No filme Thunderbolts (2025), a diretora da CIA, Valentina Allegra de Fontaine, tenta ocultar sua participação no projeto secreto “Sentinela”, liderado pelo Grupo OXE. Ela faz isso ao enviar os mercenários Yelena Belova, John Walker, Ava Starr e Antonia Dreykov para uma instalação da OXE na Malásia, que na realidade é um disfarce para a eliminação deles.
No decorrer da batalha, Antonia falece e Bob, um homem amnésico aprisionado em animação interrompida, é libertado. Ao tocarem Bob, Yelena e Walker experimentam memórias dolorosas. Notando que ele é resultado dos experimentos que Valentina tentava ocultar.
Bob exibe resistência a disparos e habilidades estranhas, sendo detido e conduzido à antiga Torre dos Vingadores, agora conhecida como Torre de Vigilância. Lá, Valentina tem a intenção de apresentá-lo como um novo herói nacional e preservar sua reputação perante a sociedade. Alexei Shostakov, conhecido como o Guardião Vermelho, resgata os sobreviventes, agora conhecidos como “Thunderbolts”.
Após descobrir a participação da CIA, Bucky Barnes se une ao grupo e juntos invadem a torre. Bob, influenciado por Valentina, vira-se contra o coletivo, porém um mecanismo de segurança desencadeia a aparição do “Vazio”, uma entidade obscura que personifica os traumas e inseguranças de Bob.
A cidade de Nova York é sufocada por um véu místico. Os Thunderbolts adentram a mente de Bob e lutam contra o Vazio em um espaço interno, buscando recuperar sua humanidade. Bob recupera o controle com o suporte emocional do grupo. Em última análise, Valentina busca se redimir publicamente ao renomear o conjunto como “Novos Vingadores”. Yelena, contudo, deixa evidente que agora possuem autoridade contra ela. Na sequência pós-créditos, um alerta interdimensional indica a presença de uma nova ameaça cósmica iminente.
Direção de Thunderbolts
O diretor de Thunderbolts é Jake Schreier, o mesmo que esteve à frente do filme “Cidades de Papel”. A identidade visual que o cineasta projetou nesse filme é caracterizada por uma atmosfera mais sombria e séria. As cores geralmente tem pouca saturação e valores tonais bem escuros. O filme lembra o estilo de produções da DC, como por exemplo “O Esquadrão Suicida” de James Gunn.
Com base em filmes dirigidos por Schreier podemos concluir que ele consegue envolver o público com drama e profundidade. Esse aspecto está presente nesse longa. Um exemplo disso é a introdução do super-soldado, Alexei Shostakov, esse personagem apesar de ser um brutamontes, tem uma carência genuína da afeição e reconhecimento do público.
Acima de tudo, Thunderbolts se sobressai por conta das coreografias alucinantes entre os super-soldados. Um exemplo disso, é a luta entre Viúva Negra, Agente America, Treinador e Ava Starr, no primeiro ato.
Com essa abordagem, Thunderbolts se estabelece como uma criação que supera a estrutura convencional e cheia de clichês da Marvel, optando por um estilo mais reflexivo e visualmente denso, enquanto mantém a ação empolgante que os espectadores anseiam. A condução de Jake Schreier confere originalidade ao filme, mesclando sentimentos, ferocidade e um toque de humanidade nos personagens. O desfecho é um longa-metragem que oferece entretenimento, mas também permite que a fragilidade de seus anti-heróis se destaque, reafirmando uma nova energia para o MCU.
Em que foi baseado ThunderBolts?
Não há um arco específico que contenha exatamente todos os eventos desse filme. Em outras palavras, ThunderBolts foi inspirado em mais de uma HQ. Por exemplo, Robert “Bob” Reynolds, também conhecido como Sentry, e sua versão maligna, o Void, foram introduzidos inicialmente na série The Sentry (2000), desenvolvida por Paul Jenkins e Jae Lee. Nessa história, Bob ganha habilidades parecidas com as do Superman através de um “soro de supersoldado”, mas enfrenta uma severa esquizofrenia, fazendo com que o Void apareça como um espelho de sua escuridão interior.
A ideia original do grupo apareceu em Incredible Hulk #449 (janeiro de 1997), quando Kurt Busiek e Mark Bagley apresentaram os Thunderbolts como antagonistas disfarçados de heróis, sendo revelados somente ao final como os Mestres do Mal. No MCU, apesar de possuírem uma motivação distinta, os anti-heróis, que operam sob a liderança de Valentina, preservam o clássico espírito de redenção e moralidade ambígua encontrado nos quadrinhos. Apesar de tudo, Jake Schreier, junto ao elenco, conseguiu representar bem cada personagem das HQs, explorando principalmente suas personalidades e conflitos internos.
Melhores Cenas de Thunderbolts
ThunderBolts não é uma super-produção como “Vingadores”, “Vingadores: Guerra Infinita”. Assim, o filme não tem um apelo tão grande a cenas surreais, com exceção da cena que o Vazio começa a tomar Nova York com sua escuridão. Ainda sim, esse filme rendeu cenas emocionantes e comoventes. Algumas das melhores cenas do filme são:
Primeira aparição de S: Após a fuga da base militar onde os super soldados iriam ser incinerados, Bob é capturado e facilmente manipulado por Vallentina. A aparência de Bob é repaginada, com um uniforme amarelo, cabelos loiros, e uma postura mais confiante. Pela primeira vez Sentinela, um dos herois mais aclamados das HQs aparece no MCU.
Sombras de hiroshima: Após tomarem uma das maiores surras do universo cinematográfico da Marvel, os Thunderbolts se dissipam. O conflito comovente entre Viúva Negra e o Guardião Vermelho culmina nos dois fazendo as pazes. Porém, essa paz logo cessa quando uma garotinha salva pelo guardião vermelho desaparece diante de seus olhos, restando só uma sombra. A outra personalidade do Sentinela toma conta da cidade.
O retorno de Bucky: Após escaparem do quartel general, Guardião, Viúva Negra, Capitão América, e Ava pegam estrada com uma limusine, e discutem que rumo tomar. A tranquilidade logo é interrompida pelos soldados de Valentina. A perseguição caótica cessa quando o Soldado Invernal surge, destroem todos os militares e capturam os Thunderbolt, com facilidade.
A Partir dessa cenas podemos concluir que em vez de focar no espetáculo, o filme mergulha em dilemas humanos, alianças frágeis e colapsos emocionais, mostrando que a ameaças nem sempre vem do espaço. Com a introdução impactante do Sentinela e a constante sensação de que nada está sob controle, o longa entrega momentos memoráveis que apontam para um novo tipo de narrativa no MCU: mais sombria, imprevisível e, por isso mesmo, mais humana.
Crítica
“Thunderbolts” teve uma recepção muito positiva tanto pela crítica quanto pelo público. No IMDb, o filme alcançou a nota de 7,5/10, com base em mais de 114 mil votos. Esse desempenho é impressionante, especialmente para um longa que não conta com os heróis mais populares do Universo Cinematográfico da Marvel. Ainda assim, o filme conseguiu conquistar a audiência com sua proposta mais sombria, personagens complexos e cenas emocionalmente impactantes.
No Rotten Tomatoes, o sucesso foi ainda mais evidente: a aprovação do público chegou a 93%, considerando mais de 10 mil classificações. A trama envolvente, o ritmo dinâmico e o equilíbrio entre ação e drama foram pontos frequentemente elogiados. Além disso, a introdução de personagens como o Sentinela e os conflitos internos dos Thunderbolts deram profundidade à narrativa. Diante de tantos acertos, é inegável que “Thunderbolts” se consolidou como um dos grandes destaques do cinema em 2025, agradando fãs e críticos em igual medida.
Easter Eggs em Thunderbolts
Os filmes da Marvel carregam uma marca emblemática em cada obra, os Easter Eggs. Em “Thunderbolts”, isso não poderia ser diferente. Por exemplo, como o par de algemas Chitauri na exposição de Nova York. Algumas das outras principais referências de filme são:
O presidente monstro: Thunderbolts contém um dos easter eggs mais marcantes: uma referência indireta a um presidente que se transformou no Hulk Vermelho, uma clara referência a Thaddeus “Thunderbolt” Ross. Este acontecimento aconteceu no filme anterior do MCU, “Capitão América: O Admirável Mundo Novo”, no qual Ross, já eleito presidente dos Estados Unidos, se submete a um experimento genético que o converte na versão vermelha e implacável do Hulk.
“Stalin, o heroi?”: Outro easter egg notável acontece quando o Guardião Vermelho vê uma gravação antiga de seus tempos áureos. Na imagem, ele é aplaudido juntamente com Josef Stalin, em um acontecimento na antiga União Soviética. A imagem é instigante e possui uma forte conotação política, estabelecendo um contraste direto com os princípios que o Capitão América defende – liberdade, justiça e democracia. A cena realça as discrepâncias ideológicas entre os dois heróis e acrescenta camadas ao passado controvertido de Alexei Shostakov, sublinhando o quanto ele ainda está sob a influência de uma época e de um símbolo que nunca conseguiu ultrapassar.
Cetro de Loki: No primeiro ato, quando a reunião das pessoas mais influentes de Nova York. podemos ver, brevemente, o centro de Loki em exibição bem no centro do são. Esse cetro foi segurado por Loki no filme dos Vingadores (2012).
Essas foram algumas dos inúmeros Easter Eggs de “ThunderBolts”, que fazem do filme ainda mais interessante. E mais uma vez a Marvel resgata diversos elementos interessantes de suas produções anteriores.
Orçamento e bilheteria
O filme “ThunderBolts” foi lançado em 2 de maio de 2025, posteriormente o filme foi lançado no mundo todo. Desde sua estreia, o longa arrecadou US$ 377 milhões. Expectativas para filme desse porte, é que a arrecadação alcance pelo menos US$ 425 milhões de dólares. Por isso, há quem diga que ThunderBolts flopou. O longa custou US$ 180 milhões, e apesar de ter conseguido uma bilheteria bem superior ao seu custo, não atendeu bem as expectativas.
Particularmente falando, após anos de uma tendência em alta de filmes de herois, não tem mais condições de manter as mesmas expectativas para filmes desse gênero. O público já não anseia mais filmes com a mesma temática. De fato, é comum ver esse efeito em franquias que perduram por muitos anos, como Velozes & Furiosos. Além disso, as inúmeras tentativas preguiçosas de replicar os mesmos roteiros semelhantes aos filmes anteriores, nos filmes e séries da Marvel, também desestimulam o público a levantar de seu sofá e sair para o cinema.
Em outras palavras, apesar da qualidade tanto no roteiro quanto em um estilo atípico, da Marvel, ThunderBolts é o primeiro passo para o estúdio se recuperar de diversas decisões ruins tomadas nos anos anteriores.
Trilha sonora de Thunderbolts
A banda Son Lux, encarregada da música de Thunderbolts (2025), é reconhecida pelo seu estilo experimental que combina música eletrônica, orquestrações dramáticas e vozes etéreas. Eles se destacaram na indústria cinematográfica ao criar trilhas sonoras com uma forte identidade sonora e emocional. Essa banda já compôs para grandes sucessos como “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, “Cidades de Papel”, e o menos popular “Looper – Assassinos do Futuro”.
A música tema desse filme é “There ‘s Something Wrong With Me”, e se destaca por marcações consistentes. Essa faixa resume bem quase todo o álbum, com sons típicos de filmes de espionagem. Ao invés de simplesmente acompanhar as cenas, a trilha sonora funciona como um narrador oculto, desvendando o que os personagens não expressam e intensificando o impacto dramático das decisões éticas que definem a narrativa. Neste cenário, a música não só cria o ambiente, mas também conduz o espectador pelo labirinto psicológico que caracteriza o universo dos “Thunderbolts”.
Conclusão
A Marvel desperdiça alguns personagens com bastante potencial, como por exemplo o Hulk, que desde sua derrota decepcionante contra Thanos, apresentou um declínio enorme na franquia. Isso também vinha acontecendo com Bucky Barnes, o Soldado Invernal para os mais íntimos. Desde o filme “Vingadores: Guerra Civil”, esse heroi não protagonizou grandes feitos. Em ThunderBolts, finalmente, vemos o Soldado Invernal, lutando contra um dos seres mais poderosos do UCM, o Sentinela, e isso se mostrou mais uma boa escolha da Marvel.
Em última análise, Thunderbolts é um ótimo filme que consegue equilibrar com precisão ação intensa, seriedade emocional e doses pontuais de humor. Sua trama sombria se desvia de forma inteligente da identidade saturada e previsível que marcou muitos dos lançamentos recentes da Marvel. A direção ousada, aliada a uma trilha sonora instigante e personagens bem explorados, entrega uma experiência renovadora dentro do MCU. É um sinal de que a Marvel ainda é capaz de surpreender quando se arrisca. Até a próxima!