Análise | Ghostwire: Tokyo

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Seria Ghostwire: Tokyo vitima de uma guerra corporativa?

  • Lançamento: 25 de março de 2022
  • Plataformas: PlayStation 5, Microsoft Windows, Xbox Series X e Series S
  • Desenvolvedor: Tango Gameworks

O início da 9ª geração de consoles foi marcado por uma preocupante escassez de títulos originais. Durante muito tempo, remakes e remasters dominaram os lançamentos, levando muitos de nós, jogadores, a questionar se realmente valia a pena migrar para os novos consoles.

Em meio a esse cenário saturado de títulos requentados, algumas novidades começaram a surgir, trazendo um sopro de criatividade e esperança à comunidade gamer. Um desses poucos exemplos é Ghostwire: Tokyo.

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Imagine uma cidade onde todos desapareceram do nada.

Roupas jogadas no chão, igual num quarto de adolescente rebelde. Carros parados no meio da rua com o motor ainda quente. Vitrines acesas para ninguém.

É assim que Ghostwire: Tokyo começa: não com gritos, tiro, porrada e bomba, mas com o silêncio absoluto de uma metrópole abandonada.

E é nesse vazio que o jogo constrói seu maior poder — a inquietação da ausência.

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Lançado em 2022 sob os holofotes de um PlayStation 5 ainda sedento por experiências “next-gen”, Ghostwire parecia promissor.

O jogo uma estética diferente, combate místico, folclore japonês e o peso da Tango Gameworks, estúdio do criador de Resident Evil.

Na landing page do PlayStation 5 a Sony o promoveu como uma aposta ousada e incialmente exclusiva.

Mas então veio a reviravolta corporativa: a aquisição da Bethesda pela Microsoft. De uma hora pra outra, o jogo perdeu voz.

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Sumiu de trailers. Sumiu de vitrines. Ficou preso entre dois mundos — como uma alma penada que ninguém vê.

E isso é irônico. Porque Ghostwire: Tokyo é, no fundo, sobre isso mesmo: a luta para ser ouvido quando todos viraram fumaça, a busca por sentido em um mundo esvaziado de gente, mas cheio de memorias, simbolismos e magia.

Ghostwiret: Tokyo é a jornada espiritual de Akito à magia visual de um combate coreografado como um ritual, passando por yokais, lendas urbanas e uma cidade que respira mesmo — em meio a névoa espessa.

Se você ainda não conhece esse jogo, com certeza vai querer dar uma chance depois de uma análise além do obvio.

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Porque às vezes, os jogos mais vivos são justamente aqueles habitados por fantasmas.

Um Cara Chamado Akito

Akito, nosso protagonista, não é um herói. Ele também não é um anti-herói. Na verdade, quando Ghostwire: Tokyo começa, ele está mais próximo de ser um corpo em transição — entre a vida e a morte, entre o real e o espiritual.

Akito Izuki (protagonista)
Akito Izuki (protagonista)

E é justamente nessa condição de limbo que o jogo se ancora, usando o protagonista como uma ponte entre quem está jogando e o mundo quebrado que o cerca.

Logo no início, Akito sobrevive a um acidente de trânsito. Mas o “milagre” que o mantém em pé tem um preço: ele é possuído por KK, o espírito de um detetive paranormal que tem assuntos inacabados com o vilão mascarado Hannya.

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KK (nosso guia espiritual)
KK (nosso guia espiritual)

O contraste entre Akito, (“travadão” emocionalmente) KK (curto e grosso), cria uma das dinâmicas mais interessantes do jogo.

Na real, eles não se suportam. Mas precisam um do outro.

E enquanto enfrentam criaturas deformadas e fantasmas vingativos pelas ruas de Tóquio, vamos descobrindo que o maior confronto não é com os inimigos externos, mas com os internos.

Ghostwire: Tokyo - kk

Akito está em negação — com a morte iminente da irmã hospitalizada, com o trauma da infância, com a impotência diante de uma cidade presa numa noite chuvosa eterna.

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KK, por outro lado, já morreu — mas se recusa a partir. Ambos estão presos, literal e emocionalmente, e o jogo os obriga a seguir em frente.

Ao longo da campanha, a jornada de Akito se transforma. O rapaz perdido, guiado por um espírito desconhecido, começa a aceitar a perda, encarar a dor e encontrar propósito.

Akito e KK - Ghostwire: Tokyo

Não há grandes discursos. Não há momentos melodramáticos. O crescimento está nas pausas, nas conversas mínimas entre combates, nas missões que resgatam memórias de estranhos que já se foram.

Ghostwire: Tokyo é, acima de tudo, um jogo sobre lidar com a ausência. E Akito, tão apagado em sua presença quanto a própria cidade, é a representação perfeita de um protagonista que não quer salvar o mundo — ele só quer entender por que ele ficou, quando todos os outros sumiram.

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A Cidade que Nunca Dorme (Mas Está Vazia)

Tóquio sempre foi sinônimo de excesso — de luz, de barulho, de multidão. Mas em Ghostwire: Tokyo, ela é esvaziada. Literalmente.

Ghostwire Tokyo

Não há trânsito. Não há passos. Não há vida humana. Só ruas molhadas pela chuva, letreiros pulsando no escuro e aquela impressão constante de que você está sendo observado.

E ainda assim… ela vive. De um jeito estranho, quase ritualístico.

O mundo aberto do jogo não é vasto como em um Assassin’s Creed, nem denso como em Cyberpunk 2077, mas tem algo que poucos conseguem oferecer: atmosfera pura e crua.

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Cada esquina parece guardar um segredo folclórico. Cada beco tem um fragmento de história. As lojinhas, casas ou vielas transmitem a sensação de que alguém estava ali segundos antes de desaparecer — como se a cidade tivesse sido congelada no tempo.

Ghostwire: Tokyo - Cidade vazia, mas nem tanto
Cidade vazia, mas nem tanto

E isso não é só uma escolha de design. É um comentário narrativo silencioso: essa cidade respira através do que ficou.

Pelúcias largadas em parquinhos. Lanches em micro-ondas ainda ligados. TVs repetindo noticiários sem audiência. Ghostwire te convida a olhar para o que sobrou — não para o que está lá.

Além disso, Tóquio aqui é uma cidade vertical e ritualística. Você não só caminha — você escala, purifica portões Torii, desliza por telhados com a ajuda de tengus, e dissolve névoas malignas com rituais.

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Purificação
Purificação

Cada ação tem um simbolismo místico. Cada rua é um convite à contemplação — ou ao confronto.

É curioso como, mesmo desolada, essa Tóquio consegue ser mais intrigante que muitos mundos abertos lotados de figurantes. Porque ela é intencionalmente solitária, e a solidão aqui não é uma falha — é parte da experiência, devo dizer.

Não há NPCs andando por aí. E ainda assim, você sente que está invadindo memórias, traçando histórias invisíveis, tocando a superfície de algo profundamente espiritual.

Ghostwire: Tokyo não quer que você corra. Ele quer que você pare. Escute. Observe. Sinta a eletricidade das ruas. Veja os reflexos nos prédios espelhados. Ouça o som das suas próprias pegadas ecoando entre os becos — e se pergunte:

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“Por que essa cidade vazia parece mais viva do que eu imaginava?”

Mecânicas de Combate: Magia, Flechas e Rituais

Como seria “matar” o que já está morto?

Em Ghostwire: Tokyo, atirar com uma arma de fogo seria um desperdício.

Aqui, os combates são como danças ocultas, rituais em movimento. Cada ataque é um gesto, cada defesa um selo espiritual, cada finalização uma ruptura entre mundos. Você não mata monstros — você os exorciza.

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Akito, com as mãos cobertas de luz e símbolos místicos, invoca feitiços com movimentos inspirados no kuji-kiri, um tipo de técnica esotérica japonesa usada por ninjas e praticantes do Shugendō.

Isso não é só estética: é identidade. E transforma o combate em algo quase performático, como se cada luta fosse uma pintura de energia traçada no ar.

As magias se dividem em três elementos principais:

    Vento – rápido e direto, ideal para acertos rápidos a média distância.

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    Fogo – explosivo, com dano em área, perfeito para grupos.

    Água – abrangente e de curto alcance, ótimo para controlar multidões.

A cada gesto, partículas de luz cortam o ar como pinceladas. Os inimigos, espectros de lendas urbanas e traumas modernos, reagem com distorções visuais, rugidos vazios e formas etéreas que parecem mais pesadelos do que criaturas reais.

É uma batalha entre o sagrado e o esquecido.

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E entre mãos que invocam feitiços e dedos que traçam selos, há também espaço para algo mais tangível: o arco e flecha.

Discreto, mas poderoso, o arco funciona como a arma mais tradicional do arsenal.

E é curioso como, em meio a tanta energia mística, um instrumento tão físico tenha um peso tão relevante. Ele é silencioso e letal — perfeito para eliminar inimigos à distância antes de alertar a horda.

É quase como se representasse o elo entre o velho Japão dos guerreiros e o novo Japão assombrado pelos seus próprios reflexos.

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Usá-lo exige precisão, cálculo e um certo respeito pelo tempo — afinal, nada aqui é rápido demais. E isso, por incrível que pareça, casa perfeitamente com a cadência ritual do combate.

Mas nem tudo são aplausos. A repetição se instala após algumas horas. A variedade de inimigos é mais visual do que comportamental.

O sistema de combate, apesar de estiloso, não se reinventa com o tempo.

Você sente que aprendeu a dançar, mas a música não muda mais. Isso enfraquece a progressão — e pode cansar.

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Apesar disso, Ghostwire encontra um segundo fôlego nos rituais.

Purificar portões Torii, selar espíritos, libertar almas presas (Excelente uso do Touch Pad do DualSense), enfrentar entidades mais poderosas com mecânicas distintas — tudo isso amplia a sensação de que você está mais em um campo espiritual do que em uma arena de videogame.

As batalhas contra chefes, por exemplo, são menos sobre dificuldade e mais sobre simbolismo.

Enfrentar uma mulher com guarda-chuva e corpo distorcido é assustador.

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Mas quando você entende que aquilo representa luto, negação, ou algum tipo de dor urbana não resolvida — a luta muda de tom.

Em Ghostwire: Tokyo, a ação é estranha, envolvente e até hipnotizante. Talvez não seja para todos. Talvez não seja perfeita. Mas ela tem algo raro: um senso de identidade estética e mística que não se vê todo dia.

Missões, Yokais e Ecos do Cotidiano Perdido

Em Ghostwire: Tokyo, os yokais não são apenas criaturas para derrotar. Eles são fragmentos de um Japão que existe entre o moderno e o místico, entre a realidade urbana e o imaginário ancestral.

E são também as estrelas das missões secundárias — onde o jogo, longe dos holofotes da campanha principal, brilha com um tipo de sensibilidade rara.

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Ghostwire: Tokyo - Katashiro
Katashiros são usados para absorver e libertar almas.

A estrutura das side quests é simples: almas perdidas pedem ajuda, e Akito as liberta ao completar tarefas, recuperar objetos ou desvendar pequenas histórias.

Mas o conteúdo dessas missões é o que transforma o jogo. Cada pedido é um lamento. Uma saudade. Um trauma. É como se a cidade estivesse te contando seus segredos — em sussurros.

Você ajuda uma senhora que não consegue deixar sua casa porque esqueceu de trancar a porta.

Um músico cujo último desejo é ouvir a própria composição mais uma vez.

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Um estudante perseguido por um yokai ciumento. E percebe que Ghostwire não está interessado em grandiosas tramas paralelas, mas sim em pequenas dores que ficaram presas no tempo.

Os yokais, por sua vez, são tratados com respeito quase documental.

Alguns você enfrenta, outros você liberta, e há ainda aqueles que te ajudam.

São criaturas folclóricas como o kappa, o karakasa (guarda-chuva com olhos), os tengu, e tantos outros, todos recriados com um equilíbrio entre o bizarro e o encantador.

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Kappa - A assustadora criatura dos rios e lagos do Japão
“Kappa” – A assustadora criatura dos rios e lagos do Japão

Capturá-los ou interagir com eles é mais do que um desafio mecânico: é um mergulho cultural.

É entender que o terror aqui não vem do susto, mas da permanência. Do que ficou pendurado entre o mundo dos vivos e dos mortos.

Além disso, o ato de coletar espíritos e enviá-los por cabines telefônicas — algo que poderia ser apenas uma mecânica de progressão — se torna um gesto simbólico.

Você não apenas “completa objetivos”, você conecta fragmentos de histórias interrompidas a um descanso merecido.

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Ghostwire: Tokyo transforma o banal em poético.

E mesmo que algumas dessas missões sigam uma fórmula previsível, é impossível não sentir que cada uma delas carrega um pouco do que nós mesmos deixamos para trás.

Som, Interface e Estilo de Ghostwire: Tokyo

Alguns jogos gritam. Outros sussurram. Ghostwire: Tokyo murmura — e só ouve quem estiver disposto a parar e escutar.

Isso porque a experiência sensorial do jogo é, talvez, o seu elemento mais injustamente subestimado.

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Veja bem, enquanto muitos esperavam um action game explosivo, o que receberam foi um jogo que comunica mais com sons do que com falas, mais com imagens do que com palavras, e mais com atmosferas do que com eventos.

A trilha sonora é minimalista, quase ausente em grande parte do tempo.

Trilha sonora original de Ghostwire: Tokyo

O silêncio é tratado com reverência — e quando a música entra, entra para cravar um sentimento.

Instrumentais etéreos, batidas eletrônicas distorcidas, melodias orientais que soam como lamentos vindos de outro plano. O som da chuva em Tóquio, os sinos ao longe, o estalo das mãos de Akito ao conjurar um feitiço — tudo é delicado, calculado, milimétrico.

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Também é possível ouvir musicas licenciadas durante a gameplay. As músicas vão sendo liberadas como forma de recompensa ou compradas das lojinhas.

Já o HUD (interface de usuário) segue a mesma lógica: ele desaparece. Literalmente.

Quando não está em uso, ele some da tela. E isso é proposital. Ghostwire quer que você veja a cidade como ela é, não como um mapa de objetivos. O design de interface é limpo, fino, quase transparente — respeitando a estética e a filosofia do jogo.

Direção de Arte

E aí vem a direção de arte. A cereja ritualística do bolo.

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Tóquio aqui é uma colagem de cyberpunk discreto com espiritualidade ancestral.

Placas de néon tremeluzindo no meio da névoa, portões Torii flutuando no céu, yokais que parecem ter saído de uma fusão entre mangás de terror e xilogravuras japonesas.

Tudo isso contribui para um universo visual que não precisa ser realista — precisa ser evocativo.

As cores, os brilhos, os efeitos de partícula… há algo de hipnótico em cada combate. Em cada ritual.

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Até em cada loja de conveniência habitada por “gatinhos” comerciantes sobrenaturais. Sim, isso existe. E sim, funciona esteticamente e simbolicamente.

Longe de ser um walking simulator, no fim das contas, Ghostwire: Tokyo não te entrega apenas uma história ou um gameplay dinâmico. Ele te oferece uma frequência sensorial — e você escolhe se quer sintonizar com ela ou não.

O Limbo Publicitário e a Invisibilidade de um Jogo Incomum

Ghostwire: Tokyo não foi um fracasso de crítica. Não foi um desastre técnico. Não foi uma bagunça criativa.

Mas ainda assim, ele sumiu. Evaporou das conversas. Desapareceu das timelines. E tudo isso tem menos a ver com o jogo em si — e mais com o que aconteceu fora dele.

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A Tango Gameworks, estúdio fundado por Shinji Mikami (criador de Resident Evil), estava prestes a lançar um de seus projetos mais ousados: uma nova IP, com estética forte, combate diferentão, e foco em folclore japonês moderno.

A Sony, que havia garantido exclusividade temporária no PS5, promovia o jogo com trailers e destaque nos eventos.

Mas então veio a bomba: a Microsoft comprou a Bethesda, empresa-mãe da Tango, no meio do ciclo de produção.

O impacto foi imediato. Ghostwire — junto com Deathloop — virou uma espécie de órfão contratual.

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Ainda era exclusivo temporário do PlayStation 5, mas agora pertencia à concorrência.

O resultado? Um jogo sem pai nem mãe de marketing.

A Sony, que antes promovia com entusiasmo, simplesmente parou de divulgar. A Microsoft, por sua vez, não faria propaganda de um jogo que nem sairia no seu console (ainda).

E assim, Ghostwire: Tokyo foi lançado… nesse vácuo.

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As reviews foram mornas, em grande parte por expectativas desalinhadas.

Muitos esperavam um jogo de ação frenética ou, sei lá, um sucessor espiritual de The Evil Within. O que receberam foi uma experiência mais contemplativa, moderada, e profundamente autoral.

A crítica olhou, não entendeu — e seguiu em frente.

Mas o público que deu uma chance, com o tempo, começou a formar uma fanbase.

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A estética atraiu. O combate intrigou. As histórias secundárias emocionaram. E aos poucos, Ghostwire foi deixando sua marca — não como um blockbuster, mas como um jogo estranho e precioso, que se recusa a ser igual a qualquer outro.

Hoje, com sua chegada ao Game Pass e sua reaparição tímida nas conversas da comunidade, o jogo começa a ser redescoberto.

Tarde demais para o hype, talvez. Mas no tempo certo para quem sabe olhar com mais calma.

Porque alguns jogos não foram feitos pra serem vendidos em massa. Foram feitos pra te encontrar no momento certo — quando o silêncio fizer mais sentido que o ruído.

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Onde Ghostwire: Tokyo Acerta e Erra?

Ghostwire: Tokyo é uma carta de amor a Shibuya.

Shibuya - Tokyo
Shibuya – Tokyo

Shibuya é uma região especial da Metrópole de Tóquio, no Japão. Um dos principais centros comerciais e financeiros do mundo.

O jogo não só retrata a região com detalhes arquitetônicos extremamente fiéis — ruas, praças, becos e até lojas são baseados em locais reais — como também captura a alma da cidade, com toda a sua fusão de tradição e modernidade, de espiritualidade ancestral e vida urbana acelerada.

A ausência de pessoas transforma Shibuya numa espécie de maquete viva da própria solidão moderna. Ainda assim, ela é vibrante.

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Os letreiros continuam piscando. As lojas de conveniência estão intactas. Os ônibus parados no sinal continuam com o letreiro aceso. Você sente a presença do cotidiano mesmo na ausência dele — o que transforma a ambientação do jogo em uma homenagem sensível e inquietante à Tóquio real.

Além disso, os yokais e espíritos que povoam o mapa são representações diretas do imaginário japonês.

Eles surgem nos mesmos lugares onde, na vida real, você ouviria histórias urbanas de aparições, maldições e crenças espirituais locais. É como se o jogo dissesse: “Essa cidade tem alma — e ela está falando com você.”

Pontos Fortes

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  • Direção de arte arrebatadora
  • O visual do jogo é uma aula de ambientação: neons contra a névoa, yokais estilizados e uma Tóquio vazia que pulsa misticismo e melancolia.
  • Combate único e estiloso
  • A mecânica baseada em gestos místicos traz frescor ao gênero. Quando funciona, parece que você está coreografando um ritual, não apenas lutando.
  • Atmosfera e imersão sensorial
  • Gráficos de nova geração, incluindo implementação de Ray Tracing tanto nos reflexos quanto nas sombras.
  • Trilha sonora minimalista, HUD discreto e efeitos sonoros cirúrgicos criam uma experiência envolvente que vai muito além da tela.
  • Ghostwire: Tokyo está 100% localizado, incluindo dublagem PT-Br de alto nível.
  • Histórias secundárias sensíveis e tocantes
  • As side quests entregam pequenas narrativas humanas, muitas vezes mais impactantes que o arco principal. Simples, mas convincentes.
  • Folclore japonês tratado com respeito e beleza
  • Os yokais e elementos culturais não são apenas adereços — fazem parte viva da estrutura do jogo e dão identidade à experiência.

Pontos Fracos

  • Ritmo lento e estrutura pouco convencional
  • Quem espera ação intensa desde o início pode se frustrar com a cadência mais contemplativa e com a narrativa sutil.
  • Combate se torna repetitivo
  • Apesar do estilo, a variedade de inimigos e estratégias não evolui o suficiente ao longo da campanha.
  • Narrativa principal não decola como poderia
  • O arco de Akito e KK é interessante, mas carece de clímax forte. A carga emocional vem mais das missões paralelas do que da trama central.
  • Primeira impressão pode afastar
  • O jogo não se vende bem nos primeiros minutos. Ele exige tempo, paciência — e uma certa disposição.

Ghostwire: Tokyo é Para Todo Mundo?

Esse não é um jogo fácil de rotular. Não entrega respostas prontas, nem segue fórmulas. Ele caminha por becos vazios, sussurra ao invés de berrar, e pede ao jogador mais sensibilidade do que pressa.

Talvez por isso tenha sido ignorado por tantos — porque o mercado atual nem sempre sabe o que fazer com obras que não se encaixam.

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Em Ghostwire: Tokyo tem Doguinho Caramelo
Em Ghostwire: Tokyo tem Doguinho Caramelo

Mas pra quem se permite escutar, o que há aqui é raro: uma jornada urbana sobre luto, solidão e reconexão.

Uma história que fala de espíritos, mas está profundamente interessada nos vivos. Uma cidade onde o vazio fala mais alto que o caos, e onde a beleza se esconde nos detalhes que muita gente não viu — porque não estava olhando com atenção suficiente.

Akito não é um herói. KK não é um mentor. Tóquio não é um mapa. E Ghostwire não é só um jogo: é um ritual interativo entre dois mundos — o do que vemos, e o do que ainda estamos tentando entender.

Agora que o título ganhou mais visibilidade com o tempo, talvez finalmente encontre os olhos certos.

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Talvez sua falta de polemica, antes interpretado como fraqueza, comece a soar como algo muito mais poderoso: um chamado sutil, esperando por quem está pronto pra escutar.

Ghostwire: tokyo

Porque, no fim, nem todos os fantasmas querem assustar. Alguns só não querem ser esquecidos. Não é sobre caçar fantasmas. É sobre entender por que eles ainda estão aqui.

Obrigado por nos ler até aqui! Qualquer dúvida ou sugestão, nos deixe um comentário. Até a próxima!

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