“Pecadores” se passa no sul dos Estados Unidos em 1932, Pecadores narra a história dos irmãos gêmeos Smoke e Stack Moore, veteranos da Primeira Guerra Mundial que voltam a Clarksdale, Mississippi, após anos ligados à máfia de Chicago.
Com o dinheiro furtado de gângsteres, os dois adquirem uma serraria de um fazendeiro racista e a convertem em um clube de blues destinado à comunidade negra local. Acompanhando-os está Sammie, primo dos irmãos e jovem guitarrista talentoso, cuja música tem um poder espiritual inconsciente que pode chamar espíritos do passado e do futuro.
Remmick, um vampiro irlandês refugiado, é imediatamente atraído pela atmosfera mística e musical. Ele transforma integrantes do Ku Klux Klan em servos e tenta seduzir os protagonistas com promessas de poder e imortalidade. Conforme os ataques se agravam, as relações entre os personagens são colocadas à prova. Stack é convertido em vampiro, e aliados significativos são mortos em um violento confronto no clube.
Mesmo ferido, Smoke comanda a resistência contra os vampiros, contando com a ajuda dos poucos sobreviventes e com o poder simbólico da música. Por outro lado, Sammie é resguardado por Smoke e vai para Chicago, onde se transforma em um renomado músico de blues.
Décadas depois, quando já está idoso, Sammie encontra novamente Stack e Mary, que agora são imortais, em um clube de blues. Embora tenha recebido o convite para a imortalidade, ele opta por declará-lo, reafirmando sua preferência por uma vida repleta de dor, arte e liberdade. Para Sammie, aquele dia horrível e mágico no Mississippi simbolizou não apenas o horror, mas também o momento mais autêntico de sua vida, quando, por um breve período, todos foram verdadeiramente livres.
Direção de Pecadores
O diretor de “Pecadores” é o jovem Ryan Coogler, que se destacou na indústria através de trabalhos magistrais como “Pantera Negra” e “Creed”, e as respectivas sequências de cada um. Apesar de uma curta filmografia, Coogler demonstra um talento incrível para dirigir filmes. Em resumo, a identidade narrativa desse cineasta, se destaca por tramas carregadas de mensagens de representatividade da cultura black.
Esse compromisso com a cultura Black, de mostrar a realidade dura que os negros sofriam em Pecadores, é gritante. Por exemplo, a criminalidade, a violência e os vícios, frutos da segregação e da descriminção. O filme vai muito mais além do que isso, toda a caracterização
A qualidade desse filme também se deve por uma equipe renomada que criou o visual de Pecadores: a figurinista vencedora do Oscar, Ruth E. Carter ficou encarregado dos figurinos, fazendo distinções sutis entre os irmãos gêmeos e enfatizando o período histórico de cada personagem. Hannah Beachler, premiada designer de produção, criou cenários que levam o espectador ao Delta do Mississippi da década de 1930, com uma cenografia rica que equilibra realismo histórico e atmosfera sobrenatural.
Pecadores lançados no início de abril, apresenta uma direção excepcional. Podemos concluir que essa obra tem um potencial enorme para se destacar nas cerimônias de premiação de 2026, e render grandes reconhecimentos ao Ryan Coogler.
Roteiro de Pecadores
Antes de mais nada, o roteiro desse filme, também foi escrito por Ryan Coogler. De fato, nesse roteiro, um dos principais núcleos que sustenta e destaca esse filme e o diferençia de qualquer outro filme de terror é o musica. O Blues está profundamente ligado à vivência da dor, opressão e espiritualidade afro-americana. Assim, trata-se de uma canção que traz consigo dor, resistência e memória coletiva, componentes que se encaixam perfeitamente com o terror psicológico e sobrenatural. Ao empregar o blues, o filme não se limita a criar uma trilha sonora, mas também convoca energias ancestrais e sentimentos intensos.
Todos os personagens têm um desenvolvimento narrativo profundo, como por exemplo, o passado cruel de Stack e Smoke, que mataram seu próprio pai abusivo e violento. Além disso, elementos da religião cristã estão muito presentes nesse filme, e também foram explorados com inteligência nesse roteiro.
Por exemplo, no início do filme, Jedidiah Moore, o pai de Sammie adverte o jovem para não se aproximar do pecado, e logo depois Sammie sai da igreja e parte com o intuito de sanar seus devaneios. Isso parece ser uma clara alusão a Mateus 6 – 24:
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezar ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.”
Ao utilizar elementos como o blues, que encapsula a alma de um povo e sua trajetória de sofrimento e resistência, o filme não só provoca medo, ele chama. A tensão entre mundos visíveis e invisíveis, entre fé e desejo, entre passado e presente, reforça a ideia de que escolhas têm peso espiritual. Em suma, Pecadores não nos proporciona respostas simples, mas ressoa como uma melodia antiga: perturbadora, encantadora e repleta de significado.
Em que foi baseado esse filme?
A história que contemplamos em pecadores é um roteiro original escrito por Ryan Coogler. Alguns elementos da vida pessoal do diretor ajudaram a inspirar elementos desse filme. Como por exemplo, o roteiro foi baseado nas recordações do avô e do tio do diretor, com ênfase no carinho deste último pelo blues e suas histórias sobre o Mississippi. Coogler caracterizou o projeto como “muito pessoal”.
Ambientado no Delta do Mississippi em 1932, durante Jim Crow, com temas de racismo, opressão e a luta pela resistência cultural, incluindo a luta contra o Ku Klux Klan virando vampiresca, indicam fortemente que Coogler também se inspirou em elementos históricos e culturais da época.
Pecadores é uma obra de ficção, porém profundamente ligada à vivência pessoal de Coogler e ao universo cultural e espiritual do blues. O filme transforma sua experiência familiar e a história afro-americana em uma narrativa impactante e única.
Orçamento e bilheteria de Pecadores
Pecadores custou US$ 90 milhões, é um filme com um orçamento bem modesto se compararmos aos padrões atuais da indústria. Outro lançamento da Warner Bros. que tem o mesmo custo é “Bailarina: Do Universo de John Wick”. Os principais lançamentos deste ano foram executados pela Disney com filmes que superam o custo de US$ 150 milhões. Além disso, “Pecadores”, está se destacando no cinema.
Esse filme estreou nos cinemas mundiais nos primeiros dias de abril. A bilheteria que o filme alcançou até o momento atual está estimada em US$ 365 milhões. Até agora, o longa só fica atrás do filme “Minecraft” como produção mais rentável da Warner, em 2025. Podemos concluir que “Pecadores” foi um grande sucesso comercial.
Melhores cenas do filme
Ao contrário de outros filmes de terror genéricos e superficiais, cada personagem desse longa tem um desenvolvimento e um carisma profundo. Por exemplo, Delta Slim, que perdeu seu melhor amigo pelas mãos da Ku Klux Klan. Cada personagem tem uma história comovente, que foram apresentadas de maneira orgânica e natural das atuações magistrais do elenco. Esse fatores renderam cenas espetaculares, algumas delas são:
“Só queremos nos divertir”: A primeira aparição de Remmick no clube é marcada por uma tensão velada sob um charme quase hipnótico. O bar está cheio, ainda sentindo a energia espiritual liberada pela música de Sammie, quando Remmick chega, elegante, sorridente e aparentemente deslocado, como um estranho simpático que apenas deseja aproveitar a noite. O momento em que ele começa a cantar com as vítimas que ele transformou em vampiro torna tudo ainda mais bizarro.
Fuligem dilacerado: Smoke encontra Stack sendo atacado por Mary, que agora se tornou uma vampira. Chocado, ele testemunha a cena brutal, dispara, mas já é tarde, Mary escapa e Stack morre em seus braços. Smoke compreende que, naquele instante, perdeu seu irmão e qualquer possibilidade de paz.
Fim do rei vampiro: Pouco antes do amanhecer, Smoke enfrenta Remmick na companhia de Sammie. Ferido, porém resoluto, ele leva o vampiro para fora do clube. Quando a luz do dia rompe o horizonte, Smoke entrega Remmick ao sol, que o devora em chamas. Enquanto o vampiro uiva de dor.
Uma coisa que rouba bastante a cena nesse filme é a atuação de Jack O’Connell, o ator deu vida a Remmick, o antagonista principal do filme. O personagem se destaca por uma aparência inofensiva e amigável, quase vulnerável, mas capaz de cometer atrocidades perversas. Essa performance tem um potencial enorme para destacar o ator nas premiações de 2026 em categorias como melhor ator coadjuvante.
Trilha Sonora de Pecadore
A trilha sonora de Pecadores foi criada e produzida por Ludwig Göransson, o aclamado compositor sueco ganhador do Oscar, famoso por suas obras em “Pantera Negra”, “Oppenheimer” e “Tenet”. Em Pecadores, ele explora ao máximo a carga emocional do blues, chegando a tocar no filme a famosa guitarra Dobro Cyclops de 1932, a mesma utilizada por Sammie, e compôs a maior parte da trilha sonora durante as gravações.
Há algo interessante no álbum deste filme, se por um lado os Sammie toca Blues sendo a principal “Travelin”, por outro Remmick toca country como “Will We Go, Lessie Go”. Esse contraste entre dois gêneros musicais está constantemente em sintonia com a turma. No primeiro ato, quando Jedidiah Moore aparece conduzindo cultos na igreja, sons orquestrais de órgãos e sintetizadores ressoam, como por exemplo a música ” This Little Light of Mine”.
Cada música tem um significado profundo que dá ainda mais significado ao filme. Se fosse para indicar um filme com potencial nas premiações de 2026 por sua trilha sonora, indicaria “Pecadores”. Esse álbum apresenta espiritualidade, a cultura, e o ritmo empolgante.
Conclusão
O filme “Pecadores” se destaca muito pelo roteiro imprevisível, mas ainda sim convincente. No clímax epílogo de Pecadores, o filme avança sessenta anos para apresentar Sammie, um bluesman respeitado e idoso, gerenciando seu próprio clube em Chicago. A noite parece comum até que Stack e Mary entram de forma silenciosa, vampiros imortais que permanecem inalterados desde aquela madrugada de 1932. Quando se apresentam no palco, eles tocam para Sammie como se tudo estivesse igual. Depois, oferecem a ele a mesma imortalidade que os mantém eternamente jovens.
Na conversa entre eles, Sammie questiona Fuligem sobre o dia em que foi mordido, e se aquele dia foi o melhor para ele também. Em resposta, Fuligem fala que sim, e explica que foi a última vez que viu o sol, que ficou com as pessoas que amava, que se sentiu livre de verdade. Um flashback acompanha as palavras de Fuligem, mostrando o início da festa, quando todos estão reunidos, alegres e em paz, como uma verdadeira família.
Essa cena parece ser um convite do roteirista Ryan Coogler, a nos questionar se estamos fazendo coisas que nos deixam felizes, ou se estamos nos perdendo na busca por reconhecimento, dinheiro, e um lugar na sociedade. Os gêmeos tinham o mundo nas mãos, mas só conseguiram ser felizes de verdade somente durante a última noite de suas vidas, quando cederam ao amor, a amizade e a família.
Espero que essa análise tenha sido útil para você e ampliado sua percepção sobre um dos melhores filmes de 2025, “Pecadores”. Até a próxima!
