretor criativo John Garvin deixou a Bend Studio após expressar sua opinião publicamente sobre os motivos do baixo desempenho de vendas de Days Gone.
Garvin estava na empresa desde o desenvolvimento do primeiro Syphon Filter, contribuiu enormemente para o sucesso da franquia, e sua opinião, considerada politicamente incorreta, divergiu do posicionamento da Sony. Isso colocou seu legado em cheque e o resto você pode imaginar…
O lançamento de jogos indie muitas vezes revela talentos absurdos. O jogo Hellblade – Senua’s Sacrifice, por exemplo, fez o estúdio Ninja Theory ganhar notoriedade em 2017. O jogo foi aclamado por sua abordagem inovadora à saúde mental e sua qualidade gráfica descomunal, especialmente considerando seu orçamento relativamente modesto.
O sucesso de Hellblade chamou a atenção da Microsoft, que adquiriu o estúdio no ano seguinte. Essa aquisição potencializou a Ninja Theory permitindo expandir seus recursos e desenvolver uma sequência, mantendo sua identidade criativa. Hellblade – Senua’s Sacrifice quando foi lançado, ganhou comparações diretas com jogos AAA da época como Mass Effect – Andromeda.
“Tenho que zoar as pessoas que dizem que jogos AAA não são sustentáveis, quando uma equipe de desenvolvedores independentes faz um jogo como Hellblade e vende por $30.”
Um último exemplo que gostaria de trazer é a caso do League of Legends ( “LoLzinho”). Fundada em 2006, a Riot Games alcançou reconhecimento mundial com o fenômeno League of Legends em 2009. O jogo rapidamente se tornou um dos mais populares (e viciantes) do mundo, colocando a Riot Games como um gigante na indústria dos jogos online e eSports.
Também não demorou muito, em 2011, a Tencent, uma das maiores empresas de tecnologia da China, adquiriu uma participação majoritária na Riot Games, o que permitiu à Riot continuar a crescer e expandir o universo do LoL, incluindo desenvolvimento de novos jogos e outras formas de entretenimento.
O Movimento Contrário – Grandes Estúdios e Jogos Mais Simples
Enquanto muitos estúdios pequenos e independentes querem se tornar grandes, alguns grandes estúdios estão buscando, de certa forma, voltar às raízes, desenvolvendo jogos mais simples e de menor orçamento que, em alguns casos podem se assemelhar ao nível de jogos indie.
Essa tendência revela uma mudança nas preferências do consumidor e nas estratégias de mitigação de riscos financeiros. Jogos menores naturalmente podem ser desenvolvidos mais rápido, tornando viável lançamentos mais frequentes e reduzindo os longos períodos de lançamento entre um título AAA e outro.
Projetos de menor escala envolvem menos recursos financeiros e equipe, minimizando os riscos em caso de fracasso comercial. E, cá entre nós, nos últimos 10 ou 15 anos vimos dezenas de estúdios sendo fechados e diversos talentos indo para rua devido a lançamentos “flopados” em meio a crises.
Os grandes estúdios parecem estar se rearranjando diante de tantas desafios e incertezas de mercado. Por exemplo, em vez de contratar vários desenvolvedores medianos, muitos estúdios agora preferem investir em menos funcionários, mas que possuam habilidades excepcionais e multifacetadas.
Essa abordagem aumenta a densidade de talentos e pode resultar em produtos de maior qualidade. No entanto, para isso, otimizações de processo e o uso ferramentas de inteligência artificial estão sendo introduzidas.
Ainda falando sobre projetos menores, estúdios Ubisoft, com Assassin’s Creed Mirage, estão adotando essa estratégia, desenvolvendo jogos mais simples e curtos, porém com alguma mecânica experimental. A ideia é serem lançados entre seus jogos de grande porte. Lançam, por exemplo, um jogo AAA a cada cinco anos ou mais e um pequeno anualmente.
Isso reflete uma mudança comportamental e padrão de consumo, já que muitos jogadores casuais atualmente não dispõem de muito tempo para jogar e parecem estar se interessante mais por jogos com campanhas menores e lineares, valorizando inovações e, em muitos casos, o fator replay.
Considerações Finais
Diante dos fatos e exemplos que trouxemos, é possível dizermos que os jogos indie continuarão a influenciar a indústria dos videogames de maneira profunda. À medida que as ferramentas de desenvolvimento se tornam, não só mais acessíveis, como também mais convidativas, as comunidades de desenvolvedores independentes crescem, podemos esperar ver ainda mais inovação e diversidade. A próxima geração de jogos indie promete trazer novas ideias e experiências inimagináveis. Afinal, quem tem limite é município e a indústria de games tirou uma grande lição do crash de 1983.
Espero que tenha gostado da nossa publicação e obrigado por nos ler até aqui! Críticas, duvidas ou sugestões aqui abaixo nos comentários. Nos conte quais são seus jogos indie favorito ou qual jogo você nem percebeu que era indie.
Não sabia que esse Beat Saber era indie!
Beat Saber é um exemplo brilhante do impacto dos jogos indie na realidade virtual, sendo fundamental para popularizar essa tecnologia. Agradecemos por nos acompanhar! 😀