Membro do Sindicato dos atores (SAG-AFTRA) fazem protesto em apoio a greve de roteiristas. Foto de Mario Tama/Getty Images
Membro do Sindicato dos atores (SAG-AFTRA) fazem protesto em apoio a greve de roteiristas. Foto de Mario Tama/Getty Images

O Sindicato dos Atores e a Federação Americana de Artistas de Rádio e Televisão (ou “Screen Actors Guild – American Federation of Television and Radio Artists”, no original em inglês), anunciou nessa quinta-feira que os membros do conselho do sindicato votaram unanimemente pela aprovação de uma greve de atores a começar nessa quinta-feira, à meia-noite.

Membros do Sindicato dos Atores (SAG-AFTRA) anunciando o início da paralisação. Foto de Frazer Harrison/Getty Images.
Membros do Sindicato dos Atores (SAG-AFTRA) anunciando o início da paralisação. Foto de Frazer Harrison/Getty Images.

O último acordo assinado entre a SAG-AFTRA e a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (ou “Alliance of Motion Picture and Television Producers” ou AMPTP, no original em inglês), organização que representa os estúdios e empresas produtoras de Hollywood, tinha validade até 30 de junho desse ano, mas havia sido estendido até 12 de julho por causa da negociação em curso. Desde antes do fim do prazo, as duas entidades vinham negociando um novo acordo. Em 5 de junho, antes mesmo do acordo anterior expirar, 98% dos integrantes do sindicato haviam votado para entrar em greve se um novo acordo não fosse alcançado.

Nessa quarta-feira, a tentativa de acordo entre as partes deu errado e os membros negociadores da SAG-AFTRA recomendaram a greve, que foi unanimemente aprovada pelos membros do conselho da entidade. A atriz Fran Drescher, presidente da SAG-AFTRA disse que a greve é um “relutante último recurso” e completou dizendo que “negociou de boa-fé e estava ansiosa para chegar a um acordo que atendesse suficientemente às necessidades dos artistas, mas as respostas da AMPTP às propostas mais importantes do sindicato foram ofensivas e desrespeitadoras em relação as nossas contribuições massivas para esta indústria. As empresas se recusaram a se envolver significativamente em alguns tópicos e em outros nos bloquearam completamente. Até que eles negociem de boa-fé, não poderemos chegar a um acordo”.

Duncan Crabtree-Ireland, o negociador chefe da SAG-AFTRA, disse que “os estúdios e streamers implementaram grandes mudanças unilaterais no modelo de negócios de nossa indústria, ao mesmo tempo, em que insistem em manter nossos contratos ‘congelados no tempo’. Não é assim que você trata um parceiro valioso e respeitado e um colaborador essencial. A recusa deles em se envolver significativamente com nossas propostas principais e o desrespeito fundamental mostrado aos nossos membros é o que nos trouxe até este ponto.”

Fran Drescher, Presidente do Sindicato dos Atores (SAG-AFTRA). Foto de Chelsea Guglielmino/FilmMagic.
Fran Drescher, Presidente do Sindicato dos Atores (SAG-AFTRA). Foto de Chelsea Guglielmino/FilmMagic.

Já a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão divulgou uma nota na manhã dessa quinta-feira dizendo que estavam “profundamente desapontados com a decisão do SAG-AFTRA de desistir das negociações. Esta é uma escolha do Sindicato, não nossa. Ao fazer isso, rejeitaram nossa oferta de aumentos residuais e salariais históricos, limites substancialmente mais altos para pensões e contribuições de saúde, proteções em audições, períodos de opção de série reduzidos, uma proposta inovadora na área de inteligência artificial que protege os atores e muito mais. Em vez de continuar negociando, o SAG-AFTRA nos colocou em um curso que aprofundará ainda mais as dificuldades financeiras de milhares de pessoas que dependem do setor para sua subsistência.”

Primeira greve do Sindicato dos atores em mais de 40 anos

Essa é a primeira greve do Sindicato dos Atores (SAG-AFTRA) desde 1980, ou seja, nos últimos 43 anos. Além disso, pela primeira vez desde 1960, intérpretes e roteiristas estarão em greve ao mesmo tempo. Ou seja, um fato que não ocorria há mais de 60 anos. Isso porque, o Sindicato dos Escritores da América (ou “Writers Guild of America”, no original em inglês) está de greve desde 2 de maio desse ano, ou seja, há mais de dois meses.

Membro do Sindicato dos Roteiristas fazendo piquete em frente ao Sunset Bronson Studios em de Maio desse ano. Foto de Gilbert Flores via Getty Images
Membro do Sindicato dos Roteiristas fazendo piquete em frente ao Sunset Bronson Studios em de Maio desse ano. Foto de Gilbert Flores via Getty Images

Já na direção contrária, há cerca de três semanas atrás, o Sindicado dos Diretores da América (ou “Directors Guild of America”, no original em inglês) aprovou quase que unanimemente o novo acordo com a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão. A aprovação ocorreu mesmo com os membros do Sindicato já sob pressão, com a greve em curso dos roteiristas e a possibilidade, já naquela época, real de que os atores também entrassem em greve.

Consequências ainda maiores

Mesmo com a greve do sindicato dos roteiristas que já dura mais de dois meses, os estúdios vinham “se segurando” e conseguindo manter a indústria de entretenimento hollywoodiana rodando. Isso porque, essa greve só impacta produções ainda em processo inicial de criação, quando os roteiros ainda nem sequer estão prontos. Produções já em processo de pré-produção, filmagem e lançamento, não são tão afetados assim pela greve de roteiristas, porque nessas etapas da produção eles não são mais necessários, digamos assim. Dessa forma, as consequências dessa greve só serão sentidas a médio e longo prazo.

Membro do Sindicato dos atores (SAG-AFTRA) fazem protesto em apoio a greve de roteiristas.
Membro do Sindicato dos atores (SAG-AFTRA) fazem protesto em apoio a greve de roteiristas.

No entanto, no caso da greve de atores, a coisa é bem diferente. Além de os integrantes do sindicato não poderem (com algumas poucas exceções) atuar em nenhuma produção de rádio, cinema e televisão, eles também não podem nem sequer participar de estreias, lançamentos promocionais e nem nenhum evento ligado a indústria. Assim, a greve afeta não apenas filmes e séries que estejam em processo de produção, mas também aquelas já prontas e que estão sendo lançadas ou com lançamentos previstos. Além de afetar também grandes eventos em que atores são os personagens principais, como comic cons e outras convenções do tipo.

Só para se ter uma ideia, a Comic Con de San Diego, a primeira, maior e mais importante de todas as comic cons está prevista para começar em 20 de julho desse ano. Ou seja, daqui há sete dias. Se a greve de atores durar até lá, é bem possível que o evento tenha que ser adiado. Dependendo da duração da greve até mesmo o Festival de Veneza previsto para ter início em 30 de agosto desse ano, pode ser afetado. Ações promocionais com atores também já estão sendo afetados. Para se ter uma ideia, nessa quinta-feira, durante o lançamento do filme Oppenheimer, em Londres, os membros do elenco da produção deixaram o evento já prevendo o anúncio da greve.

Membros do Sindicato dos Atores dando apoio a greve dos roteiristas. Foto de Mario Tama/Getty Images.
Membros do Sindicato dos Atores dando apoio a greve dos roteiristas. Foto de Mario Tama/Getty Images.

Todas essas consequências se dão porque praticamente todos os atores de rádio, televisão e cinema dos Estados Unidos com uma carreira minimamente estabelecida no país, são membros do Sindicado. Até porque, sem ser membro do SAG-AFTRA é praticamente impossível trabalhar em Hollywood. Assim sendo, quando falamos em uma greve do Sindicato dos Atores, estamos efetivamente falando de uma “greve de atores”, porque praticamente todos os atores com algum nome na indústria do entretenimento norte-americano está filiado ao sindicado. Só para se ter uma ideia, atualmente, o SAG-AFTRA representa mais de 160 mil profissionais.

Assim sendo, podemos falar que essa greve efetivamente é um duelo de gigante e muito mais grave do que a greve dos roteiristas. Porque os roteiristas, apesar de importantíssimos para a indústria, na maioria das vezes, não são tão conhecidos do grande público. Já atores e atrizes são “a cara” de filmes e séries de televisão. É praticamente impossível produzir qualquer obra audiovisual de ficção sem atores. Até mesmo animações precisam das vozes de atores e atrizes.

Além disso, por serem famosos, atores e atrizes têm muito poder de barganha em Hollywood. Isso porque, de uma certa forma, eles têm uma grande responsabilidade em atrair público para um filme. Já que muita gente vai assistir a determinadas produções exatamente pela presença de determinado ator ou atriz. Por outro lado, os estúdios são ainda mais poderosos, já que são empresas gigantescas, cujos tentáculos se espalham por diversos setores da produção e distribuição de conteúdo audiovisual.

Membro do Sindicato dos atores (SAG-AFTRA) fazem protesto em apoio a greve de roteiristas.
Membro do Sindicato dos atores (SAG-AFTRA) fazem protesto em apoio a greve de roteiristas.

Eles precisam dos atores em suas produções, mas os atores também precisam dos estúdios para receberem os salários altíssimos que recebem e para que as produções estreladas por eles cheguem a praticamente todo canto do planeta. Ou seja, essa é uma briga complexa em que todo mundo tem muito a perder, inclusive, nós espectadores que podemos ficar sem nossos “preciosos” filmes e séries.

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