Atores e roteiristas fazem piquete em frente aos estúdios da Paramount em Los Angeles na sexta-feira, 14 de julho de 2023. Foto de Chris Pizzello/AP Photo
Atores e roteiristas fazem piquete em frente aos estúdios da Paramount em Los Angeles na sexta-feira, 14 de julho de 2023. Foto de Chris Pizzello/AP Photo

Se você gosta de ler sobre cinema, televisão e entretenimento de uma forma geral, você deve ter visto que nos últimos dias, o Sindicato dos Atores dos Estados Unidos (conhecido pela sigla, SAG-AFTRA) entrou em greve na última sexta-feira, 14 de julho. Mas, afinal de contas, o que é esse sindicado, como ele funciona, por que sua greve “parou” Hollywood e parte da indústria do entretenimento mundial? Bem, é isso que explicaremos nesse texto. Se você quer saber a resposta para todas essas perguntas, leia esse texto até o final.

Lembrando que esse texto é parte da nossa série “O que é“, onde explicamos de forma bastante completa diversos termos e tecnicidades do mundo do entretenimento.

O que é o Sindicato dos Atores

O Screen Actors Guild – American Federation of Television and Radio Artists (SAG–AFTRA), traduzido no Brasil pela imprensa como “Sindicato dos Atores” ou “Sindicato dos Atores de Hollywood”, é a organização que representa atores de cinema e televisão, jornalistas, personalidades do rádio, cantores, dubladores, profissionais da indústria fonográfica, influenciadores da internet, modelos e outros profissionais de mídia não apenas nos Estados Unidos, mas também em diversas partes do mundo.

Membro do Sindicato dos atores (SAG-AFTRA) fazem protesto em apoio a greve de roteiristas.
Membro do Sindicato dos atores (SAG-AFTRA) fazem protesto em apoio a greve de roteiristas.

A organização, na verdade, é resultado da fusão de dois sindicatos, o Screen Actors Guilt que originalmente representava principalmente atores de cinema e televisão e o American Federation of Television and Radio Artists, que originalmente representava profissionais de rádio, televisão, jornalistas e artistas da indústria fonográfica. A fusão ocorreu em 2012 e criou uma das uniões trabalhistas mais fortes da indústria do entretenimento no mundo.

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Screen Actors Guild

O Screen Actors Guild (ou “Sindicato dos Atores de Tela”, na tradução literal) foi fundado em 1933 em Hollywood e sua principal missão era tentar acabar com a exploração de atores de cinema e tentar, também, melhorar as condições de trabalho desses profissionais. Na época, o cinema era uma arte relativamente nova e em franco crescimento e atores começam a se tornar estrelas. Muitos dos estúdios aproveitavam as oportunidades desse setor em ascensão para poder ganhar muito dinheiro, enquanto que os atores eram, muitas vezes, deixados de lado e não ganhavam o que “era merecido”.

O comediante, ator e produtor americano Eddie Cantor.
O comediante, ator e produtor americano Eddie Cantor, foi extremamente importante para a fundação tanto do SAG quanto do AFTRA, tendo sido o primeiro presidente do AFTRA e o segundo do SAG.

No início, o Sindicato enfrentou resistência até mesmo entre os atores, principalmente, aqueles mais estabelecidos e que já haviam atingido o estrelato. Contudo, uma decisão dos estúdios na época, fez com que muitos desses atores mudassem de opinião e se juntassem ao SAG. Na ocasião, os estúdios decidiram que não iam realmente competir entre eles pela contratação dos atores. Assim, eles acreditavam que conseguiram contratar os atores por preços menores. Ou seja, formaram uma espécie de cartel.

Quando os atores ficaram sabendo disso, houve repúdio generalizado em Hollywood e o Sindicato, que tinha menos de 100 membros na época, passou a ter mais de 4 mil em menos de um mês. A maioria deles concordou que um acordo coletivo com os estúdios beneficiaria não apenas os profissionais já no auge da carreira, mas também aqueles ainda iniciando em Hollywood e que enfrentavam condições de trabalho ainda mais desfavoráveis.

O ator Ralph Morgan nos anos 1940. Foto de Film Favorites/Getty Images
O ator Ralph Morgan nos anos 1940. O ator foi o primeiro presidente do SAG. Foto de Film Favorites/Getty Images

Em 1935, com a aprovação pelo Congresso Americano da Lei Nacional de Relações Trabalhistas, que legalizou no país a formação de sindicatos, acordos coletivos e o direito a greve, as coisas mudaram em favor do SAG e dois anos depois, os estúdios aceitaram negociar com o Sindicato o que seria o primeiro acordo coletivo do tipo.

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American Federation of Television and Radio Artists

Já a American Federation of Television and Radio Artists (ou “Federação Americana de Artistas de Rádio e Televisão” em tradução livre), foi criada em 1937 com o nome de “Radio Actors Guild”, justamente na esteira da aprovação da Lei Nacional de Relações Trabalhistas, em 1935. Fundada por radialistas em Los Angeles, inicialmente, sua pretenção era representar justamente artistas de rádio e da indústria fonográfica. Rapidamente, no entanto, a instituição também cresceu para além de Los Angeles, abrindo “filiais” em Nova York e Chicago, e se tornando nacional.

O ator Ken Howard. Foto de Paul Archuleta/Getty.
O ator Ken Howard, que presidia a SAG quando a organização se fundiu com a AFTRA em 2012. Foto de Paul Archuleta/Getty.

Em 1938, a instituição conseguiu negociar seu primeiro grande acordo coletivo com a NBC e a CBS, as duas principais redes de rádios da época. Já em 1939, com cerca de dois anos desde sua criação, a organização já representava cerca de 70% dos artistas de rádio dos Estados Unidos. Em 1952, o sindicato, que na época se chamava “ American Federation of Radio Artists”, se fundiu com a Television Authority (ou “Autoridade de Televisão”, na tradução literal) e passou a também representar artistas e profissionais de televisão, mudando seu nome para American Federation of Television and Radio Artists.

Em 30 de março de 2012, como dissemos antes, a American Federation of Television and Radio Artists e o Screen Actors Guild se fundiram passando a representar 160 mil artistas, atores e profissionais de rádio e televisão dos Estados Unidos e também de outros países do mundo e se tornando uma das organizações trabalhistas mais poderosas e importantes da indústria do entretenimento mundial.

Como funciona o SAG-AFTRA?

Entender como o Sindicato dos Atores funciona e como os atores se filiam a ele, é de suma importância para entender porque a greve atual (e todas as outras promovidas por esse sindicato) tem uma força tão grande. Pois bem, como dissemos nos parágrafos anteriores, uma das principais atribuições do SAG-AFTRA é negociar acordos coletivos. Esses acordos ditam as regras sobre condições de trabalho, salários, etc.

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Nick Counter, que presidiu a AMPP entre 1982 e 2009.
Nick Counter, que presidiu a AMPP entre 1982 e 2009.

Essa negociação é feita de tempos em tempos entre o Sindicato e a Alliance of Motion Picture and Television Producers (ou “Aliança de Produtores de Cinema e Televisão”, na tradução literal), que também é conhecida pela sigla AMPTP, e que representa 350 dos principais estúdios e empresas produtoras de conteúdo audiovisual dos Estados Unidos.

A organização representa todos os grandes estúdios de Hollywood, incluindo os chamados “Big Five” (Universal Pictures, Paramount Pictures, Warner Bros. Entertainment, Walt Disney Studios e Sony Pictures); todos os grandes canais de televisão dos Estados Unidos, como a ABC, a CBS, a FOX e a NBC; todas as grandes plataformas de streaming do mercado, como a Netflix, a Apple+ e a Amazon Prime Video, além de inúmeras outras produtoras, estúdios e empresas menores.

Carol Lombardini, atual presidente da AMPP.
Carol Lombardini, atual presidente da AMPP.

A organização tem poder para representar essas empresas em 80 acordos com efeito em âmbito nacional e que afetam toda a indústria do entretenimento norte-americano. O último acordo assinado entre a AMPTP e a SAG-AFTRA foi em 2020 e expiraria em 30 de junho desse ano. Contudo, devido ao fato de as negociações estarem emperradas, as duas organizações concordaram em estender essa prazo até 12 de julho.

Como você pôde perceber, praticamente todas as grandes empresas da televisão, rádio e cinema norte-americano são filiadas a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão, mas como será que ocorre a filiação de atores e atrizes ao SAG-AFTRA? Aqui está o “pulo do gato” para explicar porque essa greve é tão grave para a indústria do entretenimento norte-americano e, por que não dizer, mundial.

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O ator Barry Gordon
O ator Barry Gordon serviu como presidente do SAG entre 1988 e 1995, o maior período até agora.

Praticamente todo ator ou atriz com carreira minimamente estabelecida no cinema, rádio ou televisão dos Estados Unidos é filiado ao Sindicato dos Atores. Inclusive, é comum os atores se filiarem assim que assinam seu primeiro contrato profissional ou conseguem seu primeiro “trabalho maior”. Isso é, até mesmo, considerado um rito de passagem para muita gente. Aquele momento em que o ator ou atriz realmente considera que se tornou “profissional”.

Mas por que isso acontece? O motivo é muito simples. Como explicamos, quase todos os estúdios e produtoras dos Estados Unidos estão filiados ao AMPTP e essa organização negocia os acordos trabalhistas coletivos com o SAG-AFTRA. Assim, se um ator quiser trabalhar em algum projeto desenvolvido por algum desses 350 membros da AMPTP, ele terá que fazê-lo dentro das regras estabelecidas por esses acordos coletivos. E para isso, ele terá que se filiar ao SAG-AFTRA.

Se não se filiar, não trabalha. Simples assim. Dessa forma, para trabalhar na indústria do entretenimento norte-americano, sem se filiar ao SAG-AFTRA, é necessário trabalhar em um projeto de uma empresa que não seja filiado ao AMPTP. É por isso que, como reportamos alguns dias atrás, o Sindicato estava permitindo que atores filiados a ele, trabalhassem em produções de empresas que não são filiadas ao AMPTP, que, geralmente, são produtoras independentes e de pequeno porte.

Roberta Reardon, última presidente da AFTRA, antes da fusão com o SAG. Foto de Larry Busacca/Getty Images.
Roberta Reardon, última presidente da AFTRA, antes da fusão com o SAG. Foto de Larry Busacca/Getty Images.

A questão é que quase todos os estúdios e produtoras já estabelecidas nos Estados Unidos são filiadas, só mesmo aquelas bem pequenas não são. Dessa forma, assim que o ator começa a se estabelecer no mercado, ele provavelmente já trabalhará em um projeto desenvolvido por uma dessas empresas e terá que se filiar ao Sindicato. Por isso, pode-se dizer que praticamente qualquer ator ou atriz com carreira minimamente estabelecida no cinema, rádio ou televisão dos Estados Unidos é filiado ao Sindicato dos Atores.

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E não é só isso? A maioria dos atores ficam ansiosos por se filiar. Até porque, as condições de trabalho e salário dos filiados são, normalmente, bem melhores do que os dos atores não filiados ao Sindicato de Atores. É aí que está a força do SAG-AFTRA e também da greve atual, que tem o poder de literalmente parar Hollywood.

Inteligência artificial e motivos para a greve

Os motivos para a greve são muitos, mas além dos motivos financeiros, um dos principais razões por trás da greve é a questão do uso de inteligência artificial em produções audiovisual. Esse também é um dos grandes motivos que motivaram a greve dos roteiristas, da qual falaremos um pouco mais abaixo. Mas aqui, a principal preocupação dos atores é o uso de sua imagem sem autorização ou pagamento.

Versão de John Connor (Edward Furlong) de Exterminador do Futuro 2, que foi usada como base para a curta aparição do personagem em O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio (2019).
Versão de John Connor (Edward Furlong) de Exterminador do Futuro 2, que foi usada como base para a curta aparição do personagem em O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio (2019).

Com a tecnologia atual, é possível criar “duplicatas” bastante realísticas dos atores e usá-las em filmes e séries sem que o ator em si precise estar presente. Esse tipo de tecnologia já foi usada muitas vezes nos últimos anos. Em O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio (2019), por exemplo, temos a aparição logo no início do filme, da versão de John Connor que aparece em O Exterminador do Futuro 2 (1991), que na ocasião foi interpretado por Edward Furlong que, na época era uma adolescente.

Essa nova aparição de John Connor foi feita sem a presença de Furlong que, atualmente, já tem 45 anos de idade. Contudo, foi um fato ocorrido recentemente que fez com que os holofotes voltassem para essa questão. O filme The Flash (2023), literalmente, “ressuscitou” diversos atores e atrizes, ao utilizar suas imagens no filme. Entre os que foram trazidos de volta pelo filme estão os atores Christopher Reeve, Adam West e George Reeves.

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Apesar de essa técnica já ter sido utilizada antes para “ressuscitar” atores, como em Rogue One: Uma História Star Wars (2016) e Ghostbusters: Mais Além (2021), o uso massivo em The Flash causou não apenas polêmica, mas também temor em Hollywood. Isso porque, desde que os atores começaram a ser creditados e se tornaram “famosos” nos anos 1910, um dos principais “ativos” deles, é justamente sua imagem.

Harold Ramis trazido de volta a vida em cena de Ghostbusters: Mais Além (2021).
Harold Ramis trazido de volta a vida em cena de Ghostbusters: Mais Além (2021).

Dessa forma, muito dos salários altos que os atores e atrizes famosos recebem para aparecer em filmes está ligado ao fato de que apenas a presença deles ali, já atrai público. Outra questão, é a questão do poder de decisão dos atores. Em uma situação normal, eles podem escolher em que filmes aparecer. Ou seja, podem escolher de quais projetos desejam participar ou não. Agora, imagine se os estúdios pudessem usar a imagens desses atores sem permissão deles e sem, eventualmente, nem sequer pagar por isso.

Esses estúdios poderiam colocar a imagem do ator em qualquer filme que quisessem e explorar essa imagem até mesmo depois que o ator morrer. Esse é um temor de muita gente em Hollywood. Não só porque, nesse caso, os atores perderiam seus empregos, seu principal ativo e seu poder de negociação, mas também porque, nesses casos, suas imagens poderiam ser usadas em projetos que o ator, por exemplo, despreza. É por isso que, nesse sentido, muitos atores e atrizes veêm a greve como uma momento de virada ou de decisão.

Ou seja, um momento de definir essa questão de uma vez por todas, antes que “seja tarde demais”. No caso dos roteiristas, a questão é bem parecida. O temor aqui é de que esses profissionais sejam substituídos por ferramentas de inteligência artificial, como o ChatGPT, por exemplo, que possam escrever roteiros inteiros no lugar dos roteiristas de carne e osso. Isso não apenas tornaria esses profissionais obsoletos, mas também levantaria outras questões sobre autoria, por exemplo.

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Carrie Fisher "de volta a vida" em cena de Rogue One: Uma História Star Wars (2016).
Carrie Fisher “de volta a vida” em cena de Rogue One: Uma História Star Wars (2016).

Já que os roteiros não teriam autor, os estúdios poderiam usá-los da maneira que quiserem sem compensar ou mesmo creditar os roteiristas. Nesse caso, inclusive, a questão é ainda mais urgente, já que esse tipo de ferramenta já está disponível até para “pessoas comuns” na internet. Ou seja, o momento em que os roteiristas serão “dispensáveis” parece estar mais próximo do que o momento em que os atores serão coisa do passado.

Força da greve e comparação com a greve dos roteiristas

A força da greve está justamente no fato de que todos os atores e atrizes filiados ao Sindicato dos Atores (SAG-AFTRA) são obrigados a parar de trabalhar. E como dissemos antes, praticamente todos os atores e atrizes com uma carreira minimamente estabelecida na indústria do entretenimento norte-americana são filiados ao Sindicato. Isso significa que efetivamente a maioria esmagadora dos intérpretes atuando na indústria tiveram que parar de trabalhar.

Membro do Sindicato dos Roteiristas fazendo piquete em frente ao Sunset Bronson Studios em de Maio desse ano. Foto de Gilbert Flores via Getty Images
Membro do Sindicato dos Roteiristas fazendo piquete em frente ao Sunset Bronson Studios em de Maio desse ano. Foto de Gilbert Flores via Getty Images

Além disso, diversos atores de outros países, mas que também tem carreira estabelecida nos Estados Unidos e, portanto, são filiados ao sindicato, são obrigados a cumprir a ordem de paralisação. Isso significa que além de afetar a indústria norte-americana, a greve também afeta produções em outros países. Isso porque, esses atores são normalmente já bastante estabelecidos em seus países de origem quando chegam a Hollywood.

Mas e se o ator não quiser parar de atuar? Se ele for contra a greve? Isso não importa. Qualquer ator ou atriz filiada ao Sindicato que “quebrar o piquete” e continuar a trabalhar durante a paralisação corre o risco de ter sua filiação suspensa ou até mesmo ser expulso do Sindicato. E como praticamente todos os estúdios e produtoras grandes trabalham seguindo as normas dos acordos coletivos assinados entre o SAG-AFTRA e a AMPTP, isso significaria que o ator não conseguiria mais trabalhar em Hollywood.

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Membros do Sindicato dos Atores (SAG-AFTRA) anunciando o início da paralisação. Foto de Frazer Harrison/Getty Images.
Membros do Sindicato dos Atores (SAG-AFTRA) anunciando o início da paralisação. Foto de Frazer Harrison/Getty Images.

Ou seja, não vale a pena quebrar o piquete e arriscar toda uma carreira, muitas vezes construída com enorme dificuldade. Note-se também que a esmagadora maioria dos atores é favorável a paralisação. Muitos deles, inclusive famosos, estão em frente aos estúdios protestando e tentando forçar a AMPTP a aceitar um acordo que seja mais favorável aos atores.

Outro aspecto importante também é que, diferentemente da greve dos roteiristas, a greve dos atores tem um impacto atual muito grande nos estúdios. Isso porque, a greve dos roteiristas afeta mais diretamente projetos ainda no início do processo de produção. Ou seja, aqueles projetos em que os roteiros ainda não estão totalmente prontos. Contudo, a greve não afeta produções já em processo de filmagem, pós-produção ou lançamento, já que nessas etapas do projeto o trabalho dos roteiristas já não é tão importante.

Fran Drescher, presidente da SAG-AFTRA, em protesto durante a Greve do Sindicato dos Atores. Foto de Gary Baum/THR Staff.
Fran Drescher, presidente da SAG-AFTRA, em protesto durante a Greve do Sindicato dos Atores. Foto de Gary Baum/THR Staff.

É por isso, que os estúdios têm aguentado bem a greve dos roteiristas que já dura dois meses e meio. Assim, a greve deve ter mais impacto a médio e longo prazo, afetando diretamente projetos futuros. Dessa forma, se a greve demorar muito para acabar, ai sim, o impacto pode ser grande e perturbar todo o calendário de lançamentos dos estúdios.

Já no caso da greve dos atores, a coisa é bem diferente. Ela atinge todas as etapas do processo de produção de um projeto, a partir do momento em que ele recebe a luz verde para ser rodado/filmado. Só o que escapa, são as etapas de pré-produção onde o trabalho do ator ainda não é necessário. Contudo, todos os projetos sendo filmados ou até mesmo sendo lançados serão afetados diretamente pela greve.

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Membros do Sindicato dos Atores dando apoio a greve dos roteiristas. Foto de Mario Tama/Getty Images.
Membros do Sindicato dos Atores dando apoio a greve dos roteiristas. Foto de Mario Tama/Getty Images.

Isso porque, uma das partes mais importantes do lançamento de um filme ou série, por exemplo, são as conferências de imprensa em que os atores falam sobre o filme e dão entrevistas a jornais, revistas, sites e canais de televisão do mundo todo. Outra parte importante de se criar uma expectativa para o lançamento de uma obra está na participação de atores de um filme em Comic Cons e outras convenções de fãs. Geralmente, são nesses locais que são divulgadas imagens inéditas e trailers de filmes e séries. Todo esses processo já está sendo pertubado pela greve.

Isso sem falar que o fato de o Sindicato dos Atores e o Sindicato dos Roteiristas estarem em greve ao mesmo tempo, afeta literalmente todas as etapas de produção de um filme ou série. Isso porque os processos que acontecem antes de uma filmagem começar, são afetados pela greve dos roteiristas e os processos que acontecem depois que as câmeras começam a rodar ou depois que o filme ou série já está pronto, são afetados pela greve dos atores.

O ator Charlton Heston acena para os fãs enquanto caminha na linha de piquete do lado de fora da Paramount Studios em Hollywood durante a greve dos atores em 1980. Foto de Lennox McLendon/Associated Press.
O ator Charlton Heston acena para os fãs enquanto caminha na linha de piquete do lado de fora da Paramount Studios em Hollywood durante a greve dos atores em 1980. Foto de Lennox McLendon/Associated Press.

É por isso que essa greve é tão importante e pode ser um momento de virada na indústria do entretenimento dos Estados Unidos. Note-se também que essa é a primeira vez desde 1960, ou seja, em mais de 60 anos, que os dois sindicatos entram em greve ao mesmo tempo. E naquela época a indústria era muito diferente. Era muito mais “artesanal”, menor e tinha menos demanda. Atualmente, as coisas são bem mais rápidas, “industrializadas” e existe muita demanda para produção de conteúdo. Por isso, o dano pode ser bem maior do que foi em 1960.

Em 1960, existiam basicamente apenas os estúdios de Hollywood, os canais de televisão abertos (que não eram tantos assim) e as grandes rádios, produzindo conteúdo e demandando o trabalho de atores e roteiristas. Hoje em dia, além dos estúdios (que já são em maior número) e os canais de televisão abertos, existem ainda os canais de televisão fechados (que eram praticamente inexistentes no mercado norte-americano em 1960), as produtoras de conteúdo para a internet e as inúmeras plataformas de streaming que atualmente inundam o mercado de audiovisual.

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Todos eles querem produzir conteúdo para atrair mais clientes e assim lucrar mais. É por isso, que atualmente existe muito mais demanda de trabalho para profissionais da indústria do entretenimento do que existia há 60 anos atrás. Para complicar as coisas ainda mais, temos os diretores. Apesar de o Sindicato dos Diretores da América (DGA) ter assinado um novo acordo coletivo com a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP) em junho desse ano, muitos diretores apoiam a greve tanto dos atores quanto dos roteiristas e prometem não trabalhar até ambas terminem.

Os atores Jack Klugman, Ricardo Montalban, Loretta Swit e Ralph_Bellamy em greve em 1980. Foto de R. L. Oliver, Los Angeles Times.
Os atores Jack Klugman, Ricardo Montalban, Loretta Swit e Ralph_Bellamy em greve em 1980. Foto de R. L. Oliver, Los Angeles Times.

Claro que, nesse caso, é mais um apoio moral do que qualquer outra coisa, já que seria praticamente impossível produzir um filme ou série sem o trabalho de atores. Por tudo isso, podemos dizer que essas duas greves em conjunto representam um dos maiores desafios que Hollywood e a indústria do entretenimento norte-americano enfrentam em muito tempo. Isso sem falar que ela ocorre em um momento em que a indústria começava a se recuperar dos efeitos devastadores causados pela pandemia de COVID-19, quando a indústria literalmente teve que parar quase todas as suas atividades.

Conclusão

É isso. Esperamos que esse texto tenha sido completo o suficiente para que você tenha entendido bem porque essa greve é tão grave e tão importante. Esperamos também que agora você saiba de forma bem detalhada o que é o Sindicato dos Atores e como ele funciona. Se você gostou desse texto, não esqueça de deixar o seu like e o seu comentário.

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