Anos depois de ter comprado um jogo, você descobre que o contrato que você aceitou ao “abrir o lacre” exige que você o destrua caso a empresa decida parar de vendê-lo. Absurdo, né?
Pois é exatamente isso que os jogadores descobriram no EULA (Contrato de Licença que ninguém gosta de ler) da Ubisoft.
A Ubisoft mais uma vez gerou revolta na comunidade gamer ao atualizar seu contrato de licença, incluindo uma cláusula que exige que o jogador desinstale e DESTRUA todas as cópias – até as físicas – caso o suporte ao jogo seja encerrado, sem limitações de prazo ou justificativa necessária.
Duvida? O termo exato é contundente:
“Em caso de rescisão por qualquer motivo, você deverá desinstalar imediatamente o produto e destruir todas as cópias do produto em sua posse.”
A reação da comunidade foi de ridiculo. Jogadores no Reddit repercutiram o absurdo, chamando a medida de “infantil” e lembrando que, na Europa, esses EULAs muitas vezes não têm valor legal.
Vale mencionar que mesmo outras publishers como Activision, SEGA e Square Enix incluem cláusulas semelhantes em seus contratos — mas foi a Ubisoft que trouxe essa exigência para o centro do debate.
Em sua defesa, a empresa afirmou que essa cláusula já existe há anos nos contratos, funcionando como uma formalidade legal para proteger-se de responsabilidades após o término do suporte. Afirmou também que está revisando a linguagem por soar “forte demais” no cenário atual.
Mais Uma Polêmica Para a Lista da Ubisoft
Não é de hoje que a Ubisoft se vê no centro de controvérsias. Nos últimos anos, a empresa passou de um dos nomes mais respeitados da indústria a um símbolo de práticas corporativas questionáveis.
Em 2024, o desligamento de The Crew foi o estopim para o movimento Stop Killing Games, quando jogadores perderam o acesso a um título que exigia conexão constante com os servidores.
Pouco tempo depois, vieram as condenações de ex-executivos por assédio sexual e moral na França. Nomes de peso como Serge Hascoët e Tommy François foram sentenciados por contribuírem para uma cultura tóxica dentro da empresa.
Além disso, greves em estúdios franceses denunciaram condições de trabalho abusivas, enquanto o modelo agressivo de DRM e microtransações só reforçaram a percepção de que a Ubisoft prioriza o lucro sobre o respeito aos jogadores.
O Dilema da Propriedade Digital
O caso da cláusula de “destruição” escancara uma verdade incômoda: no mercado atual, mesmo mídias físicas não garantem que o jogo seja realmente seu. Em um ambiente cada vez mais dependente de servidores e autenticações online, basta um clique corporativo para tornar inútil aquilo que você pagou para ter.
A GOG, loja que vende jogos sem DRM e garante cópias offline ao consumidor, parece cada vez mais uma exceção em um mar de práticas predatórias.
Diante de tantas controvérsias, a Ubisoft corre o risco de se afastar ainda mais de sua base de fãs. A cláusula do EULA pode até ser uma formalidade legal, mas para muitos ela simboliza o distanciamento da empresa de suas raízes criativas — e do respeito ao consumidor.
Se continuarmos assim, fica a pergunta: até onde as publishers irão para controlar o que você compra?