“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, mostra a viagem de Evelyn Wang pelo multiverso demonstra não só a imensidão de opções que cada decisão pode abrir, mas também a relevância das relações humanas em meio ao caos. Durante sua jornada, ela enfrenta suas inseguranças, descobre diferentes aspectos de si mesma que se desenvolveram em diversas realidades. Finalmente, ela entende que sua verdadeira força não está em habilidades extraordinárias, mas na habilidade de se conectar com os demais por meio da empatia. O embate com Jobu Tupaki não é resolvido através da destruição, mas pela compreensão de que, mesmo diante do absurdo da vida, o amor e a compaixão podem proporcionar um propósito.
Waymond, inicialmente percebido como um indivíduo inocente e submisso, acaba se tornando o verdadeiro pilar da narrativa, com sua fé inabalável na bondade guiando a solução do conflito. A aceitação de Evelyn em relação à filha representa o ponto culminante de sua transformação, reforçando a noção de que, mesmo diante da imensidão do multiverso e das várias vidas que poderia ter vivido, estar presente para aqueles que amamos é o que realmente tem valor.
O filme termina com um instante de tranquilidade, indicando que, mesmo tendo visto todas as alternativas do multiverso, Evelyn opta por viver ao máximo sua realidade. A sua atenção temporariamente voltada para as inúmeras versões de si mesma representa a constante coexistência de decisões não tomadas. Contudo, a sua escolha de permanecer no presente confirma que a felicidade pode ser encontrada na simplicidade do momento presente.
Direção do Filme
Em uma entrevista ao ilustre “Variety”, os dois cineastas contaram como tentaram reformular o processo de produção desse filme, a fim de alcançar bons resultados sem custar a qualidade de trabalho de todos os envolvidos. Posto o resultado final de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, essa estratégia parece ter contribuído. Possivelmente essa flexibilidade no estilo de direção dos cineastas. Além disso, o engajamento desde o elenco até a equipe de arte, pode ter refletido no próprio custo do filme.
A trama desse longa, é muito extensa e até certo ponto, complexa. Por isso, o filme tem uma longa duração, para desenvolver os personagens e seus conflitos pessoais. Porém, um elemento essencial para esse filme ter funcionado, é a montagem e edição.
Nesse sentido, podemos destacar Jump Cuts e Match Cuts como técnicas imprescindíveis, bem como nas cenas em que ações são continuadas de um universo para outro, criando uma transição fluida. Para reforçar isso, o Oscar na categoria de melhor montagem foi dado ao editor Paul Rogers na cerimônia de 2023.
Portanto, a soma de todos esses esforços assegurou um ritmo balanceado entre o tumulto visual e o efeito emocional. A aclamação do filme pelo público e pela crítica demonstra como a inovação e a eficácia na produção podem levar a um trabalho notável e premiado.
Melhores Cenas de Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo
O início do filme “Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo” é bem cansativo, pois tudo que o filme apresenta é uma comunicação falha entre Evelyn e sua família. Porém não demora muito para o Wang de outra realidade alternativa fazer o “chamado para aventura” e resgatar a protagonista da monotonia e problemática vida doméstica. Daí em diante somos bombardeados por uma trama absurda e uma série de cenas de ação. Algumas das melhores cenas são:
A Corrida Contra o Tempo no Trabalho: A adaptação de Evelyn ao novo aparelho multiversal é cômico. O conceito de um acessório colocado no ouvido, que transporta sua mente para sua versão em um universo alternativo quando executa uma ação totalmente aleatória, é fora da caixa é um reflexo da criatividade dos roteiristas. Além da cena mostrar a habilidade de cada versão lidar com diferentes aspectos do problema.
O Confronto com Suas Escolhas de Vida: Há uma cena emocionante em que Evelyn confronta suas várias versões sobre suas decisões de vida passadas e futuras. A princípio, isso parece ser uma tentativa de relacionar família e fracasso profissional. Porém, no terceiro ato isso é desconstruído.
A Convergência das Versões: No clímax do filme, todas as versões do protagonista precisam se unir para resolver um grande dilema que afeta suas vidas.
Cada cena, por mais absurda que pareça, contribui para a construção de uma história que vai além da ficção científica e se torna um retrato sensível sobre identidade, família e propósito. O filme não apenas diverte com seu visual extravagante e criatividade ilimitada, mais também ressoa profundamente ao mostrar que. Assim, mesmo diante de infinitas possibilidades, são as conexões humanas que realmente dão sentido à jornada.
Orçamento e Bilheteria do Filme
“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” teve um custo baixíssimo, estimado em US$ 25 milhões. Dessa forma, o longa se tornou um dos sucessos mais rentáveis do ano. Essa proeza colocou o filme ao lado de produções como, “Minions 2: A Origem de Gru”, “Avatar: O Caminho da Água”, “Top Gun: Maverick”, nos parâmetros de custo e retorno.
“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” arrecadou nas bilheterias mundiais US$ 140 milhões. Vale ressaltar que essa bilheteria poderia ter sido muito maior. Porém, o filme não foi exibido nos cinemas chineses por conta de algumas pautas de identidade de gênero. Dessa maneira, essa obra se tornou a mais rentável já feita pela A24, e ajudou a consolidar ainda mais a consistência da produtora na indústria cinematográfica.
O efeito de Tudo ao Mesmo Tempo ultrapassa a sua lucrativa rentabilidade. O longa-metragem demonstrou que uma estratégia criativa e inovadora pode atrair tanto o público quanto a crítica, mesmo sem recorrer aos mercados convencionais de bilheteria de grande sucesso. O seu êxito confirma a potência do cinema independente e pavimenta o caminho para produções que se atrevem a contar histórias de forma singular. Por fim, desafiando as convenções e ampliando as fronteiras do setor cinematográfico.
Crítica
O roteiro de “Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo”, sem dúvida, é o ponto mais forte do filme. Os personagens são carregados de ressentimento e frustrações, e tudo isso não se perde na trama caótica de multiversos. Isso é reflexo de uma escrita bem organizada feita por Daniel Kwan e Daniel Scheinert. A princípio, esse apelo aos ressentimentos me fez odiar cada personagem. Contudo, isso vai mudando no decorrer do filme tanto pelas cenas hilariantes quanto pela forma como a relação de Evelyn e sua família, vai evoluindo.
Podemos ver um exemplo do que foi falado quando em um dos momentos mais dramáticos, observamos um jovem Gong Gong reagindo com descontentamento à escolha de Evelyn de abandonar a China para se casar com Waymond, um homem que ele considerava frágil e impróprio para sua filha. Este instante não só evidencia o rigor conservador de Gong Gong, como também cria um padrão de rejeição que persegue Evelyn ao longo de sua existência. Até certo ponto isso justifica a natureza desconexa de Evely para com sua família.
Trilha Sonora de Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo
A princípio, a banda Son Lux compôs a trilha sonora de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, composta por Ryan Lott, Rafiq Bhatia e Ian Chang. O disco apresenta várias canções experimentais que mesclam componentes eletrônicos, orquestrais e percussivos, espelhando a atmosfera confusa e abrangente do filme.
O trio conquistou um amplo espaço no mercado musical, porém antes do lançamento desse longa metragem, o grupo Son Lux havia contribuído para filmes menos populares. Como por exemplo, “The Disappearance of Eleanor Rigby”, “Paper Towns”, e “Mean Dreams”.
A trilha sonora de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” é dominada por gongos e tambores que categorizam a cultura chinesa. Os sons pontuais desses instrumentos logo se perdem em meio a melodia das guitarras e sintetizadores. Por exemplo, A faixa “This Is a Life”, uma colaboração com David Byrne e Mitski
O Son Lux, que participou de projetos menores antes do sucesso estrondoso de 2022, ilustra como a inovação e a persistência podem fazer uma banda atrair um público mais vasto e ser reconhecida pela sua singularidade.
Conclusão
Por fim, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” é uma obra que oferece muita diversão apesar de ser bastante longa. A trama criativa que explora amplamente o conceito de multiverso somado com o estilo que tende ao absurdo combinaram muito bem. Em outras palavras, o filme combina ficção científica, ação, comédia e drama familiar de forma bem organizada.
Nesse sentido, o filme lembra bastante filmes chineses como “Kung-fusão”, “Detetive Chinatown”, “O Poderoso Chefão do Kung Fu” entre outros que caíram nas graças do público. O uso de edição frenética, efeitos visuais inovadores e uma direção de arte única para criar uma experiência que reflete a própria bagunça e infinitude do multiverso. Dessa maneira, os irmãos Daniels criaram uma das melhores obras do ano de 2022.
No fim das contas, o filme é um ensaio sobre busca pela identidade e auto aceitação. De fato uma lição que se não aprendermos desde já, independentemente da nossa situação, seja profissional, amorosa, e fraterna, não seremos verdadeiramente felizes. Até a próxima!