Nos últimos meses, temos apresentado aos nossos leitores algumas listas de melhores filmes da história do cinema norte-americano, segundo o American Film Institute. Já apresentamos as listas de melhores animações, ficções científicas, faroestes e fantasias. Hoje apresentaremos a lista de 10 melhores filmes (ou dramas) de tribunal.

Esse subgênero do cinema dramático, geralmente, envolve tramas complexas e julgamento de casos importantes. Assim, grande parte do enredo desse tipo de filme se passa em tribunais ou acompanhando a rotina de advogados, juízes ou jurados durante algum caso importante. Essa característica dos filmes de tribunal faz com que eles dêem muito espaço para que atores e atrizes possam brilhar ao mesmo tempo que os roteiros, muitas vezes complexos, fazem com que muitas dessas produções fiquem marcadas na mente do público.

Por esse motivo, na lista que iremos apresentar aqui, vocês verão muitos clássicos do cinema. Abaixo, falaremos um pouco sobre o American Film Institute, sobre essa lista e como ela foi feita e depois apresentaremos a lista de 10 melhores filmes de tribunal da história do cinema norte-americano segundo o American Film Institute. Vamos lá

O que é o American Film Institute

O American Film Institute (AFI) (ou Instituto Americano de Cinema, em tradução para o português) é uma organização sem fins lucrativos e de grande importância para o cinema norte-americano, que visa educar cineastas e homenagear a herança das artes cinematográficas nos Estados Unidos. O AFI foi criado em 1967, por mandato de Lyndon B. Johnson, então presidente do país. A missão do American Film Institute é ajudar a preservar o legado da herança cinematográfica norte-americana, educar a próxima geração de cineastas e homenagear os artistas de cinema e seu trabalho.

O AFI desenvolve diversos trabalhos e programas. Entre eles, estão uma escola de cinema, um complexo de salas de cinema, projetos para formação de novos cineastas, organização de festivais e premiações para reconhecer filmes e profissionais do cinema norte-americano e, claro, suas famosas listas de melhores filmes da história, chamada de “AFI 100 Years… series” (ou “Série AFI 100 Anos”, em tradução para o português), iniciada em 1998. É sobre uma dessas listas que falaremos hoje. Além disso, já falamos tudo sobre o American Film Institute em um texto específico sobre esse tema.

AFI 100 Years… series

De todos os programas e empreendimentos mantidos pelo American Film Institute, seguramente o mais famoso é a série AFI 100 Years (ou “AFI 100 Anos”, em tradução para o português) que começou em 1998, quando a primeira de suas famosas listas foi divulgada. Naquela ocasião, o AFI divulgou sua notória lista dos 100 melhores filmes da história do cinema norte-americano, em comemoração aos 100 anos de cinema. Já que alguns anos antes, em 1995, completavam 100 anos da primeira exibição pública de um filme, pelos Irmãos Lumière, em Paris, na França, o que marca a “invenção oficial” do cinema.

Aquela primeira lista, chamada de “AFI’s 100 Years…100 Movies” (ou “100 Anos…100 Filmes”, em tradução para o português), fez bastante sucesso com o público e também com jornalistas e profissionais de cinema, o que fez com que nos anos seguintes, o American Film Institute publicasse inúmeras outras listas do tipo. Entre os anos de 1999 e 2008, o Instituto publicou diversas outras listas que compilavam melhores filmes em diversos gêneros.

Ademais, o AFI também copilou e publicou lista de maiores heróis e vilões, maiores estrelas do cinema, maiores paixões, melhores canções, melhores trilhas sonoras e diversas outras listas que compilavam melhores aspectos do cinema. Nesse texto, assim como nos que publicamos nos últimos meses, daremos destaque a última dessas listas publicadas pelo American Film Institute.

Logo do American Film Institute.
Logo do American Film Institute.

Publicada por eles em 2008, a “AFI’s 10 Top 10”, compila os 10 melhores filmes norte-americanos, segundo os votantes do AFI, em 10 gêneros cinematográficos diferentes. No caso dessa lista em específico, falaremos detalhadamente sobre a lista do American Film Institute de 10 melhores filmes de tribunais de toda a história do cinema norte-americano. A seguir, falaremos rapidamente sobre essa lista e sobre como ela foi elaborada.

AFI’s 10 Top 10 – Filmes de Tribunal

No dia 17 de junho de 2008, em uma cerimônia pomposa que contou com nomes ilustres do cinema norte-americano, como Clint Eastwood, Quentin Tarantino, Kirk Douglas, Harrison Ford, Martin Scorsese, Steven Spielberg, George Lucas, Roman Polanski e Jane Fonda e que foi transmitida ao vivo pelo canal CBS, o American Film Institute (AFI) anunciou os vencedores em todos os 10 gêneros cinematográficos que compõem a lista “AFI’s 10 Top 10”.

Os dez filmes de tribunal que estão nessa lista tiveram que obedecer alguns critérios para poderem estar aqui. O primeiro deles é ser um “filme de tribunal” (ou “courtroom drama”, no original em inglês), o que para o American Film Institute é “um gênero cinematográfico em que um sistema judicial desempenha um papel fundamental na narrativa do filme”.

No mais, assim como todos os filmes de todas as listas do AFI, para estar nessa lista, as produções também deveriam ser longa-metragens. O que para o American Film Institute que dizer que um filme tem “formato narrativo” e uma duração igual ou superior a 60 minutos. Por último e, provavelmente, o mais importante critério de todos, é que a produção deve ser “norte-americana”. O que para o AFI significa um “filme em língua inglesa com elementos significativos de produção criativa e/ou financeira dos Estados Unidos”.

Esse é o mais importante de todos os critérios porque, como explicamos acima, o American Film Institute é uma organização norte-americana, criada para preservar e promover o cinema produzido naquele país. Entre todos os filmes que cumpriram esses três critérios, dez foram escolhidos para integrar essa lista.

A escolha foi feita por meio de votação entre um corpo de mil votantes escolhidos entre membros da chamada “indústria criativa” norte-americana. Assim, entre os jurados estavam pessoas ligadas a produção cinematográfica, como diretores, roteiristas, produtores, atores, atrizes, etc., críticos de cinema, historiadores e estudiosos da sétima arte. Para a escolha dos 100 filmes que integram a lista completa do AFI’s 10 Top 10, ou seja, dez filmes de dez gêneros cinematográficos diferentes, cerca de 500 filmes foram pré-selecionados pelo American Film Institute, para a escolha final do júri.

Como já dissemos algumas vezes aqui, mas não custa reiterar, nesse texto em específico apresentaremos apenas as dez produções escolhidas, pelo corpo de jurados do American Film Institute, para integrar a lista de dez melhores filmes de tribunal da história do cinema norte-americano. Como dito acima, nós já publicamos essa mesma lista para animações, ficções científicas, faroestes e fantasias. Sem mais demora, vamos a lista.

10 – Julgamento em Nuremberg (1961)

O décimo colocado dessa lista do American Film Institute é uma versão ficcionalizada de um acontecimento real, o chamado “Julgamento dos Juízes” que ocorreu em 1947 na cidade de Nurembergue, na Alemanha, e foi parte de doze julgamentos militares promovidos pelos norte-americanos e que ocorreram naquela cidade entre 1946 e 1949. Nesse julgamento, juízes e promotores que atuaram durante o domínio nazista na Alemanha, entre 1939 e 1945, foram julgados por “crimes contra a humanidade”.

Dirigido pelo premiado cineasta Stanley Kramer e escrito por Abby Mann, Julgamento em Nuremberg conta com um elenco estelar com nomes do primeiro escalão de Hollywood, como Spencer Tracy, Burt Lancaster, Maximilian Schell, Marlene Dietrich, Judy Garland, William Shatner e Montgomery Clift. A produção usa o julgamento para questionar o papel do povo alemão nos horrores ocorridos durante o Holocausto, que foi o assassinato em massa de cerca de 6 milhões de judeus, e outras atrocidades promovidas pelos judeus.

O enredo de Julgamento em Nuremberg tenta ir além de uma visão maniqueísta e se aprofundar no tema, mostrando diversas visões do que ocorreu e também diversos angulos diferentes da vivência de cada um dos personagens no filme. Debatendo assim, a culpa voluntária ou involuntária não apenas dos que estavam em julgamento, mas também de cada alemão, no que ocorreu durante o período nazista.

Na época de seu lançamento, Julgamento em Nuremberg foi um grande sucesso de crítica nos Estados Unidos, arrancando elogios da maioria dos principais críticos do país na época. A atuação do elenco do filme foi especialmente elogiada, com destaque para as performances de Tracy, Lancaster, Schell, Clift e Garland. O filme também foi um sucesso de público, tendo sido produzido a um valor estimado em 3 milhões de dólares e arrecadando o equivalente a 10 milhões de dólares em bilheterias.

Julgamento em Nuremberg também recebeu 11 indicações ao Oscar de 1962, o maior número de indicações, junto com Amor, Sublime Amor (1961), daquele ano. A produção foi indicada em todas as principais categorias, incluindo indicações a Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado, Ator Coadjuvante (para Montgomery Clift), Atriz Coadjuvante (para Judy Garland) e duas indicações a Melhor Ator (para Maximilian Schell e Spencer Tracy).

Infelizmente para Julgamento em Nuremberg, o ano era de Amor, Sublime Amor que levou 10 estatuetas para casa, vencendo em quase todas as principais categorias. Assim, Julgamento em Nuremberg venceu apenas os Oscars de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator, para Maximilian Schell. O filme também foi indicado a três BAFTAs e a seis Globos de Ouro. Nesse último, a obra venceu nas categorias de Melhor Diretor e Melhor Ator – Drama (para Schell). Além disso, o filme foi indicado a outras premiações importantes mundo a fora.

Cena de Julgamento em Nuremberg (1961).

Julgamento em Nuremberg estreou na televisão norte-americana em 7 de março de 1965, no canal ABC. Nesse dia, a exibição do filme teve que ser interrompida para mostrar os acontecimentos do chamado “Domingo Sangrento”, ocorrido durante as Marchas de Selma a Montgomery. Esse fato fez com que muita gente associasse as imagens do filme as imagens reais mostradas naquele dia e teria ajudado a aumentar bastante a simpatia pela luta em favor da concessão de direitos civis à população negra dos Estados Unidos.

Julgamento em Nuremberg também foi o primeiro filme grande a mostrar cenas reais filmadas por soldados norte-americanos e britânicos depois da libertação de diversos campos de concentração nazistas. As imagens de pilhas de corpos nús e desnutridos sendo arrastados por trator para dentro de covas coletivas foram consideradas extremamente chocantes para a época.

Em 2013, Julgamento em Nuremberg foi escolhido para preservação no National Film Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural. Atualmente, a produção é considerada um dos melhores filmes de tribunal já produzidos e também um dos mais importantes relacionados ao nazismo e ao Holocausto.

9 – Um Grito no Escuro (1988)

O nono colocado dessa lista do American Film Institute, assim como diversos outros filmes nessa lista, é baseado em fatos reais. Um Grito no Escuro conta a história do desaparecimento da bebê Azaria Chamberlain, em agosto de 1980, e da subsequente luta de seus pais, Michael e Lindy Chamberlain, para provar que Azaria foi, na verdade, morta por um dingo (um tipo de cachorro selvagem que existe na Austrália) e não assassinada por eles.

Dirigido pelo cineastra australiano Fred Schepisi e escrito por ele e Robert Caswell, Um Grito no Escuro é baseado em um livro de não-ficção do escritor John Bryson e conta a história real da família Chamberlain, que vai acampar no outback australiano apenas para ser abatido pela tragédia do desaparecimento de sua filha mais nova, uma bebê de apenas nove semanas de idade.

Daí em diante, o casal e, principalmente, Lindy, têm que lutar para provar que eles não mataram sua própria filha e que ela, na verdade, foi capturada por um dingo. Condenados pela opinião pública, Lindy acaba indo parar na cadeia e passando lá uns bons anos até, finalmente, ser exonerada de culpa depois que uma coincidência leva a polícia a reabrir o caso e, por fim, encontrar evidências de que Lindy e Michael, realmente, estavam dizendo a verdade.

Um Grito no Escuro é um estudo profundo sobre como é fácil manipular a opinião pública e sobre como rumores podem facilmente se tornar realidade, mesmo sem provas, e ameaçar a vida de pessoas inocentes. Apesar de ser um filme com mais de 40 anos de idade e contar uma história que já ocorreu há mais de quatro décadas, seu enredo é bastante atual.

O elenco de Um Grito no Escuro conta com Meryl Streep e Sam Neill nos papeis principais e, na época de sua produção, foi um dos filmes mais caros e elaborados já feitos na Austrália, contando com mais de 350 personagens com falas e mais de 4000 figurantes. Produzido a um custo de cerca de 15 milhões de dólares, a obra arrecadou menos sete milhões de dólares em bilheterias nos Estados Unidos e pouco mais de 3 milhões de dólares australianos em seu país de origem, sendo considerado um fracasso de público.

Já a crítica especializada foi mais gentil com o filme. Apesar de algumas críticas ao roteiro e ao tom e a abordagem dada ao enredo por Fred Schepisi, Um Grito no Escuro foi relativamente bem recebido pela crítica especializada, sendo elogiado por criticos importantes, como Roger Ebert, por exemplo. A atuação de Meryl Streep, no entanto, foi unanimente elogiada e muitos críticos consideraram que ela “carregava” o filme nas costas e a produção era um filme de “um personagem só”.

Trailer de Um Grito no Escuro (1988)

Por sua atuação em Um Grito no Escuro, Streep recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz, a única indicação ao Oscar recebida pelo filme e a oitava indicação ao Oscar recebido pela atriz. A produção também deu a Streep o prêmio de Melhor Atriz em Cannes e em algumas outras premiações importantes. Um Grito no Escuro também foi indicado a quatro Globos de Ouro, recebendo indicações em algumas das principais categorias da premiação. O filme também recebeu oito indicações ao AACTA Awards, principal premiação do cinema australiano, sendo o principal vencedor da premiação naquele ano.

Atualmente, Um Grito no Escuro mantêm uma taxa de aprovação de 94% no Rotten Tomatoes, principal agregador de críticas especializadas da internet, e é considerado um dos melhores filmes de tribunal já feitos. Além disso, a frase “a dingo ate my baby” (“um dingo comeu meu bebê”), que no filme é dito de forma diferente pela personagem de Meryl Streep (que na verdade diz “The dingo took my baby!” ou “O dingo pegou meu bebê!), se tornou famosa para além do filme e é frequentemente utilizada em outras produções cinematográficas e televisivas.

8 – A Sangue Frio (1967)

O oitavo colocado dessa lista do American Film Institute é também baseado em fatos reais. Escrito e dirigido por Richard Brooks, A Sangue Frio é baseado no livro de mesmo nome do famoso escritor, jornalista e roteirista Truman Capote que, por sua vez, é baseado em um crime real ocorrido em 1959, quando dois criminosos mantaram uma família inteira que vivia em uma fazenda em uma cidadezinha do interior do Kansas, nos Estados Unidos.

O livro de Capote é considerado um marco do chamado “jornalismo literário” e, por isso, Brooks tentou filmar A Sangue Frio em um estilo quase documental. Adaptado de forma bastante fiel ao livro, com exceção de um ou outro diálogo e de um ou outro personagem incluído ou retirado, A Sangue Frio foi rodado em locação nos locais dos fatos, incluindo, a casa onde o crime realmente ocorreu.

Brooks também não quis contar com atores famosos no elenco para não desviar a atenção do público, acreditando que a presença deles quebraria a ilusão de que o filme era uma reprodução fiel do que havia ocorrido em 1959. Por isso, o diretor preferiu que A Sangue Frio fosse estrelado por dois atores que, na época, ainda não eram muito conhecidos do grande público.

Lançado comercialmente em dezembro de 1967, A Sangue Frio custou cerca de 3.5 milhões de dólares para ser produzido e arrecadou cerca de 13 milhões de dólares em bilheterias, sendo considerado um sucesso comercial. A produção também foi muito bem recebida pela crítica especializada. Considerado por muitos quase um documentário, o filme foi elogiado por críticos importantes da época, como Bosley Crowther, do jornal The New York Times, Roger Ebert, do jornal Chicago Sun-Times e Charles Champlin do jornal The Los Angeles Times.

Cena de A Sangue Frio (1967).

A Sangue Frio também recebeu quatro indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado (ambas para Richard Brooks), Melhor Fotografia (para Conrad L. Hall) e Melhor Trilha Sonora Original (para Quincy Jones). Essa foi, inclusive, a primeira indicação ao Oscar da carreira de Jones que, na época, tinha ainda pouca experiência com a composição de trilhas sonoras para cinema.

A Columbia Pictures, inclusive, queria que o famoso compositor Leonard Bernstein compusesse a trilha sonora de A Sangue Frio, mas Brooks insistiu que queria que ela fosse composta por Quincy Jones, que depois se tornaria um dos produtores e compositores mais importantes da história da música moderna.

Em 2008, A Sangue Frio foi escolhida para preservação no National Film Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural. Atualmente, a produção é considerada um dos melhores filmes de tribunal já produzidos e também um dos exemplos mais marcantes do “novo realismo” que tomou conta do cinema hollywoodiano a partir dos anos 1960.

7 – Anatomia de um Crime (1959)

O sétimo colocado dessa lista do American Film Institute foi produzido e dirigido pelo famoso cineasta austro-americano Otto Preminger. Contando com um elenco estelar que inclui gente como, James Stewart, Lee Remick, Ben Gazzara, Eve Arden, George C. Scott, Arthur O’Connell, Kathryn Grant, Orson Bean e Murray Hamilton, Anatomia de um Crime é baseado em um livro escrito pelo jurista John D. Voelker, que por sua vez, é baseado em um caso real ocorrido em 1952 no qual o próprio Voelker atuou como advogado de defesa.

Em Anatomia de um Crime, James Stewart interpreta Paul Biegler, um ex-promotor de justiça que é chamado para atuar como advogado de defesa em uma caso complexo de um militar acusado de assassinar um hoteleiro que teria estuprado sua esposa. Ao longo da trama, Biegler tem que lidar com diversas descobertas e encontrar estratégias para tentar livrar seu cliente da cadeia, em um caso que tende a ter como veredito a condenação.

Contando com um roteiro complexo e cheio de nuances, Anatomia de um Crime ficou conhecido por sua linguagem direta e sem rodeios (que muitos, inclusive, consideraram ofensiva para a época) e também pelo realismo com que aborda o trabalho de advogados, juizes e promotores. Inclusive, o juiz no filme é interpretado pelo famoso advogado e jurista Joseph N. Welch.

Anatomia de um Crime também ficou conhecido por tocar em assuntos delicados, como a fiabilidade do sistema, a falibilidade do fator humano na jurisprudência e a ambiguidade moral das pessoas. O filme estreou comercialmente nos Estados Unidos em julho de 1959 e foi um sucesso de público e crítica. Produzido a um custo estimado em dois milhões de dólares, a produção arrecadou aproximadamente 11 milhões de dólares em bilheterias, se tornando, inclusive, dono da 10ª maior arrecadação do ano de 1959.

Anatomia de um Crime também foi muito bem recebido pela critica especializada da época, que considerou seu roteiro inteligente, provocativo e muito melhor que o da maioria dos filmes do mesmo gênero. Além disso, a atuação do elenco, especialmente, as performances de James Stewart e George C. Scott foram unanimente elogiadas. Além disso, a trilha sonora do filme, composta pelo genial jazzista Duke Ellington, também foi bastante elogiada e é, até hoje, considerada uma das melhores já feitas para um filme de tribunal

Naquela temporada de premiações, Anatomia de um Crime recebeu sete indicações ao Oscar, incluindo indicações a Melhor Filme, Roteiro Adaptado, Ator (para James Stewart) e Ator Coadjuvante (para George C. Scott e também para Arthur O’Connell). Infelizmente, aquele era o ano do clássico Ben-Hur e, por isso, Anatomia de um Crime acabou não levando nenhuma estatueta para casa. O filme também foi indicado a três BAFTAs, a quatro Globos de Ouro e a inúmeras outras premiações importantes.

Cena de Anatomia de um Crime (1959).

Em 2012, Anatomia de um Crime foi escolhida para preservação no National Film Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural. Além de ser considerado um dos melhores filmes de tribunal já produzidos, a obra também é considerada uma das mais realísticas do gênero, sendo, inclusive, utilizada em faculdades direito e sendo frequentemente elogiada por juristas.

Em 1989, por exemplo, a Associação Americana de Advogados escolheu Anatomia de um Crime como um dos 12 melhores filmes jurídicos de toda a história do cinema. A produção é também uma das poucas que, atualmente, mantêm uma taxa de aprovação de 100% no Rotten Tomatoes, principal agregador de críticas especializadas da internet.

6 – Testemunha de Acusação (1957)

O sexto colocado dessa lista do American Film Institute é o primeiro filme da lista até agora a não ser baseado, de nenhuma forma, em uma história ou caso real. Na verdade, Testemunha de Acusação é baseado em uma peça da genial escritora inglesa Agatha Christie e conta a história de uma advogado experiente que é chamado para defender um homem acusado de matar uma viúva rica que deixou para ele toda a sua herança.

Testemunha de Acusação é dirigido pelo grande cineasta americano Billy Wilder e seu elenco é encabeçado por quatro grandes intérpretes, Tyrone Power, Marlene Dietrich, Charles Laughton e Elsa Lanchester. O filme, como era comum nas obras de Wilder, inclui elementos de humor negro e como não poderia deixar de ser em uma história de Agatha Christie, inclui também elementos de mistério em um “final surpreendente”.

Aliás, a United Artists, que bancou a produção do filme, inclusive, fez toda uma campanha publicitária afim de evitar que os espectadores contassem a seus amigos o final do filme e, assim, estragassem a surpressa para quem ainda não o tinha assistido. A campanha incluiu pôsteres e até mesmo anúncios no final de cada sessão do filme.

Testemunha de Acusação foi um sucesso de crítica e público. Produzido a um custo de cerca de 2 milhões de dólares, a produção arrecadou cerca de 9 milhões de dólares em bilheterias, chegando até mesmo a ficar duas semanas no topo dos filmes mais assistidos dos Estados Unidos. A obra também foi muito bem recebida pela crítica especializada, que elogiou a inteligência de seu roteiro, a direção de Wilder e a atuação de seu elenco.

Cena de Testemunha de Acusação (1957).

A própria Agatha Christie considerava Testemunha de Acusação a melhor adaptação de uma de suas obras. Aliás, o filme é atualmente um dos poucos que mantêm uma taxa de aprovação de 100% no Rotten Tomatoes, principal agregador de críticas especializadas da internet. A produção também foi indicada a seis Oscars, incluindo indicações a Melhor Filme, Direção, Ator (para Charles Laughton) e Atriz Coadjuvante (para Elsa Lanchester).

Infelizmente, a produção não levou nenhuma estatueta para casa em um ano que foi dominado pelo épico de guerra A Ponte do Rio Kwai. Testemunha de Acusação também foi indicado a um BAFTA, a cinco Globos de Ouros (vencendo em uma categoria) e a diversos outros prêmios importantes daquela temporada de premiações. Atualmente, Testemunha de Acusação é amplamente considerado um dos melhores filmes de tribunal já produzidos e também uma das melhores adaptações de um trabalho de Agatha Christie.

5 – Questão de Honra (1992) – O mais recente filme a constar nessa lista do American Film Institute

O quinto colocado dessa lista do American Film Institute, assim como tantos outros filmes dessa lista, também é baseado em fatos reais. Escrito pelo premiado roteirista e autor teatral Aaron Sorkin, Questão de Honra é baseado em uma peça do próprio Sorkin que teve a ideia para a história em uma conversa telefônica com sua irmã, a advogada Deborah Sorkin, que disse a Aaron que estava indo para a Base Militar de Guantânamo, em Cuba, para defender um grupo de militares que haviam quase matado um colega de base em um “trote”.

Sorkin se inspirou na história para escrever sua peça, mas modificou diversos detalhes da história real como, por exemplo, o fato de que na vida real o militar vítima do “trote” não havia morrido, já que o grupo de dez outros militares que aplicaram o tal “trote”, havia pedido ajuda ao perceber que ele estava sufocando. Devida a essas mudanças fundamentais na história, Sorkin preferiu não apresentar o enredo como “baseado em fatos reais”.

Contudo, depois da estreia do filme, seis dos dez militares que participaram do “trote” decidiram processar a Castle Rock Entertainment, que produziu o filme, e outros estúdios de Hollywood, alegando que a produção havia danificado a sua imagem e que não refletia a realidade do que havia ocorrido em Guantânamo.

Dirigido pelo premiado ator e diretor Rob Reiner, Questão de Honra conta com um elenco estelar encabeçado por Tom Cruise, Jack Nicholson, Demi Moore, Kevin Bacon, Kevin Pollak, J. T. Walsh e Kiefer Sutherland. Apesar de não aparecer muito no filme, mas ser fundamental para a conclusão da história, Nicholson recebeu um salário de cinco milhões de dólares por sua participação na obra, terminando de filmar sua cenas em 10 dias e, portanto, recebendo 500 mil dólares por dia de filmagem. Questão de Honra foi filmado em locações em Washington D.C. e também em vários locais da Califórnia, além de também ter tido cenas filmadas em estúdio.

Lançado comercialmente nos Estados Unidos em dezembro de 1992, Questão de Honra foi um grande sucesso de público e crítica. Produzido a um custo estimado entre 33 e 40 milhões de dólares, o filme arrecadou mais de 243 milhões de dólares em bilheterias, se tornando dono da sétima maior bilheteria daquele ano.

Cena mais famosa de Questão de Honra (1992).

A obra também foi bem recebida pela crítica especializada que elogiou seu roteiro, a direção de Rob Reiner e, principalmente, as atuações de Tom Cruise, Jack Nicholson e Demi Moore. Contudo, alguns críticos também criticaram alguns aspectos de seu enredo, principalmente sua conclusão que alguns deles, incluindo o famoso crítico Roger Ebert, consideraram muito prevísivel e antecipável.

O sucesso de Questão de Honra fez com que a obra recebesse quatro indicações ao Oscar, incluindo indicações nas categorias de Melhor Filme e Melhor Ator Coadjuvante (para Jack Nicholson). O ano, no entanto, era do faroeste Os Imperdoáveis, que acabou vencendo as principais categorias naquele ano.

Questão de Honra também recebeu cinco indicações ao Globo de Ouro, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator – Drama (para Cruise), Melhor Ator Coadjuvante (para Nicholson), Melhor Direção e Melhor Roteiro. O filme também foi indicado a diversas outras premiãções importantes naquela temporada.

Além de ser considerado um dos melhores filmes de tribunal já produzidos, Questão de Honra também ainda é bastante lembrado pelo monólogo final de Jack Nicholson, onde em um diálogo de poucos minutos, ele rouba a cena no filme. Sua famosa frase “You can’t handle the truth!” (ou “Você não consegue lidar com a verdade!”, no português) é uma das mais lembradas e parafraseadas do cinema moderno. Além disso, Questão de Honra também contêm uma das melhores e mais lembradas atuações tanto da carreira de Tom Cruise quanto da carreira de Demi Moore.

4 – O Veredicto (1982)

O quarto colocado dessa lista do American Film Institute não é baseado em fatos reais, mas sim em um livro do advogado e escritor norte-americano Barry Reed. Com um roteiro escrito pelo, hoje consagrado, roteirista e autor teatral David Mamet, O Veredicto foi dirigido pelo também consagrado cineasta Sidney Lumet, que na ocasião já tinha uma carreira consolidada e, inclusive, já havia dirigido outro filme de tribunal de sucesso. Além disso, O Veredicto foi produzido por dois grandes produtores David Brown e Richard D. Zanuck.

Ademais, o elenco de O Veredicto é também de primeiro nível. Protagonizado por Paul Newman, o filme conta ainda com as interpretações de Charlotte Rampling, Jack Warden, James Mason, Milo O’Shea e Lindsay Crouse. No enredo, Newman interpreta Frank Galvin, um advogado, antes promissor, mas que agora é alcoolatra e decadente e vive apenas de correr atrás de casos pequenos de danos físicos e negligências médicas que, quase sempre, terminam em acordos financeiros.

Através de um antigo amigo, Mickey Morrissey (Jack Warden), ele consegue o caso de uma jovem que após receber anestesia geral durante o parto, acaba engasgando com seu próprio vômito e fica permanentemente em coma. Galvin aceita o caso acreditando que ele certamente terminará em um acordo financeiro, mas após conhecer a vítima ele fica extremamente comovido e decide levar o caso a julgamento.

Lançado comercialmente no início de dezembro 1982, O Veredicto foi um grande sucesso de público e crítica. Produzido a um custo estimado em 16 milhões de dólares, o filme arrecadou aproximadamente 54 milhões de dólares em bilheterias. A produção também foi bem recebida pela crítica especializada, que elogiou o roteiro de Mamet, a direção de Lumet e, principalmente, a forte atuação de Paul Newman, que muitos consideraram a espinha dorsal do filme.

Cena de O Veredicto (1982).

O sucesso de O Veredicto fez com que ele recebesse cinco indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator (para Paul Newman) e Melhor Ator Coadjuvante (para James Mason). A produção, no entanto, não venceu em nenhuma categoria. A obra também foi indicada a cinco Globo de Ouros e, igualmente, não venceu nenhum, e a diversas outras premiações importantes naquela temporada.

Atualmente, O Veredicto é considerado um dos melhores filmes de tribunal já produzidos. O filme também foi considerado o 254º melhor da história em uma votação promovida pela revista cinematográfica britânica Empire. Em 2013, o Writers Guild of America, o sindicato dos roteiristas dos Estados Unidos, escolheu o roteiro de O Veredicto como o 91º melhor em uma lista de 101 melhores roteiros de toda a história do cinema. Em 2006, o filme também foi incluído na lista “AFI’s 100 Years…100 Cheers”, do próprio American Film Institute, que listou os 100 filmes mais inspiradores de toda a história do cinema norte-americano.

3 – Kramer vs. Kramer (1979)

O terceiro colocado dessa lista do American Film Institute é provavelmente o mais famoso filme de tribunal envolvendo divórcio. Kramer vs. Kramer se tornou tão influente nesse sentido, que acabou se tornando uma espécie de modelo para filmes do mesmo gênero que seriam produzidos posteriormente. Escrito e dirigido por Robert Benton, o filme é baseado em um livro de mesmo nome escrito pelo novelista norte-americano Avery Corman.

O elenco de Kramer vs. Kramer, que é um de seus pontos fortes, é encabeçado por Dustin Hoffman, Meryl Streep, Justin Henry e Jane Alexander. O mais incrível é que apesar de ter sido sempre a primeira escolha para o papel principal, Hoffman, à principio, não queria fazer o filme porque estava passando por um momento pessoal dificil e pretendia se aposentar do cinema.

O papel, então, foi oferecido a diversos outros atores que o recusaram por um motivo ou outro, até que Hoffman foi convencido a aceitá-lo. Já no caso de Meryl Streep, a agtriz lutou para conseguir o papel principal no filme que acabaria por levar a sua carreira para um outro nível. A direção de Kramer vs. Kramer também passou por diversas mãos até que o próprio roteirista do filme, Robert Benton, foi escolhido para dirigí-lo.

Kramer vs. Kramer estreou em dezembro de 1979 e foi um enorme sucesso de público e crítica. Produzido a um custo estimado em 8 milhões de dólares, o filme arrecadou cerca de 173 milhões de dólares no mundo todo, sendo que mais de 106 milhões desse valor, apenas nos Estados Unidos. Com isso, Kramer vs. Kramer se tornou dono da maior bilheteria do país naquele ano.

A arrecadação de 67 milhões fora dos Estados Unidos, foi a maior que a Columbia Pictures havia tido no exterior até aquele momento. Esse recorde de Kramer vs. Kramer só seria batido em 1990 pela comédia Olha Quem Está Falando (1989). Kramer vs. Kramer também foi muito bem recebido pela critica especializada.

Quase que unanimemente elogiado pelos principais críticos de cinema da época, que elogiaram seu roteiro por fugir de clichês, maniqueismos e soluções fáceis e, principalmente, as atuações de Dustin Hoffman e Meryl Streep, Kramer vs. Kramer foi indicado a nove Oscars, o maior número daquela temporada empatado com All That Jazz – O Show Deve Continuar (1979). O filme sairia da cerimônia do Oscar como o principal premiado da noite, vencendo em cinco categorias, incluindo as de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator (para Dustin Hoffman) e Melhor Atriz Coadjuvante (para Meryl Streep).

Todos os quatro atores principais do filme receberiam indicações ao Oscar, incluindo o garoto Justin Henry, que na época tinha apenas 8 anos de idade e perderia o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante para o veterano Melvyn Douglas, que na época já tinha quase 80 anos de idade. Jane Alexander perderia o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante para a própria Meryl Streep.

Por sua atuação em Kramer vs. Kramer tanto Hoffman quanto Streep venceriam o primeiro Oscar de sua carreiras. O ator já estava em sua quarta indicação a Melhor Ator e Streep, que havia apenas começado sua carreira no cinema, estava em sua segunda indicação a Melhor Atriz Coadjuvante. O papel em Kramer vs. Kramer faria de Meryl Streep uma estrela global e faria também com ela dominasse o cinema nos anos 1980 e 1990, recebendo inúmeras indicações ao Oscar e se tornando a intérprete com mais indicações na história da premiação mais importante do cinema.

Cena de Kramer vs. Kramer (1979)

Kramer vs. Kramer também recebeu seis indicações ao BAFTA, mas não venceu em nenhuma categoria, e oito indicações ao Globo de Ouro, onde venceu em quatro categorias, incluindo Melhor Filme – Drama, Melhor Ator – Drama, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Roteiro. A produção também recebeu indicações em diversas outras premiações importantes nos Estados Unidos e no exterior.

Atualmente, Kramer vs. Kramer é considerado não apenas um dos melhores filmes de tribunal da história, mas também um dos mais complexos e bem produzidos dramas envolvendo o tema divórcio. O filme também é até hoje elogiado por tocar em diversos temas sociais importantes da época e por dar igual peso aos pontos de vista tanto das personagens femininas quanto dos personagens masculinos.

2 – 12 Homens e uma Sentença (1957) – O único filme independente dessa lista do American Film Institute

O segundo colocado dessa lista do American Film Institute é mais um filme de tribunal dirigido pelo genial cineasta Sidney Lumet. Incrivelmente, 12 Homens e uma Sentença foi seu primeiro trabalho de direção para cinema. Lumet depois se tornaria um dos diretores mais respeitados do cinema mundial. O roteiro do filme foi escrito por Reginald Rose e era baseado em uma peça para televisão escrita por ele próprio e exibida na televisão norte-americana em 1954.

A peça, que foi dirigida por Franklin J. Schaffner, acabou sendo um enorme sucesso de crítica e público, vencendo, inclusive, três Primetime Emmys, o prêmio mais importante da televisão norte-americana. Nessa época, o ator Henry Fonda acabou assistindo a peça em uma projeção em Hollywood, ficou impressionado com o roteiro e quis interpretar o protagonista em uma eventual adaptação para o cinema.

Fonda, havia acabado de assinar um acordo de distribuição de três anos com a United Artists e, por isso, havia formado sua própria produtora de filmes. O ator conseguiu fazer um acordo com Rose e os dois conseguiram angariar cerca de 340 mil dólares para a produção do filme. Rose, então, aproveitou o roteiro da peça e adicionou material que ele teve que cortar na versão da peça para televisão, onde o tempo de tela era contado, e acrescentou diálogos adicionais para dar mais profundidade e revelar mais sobre a personalidade de cada um dos 12 jurados. Como o filme se passa todo em uma sala de jurí, o maior gasto foi com o salário dos atores que formam o elenco.

Apesar de não ter nenhuma experiência com cinema, Sidney Lumet foi convidado para dirigir o filme porque já havia trabalhado com Reginald Rose e Henry Fonda achava ele um ótimo diretor de atores, perfil desejado para um filme que tem como alicerce a atuação de seu elenco, já que se passa quase todo em um mesmo ambiente e não tem grandes cenas de ação, além das discussões entre os jurados.

Devido ao seu baixo orçamento, 12 Homens e uma Sentença foi filmado em apenas três semanas e teve um calendário de produção bem enxuto e apertado. O filme estreou comercialmente nos Estados Unidos em abril de 1957 e foi bem recebido pela crítica especializada da época, que elogiou seu enredo “tenso, envolvente e atraente que vai muito além dos limites da sala do júri” e a complexidade de seus personagens “poderosos e provocativos o suficiente para manter o espectador hipnotizado”.

Cena final de 12 Homens e uma Sentença (1957).

Alguns, inclusive, consideraram 12 Homens e uma Sentença um dos melhores dramas recentes e “uma adição bastante substancial ao cenário cinematográfico”. O sucesso com a crítica fez com que o filme recebesse três indicações ao Oscar daquele ano, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Adaptado. A produção também recebeu duas indicações ao BAFTA, nas categorias de Melhor Filme e Melhor Ator Estrangeiro (para Henry Fonda) e a quatro indicações ao Globos de Ouro, nas categorias de Melhor Filme – Drama, Melhor Diretor, Melhor Ator – Drama (para Fonda) e Melhor Ator Coadjuvante (para Lee J. Cobb).

Por sua atuação no filme, Henry Fonda acabou vencendo o BAFTA e também o Urso de Ouro no Festival de Berlim. 12 Homens e uma Sentença também seria ainda escolhido como um dos dez melhores filmes do ano pelo National Board of Review e venceria o Writers Guild of America Awards, na categoria de Melhor Drama.

Apesar de bem recebido pela crítica especializada e indicado a diversas premiações importantes, 12 Homens e uma Sentença teve bastante dificuldade nas bilheterias norte-americanas. No exterior, a produção teve mais sorte com o público e conseguiu arrecadar uma bilheteria total de cerca de 2 milhões de dólares, nos chamados “theatrical rentals”, ou seja, a parte da arrecadação que fica com o estúdio distribuidor do filme.

Existem muitas teorias que tentam explicar o pouco sucesso do filme junto ao público, mas muitos especialistas apontam para o fato de o filme ter sido produzido em preto e branco em uma época em que o cinema em cores estava em franca ascenção e era muito mais chamativo para o público. Esse fato pode ter afetado definitivamente a capacidade de 12 Homens e uma Sentença de atrair gente interessada em vê-lo nos cinemas.

O fato é que a partir do momento em que 12 Homens e uma Sentença passou a ser exibido na televisão norte-americana, ele acabou sendo redescoberto pelo público daquele país e com o tempo acabaria se tornando um grande clássico do cinema produzido nos Estados Unidos. Atualmente, o filme é considerado um dos melhores já produzidos pelo cinema norte-americano. Tendo sido, incluído, pelo American Film Institute na edição atualizada de sua lista AFI’s 100 Years…100 Movies, lançada em 2007 e que compila os 100 melhores filmes produzidos pelo cinema norte-americano.

12 Homens e uma Sentença também tem sido constantemente incluído em outras listas de melhores filmes da história e, atualmente, é uma poucos que mantêm uma taxa de aprovação de 100% no Rotten Tomatoes, principal agregador de críticas especializadas da internet. Além de tudo isso, o filme tem sido extensamente estudado e analisado e o personagem de Henry Fonda no filme é frequentemente apontado como um exemplo de “homem comum” enfrentando a mentalidade de rebanho e a histeria coletiva e, por esse motivo, tem sido constantemente apontado como um dos maiores heroís da história do cinema. Em 2007, 12 Homens e uma Sentença foi escolhido para preservação no National Film Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural.

1 – O Sol é para Todos (1962) – O melhor filme de tribunal segundo o American Film Institute

O primeiro colocado dessa lista do American Film Institute é seguramente um dos maiores filmes de toda a história do cinema. Dirigido por Robert Mulligan, escrito por Horton Foote e estrelado por Gregory Peck e Mary Badham, O Sol é para Todos conta a história de Atticus Finch, um advogado branco que aceita defender um homem negro que é acusado de ter estuprado uma mulher branca em uma pequena cidade do Alabama, no Estados Unidos, no início dos anos 1930.

O filme é baseado em um livro de mesmo nome da escritora norte-americana Harper Lee e que, inclusive, ganhou o Prêmio Pulitzer, o mais importante do mercado editorial norte-americano, em 1960. Rodado quase todo em estúdio, O Sol é para Todos deveria ter sido estrelado por James Stewart, mas o ator rejeitou o papel por considerá-lo controverso demais. Com isso, Gregory Peck ganhou a chance de interpretar Finch, que se tornaria o principal papel de sua brilhante carreira.

Lançado comercialmente em 25 de dezembro de 1962, O Sol é para Todos foi um enorme sucesso de público e crítica. Produzido a um custo estimado em 2 milhões de dólares, o filme arrecadou mais de 13 milhões de dólares em bilheterias, se tornando dono da sexta maior bilheteria daquele ano nos Estados Unidos. A produção também foi muito bem recebida pela crítica especializada, que elogiou seu roteiro, a direção de Robert Mulligan e, principalmente, a atuação de Gregory Peck.

Além disso, O Sol é para Todos recebeu oito indicações indicações ao Oscar, incluindo indicações a Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado, Ator (para Gregory Peck) e Atriz Coadjuvante (para Mary Badham). Apesar de aquele ano ter sido dominado pelo clássico Lawrence da Arábia, O Sol é para Todos conseguiu vencer em três categorias, incluindo as de Melhor Ator, onde Peck, inclusive, derrotou Peter O’Toole e Roteiro Adaptado. A produção também foi indicada a dois BAFTAs e a cinco Globos de Ouro, onde Gregory Peck novamente se sagrou vencedor, além de ter recebido inúmeras outras indicações em premiações importantes nos Estados Unidos e no exterior.

Uma das cenas mais famosas de O Sol é para Todos (1962).

Atualmente, O Sol é para Todos é unanimemente considerado um dos melhores filmes já feitos é e constantemente incluído em listas de maiores filmes da história. A produção, inclusive, foi incluída em ambas as listas AFI’s 100 Years…100 Movies (tanto na de 1998 quanto na de 2007), organizadas pelo próprio American Film Institute e que listam os 100 melhores filmes da história do cinema norte-americano. Além disso, em 1995, o filme foi escolhido para preservação no National Film Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural.

Ademais, Atticus Finch tem sido frequentemente considerado um dos maiores heroís de toda a história do cinema mundial e O Sol é para Todos é, igualmente, constantemente considerado um dos filmes mais inspiradores já produzidos até hoje. Não é a toa, que a produção foi considerada pelos votantes do American Film Institute como o melhor filme de tribunal já produzido pelo cinema norte-americano.

Conclusões sobre a lista do American Film Institute

Ao observamos com um pouco mais de afinco essa lista do American Film Institute é possível tirar algumas conclusões. A primeira delas é a identificação que o genial Sidney Lumet tem com os filmes de tribunal. Ele é o único cineasta a ter dirigido dois filmes dessa lista, ambos grandes clássicos da sétima arte: O Veredicto (1982) e 12 Homens e uma Sentença (1957). Incrivelmente, esse último foi o primeiro filme de toda a carreira de Lumet. Não a toa, ela dirigiria muitos outros clássicos da sétima arte em sua brilhante carreira.

Outra coisa que também chama a atenção é que o ano de 1957 é o único que possui dois representantes nessa lista. Além do já citado 12 Homens e uma Sentença temos também o thriller Testemunha de Acusação, dirigido por Billy Wilder e baseado em uma peça da grande escritora inglesa Agatha Christie. Aliás, a década de 1950 tem mais um representante nessa lista, Anatomia de um Crime (1959).

Dessa forma, a década de 1950 é junto com década de 1960, aquelas com mais representantes nessa lista, três cada uma. Representando os anos 1960, temos Julgamento em Nuremberg (1961), A Sangue Frio (1967) e o primeiro colocado da lista, O Sol é para Todos (1962). Ademais, a década de 1980 tem dois representantes, O Veredicto (1982) e Um Grito no Escuro (1988). E as décadas de 1970 e 1990 tem um representante cada na lista: Kramer vs. Kramer (1979) e Questão de Honra (1992).

Esse último, inclusive, é o filme mais recente da lista, tendo sido lançado a pouco mais de 30 anos atrás. Já os dois filmes lançados em 1957 são os mais antigos da lista, tendo estreado há quase 70 anos atrás. Já Meryl Streep é o único intérprete, homem ou mulher, a estar em dois filmes dessa lista. Ela aparece em Kramer vs. Kramer (1979), que ajudou a lançar sua carreira, e em Um Grito no Escuro (1988).

Por ambos os trabalhos ela recebeu indicações ao Oscar. No caso de Kramer vs. Kramer (1979), ela foi indicada (e venceu) o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante e no caso de Um Grito no Escuro (1988), ela foi indicada a Melhor Atriz. Já a escritora Harper Lee é a única envolvida na produção do material fonte de dois filmes dessa lista. Lee escreveu o romance O Sol é para Todos, que deu origem ao filme de mesmo nome, e ajudou Truman Capote a escrever o livro de não-ficção A Sangue Frio, que serviu de base para o filme de mesmo nome.

Outro aspecto bastante observável nessa lista é a quantidade de filmes que foram baseados em fatos reais, o que não chega a surpreender, já que estamos falando de produções que lidam com casos criminais. Metade das produções listadas aqui foram, de uma forma ou outra, baseadas em histórias que ocorreram na vida real.

Além disso, quase todos os filmes listados aqui foram sucessos de critica e público ainda na época de seus lançamentos. Todos eles, sem exceção, conseguiram pelo menos uma indicação ao Oscar. Aquele com menos indicação ao prêmio é Um Grito no Escuro (1988), que obteve só uma indicação, a de melhor atriz para Meryl Streep. O filme também é um dos poucos dessa lista a ter fracassado nas bilheterias.

Já o mais bem sucedido nesse sentido foi Kramer vs. Kramer (1979), que foi o principal vencedor do Oscar 1980, vencendo as principais categorias daquela edição da premiação, incluindo as de Melhor Filme e Direção. Aliás, ele é o único filme dessa lista a vencer o Oscar de Melhor Filme, apesar de diversos outros aqui presentes terem sido indicados nessa categoria, mas não levado a estatueta para casa.

Kramer vs. Kramer (1979) é também um dos filmes financeiramente mais bem sucedidos dessa lista. Sua bilheteria de 173 milhões de dólares só fica atrás dos 243 milhões de dólares arrecadados por Questão de Honra (1992). Contudo, Kramer vs. Kramer é dono da maior bilheteria do ano de 1979 e, considerando a inflação, é bem possível que sua arrecadação seja, atualmente, superior a de Questão de Honra (1992).

Já o filme financeiramente menos bem-sucedido dessa lista é provavelmente 12 Homens e uma Sentença (1957), que só arrecadou cerca de 2 milhões de dólares, nos chamados “theatrical rentals”, ou seja, a parte da arrecadação que fica com o estúdio distribuidor do filme e foi um fracasso de público nos Estados Unidos. Aliás, o filme também é o que teve menor custo de produção, apenas 340 mil dólares, e o único independente dessa lista, o que também explica sua dificuldade nas bilheterias.

Por fim, metade dos filmes dessa lista já foram escolhidos para inclusão no famoso National Filtem Registry, da Biblioteca do Congresso Americano, que tenta preservar os filmes mais importantes do cinema norte-americano, aquelas produções que se destacaram ao longo dos anos devido a sua importância estética, histórica e cultural. É provável, inclusive, que mais filmes dessa lista sejam, com o passar dos anos, incluídos no National Film Registry, já que clássicos mais recentes, como Kramer vs. Kramer e Questão de Honra, por exemplo, ainda não estão lá.

Conclusão

E aí, gostou da nossa lista. Esperamos que sim. Como sempre, tentamos não apenas listar as produções incluídas nessa lista, mas também explicar da melhor forma possível porque elas foram escolhidas para estar aqui. Assim, nosso leitor é capaz de entender as razões que levaram a inclusão de um filme na lista. Se gostou da nossa lista, não se esqueça de deixar seu comentário abaixo. Lembre-se sempre que ele é muito importante para nós.

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