Prey 2017 - Arkane Studio - Bethesda
Prey 2017 - Arkane Studio - Bethesda

A ideia de desconstrução filosófica da identidade humana e da consciência permeia o conceito de Prey (o de 2017), um jogo que, à sua própria maneira, apresenta questões profundas sobre ética, moralidade, realidade e percepção.

Há algo inerentemente perturbador sobre perder o controle da a própria identidade. Nós somos realmente quem pensamos ser? Ou apenas uma versão cuidadosamente construída, empacotada em uma narrativa conveniente para satisfazer expectativas externas?

Desenvolvido pela Arkane Studios e publicado pela Bethesda Softworks, Prey é um título que explora a fragilidade da realidade como a conhecemos e nos coloca no centro de um enigma complexo, onde a linha entre o certo e o errado é, muitas vezes, nebulosa.

Quando lançado em maio de 2017, Prey chamou a atenção por desafiar os paradigmas tradicionais dos shooters em primeira pessoa. Ao invés de simplesmente se apoiar na fórmula batida de “correr e atirar”, o jogo trouxe uma abordagem muito mais reflexiva e estratégica. Com influências claras de clássicos como System Shock 2 e Bioshock, ele oferece um mundo aberto envolvente, onde cada corredor estreito e sala de testes parece “vivo” e com um propósito oculto.

Tudo dentro da estação espacial Talos I parece projetado para instigar a curiosidade de quem está jogando e sempre recompensa por cada descoberta, levando a uma imersão completa.

A narrativa, por sua vez, é uma rede de intrigas, agendas ocultas e manipulações. O enredo se desenrola de forma gradativa e instigante, impulsionado pelas escolhas que fazemos e pelo acesso gradual a fragmentos de história através dos registros de áudio, e-mails e notas.

Na essência, a trama segue Morgan Yu, um (ou uma) cientista cuja memória foi apagada como parte de um experimento conduzido pela própria empresa de sua família, a TranStar Corporation. Morgan precisa desvendar os mistérios por trás da infestação alienígena que tomou a Talos I, enquanto questiona sua própria identidade e o verdadeiro propósito de seus experimentos.

A partir do momento em que você assume o controle de Morgan, a experiência é carregada de tensão e incerteza. Os Typhon, uma raça alienígena capaz de se transformar em objetos do dia a dia, forçam você a apurar a própria percepção do que é real.

Tipo assim, uma caneca sobre a mesa pode ser inofensiva ou um Mimico prestes a saltar na sua cara. Essa imprevisibilidade te mantém constantemente alerta, enquanto procura por respostas no caos sombrio da estação.

Em Prey, seja a presa ou o predador
Em Prey, seja a presa ou o predador

Então, se você é um fã de thrillers psicológicos, ficção científica (bem escrita) e experiências de jogos imersivos, Prey é um jogo que vale a pena conhecer.

A análise completa que segue fala o desenvolvimento conturbado do jogo, mergulhando em sua narrativa complexa, gameplay variado e elementos de design inovadores, para compreender por que ele continua icônico anos após seu lançamento.

Fique conosco até o final, enquanto exploramos como Prey utiliza sua narrativa envolvente e mecânicas de gameplay cuidadosamente entrelaçadas para questionar não apenas as escolhas do jogador dentro do jogo, mas também sua percepção do mundo real. A partir daqui, mergulharemos nas camadas filosóficas e emocionantes deste thriller espacial, destrinchando cada aspecto deste jogo sensacional.

Desenvolvimento de Prey

O desenvolvimento de Prey pela Arkane Studios foi uma história cheia de reviravoltas dramáticas, como um thriller novelístico. Para se ter uma ideia, o título nasceu a partir das cinzas de um projeto que tinha sido cancelado e sofreu uma evolução criativa considerável antes de finalmente ver a luz da Steam. Aliás, para entender essa trajetória, precisamos voltar ao início dos anos 2000.

A primeira encarnação de Prey remonta a 1995, quando a 3D Realms anunciou seu desenvolvimento. Após uma série de problemas, o projeto original foi engavetado e permaneceu como um “vaporware” até 2006, quando a Human Head Studios lançou um shooter de ficção científica bem recebido com o mesmo nome.

Logo após seu lançamento, uma sequência foi prometida: O tal do “Prey 2” que inicialmente contaria a história de um caçador de recompensas em um mundo alienígena. No entanto, tretas… digo, questões internas entre a Human Head e a Bethesda resultaram no cancelamento do projeto.

Foi aí que a Arkane Studios entrou em cena. Fundada em 1999, a Arkane já havia conquistado algum reconhecimento com jogos como Arx Fatalis e Dishonored, o que chamou a atenção da Bethesda. Em 2013, os dois estúdios colaboraram para um novo projeto chamado Prey 2, mas sob uma abordagem totalmente diferente. O projeto foi abandonado logo após sua concepção, pois a Arkane queria criar algo que se distanciasse dos rascunhos anteriores. Em vez de continuar com a história de um caçador de recompensas, a Arkane reinventou o conceito original, dando origem a uma nova visão.

Raphael Colantonio e Ricardo Bare, diretores criativos na Arkane, tiveram a missão de reimaginar Prey sob a perspectiva de um thriller psicológico com raízes profundas nos clássicos de ficção científica dos anos 60 e 70. Eles imaginaram uma narrativa ambientada em uma linha do tempo alternativa onde o presidente John F. Kennedy sobreviveu ao atentado de 1963, levando a uma corrida espacial intensificada que culminou na construção da estação Talos I.

O desenvolvimento do jogo, no entanto, não foi isento de problemas. Integrar os conceitos de identidade e consciência dentro do universo de ficção científica foi um processo trabalhoso. Inclusive, vale mencionar que a equipe queria que a estação espacial Talos I fosse um personagem por si só, com histórias contadas através de seus corredores, salas e anotações. O lance era combinar um design de mundo meticulosamente detalhado com a liberdade do jogador poder explorar praticamente tudo.

A influência de System Shock e Bioshock estava presente desde o início, com a Arkane buscando criar um mundo aberto coeso, mas recheado de perigos e segredinhos obscuros. Isso resultou na estação Talos I, uma maravilha da arquitetura art déco e brutalismo, que envolve os jogadores em uma grandiosidade incrível. A ideia de que cada objeto poderia ser uma ameaça (um Mimico disfarçado) adicionou um elemento constante de suspense e paranoia em quem jogasse.

Mímico (Typhon cacoplasmus)
Mímico (Typhon cacoplasmus)

Além disso, a equipe inovou ao criar um sistema de progressão que encoraja o jogador a experimentar diferentes estilos de jogada. Os neuromods, tecnologias (eticamente questionável) que conferem habilidades especiais, permitiram uma variedade de abordagens, tornando o combate e a resolução de quebra-cabeças extremamente flexíveis.

O resultado final? Um jogo altamente viciante que conseguiu capturar a essência do horror psicológico enquanto oferecia um playground aberto e recompensador para os exploradores mais curiosos.

A Arkane Studios conseguiu entregar um produto que, apesar de suas origens complicadas, encontrou seu próprio lugar de destaque no cenário dos videogames.

O projeto de Prey não foi apenas a reimaginação de um título clássico, mas sim sobre perseverança criativa, inovação no design e a ambição de construir um mundo onde o jogador pudesse se perder, no bom sentido. Este é um exemplo de como mesmo os projetos mais “zuados” podem resultar em algo de sucesso quando uma equipe talentosa e determinada encontra sua visão coletiva.

Enredo de Prey

A história de Prey se desenrola em uma linha do tempo alternativa, na qual a humanidade fez avanços colossais em tecnologia e exploração espacial após a sobrevivência do presidente John F. Kennedy ao atentado de 1963. Nesse cenário reimaginado, a estação espacial Talos I, um complexo de pesquisa flutuando na órbita lunar, serve como o pano de fundo para uma trama que explora questões como identidade, consciência e moralidade. É complexo, então, vamos por partes…

A Estação Talos I e os Typhon

Construída, abandonada, readquirida e reaproveitada: A Talos I, uma estação de pesquisa grandiosa pertencente à TranStar Corporation, foi originalmente construída como parte de uma colaboração entre os Estados Unidos e a União Soviética para estudar os Typhon, uma raça alienígena. Após a queda da União Soviética, a estação passou para as mãos da TranStar, que continuou os experimentos com os Typhon para desenvolver “neuromods” – implantes que adicionam instantaneamente habilidades especiais aos humanos (similar a Matrix, mas de maneira diferente).

PREY Talos I - Arkane Studio - Bethesda
Talos I – Arkane Studio – Bethesda

Os Typhon são uma ameaça alienígena com uma variedade de formas, sendo a mais emblemática os Mímicos, que são criaturas capazes de se transformar em objetos comuns para emboscar e sugar suas vítimas. Outras variações como os Phantoms, têm mais habilidades letais e movimentos rápidos, e tem também os Telepaths, que podem controlar a mente dos humanos.

Morgan Yu e a Invasão

Você assume o controle de Morgan Yu, um(a) cientista da TranStar que é inicialmente revelado como sendo uma cobaia de testes com os Neuromods. A escolha entre o gênero masculino ou feminino de Morgan não afeta a narrativa principal, mas abre mais possibilidade de inclusão para os jogadores.

Prey (2017) - Morgan Yu
Prey (2017) – Morgan Yu

A trama começa com Morgan acordando em seu apartamento, apenas para descobrir que está preso em um loop artificial projetado pela equipe de pesquisa da TranStar.

Após escapar dessa rotina simulada, Morgan descobre que a estação foi dominada pelos organismos Typhon. Sua missão se torna simples, mas desesperadora: sobreviver e impedir que os Typhon cheguem à Terra. No entanto, ao mesmo tempo em que luta para salvar a humanidade, Morgan precisa também descobrir a verdade sobre seus próprios experimentos e a extensão das manipulações da TranStar em sua identidade. Louco, né!?

Questões de Identidade e Consciência

Uma das revelações iniciais mais impactantes é que Morgan está sofrendo de amnésia devido aos repetidos implantes e remoções de neuromods (bota casaco, tira casaco…), que apagaram suas memórias. À medida que explora a Talos I, Morgan encontra mensagens e registros de áudio deixados por sua versão anterior, revelando gradualmente a complexidade moral de suas próprias decisões. A narrativa é fantástica e explora as consequências éticas e filosóficas dessas tecnologias, questionando até que ponto a identidade pode ser alterada antes de perdermos o controle sobre quem realmente somos.

Personagens

Além de Morgan, a Talos I abriga uma variedade de personagens com seus próprios objetivos e agendas. Entre eles, alguns merecem um pouco mais de destaque:

Alex Yu: Irmão mais velho de Morgan e presidente da TranStar. Sua lealdade e motivos são ambíguos, variando entre o desejo de proteger Morgan e o interesse em avançar a pesquisa da empresa a qualquer custo.

January: Uma inteligência artificial programada pela versão anterior de Morgan para ajudá-lo a destruir a Talos I e evitar que os Typhon cheguem à Terra. O interessante é que esse seria o lado pragmático de Morgan.

December: Outra IA que incentiva Morgan a escapar da Talos I em vez de destruí-la. Já essa IA representa um lado mais compassivo e egoísta de Morgan.

Danielle Sho: A chefe de TI da Talos I, envolvida em um relacionamento secreto com a atriz Abigail Foy. Suas interações refletem questões de identidade e revelam mais sobre a complexidade da equipe da TranStar.

Mikhaila Ilyushin: Engenheira-chefe da estação, lidando com um passado conturbado e uma condição médica oculta.

Dr. Dayo Igwe: Cientista especializado no estudo dos Typhon e das neuromods, com uma visão intrigante sobre as implicações filosóficas de suas pesquisas.

Atmosfera de Prey

A Talos I é uma obra de arte em si, com um design labiríntico que oculta inúmeras passagens secretas. O mais legal é que cada área da estação oferece uma perspectiva única sobre a pesquisa e os conflitos internos da própria TranStar. Desde os laboratórios reluzentes até as partes mais escuras e abandonadas, o mundo do jogo é, em muitos momentos, opressivo e fascinante ao mesmo tempo.

Uma estação espacial infestada de alienigenas
Uma estação espacial infestada de alienígenas

A atmosfera tensa é acentuada pela presença constante dos Typhon, que podem surgir de qualquer lugar, transformando cada canto em uma ameaça potencial.

Múltiplos Caminhos e Finais

O jogo oferece múltiplos caminhos e abordagens para a progressão. As escolhas do jogador ao interagir com os outros personagens, completar missões secundárias e lidar com os Typhon têm consequências significativas para a narrativa, já que Prey possui diversos finais, influenciados pelas ações do jogador ao longo da gameplay.

Sem spoilers, mas o verdadeiro significado desses finais só é revelado após os créditos. Você é finalmente confrontado com o resultado das suas escolhas ao longo do jogo, um toque final que adiciona um elemento filosófico instigante à história.

A narrativa de Prey questiona as fronteiras entre realidade e ilusão, identidade e moralidade. Dá para perceber que cada elemento foi cuidadosamente entrelaçado para criar uma experiência imersiva, na qual os jogadores podem se perder enquanto exploram os mistérios da Talos I.

Mecânicas de Gameplay

Ok, mas como as ideias de Prey se traduzem em jogabilidade? Prey é uma combinação perfeita de elementos de RPG, exploração de ambientes, combate estratégico e resolução de quebra-cabeças, criando uma experiência que desafia os jogadores a cada passo. Com influências claras de clássicos como System Shock e Deus Ex, Prey oferece uma proposta inovadora em um jogo de tiro em primeira pessoa, valorizando mais a criatividade e a flexibilidade de quem joga. Um verdadeiro Immersive Sim, em poucas palavras.

Combate e Armas

O combate em Prey é caracterizado por uma tensão constante devido à presença dos Mimicos, que podem se transformar em objetos comuns e atacar de forma inesperada. A incerteza sobre o que é ou não seguro mantém você ligado, tornando cada encontro potencialmente perigoso. Os tipos de inimigos variam de Mímicos pequenos com quatro patas aos Phantoms rápidos e letais com poderes elementares, e cada encontro requer estratégias diferentes. Para enfrentar essas ameaças, temos acesso a uma variedade de armas e ferramentas:

Bater de frente nem sempre é a melhor abordagem
Bater de frente nem sempre é a melhor abordagem

Canhão GLOO: Além de ser uma arma, ele é uma ferramenta multifuncional que dispara uma substância adesiva, capaz de prender inimigos no lugar ou criar plataformas temporárias para alcançar áreas inacessíveis. Também pode ser usada para apagar fogo, isolar terminais elétricos ou, até mesmo, selar vazamentos de radiação. Em resumo, é pau pra toda obra.

Pistola: Ideal para eliminar inimigos menores com precisão e furtividade, já que é equipada com sistema silenciador nativo. É curioso ter armas de fogo a bordo de uma estação espacial. Mas, enfim, eu não sou o roteirista!

Espingarda: “Amém, calibre 12, o santo que define a humildade…” Uma arma de combate corpo a corpo clássica poderosa, muito eficaz contra inimigos maiores como Phantoms.

Disruptor Stun Gun: Uma pistola compacta de eletrochoque que pode atordoar inimigos orgânicos e máquinas, sendo útil para abordagens não letais.

Q-Beam: Um rifle que emite raios de partículas que desintegram inimigos Typhon ao longo do tempo.

Caça-Virotes: Uma besta que dispara dardos de espuma. Não é uma arma exatamente, mas sim uma ferramenta que pode ser usada para acionar botões em painéis Touch a distância.

Além dessas armas, há alguns dispositivos (granadas), como a Carga Reciclante, que transforma materiais orgânicos e objetos em matéria-prima reciclável. A engenhosidade do jogador é incentivada, com várias combinações de armas, dispositivos e habilidades disponíveis para abordar diferentes tipos de inimigos.

Criação de Itens

Em Prey é possível criar armas e itens a partir de materiais reciclados e essa é uma das coisas mais legais que se pode fazer. Para isso, você precisa usar o construtor, uma máquina de fabricação encontrada em várias partes da estação espacial Talos I.

Como funciona? Simples! Primeiro, você coleta recursos quebrando itens desnecessários ou inutilizáveis nos recicladores. Isso transforma esses itens em materiais recicláveis como Minerais, Orgânicos, Sintéticos e Exóticos. Você pode usar uma grana “Carga Reciclante” para obter matérias também. A dica é amontoar o máximo de objetos em um canto da sala e jogar o artefato.

Prey (2017) - Reciclador
Prey (2017) – Reciclador

Depois, você precisa encontrar uma Planta de Fabricação (projeto ou receita), que estão espalhadas pela estação.

Com os materiais recicláveis e a Planta de Fabricação em mãos, vá até um Construtor e fabrique armas, munições, kits médicos, kits de reparo e melhorias para seu traje espacial, entre outros itens.

Prey (2017) - Construtor
Prey (2017) – Construtor

A reciclagem é um componente fundamental do jogo, pois ajuda a manter você abastecido e equipado, pronto para enfrentar os desafios, que não são poucos. Ah! E por último, assim como em jogos como Skyrim, é possível armazenar objetos em móveis, gavetas, armários ou até mesmo em bolsos de personagens mortos e o jogo sempre salva essas informações.

Progressão da Árvore de Habilidades

A progressão do nosso personagem é basicamente por meio dos Neuromods, os implantes tecnológicos que concedem habilidades especiais de forma instantânea. O processo de instalação através dos olhos é perturbador, se assemelhando ao método clássico de lobotomia e, inclusive, se tornou um símbolo marcante no jogo. Além disso, os Neuromods representam a promessa e os perigos da ambição humana em ultrapassar os limites da evolução.

Prey (2017) - Arvore de Habilidades
Prey (2017) – Arvore de Habilidades

Podemos encontrar neuromods em toda a estação ou fabricá-los utilizando materiais apropriados (e tendo a Planta de Fabricação). As habilidades são divididas em basicamente em duas categorias principais:

Habilidades Humanas

  • Ciência: Foca em habilidade de hacking, regeneração de saúde e melhoria de habilidades psíquicas.
  • Engenharia: Inclui habilidades como Reparo (consertar máquinas avariadas), Força (levantar objetos pesados) e Modificação de Armas (melhorar as armas).
  • Segurança: Abrange as habilidades de combate, como aumento de vida, resistência e proficiência com armas.

Habilidades Typhon

  • Energia: Concede habilidades psíquicas poderosas, como Psychoshock (paralisar inimigos) e Electrostatic Burst (lançar uma explosão elétrica).
  • Morfismo: Permite que você se transforme em objetos do ambiente, como os Mímicos, para evitar detecção ou acessar áreas inacessíveis. Por exemplo, você pode virar uma caneca e rolar através de um buraco pequeno.
  • Telepatia: Inclui habilidades como Machine Mind (controlar máquinas) e Mindjack (controlar inimigos humanos).
Prey - Instalação de Neuromods
Prey – Instalação de Neuromods

No entanto, vale mencionar que a instalação de neuromods com habilidades Typhon fará com que as torres de segurança e sistemas de defesa da estação reconheçam você como uma ameaça Typhon, dificultando sua vida em alguns casos. Isso irá alterar completamente sua estratégia de jogo.

Exploração e Resolução de Quebra-Cabeças

A Talos I é um ambiente labiríntico muito bem construído, composto por 12 diferentes áreas interconectadas, como o Lobby Principal, Laboratórios de Pesquisa, Arboretum e outras. Cada área apresenta seus próprios temas visuais e desafios, com inimigos perigosos, quebra-cabeças complexos e missões secundárias que adicionam profundidade ao mundo e a história do jogo. Vale a pena vasculhar tudo.

Talos I - Departamentos
Talos I – Departamentos

A exploração é fundamental, incentivando os jogadores a retornarem a áreas anteriores com novas habilidades para acessar partes que eram inacessíveis. Por exemplo, Força I, II e III te permitirá mover grandes obstáculos, enquanto habilidades de hacking abrem portas trancadas ou cofres secretos. A GLOO Cannon pode ser usada para criar plataformas e acessar lugares altos, enquanto habilidades de Mímico permitem que o jogador se transforme em objetos pequenos para passar por espaços impossíveis.

Talos I - Departamentos
Talos I – Departamentos

Em alguns momentos do jogo, você estará em ambientes de gravidade zero, incluindo a orbita da Talos I. O conceito de “acima e abaixo” se perdem completamente e você precisa orientar de acordo com os objetos ao redor. Sem duvida foi uma das experiências mais marcantes do jogo. O silencio criado pela falta de atmosfera do lado de fora da estação, gera uma profunda sensação de infinito e solidão, nos lembrando do quanto somos insignificantes na vastidão do cosmos.

Talos I - Departamentos
Talos I – Departamentos

A resolução dos quebra-cabeças é uma parte essencial do gameplay, com muitas áreas trancadas exigindo criatividade para serem acessadas. Documentos, e-mails e mensagens de áudio espalhados pela Talos I fornecem pistas para resolver quebra-cabeças ou obter códigos para cofres e portas. Independente de como você evolua seu personagem, é sempre possível resolver um problema com uma abordagem diferente.

Elementos de RPG e Dilemas Morais

Prey incorpora elementos de RPG através das missões secundárias e escolhas morais que temos que fazer. As missões secundárias fornecem contexto adicional para a história da Talos I e seus habitantes, muitas vezes apresentando dilemas morais que afetam o curso da narrativa. Por exemplo, você pode optar por ajudar Mikhaila Ilyushin, fornecendo-lhe medicamentos para sua condição médica, ou deixá-la à própria sorte.

Essas escolhas têm consequências diretas na progressão da história e nos diferentes finais disponíveis. Você tem a constante sensação de que é um ratinho de laboratório e sua moralidade é questionada em diversos momentos, seja na interação com outros sobreviventes ou na decisão de utilizar habilidades Typhon que afetam a percepção dos sistemas de segurança e te tornam menos humano de certa forma.

Curva de Aprendizado

A curva de aprendizado de Prey pode ser íngreme para jogadores não muito familiarizados com jogos imersivos. A falta de orientação clara e a necessidade de explorar minuciosamente cada área, embora extremamente satisfatória, podem ser desafiadoras para alguns jogadores. No entanto, o jogo recompensa os que dedicam tempo para entender as mecânicas. A gestão de recursos também é crítica, especialmente em dificuldades mais altas, onde munição e kits médicos são escassos.

A jogabilidade de Prey é um equilíbrio entre criatividade, estratégia e resolução de quebra-cabeças. A combinação de combate, exploração e habilidades personalizáveis te oferece uma liberdade quase ilimitada para abordar os desafios da maneira que preferir. Seja através do combate direto, furtividade ou manipulação dos sistemas da Talos I, o jogo é um convite a engenhosidade e a experimentação, tornando cada abordagem única.

Modos Alternativos

Além da campanha principal, Prey oferece modos alternativos como o New Game Plus nos permite começar um novo jogo mantendo habilidades e equipamentos adquiridos na gameplay anterior.

O Survival Mode adiciona condições de sobrevivência que tornam o jogo mais desafiador, como necessidade de reparos constantes no traje, falta de oxigênio, e traumas.

O Modo História Oferece uma experiência mais voltada para a narrativa, reduzindo a dificuldade dos inimigos e outros desafios para quem quer apenas curtir sem estresse.

Conteúdos Adicionais (DLCs)

Prey – Mooncrash: Uma expansão que introduz um novo modo tipo roguelike, onde precisamos escapar de uma base lunar enquanto enfrentamos ameaças e desafios crescentes. Cada vez que você inicia o jogo, a disposição dos inimigos, itens e objetivos muda, tornando cada tentativa única. Nessa jornada, não jogamos como Morgan Yu, mas sim, com um dos cinco personagens jogáveis com habilidades e equipamentos distintos que estão disponíveis.

Prey – Typhon Hunter: Um modo multiplayer de esconde-esconde, no qual quem está jogando controla Morgan enquanto os outros controlam os Mimicos, que podem se transformar em objetos para enganar o protagonista. Há também um modo single-player em realidade virtual que apresenta quebra-cabeças adicionais.

Direção de Arte

A qualidade gráfica de Prey é um dos pilares que sustentam a experiência imersiva e envolvente oferecida pela Arkane Studios. O estilo artístico e a execução técnica colaboram para criar uma atmosfera opressiva e inquietante, reforçando os temas de horror psicológico e ficção científica que permeiam o jogo.

A direção de arte de Prey é notavelmente influenciada pela arquitetura Art Déco, Brutalista e retrofuturismo. A Talos I reflete essas influências com seus corredores austeros e salões grandiosos que lembram as grandes obras arquitetônicas do início do século XX. Esse contraste entre a opulência Art Déco e o funcionalismo brutalista cria um ambiente único, ao mesmo tempo belo e perturbador.

Arte Déco – Elementos como os salões espaçosos e o uso de metais brilhantes e mármore nos pisos e paredes dão à estação uma aparência luxuosa. O Lobby Principal e o exterior da Talos I exemplificam esse estilo, evocando a grandiosidade das mansões e hotéis da Era do Jazz.

Exemplo de Art Deco - Imagem Freepik
Exemplo de Art Deco – Imagem Freepik

Brutalismo – Em áreas como os Laboratórios de Pesquisa e os túneis industriais, predominam as estruturas angulosas de concreto e metal, transmitindo uma sensação de frieza e pragmatismo. O brutalismo complementa perfeitamente os temas de horror e ficção científica, reforçando a opressão da estação.

Exemplo de Arquitetura Brutalista - Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - Imagem @alvesdocarmogustavo - Instagram
Exemplo de Arquitetura Brutalista – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – Imagem @alvesdocarmogustavo – Instagram

Além da arquitetura, os próprios Typhon contribuem para o visual característico do jogo. Suas formas amorfas e etéreas contrastam com a rigidez angular da Talos I, criando uma dicotomia visual entre o humano e o alienígena. As criaturas, como os Phantoms e os Mimics, possuem um design totalmente esquisito que reflete a ameaça insidiosa que representam.

Qualidade Visual e Técnica

Tecnicamente, Prey é executado no CryEngine, o motor gráfico da CryTek, que é conhecido por sua capacidade de renderizar ambientes detalhados e realistas (“Roda Crysis”). A Arkane Studios fez um excelente uso desse motor, proporcionando gráficos de alta qualidade que reforçam a imersão. Alguns aspectos que merecem destaque incluem:

Iluminação e Sombras – O uso de iluminação dinâmica é impressionante, especialmente nas áreas mais escuras da Talos I, onde a única fonte de luz pode ser a lanterna de Morgan. As sombras projetadas pelos Typhon criam uma atmosfera de suspense, enquanto a iluminação natural nas áreas abertas, como o Arboreto, oferece um certo alívio visual.

Texturas e Materiais – As texturas das superfícies metálicas, pisos de mármore e materiais orgânicos não impressionam, mas conferem bom realismo aos ambientes. A atenção aos detalhes nos objetos cotidianos, como canecas e mesas, torna o cenário ainda mais crível.

Efeitos Particulares – O efeito de transformação dos Mimics, a desintegração provocada pelo Q-Beam e as explosões de eletricidade dos Phantoms criam uma sensação de perigo constante. Esses efeitos são renderizados com clareza e fluidez sem eventuais bugs.

Desempenho nos Consoles e PC

Nos consoles, Prey é executado a 30 quadros por segundo (fps) em resoluções variando de 900p (Xbox One) a 1080p (PlayStation 4). A versão para Xbox One X e PlayStation 4 Pro oferece gráficos aprimorados, com melhor filtragem de texturas e resolução mais alta. Entretanto, Prey não recebeu nenhum upgrade para PS5 ou XBOX Serie S/X.

No PC, o jogo pode ser executado a mais de 120 fps, dependendo da configuração do hardware, e oferece suporte para resoluções até 4K também.

Apesar do desempenho sólido na maioria das plataformas, alguns problemas de otimização e bugs foram relatados no lançamento. Isso incluiu travamentos, problemas de carregamento e falhas nas físicas, principalmente em alta taxa de quadros. No entanto, a Arkane providenciou rapidamente atualizações que corrigiram a maioria desses problemas, resultando em uma experiência mais estável e refinada.

Atualmente o jogo está perfeito. Após o lançamento inicial, a Arkane Studios forneceu suporte contínuo para Prey, lançando várias atualizações que melhoraram a experiência e corrigiram problemas. Algumas das melhorias e correções como aprimoramentos de Desempenho, otimizações para os consoles e correções para travamentos no PC, melhorando significativamente a estabilidade do jogo.

Além disso, correções de Bugs Solução de falhas nas físicas e na inteligência artificial, tornando os inimigos mais responsivos e reduzindo problemas de travamento de inimigos em objetos.

Trilha Sonora de Prey

A trilha sonora de Mick Gordon para Prey é um exemplo brilhante de como a música e os efeitos sonoros podem ser fundamentais para a narrativa e a atmosfera de um jogo.

A combinação de temas melódicos sutis com uma paleta sonora rica e variada ajuda a estabelecer um ambiente envolvente que é tão crucial para a experiência de jogo. O trabalho de Gordon não apenas apoia a ação na tela, mas também aprofunda o tema central de isolamento e mistério, tornando Prey uma experiência memorável e coesiva tanto auditivamente quanto visualmente.

Para quem não conhece, Mick Gordon é um compositor australiano que ganhou destaque na indústria de videogames por suas composições intensas e atmosféricas. Foi ele quem compôs a trilha sonora de Doom (2016), Doom Eternal, Wolfenstein e muitos outros títulos de peso.

Mick Gordon - Imagem ROTTMNTisDopesmh Reddit
Mick Gordon – Imagem ROTTMNTisDopesmh Reddit

Sua abordagem para a música de Prey foi mais um fruto de sua expertise em mesclar elementos eletrônicos com orquestrais, criando trilhas sonoras que complementam perfeitamente o tom e o estilo dos jogos para os quais compõe.

A habilidade de Gordon em manipular sons e criar texturas musicais únicas é evidente ao longo da trilha sonora de Prey, onde ele usa uma mistura de sintetizadores, samples e instrumentos acústicos para capturar a essência do isolamento e da incerteza.

A música segue uma abordagem minimalista e experimental, onde os sons ambientais se misturam às faixas musicais, borrando as linhas entre a trilha sonora e os efeitos sonoros do jogo. Este método cria uma experiência auditiva contínua que mantém os jogadores em um estado constante de alerta e antecipação.

Os temas principais são sutis e muitas vezes incorporam sons distorcidos e texturas eletrônicas que refletem a natureza alienígena dos Typhon. Por exemplo, o uso frequente de reverberações e ecos cria uma sensação de espaço e vazio, evocando a vastidão e o isolamento da estação espacial. Em momentos de tensão, a música se intensifica, com ritmos mais rápidos e sons mais agudos que aumentam a ansiedade e o suspense, especialmente durante encontros com inimigos.

Efeitos Sonoros de Prey

Os efeitos sonoros em Prey são habilmente utilizados para complementar a trilha sonora. O jogo faz um trabalho excepcional ao integrar sons ambientais, como o zumbido de equipamentos da estação, alertas de segurança e os sons estranhos e perturbadores dos Typhon. Esses efeitos são não apenas indicativos da presença de ameaças, mas também servem para aumentar a imersão, nos fazendo sentir como parte daquele mundo.

Um bom exemplo é o jeito como os sons dos Mímicos se misturam com a música. Quando um Mimico está num ambiente “disfarçado” de algum objeto, o som produzido é uma combinação de efeitos sonoros orgânicos e sintéticos que se intensifica à medida que nos aproximamos da criatura, criando uma tensão de suspense e medo.

Esse detalhe, inclusive, garante que quem estiver jogando nunca se sinta completamente seguro, reforçando a constante vigilância e desconfiança que Prey busca provocar. É comum depois de longas seções de gameplay, você ficar meio paranoico com pequenos sons de estalo no ambiente real.

Considerações Finais

Prey é reconhecido como um exemplo de inovação dentro do gênero de jogos de “Immersive Sim”, combinando tiro em primeira pessoa e RPG. Com uma forte ênfase em elementos de ficção científica e suspense psicológico, o jogo distingue-se por combinar um enredo absurdamente envolvente com uma jogabilidade que valoriza as virtudes do jogador em suas escolhas e exploração.

Não dá para negar, Prey reinventa muitas das convenções típicas dos títulos de sua classe. Ao invés de um típico shooter em primeira pessoa, oferece uma experiência que lembra mais um “simulador de sobrevivência especial”, onde cada interação e escolha têm impacto no desenrolar da trama e no mundo do jogo. O lane de instalar Neuromods para adquirir habilidades humanas extraordinárias e alienígenas sobre-humanas possibilita abordagens muito personalizadas e variada à resolução de cada obstáculo, tornando cada jogada única e empolgante.

Depois de mais de 65 horas de gameplay, é fácil de afirmar que a história de Prey é profundamente imersiva, centrada em temas de identidade, consciência e memória. A jornada de Morgan Yu, em busca de respostas sobre sua própria identidade e os segredos da Talos I, acaba sendo tanto perturbadora quanto cativante.

A narrativa é contada através de uma combinação de elementos visuais, áudio diários, e-mails e interações ambientais que diversificam o contexto e aprofundam a trama, principalmente à complexidade de seu mundo semiaberto, design de níveis inteligente.

Comparado a outros títulos lançados entre 2017 e 2024, Prey permanece como um título diferenciado e atraente. Bem que merecia uma remasterização para a atual geração, ou ao menos um patch para 4k/60fps. Objetivamente falando:

Prós

  • PERFEITA integração entre história e jogabilidade.
  • Liberdade considerável em abordagens de jogo, com múltiplos finais baseados nas escolhas.
  • Design de mundo e arquitetura impressionantes.
  • Combinação eficaz de elementos de suspense e ficção científica.
  • Trilha sonora
  • O jogo está 100% localizado em Português do Brasil, contando inclusive com uma dublagem excelente.

Contras

  • Curva de aprendizado inicialmente.
  • Falta de upgrade para a atual Geração.
  • Algumas mecânicas, como a combinação de habilidades e gerenciamento de inventário, podem parecer complicado para novatos no gênero.
  • Poderia ter um sistema de mira, assim como em outros shooters.
Prey - Morgan Yu
Prey – Morgan Yu

Ao final, Prey não é apenas um jogo sobre a luta pela sobrevivência em uma estação espacial infestada por alienígenas; é uma reflexão sobre a natureza da realidade, identidade e a fragilidade da memória humana. Ao explorar a Talos I, somos constantemente desafiados a questionar não apenas o que vemos, mas o que acreditamos ser verdadeiro. Nesse sentido, Prey transcende seu formato como um jogo de ficção científica para questionar conceitos mais amplos de percepção e moralidade, fazendo com que qualquer um que jogue, reflita sobre essas questões muito depois que o jogo termina.

Pessoalmente falando, Prey ofereceu uma experiência rica e desafiadora que foi além do entretenimento. O jogo provocou o pensamento e a introspecção, elementos que garantem seu lugar como um título memorável na biblioteca.

Obrigado por nos acompanhar até aqui. Espero que tenha gostado da nossa publicação. E aí, já conhecia esse jogo fantástico?

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