O Palácio do Cinema Palazzo, principal
O Palácio do Cinema Palazzo, principal "palco" do Festival de Veneza. Foto de Susan Wright/New York Times.

O Festival de Veneza desse ano começa no próximo dia 30 de agosto. Alguns dias atrás, foi anunciada a lista de filmes que serão exibidos no festival, incluindo, as produções que serão mostradas dentro da competição e, portanto, competirão pelo prestigiado Leão de Ouro e também aquelas que serão exibidas fora de competição, apenas para a apreciação do público presente no festival. Apesar da greve do Sindicato de Atores que tem afetado fortemente diversos eventos da indústria do entretenimento mundo à fora, o festival desse ano traz uma seleção de filmes muito interessante.

O Palácio do Cinema Palazzo, principal "palco" do Festival de Veneza. Foto de Chris Jackson/Getty Images
O Palácio do Cinema Palazzo, principal “palco” do Festival de Veneza. Foto de Chris Jackson/Getty Images.

Nesse texto, analisaremos esses filmes, falaremos um pouco sobre os principais e mais esperado deles, discutiremos também o efeito que a greve pode ter no festival e, da mesma forma, falaremos um pouco sobre os jurados do festival, ou seja, o grupo de pessoas que efetivamente decidirá quais dos filmes exibidos dentro da mostra competitiva sairão de Veneza com um prêmio na mão. Se você quer saber mais sobre o festival desse ano e sobre os filmes que serão exibidos nele, fique conosco até o final desse texto.

80ª edição do Festival de Veneza

Começaremos esse texto, falando brevemente sobre o Festival de Veneza em si, apenas para dar um contexto geral sobre o que é esse festival e qual a sua importância. O Festival de Veneza faz parte do grupo seleto de cinco festivais que compõem a nata de festivais de cinema do mundo, ao lado do Festival de Cannes, do Festival de Berlim, do Festival de Toronto e do Festival Sundance. Ele é também o mais antigo de todos eles.

O famoso Leão de Ouro.
O famoso Leão de Ouro, entregue ao melhor filme do Festival de Veneza. Foto de Dan Kitwood/WireImage.

Fundado em 1932 por Giuseppe Volpi, o festival, desde o seu início, faz parte da Bienal de Veneza, evento cultural que existe desde 1895 e é o mais antigo do tipo. O festival, inclusive, inspirou a criação de seu principal concorrente, o Festival de Cannes, em 1938. Como todos os grandes eventos cinematográficos do tipo, o festival exibe obras tanto em competição quanto fora dela. Além disso, também exibe filmes independentes e, da mesma forma, dá espaço a cineastas em início de carreira.

Os filmes exibidos dentro da mostra competitiva do Festival de Veneza, concorrem ao prestigiado Leão de Ouro, prêmio dado pelo júri da mostra principal ao melhor filme (segundo a opinião deles) exibido dentro da mostra competitiva. Além desse grande prêmio também são entregues o Grande Prêmio do Júri, para o segundo melhor filme, segundo a escolha dos jurados. E o Prêmio Especial do Júri, concedido ao terceiro melhor filme, segundo a escolha do júri, exibido na mostra competitiva.

O famoso Leão de Ouro.
O famoso Leão de Ouro, entregue ao melhor filme do Festival de Veneza. Foto de Dan Kitwood/WireImage.

Atores, atrizes, diretores e roteiristas também são premiados. O melhor diretor da mostra competitiva, recebe o prestigiado Leão de Prata. Já o melhor ator e a melhor atriz, recebem o Coppa Volpi de Melhor Ator ou Melhor Atriz. Já o melhor roteiro ou a melhor contribuição técnica da mostra competitiva, recebe a Osella Dourada. Além disso, desde 1998, intérpretes (sejam atores ou atrizes) podem receber o Prêmio Marcello Mastroianni (nomeado em homenagem ao famoso ator de mesmo nome) e que é entregue a interpretações destacadas em filmes exibidos dentro da mostra.

Além desses prêmios, existe ainda o Leão Especial, que pode ser dado a algum trabalho que o júri considere destacado dentre os filmes que forem exibidos durante a mostra competitiva, o Prêmio Glória ao Cineasta, dado a personalidades da sétima arte que fizeram grandes contribuições para o cinema contemporâneo e o Leão de Ouro pelo Conjunto da Obra, dado a grandes artistas do cinema pelas realizações em suas carreiras. Esses dois últimos prêmios não são competitivos e, por isso, os vencedores são, geralmente, anunciados antes mesmo do início do festival.

Esse ano, por exemplo, a cineasta e roteirista italiana Liliana Cavani e o ator chinês Tony Leung Chiu-wai receberão o Leão de Ouro pelo Conjunto da Obra. Além desses prêmios maiores, dados aos filmes que serão exibidos na mostra competitiva principal, existem ainda, outras premiações distribuídas para as obras que serão exibidas em mostras competitivas menores, como a Seleção Horizontes, que normalmente abriga obras mais alternativas; a Giornate degli Autori (Dias dos Autores, em português), dedicada a filmes e autores independentes e o Leão do Futuro, prêmio concedido a filmes e a cineastas estreantes.

Tony Leung em cena de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (2021). Divulgação Marvel Studios.
Tony Leung em cena de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (2021). Divulgação Marvel Studios.

Não falaremos muito desses prêmios e mostras paralelas aqui, porque elas têm pouca importância para nós nesse momento. Contudo, é importante saber que elas existem. Agora, que você já sabe de forma resumida o que é o Festival de Veneza, qual a sua importância para o cinema e quais prêmios ele distribui, é hora de falarmos de forma mais aprofundada sobre o festival desse ano.

Membros do júri

Começaremos falando do júri, que esse ano está recheado de grandes nomes do cinema mundial. É esse júri, que esse ano será formado por noves profissionais da indústria cinematográfica mundial, que escolhe os vencedores dos principais prêmios da amostra competitiva sobre os quais falamos acima. É importante destacar que além desse júri principal, todas aquelas mostras paralelas, das quais também falamos acima, também tem um júri que escolhe seus vencedores.

Damien Chazelle no DGA Awards. Foto de Chris Pizzello/Invision/AP.
Damien Chazelle no DGA Awards. O cineasta será o presidente do júri da mostra competitiva principal do Festival de Veneza desse ano. Foto de Chris Pizzello/Invision/AP.

Contudo, aqui nesse texto, falaremos apenas do júri da mostra competitiva principal. Discorreremos um pouco sobre cada um deles, começando pelo presidente do júri da mostra competitiva principal desse ano, o diretor e roteirista norte-americano, Damien Chazelle. Com apenas 38 anos de idade, Chazelle já recebeu três indicações ao Oscar, esteve a frente de produções renomadas como Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014) e La La Land (2016) e é considerado um dos cineastas mais proeminentes de sua geração.

Outro nome destacado do júri é o do diretor, roteirista e autor teatral Martin McDonagh. Conhecido por sua dedicação a cada um de seus projetos, todos os filmes de McDonagh costumam ser obras de qualidade inquestionável. Por isso, também, suas produções são, quase sempre, indicadas ao Oscar e também a outras premiações importantes, como o BAFTA e o Globo de Ouro. O diretor esteve a frente de grandes filmes como Três Anúncios Para Um Crime (2017) e Os Banshees de Inisherin (2022).

Martin McDonagh. Foto de Bruce Glikas/WireImage
O cineasta Martin McDonagh. Foto de Bruce Glikas/WireImage

Continuando a lista de membros do júri desse ano, temos a cineasta neozelandesa Jane Campion. Veterana da indústria cinematográfica mundial, Campion é uma das diretoras mais bem sucedidas de toda a história. Sendo a única mulher a ser indicada duas vezes ao Oscar de Melhor Direção e também a primeira cineasta a receber a Palma de Ouro no Festival de Cannes e a primeira mulher a ser agraciada com o Leão de Prata, no próprio Festival de Veneza. Recentemente, Campion dirigiu o filme Ataque dos Cães (2021), pelo qual ela ganhou o Oscar de Melhor Direção.

Outra cineasta de destaque que também está no júri desse ano é a documentarista norte-americana Laura Poitras; Vencedora de diversos prêmios jornalísticos de destaque, como o Pulitizer, por exemplo, Poitras também venceu o Oscar de Melhor Documentário, em 2005, com o filme Citizenfour. Além disso, ela também foi indicada na mesma categoria em 2007 pelo filme My Country, My Country.

Além desses, mais três cineastas integram o júri desse ano: a francesa Mia Hansen-Løve, que é veterana em festivais, já tendo sido premiada em Cannes e em Berlim; o italiano Gabriele Mainetti, vencedor do Prêmio David di Donatello (principal premiação do cinema italiano) de Melhor Diretor e Filme em 2016; e o argentino Santiago Mitre, que recentemente dirigiu o premiado longa-metragem Argentina, 1985 (2022), que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional desse ano.

A atriz taiwanesa Shu Qi posa após ganhar o prêmio de Melhor Atriz do Asian Film Awards em Macau, China. Foto de AP Photo/Kin Cheung, File.
A atriz taiwanesa Shu Qi posa após ganhar o prêmio de Melhor Atriz do Asian Film Awards em Macau, China. Foto de AP Photo/Kin Cheung, File.

Além desses cineastas, dois intérpretes, um ator e uma atriz, completam o grupo de nove pessoas que escolherá os vencedores do Festival de Veneza desse ano. O ator é o palestino Saleh Bakri, que possui um carreira de mais de 15 anos no cinema e esteve em diversas produções palestinas e internacionais de destaque, como os longa-metragens Quando Vi Você (2012) e Wajib – Um convite de casamento (2017). Já a atriz é a taiwanesa Shu Qi, um dos nomes mais renomados do cinema asiático, a atriz trabalhou com nomes de peso como, Hou Hsiao-hsien, Stephen Chow e Jackie Chan.

Filmes em competição no Festival de Veneza

Agora que já falamos sobre os nove membros do júri que irão decidir os premiados do Festival de Veneza desse ano, vamos falar um pouco sobre os filmes que serão exibidos na mostra competitiva principal do festival. Começaremos falando sobre o drama de guerra italiano Comandante que abre o festival desse ano. A obra, substitui o filme Rivais, de Luca Guadagnino, que abriria o festival, mas cuja estreia foi adiada para o ano que vem devido à greve do Sindicato dos Atores dos Estados Unidos.

Imagem do filme italiano "Comandante".
Imagem do filme italiano “Comandante”., que abrirá o Festival de Veneza desse ano, substituindo Rivais. Divulgação Rai Cinema.

Comandante, é baseado na história real de Salvatore Todaro, capitão do navio italiano Comandante Cappellini que, durante a Batalha do Atlântico na Segunda Guerra Mundial, acaba afundando o navio belga Kabalo e mesmo contra as ordens de seu superiores decide ir em uma missão perigosíssima de três dias para resgatar os tripulantes do navio afundado. Além de Comandante, o festival está repleto de outras produções muito esperadas.

A primeira delas que destacamos, é o drama biográfico Ferrari. O aguardado novo filme de Michael Mann, conta a história de Enzo Ferrari, criador da famosa marca de carros de mesmo nome. O filme acompanha a rotina de Ferrari em 1957, quando ele estava em um dos piores momentos de sua vida tanto pessoal quanto profissional. A obra conta com Adam Driver no papel de Enzo e de Penélope Cruz, no papel de sua esposa, Laura. A estreia do filme é super aguardada e muitos críticos já apontam para possíveis indicações ao Oscar para a produção.

Set do filme Ferrari na Piazza Vittoria em Bréscia em 10 de outubro de 2021. Foto de Christian Penocchio.
Set do filme Ferrari na Piazza Vittoria em Bréscia em 10 de outubro de 2021. Foto de Christian Penocchio.

Outro filme de destaque na mostra competitiva desse ano é Maestro. A obra dirigida e protagonizada por Bradley Cooper também é um drama biográfico e conta a história do compositor Leonard Bernstein, considerado por muitos um dos maiores músicos americanos da história. A produção conta ainda com um elenco de peso que contêm nomes, como Carey Mulligan, Matt Bomer e Maya Hawke. Assim como no caso de Ferrari, muita gente acha que Maestro pode ser um forte concorrente ao Oscar do ano que vem.

Outra produção com chances no Oscar do ano que vem e que estará na mostra competitiva do Festival de Veneza desse ano é The Killer, de David Fincher. O thriller psicológico, é estrelado por Michael Fassbender e é baseado em uma graphic novel francesa de mesmo nome. Uma produção original de Netflix, a obra pode muito bem se destacar em Veneza e chamar atenção dos votantes do Oscar. Ainda mais porque os filmes de David Fincher não costumam ser ignorados pela Academia.

Bradley Cooper e Carey Mulligan em cena de Maestro. Divulgação Netflix.
Bradley Cooper e Carey Mulligan em cena de Maestro. Divulgação Netflix.

Outro filme de destaque na mostra competitiva desse ano é DogMan, novo filme do diretor francês Luc Besson. Conhecido pelo estilo único de seus filmes que misturam ação com uma forte preocupação com a estética de cada cena, Besson se tornou, além de cineasta bem-sucedido, um dos principais produtores de cinema da Europa, ao fundar a produtora EuroCorp, que nos últimos 20 anos, tem produzido inúmeros sucessos de bilheteria.

Também entre os filmes mais esperados da mostra competitiva está Priscilla, de Sofia Coppola, outro drama biográfico, que conta a história de Priscilla Presley e de seu relacionamento com o Rei do Rock, Elvis Presley. Uma das diretoras americanas mais interessantes, Coppola dificilmente dirige um filme ruim e, por isso, suas produções são sempre muito aguardadas, principalmente, por aqueles que curtem o chamado “cinema de arte”.

Michael Fassbender em cena de The Killer. Divulgação Netflix.
Michael Fassbender em cena de The Killer. Divulgação Netflix.

Por último, destacamos a fantasia surrealística Pobres Criaturas, do diretor grego Yorgos Lanthimos. Estrelado por Emma Stone e com um elenco estrelar que conta com nomes, como Willem Defoe e Mark Ruffalo, a obra conta a história de uma bela jovem da era vitoriana que é trazida de volta a vida por um “cientista louco”. Lanthimos é conhecido por dirigir produções com roteiros criativos e até, considerados por muitos, absurdos.

Entre os maiores destaques recentes de sua carreira estão A Lagosta (2015), O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017) e A Favorita (2018). Esse último, inclusive, lhe deu uma indicação ao Oscar de Melhor Diretor. Por tudo isso, muita gente também aposta nas chances de Pobres Criaturas, no Oscar do ano que vem.

Emma Stone em cena de Pobres Criaturas. Divulgação 	Searchlight Pictures.
Emma Stone em cena de Pobres Criaturas. Divulgação Searchlight Pictures.

Além dos filmes destacados aqui por nós, outras 16 produções, incluindo o novo filme do premiado diretor japonês Ryusuke Hamaguchi, competirão pelo prestigiado Leão de Ouro. E todos eles, têm chances reais de levar esse e os outros prêmios da mostra competitiva para casa.

Filmes fora de competição

Agora que já falamos sobre a mostra competitiva, vamos falar um pouco mais sobre os filmes que serão exibidos fora de competição. Ou será, serão mostrados apenas para o deleite do público presente no festival e não estarão concorrendo a nenhum prêmio. Aqui, é que estão as duas maiores polêmicas do festival desse ano. Falaremos sobre isso um pouco mais abaixo.

Imagens do filme A Sociedade da Neve (2023).
Imagens do filme A Sociedade da Neve (2023). Divulgação Netflix.

Contudo, vamos começar essa seção do nosso texto falando sobre thriller A Sociedade da Neve, dirigida pelo espanhol J. A. Bayona. A película, é baseada em uma história real e bastante conhecida, a queda do Voo Força Aérea Uruguaia 571, ocorrida em 13 de outubro de 1972. A aeronave que levava uma equipe de rugby uruguaio entre seus passageiros, acabou caindo em uma parte isolada da Cordilheira dos Andes e seus sobreviventes levaram 72 dias para serem encontrados.

Durante esse período, 17 dos sobreviventes iniciais da queda, acabaram morrendo de frio, fome, ferimentos causados pelo acidente e outros motivos. Os outros sobreviventes, inclusive, tiveram que apelar para o canibalismo e consumir partes dos corpos desses mortos. Essa história já foi contada em diversos livros, documentários, produções televisivas e outros filmes para cinema. A Sociedade da Neve, será a produção que encerrará o Festival de Veneza, sendo exibido no último dia do festival, em 9 de setembro.

Woody Allen durante as filmagens de Coup de chance. Divulgação.
Woody Allen durante as filmagens de Coup de chance. Divulgação Metropolitan Filmexport.

Agora, vamos falar dos outros destaques exibidos fora de competição e também das polêmicas envolvendo a seleção desse ano. A primeira polêmica está na seleção de Coup de chance, novo filme de Woody Allen, para ser exibido fora da mostra competitiva. Allen, foi acusado em 1992, de ter abusado de sua filha adotiva Dylan Farrow. A justiça, na época, investigou o caso, mas decidiu que não havia indícios suficientes para levar o caso para frente. Contudo, em 2014, a acusação voltou aos jornais.

A partir do final de 2017, Allen se tornou um dos principais alvos do movimento MeToo, que na época estava ganhando bastante destaque na mídia norte-americana. Assim, o diretor acabou por ser visto como persona non grata nos Estados Unidos e na indústria do entretenimento daquele país. Allen, que costumava lançar pelo menos um filme por ano, só lançou dois filmes desde então, ambos com distribuição limitadíssima nos Estados Unidos e em diversos outros países do mundo.

Roman Polanski durante as filmagens de The Palace. Imagens: Eliseo Multimedia
Roman Polanski durante as filmagens de The Palace. Imagens: Eliseo Multimedia

Já a outra polêmica está também na seleção de outro filme para ser exibido fora de competição em Veneza, a comédia The Palace. Isso porque, o longa-metragem é dirigido por Roman Polanski. O cineasta franco-polonês é foragido da justiça norte-americana há 45 anos, desde que foi acusado (e preso) de manter relações sexuais com uma menina de 13 anos, em 1977. Desde então, o diretor está impedido de entrar nos Estados Unidos e enfrenta diversos problemas com a justiça. Ele, inclusive, está na lista de procurados da Interpol e, por esse motivo, raramente deixa a França, país onde possui cidadania.

O mandado de prisão contra ele, no entanto, não o impede de continuar a fazer filmes e até mesmo ganhar prêmios importantes, como o Oscar, que ele ganhou em 2002 na categoria de Melhor Diretor, por seu trabalho em O Pianista. O caso de Polanski é ainda mais complexo porque ele é defendido por diversas personalidades do cinema e até mesmo pela vítima do caso, que já disse algumas vezes que a repercussão do caso na mídia causou mais problemas para ela do que o ocorrido em si.

Benedict Cumberbatch em cena de The Wonderful Story of Henry Sugar. Divulgação Netflix.
Benedict Cumberbatch em cena de The Wonderful Story of Henry Sugar. Divulgação Netflix.

Agora, deixando de lado as polêmicas, vamos falar de outros destaques da mostra não competitiva. Destacamos aqui, os novos trabalhos de três cineastas bastante conhecidos: William Friedkin, Richard Linklater e Wes Anderson. Friedkin, vai a Veneza para apresentar o drama legal The Caine Mutiny Court-Martial, baseado no livro O Motim Do Caine, de Herman Wouk e que já foi adaptado outras vezes para o cinema. Friedkin, que foi uma das figuras mais proeminentes do cinema nos anos 1970 e 1980, não lança um filme há seis anos. Por isso, a ansiedade é grande em torno desse seu novo trabalho.

Já o filme que Linklater irá apresentar em Veneza é uma comédia de ação chamada de Hit Man. O cineasta é um dos roteiristas mais brilhantes de sua geração e quase todas as suas obras costumam ser bastante interessantes. Muito apreciado por aqueles cinéfilos que gostam de cinema alternativo, a estreia de Hit Man em Veneza é bastante esperada por esse público em específico e também por jornalistas e especialistas da indústria cinematográfica.

Cena de Hit Man, de Richard Linklater. Divulgação.
Cena de Hit Man, de Richard Linklater. Divulgação.

Por último, temos Wes Anderson que em Veneza apresentará seu curta-metragem The Wonderful Story of Henry Sugar que se baseia na coletânea de contos de mesmo nome escrita por Roald Dahl. Anderson está em alta em Hollywood, já que seu longa-metragem Asteroid City, estreou com grande sucesso em junho nos Estados Unidos e tem grandes chances de ser indicado ao Oscar do ano que vem.

Greve dos atores

Agora que já demos um panorama geral do que deve ser o Festival de Veneza desse ano, vamos falar um pouco da principal “dor de cabeça” que os organizadores do evento devem enfrentar, a greve do Sindicato dos Atores dos Estados Unidos (SAG-AFTRA). Se você tem lido sobre cinema e televisão nas últimas semanas, você já deve ter ouvido falar nessa greve. Desde o último dia 14 de julho, o SAG-AFTRA está de greve. Isso significa, não apenas, que nenhum de seus filiados pode atuar em filmes e outras produções audiovisuais, mas também que eles não podem participar de nenhum evento promocional e de divulgação dessas produções.

Zendaya, Josh O'Connor e Mike Faist em cena do trailer de Rivais (2023).
Zendaya, Josh O’Connor e Mike Faist em cena do trailer de Rivais (2023), filme que abriria o Festival de Veneza desse ano.

Como praticamente todos os atores com carreira minimamente estabelecida nos Estados Unidos são filiados ao Sindicato (explicamos tudo de forma bem detalhada nesse texto aqui), isso significa que praticamente toda a indústria do entretenimento norte-americano está parada devido à greve. Ela, inclusive, já afetou o próprio Festival de Veneza, já que como falamos acima, o filme que deveria abrir o festival, Rivais, teve sua estreia adiada para o ano que vem (e consequentemente não será exibido no festival) justamente devido à greve.

Isso porque, todos esses eventos e festivais, assim como também a promoção de filmes e séries de televisão, dependem muito dos atores, já que são eles as grandes estrelas que atraem a atenção do público. É por isso, que muitos estúdios preferem adiar a estreia dessas produções do que estreá-las sem a presença de seus atores e atrizes principais.

Fran Drescher, presidente da SAG-AFTRA, em protesto durante a Greve do Sindicato dos Atores. Foto de Gary Baum/THR Staff.
Fran Drescher, presidente da SAG-AFTRA, em protesto durante a Greve do Sindicato dos Atores. Foto de Gary Baum/THR Staff.

No entanto, apesar da greve, os organizadores do festival garantem que o evento ocorrerá “normalmente”. Afim de, de alguma forma, minimizar os dados causados pela greve, os organizadores deram prioridade a exibição no festival de filmes europeus, que foram menos afetados pela greve. Assim, é possível perceber a presença de poucos filmes norte-americanos na seleção, sendo que quase todos eles, são filmes mais alternativos e independentes.

Outra medida tomada pelos organizadores, é a tentativa de negociar com o Sindicato exceções temporárias para que atores e atrizes que atuaram em filmes que serão exibidos em Veneza, possam comparecer ao festival. O Sindicato, já vem concedendo essas exceções a algumas produções mais independentes e menores, que geralmente são aquelas com orçamentos menores e que, igualmente, são as mais prejudicadas pela greve.

Atores e roteiristas fazem piquete em frente aos estúdios da Paramount em Los Angeles na sexta-feira, 14 de julho de 2023. Foto de Chris Pizzello/AP Photo
Atores e roteiristas fazem piquete em frente aos estúdios da Paramount em Los Angeles na sexta-feira, 14 de julho de 2023. Foto de Chris Pizzello/AP Photo

Por último, os organizadores do festival ainda têm a esperança de que até a sua abertura, em 30 de agosto, a greve já tenha acabado. Nesse caso, os atores e atrizes estariam completamente livres para comparecerem ao festival. Nesse caso também, seria até possível que o festival anunciasse a adição de outros filmes a sua seleção inicial. Agora é aguardar e ver o que acontece. Ainda falta um mês para o festival e até lá a greve pode já ter terminado.

Conclusão

E aí, gostou da nossa análise completa sobre o Festival de Veneza desse ano? Se sim, não esqueça de deixar o seu like e também seu comentário.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui