Alguns jogos nos desafiam a vencer. Outros, a entender por que continuamos perdendo. Em Deathloop, antes de quebrar o ciclo, você precisa perceber que está preso dentro dele.
- Lançamento: 25 de março de 2022
- Desenvolvedor: Arkane Studios
- Publicadora: Bethesda Softworks
- Plataformas: PlayStation 5, Microsoft Windows, Xbox Series S/X
- Motor gráfico: Void Engine
Todo dia pode ser o último — mas em Deathloop, também é o primeiro. E se não entendeu, podemos repetir em loop eterno.
Acordar na beira de uma praia, com o gosto metálico da ressaca e o som abafado de vozes que você não reconhece. Tudo parece familiar — mas não.
Há nomes riscados em um quadro. Pessoas que você precisa matar. Uma mulher doida te caçando, que parece conhecer cada passo seu. E uma ilha onde o tempo não anda — ele dança em círculos, te prendendo num loop sem fim.
Se isso te lembra Feitiço do Tempo, No Limite do Amanhã ou Memento, você está no caminho certo. Mas Deathloop não quer repetir a fórmula do “loop temporal” — ele quer dissecá-la com sarcasmo.
Criado pela Arkane Studios — os mesmos por trás de Dishonored e Prey — Deathloop é um jogo AAA que tenta tudo ao mesmo tempo: ação em primeira pessoa, investigação não-linear, humor ácido, estética retrô-futurista e filosofia disfarçada de piada.
E de algum jeito… funciona.
Quase como um experimento em tempo real onde o jogador, o personagem e o próprio jogo estão presos no mesmo dilema: como quebrar o ciclo sem perder a essência?
Lançado em 2021, aclamado pela crítica, premiado, e ainda assim rapidamente esquecido por boa parte do público, Deathloop é a definição de um jogo que não se encaixa em moldes fáceis.
Mas talvez esse seja exatamente o ponto.
Ao explorar Blackreef — uma ilha performática onde o tempo recomeça todo dia, mas os dilemas persistem. Jogamos na pele de Colt Vahn em sua busca por respostas, liberdade e talvez… redenção. Vamos rir com Julianna, nos perder em loops, e descobrir que, é preciso morrer algumas dezenas de vezes para finalmente entender o que significa viver O DIA.
Enredo de Deathloop
O enredo de Deathloop é construído como um quebra-cabeça… só que você começa sem norte, sem a imagem final e com muitas peças faltando.
Sem dar spoilers, Colt Vahn acorda de ressaca numa praia estranha, sem memórias e cercado por mensagens que parecem ter sido deixadas por… ele mesmo aparentemente.
Preso em um ciclo temporal infinito na ilha de Blackreef, ele descobre que a única forma de quebrar essa repetição é eliminar, em um único dia, os oito Visionários responsáveis por manter o loop temporal.
Julianna Blake, enigmática e provocadora, lidera uma resistência contra Colt — enquanto o persegue e o desafia a tentar vencê-la durante o jogo.
Colt percebe que é o único que se lembra dos loops anteriores. E Julianna também.
A jornada de Colt o leva a descobrir seu passado, que lugar é aquele e o que está fazendo ali.
Não só isso: O que é o Loop e quem deu início? Quem é a Julianna e por que está caçando o Colt? Quem são os tais Visionários? Por que todo mundo em Blackreef parece ter amnésia e por que estão usando máscaras?
E o principal: Como podemos quebrar o ciclo e escapar de Blackreef?

A narrativa não é linear, é desafiadora e profundamente existencial. Deathloop não entrega respostas fáceis — ele faz você caçá-las em meio ao caos. E, assim, montar sua linha investigativa/temporal.
Level Design: Blackreef – Um Playground Psicodélico
Blackreef, a ilha fictícia onde Deathloop é ambientado, não foi feita para parecer real. Ela foi feita para parecer importante. E isso faz toda a diferença.
O conceito ilha não está interessado em te convencer de que ela existe — Ele quer te hipnotizar.
Com seus neons saturados, sua arquitetura dançando entre o art déco, o brutalismo e o surrealismo pop, Blackreef mais parece um parque temático dirigido por Wes Anderson depois de uma overdose de LSD. É geinal!

Mas por trás dessa estética excêntrica, está uma estrutura de mundo complexa, pensada com precisão quase cirúrgica.
Dividida em 4 distritos — Updaam, The Complex, Fristad Rock e Karl’s Bay —, os ambientes se transformam a cada período do dia.
Por exemplo, de amanhã alguns locais estarão abertos e outros fechados, objetos que estavam em determinados lugares, foram mudados. E o mesmo acontece igualzinho no dia seguinte, como uma rotina fixa.
E aqui está a grande sacada: A informação é a verdadeira arma. O mundo muda, mas recomeça. O que você descobre num ciclo afeta as possibilidades do próximo.
Você aprende que um cientista está num local pela manhã, mas em outro à noite. Que um “visionário” só estará vulnerável se outro evento for desencadeado por você antes.
O mapa vira um quebra-cabeça de possibilidades temporais. Um teatro de loops em que você não é apenas o protagonista — você é o diretor tentando montar o espetáculo perfeito onde todos os alvos precisam ser eliminados na mesma apresentação.
É um tipo de liberdade rara nos jogos: você não é guiado. Você investiga, testa, falha e tenta de novo.
O level design — marca registrada da Arkane — brilha mais uma vez com força total.
Cada distrito tem rotas alternativas, passagens escondidas, atalhos absurdos e armadilhas criativas, te recompensando sempre que você observa com atenção.
Ao contrário dos mundos abertos inflados de ícones, Deathloop é compacto, mas denso.
Repetir os mesmos espaços nunca soa como retrabalho — soa como lapidação de estratégia. Suas ações em um lugar e período influenciram a rotina no período seguinte.
É como revisitar uma peça de teatro sabendo que, dessa vez, o desfecho será diferente por conta de alterações que você fez no mesmo dia mais cedo.
Blackreef não te engole com promessas infinitas. Ela te desafia a dominar o espaço e o tempo — até que você se sinta em casa. Mesmo que essa casa seja uma prisão disfarçada de festa eterna.
Você vai acabar conhecedo Blackreef como a palma da sua mão. Seus atalhos, seus segredos e todo o mistério.
Protagonistas: Colt e Julianna
Algumas histórias são movidas por objetivos. Outras, por vingança. Mas em Deathloop, tudo gira ao redor de uma pergunta sem resposta imediata: por que Julianna quer tanto te impedir de quebrar o loop… e por que você, Colt, quer tanto sair dele?
Essa não é apenas uma rivalidade — é um ritual de provocações, sarcasmo e verdades desconfortáveis, onde os tiros são só parte do diálogo.
Veja bem, desde os primeiros momentos, você entende que há algo estranho entre eles.
Julianna te odeia — mas se diverte. Colt quer escapar — mas parece não saber exatamente do quê.
Não precisa jogar Deathloop por muito tempo para notar que o roteiro, que poderia facilmente se perder em repetições genéricas, é afiado, ágil e mordaz.
A cada nova interação, os diálogos entre os dois revelam camadas de intimidade, raiva, saudade, talvez até afeto.
Há algo não resolvido entre Colt e Julianna — e o jogo brinca com isso o tempo todo, criando uma tensão narrativa que vai muito além da perseguição física.
E é aí que Deathloop se diferencia de tantos outros jogos com duplas rivais: não há vilões clássicos aqui. Só duas pessoas presas na mesma prisão metafísica, tentando sair por portas diferentes. O loop é o palco. A relação deles, o espetáculo.
Colt, dublado por Wellington Lima no Brasil, tem uma postura de cético desmemoriado, é o canal do jogador: curioso, confuso, irônico, mas, aos poucos, mais consciente do seu papel nessa peça macabra.
Já Julianna, recebe a voz de Fernanda Bullara no Brasil, é puro mistério e controle. E o mais interessante? Ela sabe de tudo — e não te conta.
Porque saber, nesse jogo, é ter poder. E Colt não tem nada disso no início.
Se Deathloop funciona tão bem como experiência narrativa, é porque coloca esses dois personagens em um embate onde o conflito é inevitável, mas a motivação é uma névoa densa.
Você mata, morre, revive e repete — mas o que realmente muda são os fragmentos de verdade que escapam das entrelinhas.
E quando o jogo finalmente te deixa ver o que está por trás da raiva de Julianna e da fuga de Colt, você entende: essa não é só uma disputa sobre o tempo. É sobre identidade, legado e a coragem de escolher algo diferente.
Mecânica, Descoberta e Filosofia de Deathloop
Se você jogou videogames por tempo suficiente, já sabe como funciona: morre, volta pro checkpoint. Repete. Aprende. Vai mais longe.
Deathloop pega essa estrutura — básica, quase invisível em tantos jogos — e a transforma no tema central da narrativa, do gameplay e da experiência emocional.
O loop em Blackreef não é só uma mecânica. É uma prisão, uma segunda chance e uma maldição, tudo ao mesmo tempo.
Colt acorda no mesmo lugar, do mesmo jeito, todo dia. Os eventos do mundo e toda aquela rotina se reiniciam.
Os alvos estão sempre nos mesmos distritos, fazendo as mesmas coisas. Mas você — jogador — de alguma forma “muda”. A cada loop você sabe mais, testa rotas novas, escuta uma conversa, encontra um código, percebe um padrão.
E assim, pouco a pouco, você entende: Deathloop não é sobre força, tiro, porrada e bomba. É sobre curiosidade, planejamento e paciência cruel.
Ao invés de níveis separados ou mundos abertos lineares, o jogo oferece um quebra-cabeça temporal.
Você não precisa matar os oito visionários à força — precisa manipular o ciclo até colocá-los todos no mesmo script de morte coordenada. E isso exige algo raro na maioria dos jogos: parar, observar, pensar.
Vale a pena mencionar que jogos como Hitman brincam com essa ideia — a simulação social onde o jogador organiza acidentes. Mas Deathloop vai além.
Ele não te dá a opção de fazer tudo em uma run perfeita de cara. Ele te força a falhar, aprender e tentar de novo — não como punição, mas como estrutura.
A repetição é inevitável. E o jogo te desafia a fazer dela uma escolha, não um castigo.
Funciona assim:
- O dia é dividido em quatro períodos: manhã, meio-dia, tarde e noite.
- Você escolhe para qual distrito vai em cada período.
- Se o Colt morrer três vezes no mesmo período, ele volta para o início daquele período (se tiver um recurso chamado “Reprise”) — ou, se acabar as tentativas ou o dia, volta para o início do dia todo.
- Objetivo principal: descobrir como matar os oito Visionários espalhados pelos distritos em um único ciclo (ou seja, no mesmo dia).

Sobre as outras pessoas (NPCs):
- Se um NPC morre, ele não volta até o dia reiniciar.
- Mas como tudo “reseta” no final do dia (seja porque você morreu ou porque o dia terminou normalmente), no próximo loop os NPCs estão vivos de novo, como se nada tivesse acontecido.
É tipo “Feitiço do Tempo” + “Dishonored”, mas bem mais estiloso e maluco.
Arsenal
Colt conta com um arsenal razoavel para lidar com diversos inimigos. Ele é super variado e tem desde armas comuns até armas únicas, que são versões especiais com perks fixos.
- Pistolas (rápidas e práticas)
- Escopetas (curtas e destruidoras)
- Fuzis (para médio/longo alcance)
- Metralhadoras (alto volume de munição)
- Armas especiais (tipo a Strelak Verso, que vira duas pistolas!)
Algumas armas normais têm versões “de luxo” (tipo douradas ou com efeitos especiais) que valem muito a pena infundir.
Beleza, pequei um arma legal. Eu consigo manter ela no proximo ciclo? (“se quiser sim, mano…”)
Em Deathloop, para manter suas armas (e também habilidades e upgrades) de um ciclo para o outro, você precisa usar um recurso chamado “Infusão”.
Você avança no jogo até desbloquear a Infusão – Isso acontece logo depois que você derrota o primeiro Visionário e conhece a Juliana direito (no começo do jogo). É parte da história principal, você não tem como perder.
Ganhe Residuum – É um recurso brilhante meio azul/roxo que você coleta absorvendo itens brilhantes pelo mapa, matando Visionários e também absorvendo seu próprio corpo morto no mesmo ciclo. – Similar aos “ecos de sangue” de Bloodborne.
Antes que o loop termine, Infunda as armas – Entre uma missão e outra (no menu entre áreas), você pode usar o Residuum para “infundir” qualquer arma, habilidade ou item que quiser salvar. Depois de infundido, o item não será mais perdido nos ciclos seguintes.
Por trás da ironia e dos tiroteios, há algo mais profundo aqui: uma reflexão sobre a vida moderna como um ciclo em piloto automático.
Você acorda, repete, tenta mudar — mas algo te puxa de volta para o mesmo ponto. O que seria necessário para romper esse padrão? O que significaria, de verdade, quebrar o loop?
E quando essa pergunta deixa de ser só sobre o jogo, você entende o ponto: Deathloop não quer apenas que você jogue diferente.
Ele quer que você pense diferente. Que entenda que recomeçar pode ser um ato de aprendizagem — e sair do ciclo, quando possível, é um ato de liberdade e rebeldia.
Estilo e Personalidade Própria
Em muitos jogos, estilo é adereço. Em Deathloop, é arma, armadura e manifesto ao mesmo tempo.
A primeira coisa que te prende não é o tiroteio, nem o mistério do loop — é o visual gritando na sua cara: “Esse jogo tem personalidade, e não vai te pedir licença para mostrar.”
A ilha de Blackreef é um delírio retrô-futurista: neons, cartazes com tipografia ousada, trajes dignos de um filme espião dos anos 60 misturado com uma rave experimental.
É como se Austin Powers, Blade Runner e Dishonored tivessem um filho em comum — e ele estivesse usando terno de veludo laranja e óculos espelhados, com uma arma em cada mão.
E não para por aí. A interface é uma extensão do próprio Colt: agressiva, estilizada, quase sarcástica.
As notificações pulam na tela com fontes exageradas, as mensagens aparecem como se fossem cartazes colados no ambiente, e os menus têm personalidade própria. O jogo conversa com você visualmente o tempo todo — e essa conversa nunca é neutra.
A trilha sonora de Tom Salta segue a mesma filosofia. Guitarras distorcidas, sintetizadores sujos, jazz psicodélico — tudo escolhido a dedo para criar uma sensação de urgência elegante.
A música segue alternando entre momentos de calmaria ou tensão com ritmos mais lentos e atmosfericos e ritmo acelerado, assim quem um confronto se inicia. Tudo muito carismático e descontraído, lembrando um pouco de jogos como Bully.
Cada distrito tem uma identidade sonora, cada combate vira um solo de caos coreografado. Não é só o que você vê — é o que você sente vibrando no DualSense e ressoando no seu fone.
Essa direção de arte e som não está ali para parecer “diferentona”. Ela é uma linguagem narrativa completa.
O exagero estético comunica que esse mundo não é confiável. Que há uma farsa sendo encenada. Que Blackreef é um palco — e todos ali são atores, presos no mesmo roteiro há tempo demais.

Em um mercado onde muitos jogos ainda se escondem atrás de paletas cinzentas, minimalismos genéricos e recursos gráficos experimentais, Deathloop se recusa a ser sutil.
Ele se veste com identidade, fala alto, e te desafia a acompanhar o ritmo.
Porque quebrar o loop também é isso: romper com o visual previsível. Fazer do estilo uma declaração.
PvP Invasivo: Quando o Outro Quebra o Seu Ciclo
Você finalmente montou sua rota. Escolheu a arma certa. Sabia exatamente onde o alvo estaria. O plano era perfeito. E então… Julianna invade. Não o jogo. A sua segurança.

A mecânica de PvP em Deathloop não é um extra — é um golpe calculado contra a sensação de controle.
E quando outro jogador pode assumir o papel da Julianna e invadir sua partida, tudo muda. O que era um loop estudado se transforma em improviso. O que era rotina se torna tensão pura. E isso é brilhante.
Julianna não é uma IA previsível. É alguém do outro lado da tela, com suas próprias estratégias, seu próprio estilo, sua própria malícia. Ela conhece as suas táticas — porque já usou elas antes.
E essa invasão cria uma camada metanarrativa poderosa: o jogo não está apenas dizendo que você está preso em um ciclo — ele está mostrando que alguém está te observando nesse ciclo. E quer te manter nele.
A presença de Julianna faz com que cada passo seu seja repensado. Cada canto vira uma possível armadilha. Você começa a jogar não só contra o sistema, mas contra um ser humano — com imprevisibilidade, criatividade e sede de caos.
E o melhor? Isso faz sentido narrativo. Julianna não é uma vilã aleatória — ela é o loop personificado. A resistência à mudança. O “status quo” armado e sorridente.
E quando você decide invadir o jogo de outro jogador jogando como Julianna, a experiência vira do avesso. De repente, você é a interrupção. O agente do loop. O predador.
É uma inversão de papéis que, em vez de quebrar a imersão, a fortalece.
É o tipo de mecânica que poucos jogos se arriscam a fazer — e menos ainda conseguem integrar tão bem à temática central. Porque em Deathloop, o PvP não é só diversão competitiva. É uma afirmação sutil (ou nem tanto) de que nenhum plano sobrevive ao contato com o outro. E que todo loop, por mais bem ensaiado e planejado que pareça, pode ser arruinado — de fora pra dentro.
Por Que Deathloop Caiu No Esquecimento?
Se Deathloop é tão bom, por que ele caiu no esquecimento tão rápido?
Para ser ter uma ideia, Deathloop venceu prêmios. Foi capa da revista Edge. Recebeu aclamação da crítica e aplausos entusiasmados nos eventos da indústria.
E, ainda assim, evaporou da memória coletiva mais rápido do que deveria. O que era para ser um marco virou uma nota de rodapé — e não por falta de mérito.

Em 2021, promovido como exclusivo temporário do PlayStation 5, Deathloop nasceu em um momento estranho. No meio da transição de gerações, com a Bethesda recém-comprada pela Microsoft, o jogo foi promovido com força — até não ser mais.
O marketing da Sony parou subitamente. A Microsoft, de repente dona do estúdio, não tinha interesse em promover um título temporariamente “do concorrente”.
E assim, o jogo entrou num limbo publicitário, semelhante ao que aconteceu com Ghostwire: Tokyo.
Mesmo com notas altas, vídeos elogiando sua originalidade e uma avalanche de indicações ao Game Awards, ele não virou febre. Não rendeu memes. Não teve DLCs. Não gerou o buzz prolongado que outros títulos com muito menos ousadia conseguiram manter.
A comunidade que se formou em torno dele era pequena, engajada — mas quase invisível.
E isso nos diz algo importante. A indústria, às vezes, não sabe o que fazer com jogos como Deathloop. Ele não é uma franquia estabelecida, não é fácil de explicar, e não entrega gratificação imediata.
Exige tentativa, erro, atenção. Exige uma curva de aprendizado. E isso, em um mercado movido por hype, streamers e algoritmos, é quase uma sentença de morte criativa.
O que é cruel — porque Deathloop não falhou. Ele foi abandonado.
Mas o tempo, ironicamente, pode ser o melhor aliado do jogo agora. Passado o ruído das campanhas, o hype de lançamento e a comparação com concorrentes, talvez Deathloop possa finalmente ser experimentado pelo que ele é: uma das experiências mais inteligentes, sarcásticas e elegantes da geração.
Um jogo sobre repetir o mesmo dia infinitamente ser esquecido rápido demais. Talvez o ciclo precise ser quebrado aqui também — na forma como lembramos, revisitamos e redescobrimos certos jogos.
Desempenho
No PS5, Deathloop entrega uma experiência sólida em todos os três modos gráficos, mas é no modo desempenho que o jogo realmente brilha.
Rodando a 60fps com consistência, sem quedas perceptíveis e com uma resolução que mantém excelente nitidez mesmo nos momentos mais caóticos, é fácil esquecer que se trata de um título tão visualmente carregado.

Vale destacar que essa fluidez torna a ação ainda mais viciante — e essencial em confrontos mais intensos ou durante invasões de Julianna.
No Playstation 5 o jogo foi otimizado para fazer uso das funcionalidades do controle DualSense, como feedback haptico e audio via speaker. Sempre que Julianna entra em contato a voz dela sai no controle, o que aumenta muito a imersão.
E por falar em imersão: Deathloop conta com suporte ao Tempest 3D Audio Tech da Sony.
No PC, testamos o jogo em uma máquina com Ryzen 7 3800x, GeForce RTX 3060 Ti, 16GB de RAM DDR4 3600 e SSD NVMe de 3500MB/s.
O desempenho foi excelente em 1440p com qualidade alta, mantendo os 60fps com folga e sem engasgos, mesmo com Ray Tracing ligado.
O tempo de carregamento é realmente muito rápido e, e os controles respondem de forma precisa — o que é importante num jogo que exige improviso e reflexos rápidos.
No XBOX o port segue o padrão das outras plataformas e a performance é igualmente competente.
Deathloop é Para Todo Mundo?
Depende…. No fim das contas, Deathloop não te pede só para vencer. Ele te provoca a entender por que você continua jogando.
Deathloop é um jogo que exige presença, paciência e vontade de pensar fora do padrão.
Ele não segura sua mão — mas é extremamente satisfatório a cada passo dado com consciência. Estiloso, inteligente e provocador, é uma obra que reconhece a beleza do erro — e faz dele um instrumento de evolução.
Ele te entrega uma estrutura feita de repetição, falha e insistência — só para mostrar que, por trás de tudo, existe liberdade de escolhas.
Colt quer quebrar o ciclo. Julianna quer preservá-lo. E o jogador? Bom… o jogador é aquele que, depois de dezenas de tentativas, descobre que o verdadeiro inimigo não é o tempo, mas o conforto da rotina.
Pontos Fortes
- Conceito central brilhante – A ideia do loop como mecânica e narrativa é executada com maestria, oferecendo aprendizado contínuo e gameplay emergente.
- Direção de arte única – Visual arrojado, paleta vibrante, interface criativa: tudo colabora para criar uma identidade visual marcante e coerente com a proposta.
- Protagonistas cativantes – A dinâmica entre Colt e Julianna é afiada, carismática e cheia de nuances. Cada interação entre os dois é um show à parte.
- Level design inteligente – Os distritos de Blackreef são compactos, mas riquíssimos em possibilidades. Exploração, stealth e ação convivem em equilíbrio.
- Sistema de PvP inovador – A invasão de Julianna adiciona tensão, imprevisibilidade e integração perfeita entre narrativa e multiplayer.
- Localização em PT-Br – O jogo conta com tradução completa, incluindo dublagem de altíssimo nível em portugues do Brasil.
Pontos Fracos
- Curva de aprendizado pode afastar – O início é denso, com muitas informações e pouca orientação clara — algo que pode frustrar jogadores menos pacientes.
- Repetição pode pesar para alguns – Apesar de ser o tema do jogo, repetir trechos pode soar cansativo se o jogador não se engajar com a lógica investigativa.
- Ritmo irregular – Há momentos em que a narrativa desacelera demais, e a progressão pode parecer estagnada até que você descubra o próximo fio da meada.
- Público mal direcionado no lançamento – O marketing vendeu um shooter estiloso, mas entregou uma experiência de planejamento e descoberta — o que gerou confusão e, em parte, contribuiu para o esquecimento precoce.
Deathloop Vale A Pena?
Para quem está pronto para sair do piloto automático e mergulhar em um ciclo de tentativa e descoberta, quebrar o loop nunca foi tão satisfatório.
O jogo faz isso com estilo, sarcasmo e uma direção criativa que te desafia em cada camada — da narrativa fragmentada à investigação livre, do combate tático ao PvP imprevisível. Ele não é feito para ser raso.
E justamente por isso, não é fácil de esquecer — a menos que você nunca tenha olhado com atenção.
Deathloop é, acima de tudo, um espelho para a maneira como consumimos, jogamos e descartamos.
Um lembrete de que repetir sem mudar é morrer de tédio. E que às vezes, para realmente evoluir, é preciso tomar uma decisão, mesmo sem saber completamente o que vem depois.
Então, se você ainda não quebrou esse loop, a oportunidade está disponível em PlayStation 5, Microsoft Windows e também XBOX Serie S/X. – Então, bora?
Obrigado por nos ler até aqui! Qualquer dúvida ou sugestão deixe nos comentários. Até a próxima!