O Rotten Tomatoes é o principal agregador de críticas especializadas da internet. Por isso, o site funciona com uma espécie de “termômetro” usado por cinéfilos e veículos de imprensa para tentar medir a recepção que uma produção cinematográfica ou televisiva teve por parte da crítica especializada. Ou seja, basicamente se a crítica “gostou” ou não de um filme ou série. Por isso, se você gosta de ler sobre filmes ou séries, é bem possível que você já tenha ouvido falar do Rotten Tomatoes.
O site reúne críticas escritas por críticos respeitados em veículos de imprensa conhecidos e cria uma média, chamada de “taxa de aprovação”. Normalmente, se um filme agradou a todos os críticos que o avaliaram ele terá uma taxa de aprovação de 100%. Já se o filme desagradou a todos os críticos que o avaliaram ele terá uma taxa de aprovação de 0%. Aqui nessa lista nos concentraremos justamente nos filmes com 100% de aprovação.
A seguir, explicaremos rapidamente o que é o Rotten Tomatoes, como ele surgiu e também como funciona sua taxa de aprovação. Aqui também explicaremos os critérios para elaboração dessa lista e, posteriormente, listaremos dez filmes com 100% de aprovação no Rotten Tomatoes.
O que é o Rotten Tomatoes?
O Rotten Tomatoes foi criado em 12 de agosto de 1998 por Senh Duong, que na época era aluno na Universidade de Berkeley, na Califórnia, e foi concebido pelo estudante como uma espécie de passatempo. Duong era um grande fã do ator Jackie Chan e tinha o hábito de colecionar as críticas publicadas sobre os seus filmes quando eles eram lançados comercialmente nos Estados Unidos. Em 1998, seria lançado a Hora do Rush, primeiro grande filme americano de Chan, e Duong queria encontrar um site em que ele pudesse encontrar reunidas todas as criticas publicadas sobre o filme.
Sem encontrar o que procurava, ele criou o Rotten Tomatoes para que as pessoas pudessem ter um local onde pudessem “ter acesso a avaliações de vários críticos nos Estados Unidos”. No inicio, o site reunia apenas críticas sobre filmes de Jackie Chan, mas logo Senh Duong começou a expandir o site e incluir críticas e avaliações sobre outros filmes. Em 2004, o Rotten Tomatoes foi vendido para a IGN que por sua vez, foi comprada pela Fox Interactive Media, no ano seguinte.
Em 2010, a IGN vendeu o Rotten Tomatoes para a Flixster, uma rede social focada em filmes e frequentada por cinéfilos. No ano seguinte, a Flixster foi adquirida pela Warner Bros., que em fevereiro de 2016 vendeu tanto o Rotten Tomatoes quanto o Flixster para a Fandango Media, a quem o site pertence até os dias atuais.
O icônico nome do site, “Rotten Tomatoes” ou “Tomates Podres”, vem de tempos antigos, onde o público arremessava tomates (e também outras legumes) podres nos artistas, quando não gostavam de uma apresentação. Por isso, no site os filmes bons são considerados “Frescos” e os ruins “Podres”. Além disso, segundo Duong, uma cena envolvendo tomates presente no filme canadense Léolo (1992) também exerceu influência direta na escolha do nome do site, já que ele estava assistindo a obra quando teve a ideia do nome do site.
De forma bem simples, o Rotten Tomatoes é um site agregador de críticas especializadas. Isso quer dizer que o Rotten Tomatoes reúne em apenas um lugar diversas críticas especializadas sobre um determinado filme ou produção televisiva. O Rotten Tomatoes não é o único agregador de críticas da internet (existem outros famosos, como o Metacritc, por exemplo), mas atualmente ele é o mais importante e respeitado do mercado.
Contudo, muito além de apenas “reunir” críticas em um único local, o Rotten Tomatoes também cria uma “média” afim de determinar se uma obra, seja ela filme ou série, pode ser considerada “boa” ou “ruim”. Essa média é apresentada ao público na forma de uma “taxa de aprovação”. Quanto mais alta for a taxa, maior é a porcentagem dos críticos que aprovaram aquela obra. Essa taxa de aprovação vai de 0% a 100%. Sendo que 0% indica desaprovação unânime (ou seja, nenhum crítico gostou daquele filme ou série) e 100 % indica aprovação unânime (ou seja, todos os críticos gostaram daquela obra). Abaixo, explicaremos mais a fundo como isso funciona.
Como funciona o Rotten Tomatoes?
Como explicamos acima, o Rotten Tomatoes é um agregador de críticas. Ou seja, uma ferramenta que reúne em apenas um lugar diversas criticas escritas sobre um filme ou produção televisiva. Contudo, como dissemos brevemente acima, além de apenas “coletar” críticas, o Rotten Tomatoes também gera uma “média” das críticas boas e ruins e a apresenta ao público na forma de uma “taxa de aprovação”.
Mas como é feita essa “coleta” das críticas? Bem, o Rotten Tomatoes já possui uma espécie de “banco de dados” que reúne um grupo de críticos que são considerados, pelo site, respeitados, confiáveis e de qualidade. Esse críticos geralmente são profissionais que já atuam há um bom tempo no mercado e escrevem para veículos que têm pelo menos um alcance aceitável junto ao público. Além disso, muitos desses críticos também fazem parte de associações ou sindicados de críticos, algo que é relativamente comum nos Estados Unidos e na Europa.
Assim, toda vez que uma obra (seja filme, série, etc) vai estrear na televisão, no cinema ou em alguma plataforma de streaming, a equipe do Rotten Tomatoes coleta as críticas sobre essa obra publicadas por esses críticos que o site já tem em seu banco de dados. Além disso, essa equipe também determina se a crítica é positiva ou negativa. Esse trabalho é especialmente importante em críticas sem uma avaliação numérica clara. Isso porque, em criticas com essa avaliação numérica, como aquelas que dão um número de estrelas ou uma nota para uma produção, é mais fácil saber se o crítico “gostou” ou não da obra.
Depois disso, é criada uma média das críticas e a partir dela é gerada uma “taxa de aprovação” do filme ou obra televisiva. Essa taxa de aprovação está diretamente ligada a porcentagem de criticas positivas e negativas. Por exemplo, se 60% das críticas sobre um filme forem positivas, isso quer dizer que a taxa de aprovação do filme será de 60%. Essa taxa de aprovação, como dissemos brevemente acima, pode ir de 0% a 100%. Sendo 0%, quando nenhum dos críticos “gostou” da obra e 100% quando todos os críticos “gostaram” da obra”.
Ter aprovação tanto de 0% quanto de 100% é relativamente difícil no Rotten Tomatoes, principalmente para filmes “grandes” que costumam ser avaliados por centenas de críticos de cinema. Isso porque, quanto maior o número de críticas, maior a chance de que exista discordância quanto a qualidade de uma obra. Contudo existem diversos filmes com taxas de aprovação de 0% e de 100% no site. Inclusive, já elaboramos uma lista de dez filmes conhecidos e que, atualmente, mantêm uma taxa de 0% de aprovação no Rotten Tomatoes.
Como elaboramos essa lista
O primeiro critério para poder ser elegível a entrar nessa lista é, obviamente, ter, atualmente, uma taxa de aprovação de 100% no Rotten Tomatoes. Isso significa que o filme foi aprovado por todos os críticos que o avaliaram. Além da taxa de aprovação de 100% no Rotten Tomatoes, só podem entrar nessa lista, filmes que tenham pelo menos 20 avaliações reunidas no site. Isso evita que os filmes sejam injustamente avaliados ou que se criem distorções nessa lista.
Atualmente, existem dezenas de filmes listados no Rotten Tomatoes e que preenchem esses dois critérios, ou seja, têm taxa de aprovação de 100% e, pelo menos, 20 avaliações diferentes no site. Dentre esse grupo, escolhemos 10 para listar aqui. O principal critério para chegar a lista final, foi a notoriedade do filme. Tentamos escolher dez produções que sejam bastante notórias e que tenham muita importância para o cinema.
Até porque, entre os filmes que, atualmente, possuem uma taxa de aprovação de 100% no Rotten Tomatoes, muitos estão entre os melhores e mais importantes filmes já produzidos na história do cinema mundial. Lembrando sempre que a lista de filmes com 100% de taxa de aprovação no Rotten Tomatoes é bastante instável, já que basta uma crítica negativa para que a produção deixe a lista.
Filmes como, Lady Bird: A Hora de Voar (2017), Paddington 2 (2017) e, até mesmo, o classiquíssimo Cidadão Kane (1941), já estiveram nessa lista e sairam por causa de uma única crítica negativa. Por esse motivo, é possível que, dependendo de quando você esteja lendo essa lista, alguns dos filmes listados aqui por nós, nem possuam mais uma taxa de aprovação de 100% no Rotten Tomatoes. Dito tudo isso, vamos a lista.
Em Busca do Ouro (1925) – Um dos filmes mais antigos ainda com 100% de taxa de aprovação no Rotten Tomatoes
Um dos filmes mais antigos que ainda mantêm uma taxa de aprovação de 100% no Rotten Tomatoes, Em Busca do Ouro é também um dos maiores clássicos de toda a filmografia do genial Charles Chaplin. Escrito, produzido, dirigido e estrelado por ele, o filme leva seu famoso personagem, Carlitos, para a Corrida do Ouro de Klondike, ocorrida no noroeste do Canadá, no final do século XIX.
Charlie Chaplin ficou muito interessado na Corrida do Ouro de Klondike, após ver fotografias desse evento histórico e também ler relatos das dificuldades enfrentadas por aqueles que tinham ido ao local em busca de ouro e riqueza. Um caso, em alguma medida, parecido com o de Serra Pelada aqui no Brasil. Os relatos de fome, frio e inúmeras dificuldades enfrentadas por eles fizeram com que Chaplin se interessasse em adaptar a história para o cinema, acreditando que drama e comédia estavam intrinsecamente.relacionados.
Produzido a um custo de quase 1 milhão de dólares, bastante alto para a época, Em Busca do Ouro foi filmado em locação e, principalmente, em sets gigantescos que reproduziam perfeitamente os cenários da época da Corrida do Ouro de Klondike. A produção grandiosa e bem acabada era uma tentativa de Charles Chaplin de dar uma resposta ao público e a crítica especializada após o fracasso de Casamento ou Luxo (1923), único filme de sua filmografia que ele dirigiu, mas não estrelou.
Em Busca do Ouro estreou nos Estados Unidos em 26 de junho de 1925 e foi recebido extremamente bem tanto pelo público quanto pela crítica especializada. Um sucesso absoluto de público, o filme arrecadou cerca de 2,150 milhões de dólares somente nos Estados Unidos e no Canadá, nos chamados “theatrical rentals”, ou seja, a parte da arrecadação que fica com o estúdio distribuidor do filme.
A produção arrecadaria ainda mais no restante do mundo, totalizando aproximadamente 4.250 milhões de dólares em bilheterias no mundo todo, somente durante seu lançamento original. Com isso, Em Busca do Ouro se tornou dono da quarta maior bilheteria do ano nos Estados Unidos, em 1925. Além disso, calcula-se que sua bilheteria total faça dele um dos cinco filmes de maior sucesso comercial na era do cinema mudo. Calcula-se também que a United Artists, estúdio que financiou e distribuiu o filme e que pertencia em parte a Charles Chaplin, tenha lucrado cerca de 1 milhão de dólares e o próprio Chaplin lucrado aproximadamente 2 milhões de dólares com a obra.
A crítica especializada ficou empolgada com a estreia de Em Busca do Ouro. O respeitadíssimo crítico de cinema Mordaunt Hall escrevendo para o jornal The New York Times chamou o filme de “uma comédia com traços de poesia, pathos e ternura. É a joia excepcional de todos os filmes de Chaplin, pois tem mais reflexão e originalidade do que até mesmo obras-primas como O Garoto e Ombros, Armas!”.
A revista Variety foi mais longe, dizendo que Em Busca do Ouro era “a maior e mais elaborada comédia já filmada, e permanecerá por anos como o maior sucesso em seu gênero, assim como O Nascimento de uma Nação ainda resiste aos muitos concorrentes no gênero dramático”. Já a revista New Yorker foi na contramão de outros veículos que elogiavam a mistura de drama e comédia do filme e disse que no filme os gêneros não combinaram bem. Mesmo assim, a revista ainda incluiu Em Busca do Ouro em sua lista de dez melhores produções cinematográficas daquele ano.
Ainda em 1942, já na era do cinema falado, Charles Chaplin relançou Em Busca do Ouro em uma versão com efeitos sonoros, trilha sonora e narração. Essa versão do filme recebeu duas indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Gravação de Som e Melhor Trilha Sonora Original. Lembrado que em 1925, o Oscar ainda não existia (a premiação só começou a ser entregue em 1929) e, por isso, a primeira versão do filme não poderia ter recebido nenhuma indicação a famosa premiação.
Em Busca do Ouro já nasceu clássico e com o tempo foi ganhando ainda mais status. Já em 1958, ou seja, pouco mais de 30 anos após seu lançamento, o filme foi escolhido o segundo melhor já feito na história no “Brussels 12”, um prestigiado evento que ocorreu durante a Exposição Mundial de 1958 e que reuniu centenas de críticos e cineastas do mundo todo que escolheram os 12 melhores filmes da história do cinema até aquele momento. Em Busca do Ouro perdeu apenas para o clássico, O Encouraçado Potemkin (1925).
Em Busca do Ouro não pararia nunca mais de ser incluído em listas de melhores filmes da história e com o passar das décadas se tornaria ainda mais influente. Considerado um dos filmes prediletos do próprio Charles Chaplin, a obra também é amplamente considerada seu melhor filme e sua produção mais bem feita durante a era do cinema mudo. Isso sem falar que Em Busca do Ouro contêm algumas das cenas mais famosas da filmografia de Chaplin, como aquele em que ele cozinha e come um sapato, que é praticamente universalmente conhecida por quem gosta de cinema.
Em Busca do Ouro foi incluída em ambas as listas, tanto na de 1998 quanto na 2007, “AFI’s 100 Years… 100 Movies”, organizadas pelo American Film Institute e que listam os 100 melhores filmes já produzidos pelo cinema norte-americano. A obra também já foi incluída em incontáveis listas de melhores filmes da história do cinema mundial, incluindo listas produzidas por veículos de bastante renome, como as revistas The Village Voice, Entertainment Weekly, Cahiers du cinéma e Sight & Sound e o canal de televisão britânico BBC.
Em Busca do Ouro é unanimemente considerado um dos melhores e mais influentes filmes produzidos na era do cinema mudo e em 1992 foi escolhido para preservação no National Filme Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural. Atualmente, o filme possui 54 críticas reunidas no Rotten Tomatoes, todas elas positivas. Um verdadeiro clássico de um dos mais geniais cineastas que a sétima arte já produziu.
No Tempo das Diligências (1939)
O próximo filme da nossa lista, pode ser considerado quase um “filme fundador” do cinema faroeste. É quase impossível falar sobre o gênero sem citar No Tempo das Diligências. Isso porque, a obra reúne dois dos maiores nomes do faroeste, John Ford e John Wayne. Aliás, foi devido ao sucesso da produção que Wayne se tornou uma dos maiores nomes do cinema e se tornaria também o mais importante ator da história do faroeste.
Curiosamente, ninguém queria financiar a produção de No Tempo das Diligências por considerá-lo caro demais e também por considerar que John Wayne não tinha cacife suficiente para ser a principal estrela de um filme. Ford, que insistia em dirigir a obra e também em ter Wayne como protagonista, teve que apelar para Walter Wanger e dar o papel de protagonista (pelo menos, no papel) para Claire Trevor, que era na época, bem mais famosa que John Wayne, para conseguir fazer o filme.
No Tempo das Diligências representa um retorno de John Ford ao faroeste, já que desde os anos 1920, ele não dirigia uma produção do gênero. Escrito pelo grande roteirista Dudley Nichols, que era um dos principais parceiros profissionais de Ford, o filme conta a história de um grupo de desconhecidos, em 1880, viajando em uma diligência (um tipo de carruagem fechada de quatro rodas utilizada para o transporte, de longas distâncias, de passageiros e mercadorias) entre os estados norte-americanos do Arizona e do Novo México. Uma viagem perigosa, devido ao fato de atravessar o território dos Apaches, um povo indígena que habitava a região na época.
Lançado comercialmente em todo os Estados Unidos em março de 1939, No Tempo das Diligências foi um sucesso de bilheteria. Produzido a um custo de cerca de 500 mil dólares, a obra arrecadou mais de 1.1 milhão de dólares em bilheterias, dando um lucro de quase 300 mil aos produtores da obra. Um resultado muito bom para um filme faroeste, um gênero que havia sido praticamente abandonado pelos grandes estúdios a partir do advento do som no cinema, no final dos anos 1920.
No Tempo das Diligências também foi muito bem recebido pela crítica especializada, sendo imediatamente considerado um clássico já na época de seu lançamento. No Oscar daquele ano, o filme recebeu sete indicações, incluindo algumas em categorias principais, como Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (para Thomas Mitchell) e Melhor Trilha Sonora. A obra, inclusive, venceu esses dois últimos. O ano, no entanto, era de …E o Vento Levou, que venceu quase todos os prêmios daquela temporada.
No Tempo das Diligências ajudou a revitalizar o gênero faroeste, que passou a ser visto como viável financeiramente pelos grandes estúdios, o que fez com que os filmes do gênero voltassem a ser produzidos em grande estilo. Com isso, o faroeste praticamente dominaria o cinema nas duas décadas seguintes. Além disso, o filme também fez com que John Wayne e John Ford, trabalhassem em diversos outros filmes do gênero, trazendo ao mundo alguns dos maiores clássicos do faroeste.
No Tempo das Diligências também se tornou uma espécie de modelo copiado a exaustão por diversos outros filmes faroeste e por diversos outros diretores de cinema mundo a fora. Por isso, o filme é considerado um dos mais importantes e influentes já feitos. Por esse motivo, em 1995, a produção foi escolhida para preservação no National Film Registry, devido a sua importância estética, histórica e cultural.
O filme também foi incluído pelo American Film Institute em sua lista “AFI’s 100 Years…100 Movies”, publicada originalmente em 1998 e que compila os 100 melhores filmes já produzidos pelo cinema norte-americano. A obra também foi escolhida, pelo próprio AFI, como o nono melhor filme de faroeste já produzido nos Estados Unidos.
Atualmente, No Tempo das Diligências possui 48 críticas reunidas no Rotten Tomatoes, todas elas positivas. O filme, no entanto, é criticado até hoje pela forma como retrata os povos nativos norte-americanos, como sendo selvagens e violentos, desprovidos de qualquer boa intenção. Contudo, é necessário notar que todos os faroestes desse período padecem desse defeito, já que essa era a visão que se tinha dos nativos norte-americanos na época.
Pinóquio (1940)
O próximo filme da nossa lista é também o segundo longa-metragem de animação produzido pela Walt Disney Productions. Lançado três anos após Branca de Neve e os Sete Anões (1937), Pinóquio trouxe uma série de inovações que deixaram as cenas mais realísticas e melhoraram, principalmente, a noção de movimento de objetos em algumas cenas e de naturalidade de fenômenos naturais, como chuva, raios, rios e etc.
Por tudo isso, o filme foi um enorme sucesso de crítica e desde o seu lançamento foi considerado uma obra-prima pela maioria dos críticos especializados da época. Por esse motivo, Pinóquio foi indicado ao Oscar daquele ano em duas categorias, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Canção Original, para o clássico “When You Wish Upon a Star”.
A obra acabou vencendo em ambas e se tornando assim, o primeiro longa-metragem de animação da história a vencer um Oscar competitivo. A vitória de Pinóquio nessas duas categorias, acabaria estabelecendo um padrão e nas próximas décadas diversas animações seriam indicadas e venceriam os Oscars de Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original.
Apesar do sucesso com os críticos, Pinóquio acabou arrecadando bem menos bilheteria do que o esperado pela Walt Disney Productions e também bem menos do que seu predecessor, Branca de Neve e os Sete Anões. O fato teria deixado o próprio Walt Disney “muito, muito deprimido”. Segundo consta, Pinóquio teria dado um prejuízo de pelo menos um milhão de dólares ao estúdio. O fracasso do filme nas bilheterias, não foi um fato isolado, já que diversas outras animações, hoje consideradas clássicas, da Walt Disney Productions tiveram o mesmo destino.
O motivo, foi a Segunda Guerra Mundial, que fez com que o mercado europeu para cinema praticamente desaparecesse, já que a guerra ocorria primariamente, naquele continente. Pinóquio foi relançado em 1945, logo após o fim da guerra, e teve muito mais êxito nas bilheterias. A produção seria relançada ainda mais seis vezes nos cinemas, até 1992, arrecadando uma bilheteria total de cerca de 164 milhões de dólares para a Walt Disney.
Atualmente, Pinóquio é unanimemente considerado uma das melhores animações e também um dos melhores filmes já produzidos. Em 2005, a famosa Revista Time, escolheu Pinóquio como um dos 100 melhores filmes produzidos nos últimos 80 anos. Além disso, em 2008, a obra foi escolhido pelo renomado American Film Institute como o segundo melhor filme de animação de toda a história do cinema norte-americano, ficando atrás somente de Branca de Neve e os Sete Anões (1937).
Em 1994, Pinóquio foi escolhido para preservação no National Film Registry, da Biblioteca do Congresso Americano, devido a sua importância cultural, histórica e estética. Além disso, a canção “When You Wish Upon a Star” é, frequentemente, incluída em listas de melhores canções de toda a história do cinema mundial. Atualmente, o filme possui 64 críticas reunidas no Rotten Tomatoes, todas elas positivas.
Cantando na Chuva (1952)
O próximo filme da nossa lista é um dos maiores musicais de toda a história do cinema. No início do anos 1950, o produtor Arthur Freed possuía um conjunto de canções composta por ele e por Nacio Herb Brown entre o final dos anos 1920 e o final dos anos 1930. Freed queria produzir um filme apenas como veículo para utilizar essas canções. Assim, ele chamou a dupla de roteiristas, Betty Comden e Adolph Green, para conceber uma história que conectasse todas as canções. Dessa forma, nasceu Cantando na Chuva que é, atualmente, considerado um dos melhores filmes de toda a história da sétima arte.
Devido a forma como ele foi concebido, Cantando na Chuva possui pouquíssimas canções originais. Até mesmo o clássico “Singin’ in the Rain”, que ficou eternamente ligada ao filme e é, até hoje, considerada uma das mais importantes canções da história do cinema foi, na verdade, composta para o filme Hollywood Revue (1929) e, quando foi gravada por Gene Kelly para aparecer em Cantando na Chuva, já havia sido gravada por diversos outros cantores e atores.
Dirigido por Gene Kelly e Stanley Donen e estrelado pelo próprio Kelly, ao lado de Debbie Reynolds, Donald O’Connor e Jean Hagen, a concepção do enredo de Cantando na Chuva foi em alguma medida complicada porque não estava claro quem iria estrelar o filme, já que Gene Kelly, que era a primeira escolha para o papel, estava ocupado com a produção e lançamento de Sinfonia de Paris (1951), que, aliás, também foi produzido por Arthur Freed e, inclusive, lhe deu um Oscar de Melhor Filme.
Como a maioria das canções que seriam usadas no filme haviam sido compostas entre 1929 e 1939, Betty Comden e Adolph Green decidiram que o enredo do filme se passaria nesse período. Assim, conceberam a história de uma estrela do cinema mudo, Don Lockwood (Gene Kelly), que tem que lidar com a transição para o cinema sonoro e o perigo que ela representa para sua carreira, ao mesmo tempo que também tem que lidar com sua parceira na maioria dos filmes e tenta conquistar uma atriz novata por quem ele está apaixonado.
As filmagens de Cantando na Chuva também não foram fáceis. Como Debbie Reynolds não tinha experiência com canto ou dança e estava em início de carreira, ela sofreu bastante durante as filmagens, tendo que gravar algumas cenas diversas vezes e tendo que ser dublada em algumas canções e em algumas cenas. Ironicamente, no enredo do filme, é sua personagem quem dubla uma atriz cuja voz desagrada aos produtores de um filme.
Reynolds também teria sido maltratada por Gene Kelly que não tinha muita paciência com a jovem atriz. Segundo consta, curiosamente, foi outra lenda do cinema, Fred Astaire, quem teria ajudado a treinar Debbie Reynolds para as cenas de dança de Cantando na Chuva ao vê-la escondida debaixo de um piano chorando. Reynolds chegou a dizer que “’Cantando na Chuva’ e dar à luz foram as duas coisas mais difíceis que já tive que fazer na minha vida”.
Kelly depois admitiu que a tratou mal durante as filmagens, dizendo que ficou, inclusive, surpreso por ela ainda falar com ele depois que a produção do filme foi completada. O próprio Gene Kelly teve também sua própria dose de sofrimento durante as filmagens de Cantando na Chuva. Durante a gravação da cena mais famosa do filme, em que ele canta “Singin’ in the Rain” enquanto dança embaixo de uma chuva, o ator estava doente e com 39º de febre.
Cantando na Chuva foi lançado comercialmente nos Estados Unidos em 11 de abril de 1952. Apesar de, atualmente, ser considerado um dos melhores filmes já feitos, a produção não foi um grande sucesso de público durante seu lançamento original. Apesar disso, sua arrecadação foi suficiente para dar lucro a Metro-Goldwyn-Mayer, estúdio que bancou a produção do filme. Produzido a um custo estimado em cerca de 2.5 milhões de dólares, Cantando na Chuva arrecadou pouco mais de 3.2 milhões de dólares em bilheterias nos Estados Unidos e cerca de 2.3 milhões de dólares em bilheterias no resto do mundo, dando a MGM um lucro calculado em aproximadamente 666 mil dólares.
Cantando na Chuva foi bem recebido pela crítica especializada da época. O respeitado crítico do jornal The New York Times, Bosley Crowther, disse que todos os elementos da produção haviam sido “cuidadosamente elaborados” e que o filme prometia “aliviar as dores do inverno e deixar você no clima de alegria”. A revista Variety disse que o filme tinha “ritmo e humor em uma paródia descontraída e bem-humorada da própria indústria cinematográfica… As atuações de destaque de Gene Kelly e Donald O’Connor, especialmente deste último, aumentam o apelo do filme”. Já a revista de cinema Harrison’s Reports disse que a obra tinha “entretenimento de primeira qualidade em todos os departamentos – música, dança, canto, encenação e história”
Apesar da boa recepção da crítica especializada, Cantando na Chuva recebeu apenas duas indicações ao Oscar daquele ano, nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante (para Jean Hagen) e Melhor Trilha Sonora Original. O filme também recebeu uma indicação ao BAFTA, na categoria de Melhor Trilha Sonora Original. E duas indicações ao Globo de Ouro, nas categorias de Melhor Filme – Musical ou Comédia e Melhor Ator – Musical ou Comédia (para Donald O’Connor). O’Connor, inclusive, acabaria vencendo nessa categoria. A produção também receberia outras indicações em outras premiações importantes.
Com o passar das décadas, o prestígio de Cantando na Chuva aumentaria bastante. Atualmente, o filme é considerado o melhor musical e um dos melhores filmes já feitos em toda a história do cinema. A obra tem sido constantemente incluída em listas de melhores filmes da história, incluindo ambas as listas “AFI’s 100 Years…100 Movies”, publicadas pelo American Film Institute e que listam os 100 melhores filmes norte-americanos da história.
Na lista original de 1998, Cantando na Chuva aparece em décimo lugar e na lista atualizada de 2007, ele aparecer em quinto lugar. O filme também foi considerado o melhor musical da história pelo próprio AFI em sua lista publicada em 2006. Além de ter sido considerado um dos vinte filmes mais engraçados e uma das melhores histórias de amor da história do cinema americano, pelo próprio American Film Institute, que também incluiu três canções da obra entre as 100 melhores da história em uma outra lista publicada em 2004.
Cantando na Chuva também foi considerado um dos dez melhores filmes da história pelas prestigiadas revistas Sight & Sound e Empire. Em 1989, Cantando na Chuva foi um dos primeiros 25 filmes a serem escolhidos para preservação no National Film Registry, da Biblioteca do Congresso Americano. O filme ajudou a consolidar de vez a carreira de Gene Kelly e fez de Debbie Reynolds uma estrela internacional. Atualmente, Cantando na Chuva possui 76 críticas reunidas no Rotten Tomatoes, todas elas positivas.
Os Sete Samurais (1954)
O próximo filme da nossa lista é, provavelmente, a maior obra-prima do genial cineasta Akira Kurosawa. Só isso, já explica muito sobre o motivo de Os Sete Samurais ainda hoje manter uma taxa de aprovação de 100% no Rotten Tomatoes. No entanto, para além disso, o filme ainda é um dos melhores, mais importantes e mais influentes de toda a história do cinema mundial. Quando iniciou a produção de Os Sete Samurais, Kurosawa já era internacionalmente conhecido, já que quatro anos antes, havia dirigido Rashomon (1950), que foi um enorme sucesso de crítica e público.
Por isso, a Toho, estúdio que bancou a produção do filme, lhe deu liberdade criativa e um bom orçamento para finalizar Os Sete Samurais. No entanto, a produção do filme, foi extremamente complicada. A concepção do roteiro levou cerca de seis semanas para ser completada. A principio, Akira Kurosawa queria contar a história de um dia na vida de um samurai. Depois, durante as pesquisas para a escrita do roteiro, ele descobriu a história de um samurai defendendo um vila de fazendeiros e se interessou pela história.
Assim, Os Sete Samurais passou a ser sobre um grupo de samurais defendendo um vila de fazendeiros de um grupo de bandidos. No início, o grupo seria formado por seis samurais, mas Kurosawa deu ao lendário ator Toshiro Mifune, que trabalhou em diversos de seus filmes, a liberdade de conceber seu próprio personagem e, dessa forma, os samurais passaram a ser sete.
As filmagens de Os Sete Samurais foram extremamente complicadas e levaram quase um ano para serem concluídas. Isso fez com que o orçamento do filme fosse parar nas alturas, fazendo com que ele custasse quatro vezes mais do que deveria, inicialmente, custar. Akira Kurosawa se recusou a rodar o filme nos cenários da Toho e exigiu que cenários super realísticos fossem construídos do zero, alegando que a qualidade dos cenários afetava também a qualidade da atuação dos atores.
As filmagens também foram praguejadas por diversos problemas climáticos, incluindo chuvas diárias que atrasavam as rodagem das cenas e frio e neve, principalmente, no final da produção do filme. Por tudo isso, a Toho interrompeu as filmagens de Os Sete Samurais, pelo menos, duas vezes, mas Kurosawa sabia que o estúdio já tinha investido muito dinheiro no filme e não tinha nenhuma outra opção a não ser permitir que ele fosse completado. O diretor também investiu pesado em equipamentos de primeira linha e filmava cada cena com múltiplas câmeras, o que era incomum para o cinema japonês da época. O resultado disso tudo foi que quando a obra final mente foi completada, ela havia se tornado o filme mais caro já produzido no Japão.
O investimento, no entanto, valeu a pena. Produzido a um custo estimado em 580 mil dólares, Os Sete Samurais arrecadou cerca de 2.8 milhões de dólares somente no Japão nos chamados “theatrical rentals”, ou seja, a parte da arrecadação que fica com o estúdio distribuidor do filme. Com isso, o filme se tornou dono de uma das três maiores bilheterias do país naquele ano, ficando a frente, inclusive, de Godzilla, que foi lançado naquele mesmo ano.
No Japão, Os Sete Samurais foi bem recebido pela crítica especializada. Nos Estados Unidos, a recepção foi um pouco mais morna, mas diversos críticos importantes elogiaram o filme, entre eles o famoso crítico do jornal The New York Times, Bosley Crowther, que comparou o filme a outra obra-prima, o faroeste Matar ou Morrer (1952). Aliás, diversos críticos da época, apontaram semelhanças entre Os Sete Samurais e o gênero faroeste.
Os Sete Samurais também foi indicado e recebeu diversos prêmios importantes. O filme foi premiado com o Leão de Prata e foi indicado ao Leão de Ouro, no Festival de Veneza. A produção, também recebeu três indicações ao BAFTA, uma na categoria de Melhor Filme e duas na categoria de Melhor Ator Estrangeiro, para Toshiro Mifune e Takashi Shimura. O longa-metragem também recebeu duas indicações ao Oscar em categorias técnicas.
Com o passar dos anos, Os Sete Samurais foi ganhando cada vez mais status e também se tornando cada vez mais influente. O filme inspirou diversas outras produções e diversos dispositivos narrativos utilizados no filme acabaram por serem utilizados em diversas outras produções. Como por exemplo, a história de um grupo de heróis desajustados que se juntam para combater um inimigo em comum ou empreender uma missão. Ou o herói aparentemente fraco ou falso que, quando necessário, mostra toda a sua capacidade e coragem. Todos esses dispositivos e muitos outros acabaram por se tornar lugares comuns no cinema mundial.
Isso sem falar que diversos remakes ou mesmo cópias de Os Sete Samurais foram produzidos durante as últimas décadas. Entre esses remakes está o clássico do faroeste Sete Homens e Um Destino (1960) que é, atualmente, considerado também um dos melhores filmes já produzidos. O filme de Kurosawa é tão influente que é impossível enumerar todas as obras que se inspiraram nele. Só para se ter uma ideia, até mesmo a animação Vida de Inseto (1998), utiliza diversos elementos do enredo de Os Sete Samurais em seu roteiro.
Por tudo isso, a obra é atualmente unanimemente considerada um dos melhores filmes de toda a história do cinema mundial. Praticamente todo o veículo de imprensa que elabora esse tipo de lista, inclui Os Sete Samurais nela. Por isso, seria impraticável listar todos aqui. Contudo, entre as listas mais notórias em que o filme foi incluído, quase sempre em uma posição de destaque, estão as das revistas Sight & Sound, Time Out, Entertainment Weekly, The Village Voice, Cahiers du cinéma e Empire e as dos jornais The Guardian e The New York Times.
Além disso, o longa-metragem foi escolhido o melhor filme estrangeiro da história pelo canal de televisão britânico BBC e é um dos filmes favoritos de cineastas geniais, como Martin Scorsese, Andrei Tarkovsky, Quentin Tarantino, Steven Spielberg e George Lucas, entre outros. Por tudo isso, é quase impossível calcular o tamanho exato da importância desse filme para a sétima arte. Atualmente, Os Sete Samurais possui 100 críticas reunidas no Rotten Tomatoes, todas elas positivas.
Noites de Cabíria (1957)
Outra obra-prima de um diretor genial, Noites de Cabíria foi dirigido pelo grande Federico Fellini, que nessa época já era um cineasta internacionalmente consagrado. Assim como alguns filmes anteriores de Fellini, incluindo A Estrada da Vida (1954), Noites de Cabíria é estrelado por sua esposa, Giulietta Masina, que interpreta aqui a prostituta Cabíria, uma personagem que ela já havia interpretado brevemente em outro filme do cineasta, Abismo de um Sonho (1952).
O enredo do filme foi concebido pelo próprio Federico Fellini e o roteiro foi escrito por ele, em colaboração com Pier Paolo Pasolini, Ennio Flaiano e Tullio Pinelli. Pasolini, que foi chamado a colaborar no roteiro devido a sua experiência e conhecimento sobre o submundo de Roma, se tornaria ele próprio um diretor consagrado alguns anos depois.
Noites de Cabíria foi filmado em locação, em diversos lugares de Roma e da Itália. Como o filme era protagonizado por uma prostituta, nenhum produtor italiano aceitou bancar a sua produção, até que Fellini convenceu o grande produtor italiano Dino De Laurentiis, a financiar o filme.
Noites de Cabíria estreou no Festival de Cannes, em 10 maio de 1957 e depois, comercialmente, na Itália em 27 maio daquele mesmo ano. Calcula-se que o filme tenha arrecadado, na época de seu lançamento original, cerca de 770 mil dólares em bilheterias. A produção, em alguma medida, também dividiu a crítica especializada. Enquanto alguns elogiaram entusiasticamente o filme, outros o fizeram de forma bem mais comedida.
François Truffaut que, na época, escrevia para a prestigiada revista francesa de cinema Cahiers du Cinéma e que pouco tempo depois se tornaria ele próprio um cineasta consagrado, considerou Noites de Cabíria o melhor filme da carreira de Noites de Cabíria até então e a produção foi incluída pela revista em sua lista de melhores filmes do ano de 1957.
Já o famoso critico de cinema Bosley Crowther, que escrevia para o jornal norte-americano The New York Times disse que assim como outros filmes de Fellini, o roteiro de Noites de Cabíria estava mais interessado no “desenvolvimento de um tema do que de um enredo. Seu interesse não é tanto nos conflitos que ocorrem na vida da heroína, mas nas implicações profundas e subjacentes do pathos humano que o padrão de sua vida mostra”.
Apesar de tudo isso, Noites de Cabíria venceu o Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro daquele ano, fazendo com que Federico Fellini e Dino De Laurentiis vencessem o Oscar por dois anos seguintes, já que no ano anterior, A Estrada da Vida (1954), que tinha sido dirigido por Fellini e produzido por De Laurentiis, havia vencido o Oscar nessa mesma categoria. Além disso, Giulietta Masina venceu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes daquele ano e o próprio Fellini venceu o prêmio de Melhor Diretor no David di Donatello também naquele ano.
Atualmente, Noites de Cabíria é considerado um dos melhores filmes da carreira de Federico Fellini e também um dos mais importantes do cinema italiano e europeu. A produção tem sido consistentemente incluída em listas de melhores filmes da história e já esteve presente em listas de veículos de imprensa e instituições importantes, como a revista norte-americana The Village Voice, a Sociedade Nacional de Críticos de Cinema dos Estados Unidos (ou “National Society of Film Critics”, no original em inglês) e o canal de televisão britânico BBC. Atualmente, Noites de Cabíria possui 45 críticas reunidas no Rotten Tomatoes, todas elas positivas.
12 Homens e uma Sentença (1957)
O próximo membro de nossa lista é um dos melhores e mais conhecidos filmes de tribunal de toda a história do cinema mundial. Incrivelmente, 12 Homens e uma Sentença foi o primeiro trabalho de direção para cinema de Sidney Lumet, que depois se tornaria um dos diretores mais respeitados do cinema mundial. O roteiro do filme foi escrito por Reginald Rose e era baseado em uma peça para televisão escrita por ele próprio e exibida na televisão norte-americana em 1954.
A peça tinha sido dirigida por outro cineasta que também teria uma carreira de sucesso, Franklin J. Schaffner, e havia sido um sucesso de critica e público, vencendo três Primetime Emmys, o prêmio mais importante da televisão norte-americana. Rose também produziu o filme ao lado de Henry Fonda, que estrelou o longa-metragem e foi a grande força motriz por trás da produção do filme.
Na verdade, Fonda assistiu a peça para a televisão dirigida por Schaffner em uma projeção em Hollywood e ficou impressionado com o roteiro e quis interpretar o protagonista em uma eventual adaptação para o cinema. O ator já tinha um acordo de distribuição de três anos com a
United Artists e, por isso, havia formado sua própria produtora. Fonda então fez um acordo com Reginald Rose, fundindo a recém-formada produtora dele com a sua e angariando a quantia de cerca de 340 mil dólares para a produção do filme.
Para o roteiro de 12 Homens e uma Sentença, Rose apenas recuperou material que ele teve que cortar na versão da peça para televisão, onde o tempo de tela era contado, e acrescentou diálogos adicionais para dar mais profundidade e revelar mais sobre a personalidade de cada um dos 12 jurados. Como o filme se passa todo em uma sala de júri, o maior gasto foi com o salário dos atores que formam o elenco.
Fonda e Rose convidaram Sidney Lumet para dirigir 12 Homens e uma Sentença porque apesar de ele não ter experiência com cinema, ele já havia dirigido diversos episódios de séries de televisão, inclusive, adaptações de trabalhos de Rose. Além disso, Fonda também achava ele um ótimo diretor de atores, o que fazia com que ele tivesse o perfil perfeito para um filme quase todo alicerçado na atuação de seu elenco. O premiado cinematógrafo Boris Kaufman foi contratado para o filme por Lumet, que acreditava que seu estilo realístico seria perfeito para o estilo da obra.
Devido ao orçamento enxuto, 12 Homens e uma Sentença teve um calendário de produção bem rigoroso e as filmagens do longa-metragem foram concluídas em menos de três semanas, sendo que o filme foi todo rodado na cidade de Nova York, nos Estados Unidos. Nem Henry Fonda, que era a principal estrela e também produtor do filme, e nem Reginald Rose, receberam cachês por seus trabalhos no filme.
12 Homens e uma Sentença estreou nos Estados Unidos em 10 de abril de 1957 e foi recebido com entusiasmo pela crítica especializada. Escrevendo para o jornal de The New York Times, A. H. Weiler disse que o filme era “um drama tenso, envolvente e atraente que vai muito além dos limites da sala do júri”, elogiando ainda os personagens do filme que, segundo ele, eram “poderosos e provocativos o suficiente para manter o espectador hipnotizado”.
A revista Variety disse que 12 Homens e uma Sentença era “talvez o melhor drama visto recentemente em qualquer filme” e o jornal Los Angeles Times chamou a obra de “tour de force na produção cinematográfica”, enquanto que a revista New York disse que a obra era “uma adição bastante substancial ao cenário cinematográfico”. A boa recepção da crítica fez com que a produção fosse indicada a diversas premiações importantes.
No Oscar daquela temporada, 12 Homens e uma Sentença recebeu três indicações, nas categorias de Melhor Filme, Direção e Roteiro Adaptado, dando a Sydney Lumet e a Rose as primeiras (e, no caso de Rose, única), indicações ao Oscar de suas carreiras. O filme também seria indicado a dois BAFTAs, nas categorias de Melhor Filme e Melhor Ator Estrangeiro (para Henry Fonda) e a quatro Globos de Ouro, nas categorias de Melhor Filme – Drama, Melhor Diretor, Melhor Ator – Drama (para Fonda) e Melhor Ator Coadjuvante (para Lee J. Cobb).
Henry Fonda venceria o BAFTA e também o Urso de Ouro do Festival de Berlim, por seu trabalho de atuação no filme. 12 Homens e uma Sentença seria ainda escolhido como um dos dez melhores filmes do ano pelo National Board of Review e venceria o Writers Guild of America Awards, na categoria de Melhor Drama.
Apesar de tudo isso, 12 Homens e uma Sentença não foi um sucesso de bilheteria nos Estados Unidos, mas conseguiu se dar melhor com o público estrangeiro, arrecadando cerca de 2 milhões de dólares, nos chamados “theatrical rentals”, ou seja, a parte da arrecadação que fica com o estúdio distribuidor do filme. Muitos especialistas apontam que o fato de o filme ter sido filmado em preto e branco em uma época em que o cinema em cores estava bastante em voga pode ter atrapalhado bastante a capacidade da produção de atrair público.
12 Homens e uma Sentença só iria começar a ser “descoberto” pelo público a partir do momento em que começasse a ser exibido na televisão norte-americana. A partir daí, seu status não pararia mais de crescer. Atualmente, o filme é considerado um dos melhores já produzidos pelo cinema norte-americano. Tendo sido, incluído, pelo American Film Institute na edição atualizada de sua lista AFI’s 100 Years…100 Movies, lançada em 2007 e que compila os 100 melhores filmes produzidos pelo cinema norte-americano.
O próprio American Film Institute também considerou 12 Homens e uma Sentença com um dos 100 filmes “mais excitantes” e “mais inspiradores” da história do cinema produzido nos Estados Unidos, além de também ter considerado o filme o segundo melhor drama de tribunal já produzido pelo cinema daquele país. Desde seu lançamento, a obra tem sido alvo de extensa análise tanto de seu enredo e dos arquétipos representados por cada um dos jurados, quanto dos aspectos legais envolvidos no enredo.
O personagem de Henry Fonda, que a princípio é o único que quer discutir a possível inocência do réu, é frequentemente apontado como um exemplo de “homem comum” enfrentando a mentalidade de rebanho e a histeria coletiva e, por esse motivo, tem sido constantemente apontado como um dos maiores heróis da história do cinema. Devido a sua enorme influência na sétima arte, 12 Homens e uma Sentença tem sido readaptado, homenageado, copiado e parodiado frequentemente até os dias atuais. Atualmente, o filme possui 61 críticas reunidas no Rotten Tomatoes, todas elas positivas.
Fanny e Alexander (1982)
O próximo filme da nossa lista é o último trabalho de direção para cinema da carreira de outro gênio do cinema, o cineasta sueco Ingmar Bergman. Concebido para ser o adeus de Bergman das telonas, Fanny e Alexander tem uma forte carga autobiográfica e conta muito da infância do próprio diretor, focando na rotina de dois irmãos que são parte de uma grande família vivendo na Suécia no inicio do século XX.
Como a história a ser contada era longa, Bergman concebeu Fanny e Alexander como uma minissérie para televisão e só depois fez diversos cortes na obra para fazer com que ela tivesse tamanho para ser lançado nos cinemas. Assim, o filme possui dois cortes, um com 188 minutos de duração e que foi, inicialmente, lançado nos cinemas e outro com 312 minutos duração e que foi, originalmente, exibido na televisão sueca, mas que depois também foi disponibilizado em forma de longa-metragem, sendo, atualmente, inclusive, considerado um dos filmes mais extensos da história do cinema mundial.
Escrito pelo próprio Bergman, Fanny e Alexander foi todo rodado em Upsalla, na Suécia, cidade natal do diretor e suas filmagens levaram pouco mais de seis meses para serem completadas. Inicialmente, o filme deveria ser estrelado por Liv Ullmann e Max von Sydow, dois dos atores que mais fizeram sucesso ao lado de Bergman, mas ambos foram substituídos antes mesmo do início das filmagens.
O produtor, cineasta e político finlandês Jörn Donner, aceitou financiar o projeto, desde que todos os membros da produção fossem suecos. De início, Ingmar Bergman duvidou que isso seria possível, mas com pouco tempo, ele percebeu que conseguiria cumprir esse requisito. Assim, Donner conseguiu, junto com o Instituto de Cinema Sueco, levantar a quantia de cerca de 40 milhões de coroas suecas, ou aproximadamente 7 milhões de dólares, para produzir o filme, fazendo de Fanny e Alexander, o filme mais caro da história do cinema sueco até aquele momento.
A versão para cinema de Fanny e Alexander, com 188 minutos de duração, estreou comercialmente na Suécia em 17 de dezembro de 1982 e Ingmar Bergman disse, na época, que fazer o filme chegar a esse tamanho foi “extremamente difícil” e que ele teve que “cortar os nervos e a alma do filme” para isso. Mesmo assim, a obra foi bem recebida pela crítica especializada e, com isso, seus direitos de distribuição foram vendidos para 30 países do mundo, inclusive, para os Estados Unidos, onde a produção estrearia comercialmente em junho de 1983.
Em 1983, Ingmar Bergman lançaria a versão completa do filme, com 312 minutos de duração, nos cinemas suecos e também no Festival de Veneza daquele ano. Ainda naquele mesmo ano, essa versão da obra seria exibida no canal público da Suécia, sendo dividida em cinco episódios. Além disso, um documentário sobre os bastidores da produção do filme seria lançado em 1984.
Como a maioria dos filmes de Bergman, Fanny e Alexander provocou inúmeros debates quando foi lançado. Contudo, a maioria dos críticos especializados, reconheceu imediatamente a qualidade do filme e sua importância na filmografia do cultuado diretor. Na Suécia e na Europa, a obra foi recebida com elogios quase unânimes e foi considerado um dos dez melhores filmes do ano pela prestigiada revista francesa Cahiers du Cinéma.
Nos Estados Unidos, como de costume, as opiniões em relação ao filme ficaram um pouco mais divididas. Contudo, os aspectos técnicos da produção foram unanimemente elogiados e o debate ficou mais restrito a duração do filme, sua qualidade em relação a outras obras do diretor e interpretações em relação ao que Bergman queria mostrar com o filme. Mesmo assim, a produção recebeu diversos elogios de críticos consagrados, como Roger Ebert, Leonard Maltin e Sheila Benson.
Além disso, dentro das limitações do cinema produzido por Bergman, Fanny e Alexander foi um sucesso de bilheteria. Só nos Estados Unidos, o filme arrecadou quase 7 milhões de dólares em bilheterias e sua arrecadação foi considerada “excelente” para um filme que, normalmente, tem apelo apenas em um determinado nicho de público. A obra era, até os anos 1990, dono da quinta maior bilheteria da história de um filme sueco nos Estados Unidos.
Na Suécia, Fanny e Alexander chegou a atrair filas de interessados em assisti-lo no cinema e em outros países da Europa, o filme foi relativamente bem nas bilheterias. A produção seria também uma das mais premiadas daquela temporada, recebendo seis indicações ao Oscar daquele ano, incluindo indicações nas categorias de Melhor Direção e Melhor Roteiro Original, ambas para Bergman, e Melhor Filme Estrangeiro.
O filme venceria na categorias Melhor Filme Estrangeiro e em mais três categorias técnicas, marcando a última indicação ao Oscar da carreira de Bergman e também a última vez que um filme dirigido por ele venceria o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Além disso, as quatro vitórias de Fanny e Alexander naquele Oscar, quebrariam o recorde de maior número vitórias de um filme falado em um língua estrangeira em uma edição da premiação mais importante do cinema.
Esse recorde nunca seria quebrado e só seria empatado quase 20 anos depois, pelo épico de artes marciais taiwanês O Tigre e o Dragão (2000). Fanny e Alexander também recebeu três indicações ao BAFTA e duas ao Globo de Ouro, além de indicações em diversas premiações importantes, como o César, o David di Donatello, o Directors Guild of America e o Guldbagge Awards, entre outros.
Atualmente, Fanny e Alexander é amplamente considerado um dos melhores filmes dirigidos por Ingmar Bergman e um dos melhores filmes de toda a história do cinema, tendo sido incluído em listas de melhores filmes de diversos veículos de imprensa importantes, como as revistas Cahiers du Cinéma e Sight and Sound, pelo jornal The Guardian e pelo canal de televisão BBC. Atualmente, Fanny e Alexander possui 46 críticas reunidas no Rotten Tomatoes, todas elas positivas.
O Exterminador do Futuro (1984)
O próximo filme de nossa lista, é uma produção que mudou para sempre o cinema de ficção científica e ação. É claro que estamos falando de O Exterminador do Futuro (1984). Curiosamente, sua continuação, O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (1991), é até considerado um filme melhor que esse primeiro. Aliás, ele é considerado um dos melhores filmes de ficção científica de toda a história. Contudo, ele atualmente, não mantêm uma taxa de aprovação de 100% no Rotten Tomatoes.
O Exterminador do Futuro foi dirigido e escrito por James Cameron, que concebeu a história durante uma viagem de promoção de Piranhas 2: Assassinas Voadoras (1982), filme de terror que foi sua estreia no cinema e que ele renegou durante boa parte de sua carreira. Cameron então escreveu um roteiro e vendeu os direitos sobre a história para Gale Anne Hurd, que trabalhava no estúdio do mitológico cineasta Roger Corman, com a condição que ela só poderia produzir o filme com ele como diretor.
Hurd (que pouco tempo depois se casaria com Cameron) então, convenceu John Daly a financiar o projeto e a Orion Pictures a distribuir o filme quando ele estivesse pronto. O orçamento de O Exterminador do Futuro foi pequeno para a época, cerca de 6 milhões de dólares, e quase todo mundo considerava o projeto um filme B, de baixo orçamento e com pouco potencial para gerar interesse dos espectadores. O próprio Arnold Schwarzenegger só aceitou atuar no filme porque acreditava que seu possível fracasso não afetaria sua carreira devido a produção ser de baixo orçamento.
O ator, inclusive, foi inicialmente contratado para interpretar o herói Kyle Reese e só depois, devido ao seu tamanho e físico imponente, foi deslocado para o papel do exterminador. A mudança não agradou Schwarzenegger, mas Cameron o convenceu a aceitar o novo papel. O personagem caiu como uma luva para o ator, já que ele tinha pouquíssimas falas e até mesmo seu forte sotaque na época, ajudava a deixar o personagem ainda mais realístico.
As filmagens de O Exterminador do Futuro ocorreram quase todas em locação em Los Angeles e utilizaram muitos efeitos práticos e maquiagens criadas pelos mestres dos efeitos especiais Stan Winston e Gene Warren Jr. Só com o filme já pronto é que a equipe percebeu que poderia ter algo especial em mãos. A Orion Pictures, no entanto, não acreditava no potencial comercial do filme e não organizou nenhuma sessão especial para exibição do filme para críticos de cinema. Os atores que depois exigiram que o estúdio o fizesse.
O Exterminador do Futuro já estreou fazendo sucesso com o público. Com uma arrecadação de cerca de 4 milhões de dólares, o filme liderou as bilheterias norte-americanas em seu final de semana de estreia. A produção iria arrecadar mais de 38 milhões de dólares só nos Estados Unidos e mais 40 milhões de dólares no resto do mundo, totalizando mais de 78 milhões de dólares em bilheterias. Uma fortuna para um filme que havia custado apenas 6 milhões de dólares para ser produzido.
Apesar de atualmente ser considerado um clássico, O Exterminador do Futuro dividiu a crítica especializada na época de seu lançamento. Apesar de alguns veículos, como o jornal Los Angeles Times e as revistas Time e Variety, terem elogiado fortemente o filme e, até mesmo, no caso da Time, incluído a obra em sua lista de melhores do ano, outros, como a famosa crítica de cinema Janet Maslin e o jornal Pittsburgh Press, não ficaram assim tão empolgados com a produção.
Atualmente, no entanto, O Exterminador do Futuro é unanimemente considerado uma dos melhores e mais importantes filmes de ficção científica de toda a história do cinema mundial. A produção é comumente incluída em diversas listas de melhores filmes da história e tem influenciado outras produções desde o seu lançamento há quase 40 anos atrás. O sucesso da obra, transformou James Cameron em um diretor respeitado e Arnold Schwarzenegger em uma estrela global.
Entre a metade dos anos 1980 e a metade dos anos 1990, o ator, inclusive, dominaria o cinema de ação e se tornaria seu maior nome. Diversos personagens e falas que aparecem em O Exterminador do Futuro são conhecidos e utilizados até hoje, incluindo, a famosíssima frase “I’ll be Back” (ou “Eu Voltarei”, em português). É quase impossível calcular a influência que o filme teve no cinema mundial nas últimas quatro décadas. Isso sem falar que a obra deu origem a uma franquia que conta com seis longas-metragens, uma série de televisão e diversas outras produções, que já geraram juntas uma arrecadação superior a 2.1 bilhões de dólares.
Por tudo isso, em 2008, O Exterminador do Futuro foi escolhido para preservação no preservação no National Film Registry devido a sua importância cultural, estética e histórica. Atualmente, o filme possui 70 críticas reunidas no Rotten Tomatoes, todas elas positivas. Curiosamente, como dito antes, sua continuação, O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (1991), possui uma taxa de aprovação de 91%.
Toy Story: Um Mundo de Aventuras (1995) e Toy Story 2 (1999) – Original e continuação com 100% de aprovação no Rotten Tomatoes
Aqui temos um caso muito interessante e, por isso, trapaceamos um pouquinho e colocamos dois filmes juntos. Isso porque, quais são as chances de um filme e sua continuação terem ambos uma taxa de aprovação de 100% no Rotten Tomatoes? Pouquíssimas. Aliás, esse parece ser um caso único. Mais que isso, Toy Story 2 é a animação com mais críticas reunidas no Rotten Tomatoes, sem ter nenhuma negativa
Aliás, entre os filmes, de forma geral, ele é o segundo com mais críticas positivas no site, só perdendo para o drama Sem Rastros (2018). Ainda mais incrível é o fato de Toy Story 3 (2010), filme que fecharia a trilogia, ter 98% de taxa de aprovação no Rotten Tomatoes, o que só prova o trabalho magnifico feito pela Pixar Animation Studios e pela Walt Disney Pictures.
Concebido por John Lasseter, Pete Docter, Andrew Stanton e Joe Ranft, escrito por Joss Whedon, Andrew Stanton, Joel Cohen e Alec Sokolow e dirigido pelo próprio John Lasseter, Toy Story mudou completa e definitivamente a indústria de animação mundial. Isso porque, além de ter sido a primeira animação da história totalmente gerada por computador, o filme também foi o primeiro da parceria entre a Pixar Animation Studios e a Walt Disney Pictures. Esses dois fatos mudaram o cinema para sempre. O enorme sucesso comercial de Toy Story fez com que nos próximos anos, centenas de animações geradas por computador fossem produzidas.
Esse fato, fez com esse tipo de animação dominasse o cinema mundial e se tornasse o padrão. Praticamente, “enterrando” a animação tradicional, que ficou reservada, normalmente, a filmes independentes e animações produzidas na Europa e no Japão. Além disso, a parceria entre Pixar e Disney acabaria por dominar completamente o cinema de animação, produzido inúmeros sucessos de crítica e público nos últimos 30 anos. Não à toa, os filmes da Pixar Animation Studios já receberam 18 indicações ao Oscar de Melhor Animação, vencendo em 11 ocasiões, mais do que qualquer outro estúdio.
Produzido a um custo de 30 milhões de dólares, Toy Story arrecadou mais de 360 milhões de dólares em bilheterias, se tornando dono da segunda maior bilheteria de 1995, ficando apenas cerca de 3 milhões atrás de Duro de Matar 3: A Vingança, dono da maior bilheteria daquele ano. A obra foi também um enorme sucesso de crítica.
Elogiado quase que unanimemente ainda na época de seu lançamento, Toy Story recebeu três indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Trilha Sonora, Melhor Canção Original (para a clássica canção “You’ve Got a Friend in Me”) e Melhor Roteiro Original, se tornando a primeira animação da história a ser indicada a um Oscar nessa categoria.
Além disso, o filme também recebeu um Oscar de “Realização Especial”, por ter sido o primeiro longa-metragem de animação totalmente gerado por computador. Essa foi a penúltima vez, até hoje, que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS), instituição que organiza o Oscar, concedeu esse tipo de prêmio a um filme.
Atualmente, Toy Story é unanimemente considerado uma das melhores animações já produzidas na história e também um dos filmes mais importantes da história do cinema, justamente for ter sido o primeiro longa-metragem de animação totalmente gerado por computador. Em 2005, apenas dez anos após seu lançamento, o filme foi escolhido para preservação no National Film Registry, um dos nove filmes em toda a história, a ter sido escolhido em seu primeiro ano de elegibilidade. Atualmente, Toy Story possui 96 críticas reunidas no Rotten Tomatoes, todas elas positivas.
Toy Story 2 – Um continuação com 100% de aprovação no Rotten Tomatoes
O sucesso absoluto desse primeiro filme, fez com que quatro anos depois fosse lançado Toy Story 2 (1999). Contudo, o processo de produção dessa continuação não foi nem um pouco simples. Na verdade, foi extremamente tumultuado. Isso porque, de início, a Walt Disney pretendia lançar o filme diretamente em VHS, o que era comum com continuações de animações de sucesso naquela época.
Inclusive, como quase toda a equipe da Pixar Animation Studios estava trabalhando na produção de Vida de Inseto (1998), os primeiros trabalhos de desenvolvimento de Toy Story 2 ficaram a cargo de uma equipe paralela que, inicialmente, trabalhava apenas com o desenvolvimento de produtos interativos e video-games relacionados a animações da Walt Disney. John Lasseter, que na época era o chefe criativo da Pixar, checava a qualidade do trabalho de tempos em tempos, já que ele também estava a cargo da direção de Vida de Inseto.
Contudo, em dezembro de 1997, o chefão da Walt Walt Disney Studios, Joe Roth, e o chefe da divisão de animação do estúdio, Peter Schneider, assistiram a uma prévia do filme e ficaram bastante impressionados com o material. Como os custos da produção já estavam altos devido ao retorno de quase todo o elenco principal do primeiro filme e o material produzido até ali parecia promissor, eles resolveram que Toy Story 2 seria agora, lançado nos cinemas.
No entanto, boa parte da equipe criativa da Pixar não estava contente com o desenvolvimento do filme até aquele momento e achava que ele não teria condições de ser lançado nos cinemas como estava. Eles então tentaram convencer a Disney a dar mais tempo para que Toy Story 2 fosse totalmente refeito. Contudo, o estúdio não aceitou a proposta, já que a data de estreia do filme não podia ser mudada de jeito algum.
Convencidos de que a produção não podia ser lançada daquele jeito, pois danificaria a imagem da Pixar, eles pediram a John Lasseter que assumisse a direção do projeto e ele aceitou. Com cerca de nove meses restantes para que Toy Story 2 chegasse as salas de cinema, Lasseter teve que redividir tarefas e pedir a ajuda de alguns membros da produção do primeiro filme.
Em um final de semana, ele reuniu em sua casa, Pete Docter, Andrew Stanton e Joe Ranft, que junto com ele haviam basicamente concebido a história do primeiro filme, e eles trabalharam em sessões de “brain storm” para dar ideias sobre o roteiro de Toy Story 2. Já na segunda-feira seguinte, ele apresentou as ideias para a equipe da Pixar e, dessa forma, foi desenvolvido o enredo final de Toy Story 2.
Lasseter também redividiu tarefas. Ao assumir a direção geral de Toy Story 2, ele deu a Ash Brannon, que antes era o diretor geral do filme, a tarefa de cuidar do desenvolvimento, história e animação da obra. Além disso, Lasseter também chamou para a direção Lee Unkrich, que havia co-dirigido com ele Vida de Inseto (1998), e pediu a ele que cuidasse da parte editorial, de fotografia e layout de Toy Story 2. Enquanto ele próprio, ficou responsável pela parte artística, de luz e modelagem do filme.
Os três se encontravam diariamente para ter certeza que nenhuma parte do desenvolvimento de Toy Story 2 estava atrasada. Apesar disso, a equipe incumbida da produção do filme teve trabalhar incessantemente para terminá-lo a tempo. Isso fez com que diversos membros da equipe desenvolvessem lesões por esforço repetitivo e também obrigou a Pixar a tentar desenvolver mecanismos para tentar controlar as horas de trabalho da equipe e impedir que eles trabalhassem demais.
Para piorar, ainda em 1998, um dos animadores apagou, sem querer, todo o trabalho feito no filme até então, dos servidores da Pixar. Ao tentarem recuperar o que havia sido perdido, através de backups, descobriram que eles não estavam funcionando a cerca de um mês. Assim, dois anos de trabalho de desenvolvimento de Toy Story 2, poderiam ter se perdidos se não fosse um diretor técnico da Pixar que estava trabalhando de casa para cuidar de seu filho recém-nascido e que tinha todo o filme salvo em seu computador pessoal.
Todo esse trabalho, no entanto, valeu a pena. Toy Story 2 estreou comercialmente nos Estados Unidos em 24 de novembro de 1999 e foi um imediato sucesso de crítica e público. Produzido a um custo estimado em cerca de 90 milhões de dólares, o filme arrecadou mais de 511 milhões de dólares em bilheterias, se tornando dono da terceira maior bilheteria de 1999 e batendo diversos recordes de arrecadação pelo caminho.
Toy Story 2 também foi unanimemente bem recebido pela crítica especializada, com muitos críticos, inclusive, considerando o filme melhor que o primeiro lançado em 1995. A produção chegou, até mesmo, a ser elogiada pelo lendário animador Chuck Jones. Toy Story 2 foi indicado ao Oscar na categoria de Melhor Canção Original, em uma época em que a premiação ainda não possuía uma categoria específica para premiar animações em longa-metragem.
Além disso, o filme também foi indicado a dois Globos de Ouro, vencendo na categoria de Melhor Filme – Musical ou Comédia. Isso sem falar em diversas indicações a outras premiações importantes, incluindo, nove indicações ao Annie Awards, a principal premiação da indústria de animação dos Estados Unidos.
Atualmente, Toy Story é amplamente considerada uma das melhores e mais importantes animações já produzidas na história do cinema. O filme possui 171 críticas reunidas no Rotten Tomatoes, todas elas positivas. Dessa forma, a obra é a animação com mais críticas totalmente positivas no site e também o segundo filme, de forma geral, com mais críticas totalmente positivas no site, ficando atrás apenas do drama Sem Rastros (2018).
Conclusão
E aí, gostou do nosso texto? Tentamos compilar uma lista de dez clássicos importantes e conhecidos do cinema que, atualmente, possuem uma taxa de aprovação de 100% no Rotten Tomatoes, que é o principal agregador de críticas especializadas da internet. Como sempre, tentamos explicar o contexto em que o filme foi produzido e lançado, afim de melhorar o entendimento do leitor sobre sua importância. Esperamos que você tenha gostado. Sem sim, não esqueça de deixar seu comentário. Como sempre, ele é muito importante para nós.