Recentemente, diversos veículos de imprensa noticiaram que Deadpool & Wolverine (2024) havia se tornado o filme “R-rated” de maior bilheteria de toda a história do cinema, superando Coringa (2019). A maioria dos veículos de imprensa no Brasil noticiou que a produção havia se tornado o filme “para maiores de idade” de maior bilheteria na história da sétima arte. Se você acompanha cinema e gosta de ler notícias sobre a indústria do entretenimento é bem possível que tenha lido notícias sobre filmes com classifições do tipo “R”, “NC-17” e “PG-13”, por exemplo. Mas o que isso quer dizer. É isso que vamos explicar hoje. Vamos te mostrar como o sistema de classificação indicativa em vigor atualmente nos Estados Unidos funciona e também como ele afeta os filmes e a indústria do entretenimento como um todo.
O que é e como funciona o sistema de classificação indicativa na indústria cinematográfica norte-americana?
O sistema de classificação de filmes da Motion Picture Association, nada mais é do que um sistema de classificação de conteúdo, como muitos existentes em diversos países do mundo, incluindo o Brasil. Esse sistema é mantido e gerido pela Motion Picture Association (ou “Associação de Cinema”, na tradução livre para o português), uma organização que reúne todos os cinco grandes estúdios de cinema de Hollywood, mais a Amazon MGM Studios e duas plataformas de streaming, a Netflix e a Amazon Prime Video.
A organização foi fundada em 1922 para ajudar a viabilidar a indústria cinematográfica norte-americana e acabou por exercer bastante influência em Hollywood durante esses mais de 100 anos. A organização já teve diversos nomes e, entre 1945 e 2019, se chamou “Motion Picture Association of America” (ou “Associação de Cinema da América”, em tradução livro para o português) (MPAA). Sendo que, atualmente, usa apesar o nome “Motion Picture Association” (MPA).
O sistema de classificação de filmes atualmente utilizado pela MPA possui cinco classificações para produções cinematográficas, além de classificações indicativas para trailers. É importante destacar que o sistema de classificação utilizado da Motion Picture Association é indicativo, ou seja, é usado para ajudar aqueles que têm interesse em assistir a um filme a determinar se aquela produção é apropriada para ele. Também, e mais importante ainda, o sistema ajuda, principalmente, pais e responsáveis a determinar se seus filhos podem ou não ver um filme.
Além disso, o sistema é voluntário, não tendo nenhum poder de lei. Assim sendo, não tem poder para obrigar filmes a fazerem ajudes ou cortes em seu conteúdo e muito menos impedir que uma produção estreie ou seja lançada em solo norte-americano. Assim, é possível distribuir filmes nos Estados Unidos, sem passar pelo crivo do MPA. Além disso, estúdios, produtoras e distribuidoras que não são membros da Motion Picture Association podem pedir que seus filmes sejam clássicados por ela.
Apesar dessa classificação, em tese, ser apenas “simbólica” e o sistema ser, como dissemos, voluntário, ele, na verdade, exerce uma grande influência sobre a capacidade de um filme de ser distribuído e, dessa forma também, sobre a sua capacidade de arrecadação nas bilheterias. Por isso, o sistema tem grande força na indústria norte-americana. Assim, apesar de não ter força de lei de obrigar cinestas e estúdios a fazer modificações em filmes, essas modificações (ou, muitas vezes, até mesmo auto-censura) acabam ocorrendo de “forma voluntária”, afim de viabilizar a distribuição de uma obra em solo norte-americano.
Abaixo, explicaremos tudo isso. Destrincharemos cada uma das cinco classificações, explicaremos a história por trás dessa clássificação e como ela surgiu, falaremos sobre a sua importância e também discorreremos sobre as diversas críticas que esse sistema vem sofrendo ao longo do tempo. Dessa forma, você ao ler esse texto você vai ficar sabendo tudo que você precisa saber sobre o o sistema de classificação indicativa, atualmente, vigente no cinema norte-americano.
As cinco classificações atuais do sistema de classificação da MPA
O sistema atual de classíficação indicativa da Motion Picture Association possui cinco “níveis”, por assim dizer: G, PG, PG-13, R e NC-17. Atualmente, cada uma das classificações vem acompanhado de uma breve descrição, elencando os motivos que levaram aquela produção a receber uma determinada classificação. A única exceção é a classificação “G”, já que todos os filmes que recebem essa classificação são considerados adequados “para todos os públicos”, mesmo que eles contenham algum conteúdo que possa ser considerado moderadamente questionável.
Abaixo destrincharemos e explicaremos cada uma dessas cinco classficicações:
G – General Audiences (“Todas as audiências”)
Essa é classificação mais “baixa”, por assim dizer, de todas as cinco do atual sistema de classificações da Motion Picture Association. Filmes que recebem o selo “G” são considerados adequados para todos os públicos, incluindo, crianças pequenas. Assim, essas produções podem ser assistido por “todas as idades” sem nenhum conteúdo “que ofenda os pais se visto por crianças”.
Dessa forma, para receber essa classificação, filmes tem que ter, em tese, baixos nível de violência, trechos com linguagem que vão “além de uma conversa educada”, mas sem a presença de palavreado mais forte, nenhuma cena que contenha uso de drogas e substâncias ilegais e, supostamente, nem mesmo uso de tabaco, e nenhuma cena que contenha qualquer nível de nudez ou sexo.
Sendo assim, a maioria dos filmes que recebem o selo “G” são produções direcionadas ao público infantil ou ao público familiar. Ou mesmo, produções com forte interesse comercial e que querem estar disponíveis para serem vistos para o maior número de pessoas possíveis, aumentando assim, seu potencial de público e, é claro, de arrecadação nas bilheterias. Essa classificação é parecida (ou equivalente) a classificação “Livre”, aqui no Brasil, e existe desde 1968 quando o atual sistema de classificações foi estabelecido.
PG – Parental Guidance Suggested (“Orientação Parental Sugerida”)
Essa é a segunda clássificação “mais baixa”, por assim dizer, do sistema sistema de classificações da Motion Picture Association. Filmes que recebem essa classificação podem conter material considerado “não adequado para crianças”. Dessa forma, os países são aconselhados a ter isso em mente antes de deixar seus filmes assistirem a um filme que carregue essa classificação e também a oferecer “orientação” a eles em relação ao conteúdo do filme, já que ele pode conter material que os pais podem não gostar que seus filhos pequenos vejam.
Essa classificação existe, em um ou outro formato, desde 1968, quando o atual sistema de classificações da MPA foi estabelecido. Contudo, com esse nome atual, “PG”, essa classificação existe desde 1972. Produções que recebem o selo “PG”, não podem conter violência intensa, nem palavrões mais fortes com uso de “palavras de baixo calão” ou se “origem sexual”.
Contudo, a presença de alguns palavrões mais leves ou palavreado ainda é tolerado. Além disso, para receber essa classificação, a obra não pode conter nenhuma cena que mostre uso de drogas ou substâncias ilegais. Cenas que contenham algum nível de nudez até são toleradas, mas ela deve ser bem breve. Além disso, cenas de sexo também não são aconselhadas aos filmes que querem receber essa classificação.
O selo “PG” é direcionado a um filmes que queiram possuir um conteúdo um pouco mais maduro que aquele presente em produções que recebem a classificação “G”, mas ainda assim, querem se manter acessíveis para crianças e pré-adolescentes e também para serem vistos pelo público familiar, com vistas, novamente, a manter um bom potencial de público e, consequentemente, de bilheteria. Essa classificação é, em alguma medida, parecida com as classificações “10 anos” e “12 anos” que existem no Brasil.
PG-13 – Parents Strongly Cautioned (Pais Fortemente Advertidos)
Essa é uma classificação intermediária do sistema sistema de classificações da Motion Picture Association e, curiosamente, foi sugerida por Steven Spielberg. Filmes que recebem essa classificação podem conter material considerado “inapropriado para crianças menores de 13 anos”. Dessa forma, “os pais são aconselhados a serem cautelosos”, já que o conteúdo do filme pode ser considerado “inapropriados para pré-adolescentes”.
Introduzido na primeira metade dos anos 1980, essa classificação foi uma resposta as muitas reclamações de que filmes com uma grande carga de violência e material considerado inadequado, como Gremlins e Indiana Jones e o Templo da Perdição, por exemplo, estavam recebendo a classificação PG. Dessa forma, por sugestão de Spielberg, que estava envolvido na produção de ambos os filmes, buscou-se criar uma classificação intermediária entre PG e R. Dessa forma, surgiu a PG-13, que busca fazer uma diferenciação entre crianças e adolescentes. A nova classificação entrou em vigor em 1 de julho de 1984.
Filmes classificados como PG-13 podem conter cenas de violência intensa, mas elas não podem ser, ao mesmo tempo, realísticas e extremas ou persistentes. Linguajar mais forte, incluindo linguagem chula, de baixo calão e palavrões de natureza sexual são permitidos, mas de forma limitada. Reza a lenda em Hollywood, que a palavra “fuck” (palavrão muito comum na língua inglesa e que pode significar “caralho”, “porra”, “foder”, etc.) só pode aparecer uma vez em um filme que queira receber essa classificação.
Uma segunda aparição dessa palavra, levaria a obra a ser automaticamente classificada como “R”. É claro que essa regra não é assim tão levada a sério, mas essa “lenda urbana”, acabou virando motivo de piada em Hollywood. Produções em que drogas e substâncias ilegais aparecem em cena, mesmo que nenhum personagem faça uso delas e que elas apareçam apenas brevemente, já fazem, geralmente, um filme receber a classificação PG-13.
Cenas de nudez breves ou leves também são permitidas em filmes que recebam a classificação PG-13, mas se a nudez tiver natureza sexual, a produção provavelmente será reclassificada para R. Da mesma forma, cenas contendo sexo ou alusão a sexo, normalmente, têm que ser muito rápidas ou leves para que um filme consiga manter a classificação PG-13. Essa classificação poderia ser considerada equivalente, em algum sentido, a classificação “14 anos”, que existe no Brasil.
R – Restricted (Restrito)
Essa é a segunda classificação mais “alta” do sistema sistema de classificações da Motion Picture Association. Filmes que recebem essa classificação podem conter material considerado “adulto”. Dessa forma, menores de 17 anos só podem entrar em sessões exibindo uma produção que recebeu essa classificação se estiverem acompanhados dos pais ou de um guardião legal adulto. Da mesma forma, os “pais são incentivados a aprender mais sobre o filme antes de levar seus filhos menos com eles” a uma de suas sessões de exibição.
Por conter restrições claras de idade, essa classificação e a próxima que apresentaremos a seguir, já começam a minar a capacidade de um filme de atingir uma determinada faixa de público e, por isso, também de conseguir arrecadar uma grande bilheteria. Isso porque, alguém que seja menor de 17 anos terá que convencer um pai a ir com ele até o cinema, não podendo simplesmente ir ao cinema sozinho.
É por isso que filmes como Deadpool & Wolverine (2024), Coringa (2019) ou mesmo Oppenheimer (2023), que receberam essa classificação, conseguem arrecadar bilheterias próximas ou mesmo superiores a 1 bilhão de dólares, esse fato vira notícia, devido a dificuldade que um filme R enfrenta para obter resultados comerciais magníficos como esses. É por essa dificuldade também, que diretores fogem dessa classificação, muitas vezes cortando ou refazendo cenas para manter a classificação PG-13 e, assim, também a viabilidade ecônomica de seus projetos.
Uma caso clássico é o do diretor Steven Spielberg que ao adaptar o livro A Cor Púrpura para o cinema em 1985, escolheu atenuar bastante o relacionamento lésbico entre duas das principais personagens principais da obra, temendo que se não fizesse o filme não conseguiria a tão sonha classificação PG-13. Dessa forma, ele escolheu reduzir todas as passagens do livro que contêm momentos detalhados do relacionamento das duas a um “simples beijo”. O diretor foi criticado por essa escolha, mas pelo menos comercialmente, ela se mostrou acertada já que o filme foi um grande sucesso de bilheteria.
A classificação R existe, com esse mesmo nome e, praticamente, essa mesma forma, desde a primeira versão do sistema sistema de classificações da Motion Picture Association, implantado em 1 de novembro de 1968. Um filme que recebe essa classificação, pode conter cenas de violência explícita, extrema, realística e intensa. Além disso, a produção também pode conter linguagem chula, de baixo calão, palavrões de natureza sexual e também diversas ocasiões em que a palavra “fuck” é pronunciada em cena.
Ademais, filmes que recebem essa classificação podem conter cenas não apenas com a presença de drogas e substâncias ilegais, mas também com seu uso. Além disso, também não existem restrições a cenas contendo nudez, mesmo que de caráter sexual, em filmes com essa classificação. Assim como também esses filmes podem conter cenas de sexo para além do que é permitido em obras classificados como PG-13. A grosso modo, pode-se dizer que essa classificação é parecida com a classificação “16 anos” existente no Brasil.
NC-17 – Adults Only (Adultos Apenas)
Essa é a classificação mais “alta” do sistema sistema de classificações da Motion Picture Association. Filmes que recebem essa classificação conter material considerado apropriado “apenas para adultos”. Dessa forma, “ninguém com 17 anos ou menos” pode entrar em uma sessão que esteja exibindo um filme que tenha recebido essa classificação, nem mesmo acompanhado pelos pais ou por um responsável adulto, já que o conteúdo da obra é “claramente adulto” e “crianças não são admitidas”.
Por esse motivo, essa é a classificação mais temida por cineastas, estúdios, produtores e distribuidores, porque sua enorme restrição pode tornar um projeto financeiramente inviável. Por isso também, essa classificação é conhecida com o “beijo da morte”. Além da restrição já imposta pela MPA, ainda existem diversas cadeias de cinema se recusam a exibir filmes com essa classificação e alguns veículos de mídia se recusam a vender espaço publicitário para esse tipo de obra, dificultando ainda mais a vida de seus produtores e distribuidores.
Dessa forma, normalmente, apenas filmes independentes, “de arte” e “filmes europeus” costumam ter a coragem para “bancar” essa classificação. Já que, normalmente, filmes mais comerciais escolhem remontados e terem cenas cortadas para receber uma classificação, pelo menos, R. São raríssimas as ocasiões em que grandes estúdios tiveram a coragem para bancar produções de tamanho, pelo menos, médio com classificação NC-17 e os resultados, em sua maioria, não foram bons.
Discutiremos essa tema em maior profundidade na seção sobre os efeitos e influência desse sistema de classificação da MPA, mas basta dizer que segundo o The Numbers e o Box Office Mojo, os dois maiores “rastreadores” e agregadores de bilheterias do mundo, nenhum filme que tenha recebido essa classificação chegou nem perto de arrecadar uma bilheteria de pelo menos 100 milhões de dólares, enquanto que, como dito antes, filmes classificados como R já arrecadaram bilheterias superiores a 1 bilhão de dólares.
Historicamente falando, essa classificação existe desde que esse sistema da Motion Picture Association foi implantado. Só que até 1990, essa classificação era conhecida apenas como “X”. Contudo, devido ao fato de a MPA não possuir a sua marca registrada, essa classificação começou a ser usada indiscriminadamente pela indústria pornográfica a partir dos anos 1970, durante a chamada Era de Ouro do Pornô. Com isso, produtores desse tipo de conteúdo até mesmo a acrescentar mais Xs, classificando filmes como XX ou mesmo XXX. Com o tempo, o X passou a ser sinônimo de filme pornográfico no imaginário popular norte-americano.
Dessa forma, filmes artísticos que não era pornográficos, mas que eventualmente receberiam essa classificação começaram a “fugir” dela, preferindo serem lançados sem sem classificação indicativa, para fugir do estigma que o X carregava. Diante desse cenário, a Motion Picture Association resolveu mudar o nome da classificação para NC-17. Explicaremos todo esse contexto histórico mais abaixo.
Além disso, a idade mínina dessa classificação também mudou ao longo dos anos. Entre 1968 e 1970, ela era de 16 anos. Depois, mudou para 17 anos e ficou assim até 1996, quando a MPA mudou a idade mínina para 17 anos. Para evitar mudar a nomenclatura da classificação que havia sido implantada poucos anos antes, ela mudou apenas a descrição que acompanha a categoria. De “Não permitido para menores de 17 anos” para “Não permitido para ninguém com 17 anos ou menos”. A grosso modo, essa classificação é equivalente a classificação “18 anos” existente no Brasil.
Outras classificações
Além das classificações apresentadas acima, a Motion Picture Association possui outras três classificações que são menos comuns: This Film Is Not Yet Rated, Not Rated (NR) e Unrated (UR). A primeira classificação, que significa “Esse Filme Ainda Não Foi Classificado” é usado quando uma produção foi submetida ao crivo da MPA, mas ainda não recebeu uma classificação final. Esse tipo de “selo”, geralmente, é usado em trailers e material de divulgação de produções ainda esperando a classificação final da MPA.
Já as classificações Not Rated (NR) e Unrated (UR) são, normalmente, usadas para produções que não foram sequer submetidas Motion Picture Association ou versões de filmes classificados pela MPA, mas que não passaram elas próprias pelo crivo da organização. Como dissemos antes, se submeter a classificação da Motion Picture Association é um ator voluntário. Assim, um filme pode escolher ser lançado ou distribuído sem ser classificado.
Lembrando, no entanto, que diversas grandes cadeias dos Estados Unidos não aceitam exibir filmes que não tenham passado pelo crivo da MPA. Além disso, existem produções que foram submetidas a classificação, mas que para obter determinado “selo” escolheram retirar ou cortar cenas que existiam em sua versão original. Dessa forma, é possível que, posteriormente, versões “extendidas” ou “não cortadas” (as famosas “uncuts”) desses filmes sejam lançadas.
Isso, aliás, virou moda há alguma tempo atrás e até hoje ocorre frequentemente. Dessa forma, a Motion Picture Association utiliza essas duas classificações para indicar ao espectador que aquela versão do filme contém conteúdo diferente da versão lançada nos cinemas e que, por isso, pode conter material considerado não adequado para menores.
Descrição e material visual
Como dissemos antes, desde 1990, a Motion Picture Association começou a elaborar descrições que acompanhavam os filmes e explicação para o espectador porque uma produção recebeu aquela classificação. Assim, um filme como o thriller criminal A Menina que Brincava com Fogo (2009), por exemplo, viria com a classificação R e a explicação: “Classificação [R] por violência brutal, incluindo estupro, algum conteúdo sexual forte, nudez e linguagem.”.
A principio, essas descrições acompanhavam apenas produções com classificação R, mas a partir dos início dos anos 2000 passaram a também acompanhar filmes classificados como PG, PG-13 e NC-17. Somente obras classificadas como “G” não recebem essas descrições, já que são consideradas adequadas para todos os tipos de público.
Além disso, as classificações são acompanhadas por uma espécie de “selo” e também material gráfico para ajudar o espectador a identificar rapidamente a classificação de um filme, assim como também entender os motivos que o levaram a receber essa classificação. Assim como no caso das descrições, esse material aparece nos pôsteres, trailers, material de divulgação de uma produção, assim como nas capas de todas as suas mídias físicas lançadas em home video, tais como, DVD, BluRays e etc.
O que é avaliado pela Motion Picture Association ao classificar um filme
Afim de se classificar um filme, a Motion Picture Association leva em conta, basicamente, cinco componentes, cuja ausência ou presença pode levar uma produção a receber uma avalição “mais alta” ou “mais baixa”. Esses componentes são: Violência, Linguagem, Drogas/Substâncias, Nudez e Sexo. A seguir, explicaremos detalhadamente cada um deles.
Violência – um dos principais componentes do sistema de classificação
Esse é um dos principais componentes do sistema de avaliação da Motion Picture Association e, por isso também, um dos que mais fortemente afetam a classificação dos fimes. Algum nível de violência é aceito em todas as classificações, até mesmo na G, cujo os filmes, em tese, são adequados para pessoas de todas as idades. Contudo, no caso dos filmes classificados como G, a violência deve estar em níveis bastante baixos. Teoricamente, quase violência um pouco mais escancarada, já faria a produção ser classificada como PG. Se a violência mostrada em cena for considerada “intensa” pelo MPA, o filme já poderá ser classificado como PG-13.
Além disso, se essa violência intensa for ao mesmo tempo realística e extrema (ou persistente), a produção já poderá receber a classificação R. Daí para frente, dependendo do nível de violência, uma temida classificação NC-17 já é possível. É claro que como todo o sistema de classificação, nada aqui é “preto no branco”. Dessa forma, podem existir muitos casos que fogem a regra geral. O que, aliás, muitas vezes gera críticas ao MPA. Mas falaremos sobre isso em outro tópico do nosso texto.
Linguagem
Esse componente, supostamente, possui regras automáticas de aplicações. Por isso, muitas vezes ela é chamada de “Regra Automática de Linguagem”. No entanto, devido a sua aplicação que nem sempre é uniforme ou coerente, esse é um dos componentes que geram mais discussões e também o que é mais fácil de ser contestado com sucesso por produtores e estúdios. Até porque, a “gravidade” da linguagem em um filme depende do contexto em que a produção está inserida. Assim, a forma em que as palavras são ditas e também se a linguagem utilizada é justíficável do ponto de vista do enrendo de uma obra são fatores levados em conta ao avaliar esse componente.
Em tese, trechos e falas com linguagem que vai do que seja considerada uma “conversa educada”, ainda são permitidas em filmes classificados como G. Contudo, qualquer uso de palavreado mais forte, já justificaria a classificação de um filme como PG. Além disso, alguns palavrões são permitidos em filmes que recebam a classificação PG. No entanto, palavreado chulo e palavrões de natureza sexual já poderiam, em tese, fazer com que um filme recebesse uma classificação PG-13. Mais do que uma ocorrência desse tipo de palavreado já seria suficiente para uma classificação como R.
Por esse motivo, existe uma espécie de lenda urbana em Hollywood que apregoa que a palavra “fuck” (palavrão muito comum na língua inglesa e que pode significar “caralho”, “porra”, “foder”, etc.) só pode aparecer uma vez em filmes que queiram ser classificados como PG-13. O fato, inclusive, já foi motivo de sátira, como na comédia Be Cool: O Outro Nome do Jogo (2005), por exemplo, e até tema de documentário.
É claro que, como dissemos antes, essa regra do linguajar não é preto no branco. Assim temos diversos exemplos onde essa palavra foi usada mais de uma vez e o filme ainda conseguiu manter sua classificação PG-13, como no caso da clássica comédia adolescente Uma Noite de Aventuras (198). Ou mesmo situações em que apesar da forte linguagem utilizada a produção conseguiu manter até mesmo uma classificaçã PG, como no caso do thriller político Todos os Homens do Presidente (1976).
Nesse último caso, a MPA consisederou que o linguajar utilizado era aceitável devido ao contexto histórico do enredo do filme. Contudo, essa questão do contexto foi deixado de lado em outras ocasiões, como quando a Motion Picture Association classificou o documentário Bullying (2011), que trata sobre o bullying em escolas norte-americanas e utiliza palavreado pesado nesse contexto. No entanto, mesmo assim, a produção foi classificada com um R e teve que cortar cenas para ser classificada como PG-13 e assim poder ser vista por seu público-alvo, que eram os adolescentes.
Drogas e outras substâncias
Como não poderia deixar de ser, outro dos fatores que a Motion Picture Association ao classificar um filme é a presença ou uso de drogas (e outras substâncias) em cena. Para produções que querem manter sua classificação em G é imprescindível não possuir nenhuma cena em que exista a presença de qualquer droga ou substância ilegal. Aliás, a MPA tem sido bastante rigorosa nesse sentido, classificando como um PG-13 filmes que tenha presença de qualquer tipo de substância ilegal, mesmo que essa presença seja breve e passe despercebida.
Foi o que aconteceu com o drama Encantadora de Baleias (2002), que recebeu um PG-13 só porque em uma cena aparece rapidamente uma parafernália utilizada para fazer uso de drogas. Essa classificação, inclusive, foi criticada por alguns críticos de cinema. Além disso, qualquer uso de drogas em cena resultará em uma classificação de no mínimo PG-13. Ademais, desde 2007, a Motion Picture Association também tem observado o uso de tabaco em cena ao classificar um filme.
Nudez
Outros dos mais importantes fatores levados em conta pela Motion Picture Association ao classificar um filme. A MPA restringe qualquer cena de nudez a filmes classificados, pelo menos, com o selo “PG”. Dessa forma, filmes que querem estar aptos a serem exibidos a todos os públicos (G), não podem conter nenhuma cena com nudez, mesmo que breve. Já cenas breves e leves de nudez podem até receber uma classificação PG, mas qualquer coisa um pouco mais demorada e explítica que isso, já faz com que uma produção seja classificada como PG-13.
Já no caso de nudez explícita e frontal vai quase sempre fazer com que um filme receba uma classíficação de, no mínimo, R. Segundo o MPA, a instituição não faz acepção entre nudez masculina ou feminina, apenas entre nudez parcial e nudez explícita. No entanto, em 2010, o controverso filme Brüno foi classificado como R pela MPA e os espectadores foram alertados sobre presença de “nudez masculina”. Desde 2006, a Motion Picture Association alerta espectadores sobre a presença de cenas de nudez em filmes.
Sexo
Apesar de ser também um dos fatores mais importantes que a Motion Picture Association leva em conta ao classificar um filme, oficialmente, a organização não possui nenhuma regra específico para classificar cenas de sexo em filmes. Aliás, a única regra específica é que filmes com classificação livre (G), não podem conter nenhuma cena de sexo. Para além disso, a MPA costuma analisar caso a caso.
Obviamente, quanto mais explicita for uma cena de sexo em um filme maior será a classificação que um filme receberá. Assim, cenas breves, curtas e leves de sexo podem receber classificações PG ou mesmo PG-13. Já cenas de sexo mais realísticas e explicitas, com presença de órgãos genitais, por exemplo, provavelmente faram com que uma produção receba uma classificação R ou mesmo, dependendo do caso, NC-17.
História do sistema de classificação da Motion Picture Association
O atual sistema de classificação da Motion Picture Association em 1 de novembro de 1968 e veio para substituir o famigerado Código Hays, que estava em vigor nos Estados Unidos desde 1934. O código versava sobre o que podia ou não aparecer nos filmes produzidos nos Estados Unidos e também nas produções estrangeiras que, eventualmente, eram distribuidas em solo norte-americano por estúdios que eram membros da Motion Picture Association (naquela época conhecida como Motion Picture Association of America) e que, dessa forma, eram obrigados a seguir o código.
No final dos anos 1950, contudo, o Código Hays começou a perder bastante força e os estúdios e cineastas começaram a contornar suas proibições ou mesmo enfrentá-las diretamente. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o influxo cada vez maior de filmes estrangeiros que não precisavam, a principio, seguir o código e que, por isso, não sofriam a censura imposta aos filmes produzidos nos Estados Unidos, a MPA se viu cada vez mais desafiada a mudar ou abandonar o Código.
Os filmes estrangeiros que, muitas vezes, possuiam cenas de nudez e sexo, acabavam por atrair o público norte-americano acostumado a ver filmes sem esse tipo de coteúdo. Dessa forma, os grandes estúdios começaram a ver vantagem ecônomica na distribuição desses filmes e, dessa forma, começaram a encontrar formas de distribuir (e lucrar) com esses filmes sem necessariamente desrespeitar o Código, fazendo isso, atráves de filiais criadas com esse único objetivo ou distribuidoras adquiridas apenas para fazer a distribuição desses filmes.
Além disso, diversos cineastas que viam o Código Hays como uma espécie de censura começaram a desafiá-lo abertamente, produzindo filmes que possuiam diversos elementos proibidos pelo código. Filmes, como Tara Maldita (1956), Boneca de Carne (1956), Gata em Teto de Zinco Quente (1958), De Repente, no Último Verão (1959), Psicose (1960), Sombras no Fim da Escada (1960) e Quanto Mais Quente Melhor (1959), todos representaram grandes desafios ao Código por possuirem elementos que eram produzidos por ele.
Quanto Mais Quente Melhor, inclusive, não recebeu aprovação da Motion Picture Association of America, mas mesmo assim se tornou um grande sucesso de bilheteria, enfranquecendo ainda mais o código. Ainda nos anos 1950, Otto Preminger que era frontalmente contrário ao código, produziu dois filmes que lidavam com temas proibidos na época, O Homem do Braço de Ouro (1955) e Anatomia de um Crime (1959).
Em 1964, o drama O Homem do Prego, que lidava com o Holocausto do ponto de vista de um vítima dele, foi a primeira produção a conter nudez explícita, no caso, seios descobertos e uma cena de sexo a conseguir uma aprovação da MPAA para estrear comercialmente nos Estados Unidos. A aprovação que deveria ser “excepcional e única”, acabou se tornando um precedente fortíssimo.
Nos anos 1960, com o enfraquecimentos do Código e depois de uma luta política interna na MPAA, Jack Valenti assumiu a presidência do órgão. Ele, como muitos outros em Hollywood, via o Código Hays como algo ultrapassado e sinônimo de censura. Assim, Valenti trabalhou para moficar o Código Hays e, posteriormente criar um novo sistema que o substituiria. Assim, nasceu o sistema que, como diversas modificações temos até hoje. Abaixo explicamos mais sobre as diversas fases pelas quais passou o sistema de classificação atual da MPA.
Primeira Fase do sistema de classificação (1968 – 1970)
O novo sistema de classificação indicativa entrou em vigor em 1 de novembro, com três organizações monitorando sua aplicação, a própria Motion Picture Association of America, a National Association of Theatre Owners (Associação Nacional de Proprietários de Cinema) e a International Film Importers & Distributors of America (Importadores e distribuidores internacionais de filmes da América ). Dos 75 maiores exibidores de filmes na época, apenas um deles (Walter Reade), se recusou a utilizar o novo sistema.
Em um primeiro momento, o sistema era bem mais simples do que é hoje e tinha apenas três classificações: G, M e R. O “G” era aplicado a filmes livres para todas as idades. O “M” era aplicado a produções direcionadas ao “público maduro”. E “R” era aplicado a filmes considerdos “restritos”. No caso desse último, nenhuma pessoa abaixo de 16 anos poderia entrar no cinema sem estar acompanhados pelos pais ou por um adulto responsável.
Essa classificação inicial tinha como objetivo permitir que os pais escolhessem quais filmes seus filhos poderiam assistir sem restrições. No entanto, a National Association of Theatre Owners sugeriu que se criasse uma classificação que só permitisse a entrada no cinema de pessoas adultas. Temendo problemas legais em algumas regiões dos Estados Unidos, a sugestão foi aprovada e assim surgiu a famosa classificação “X”, para filmes que só poderiam ser assistidos exclusivamente por adultos.
Na época, o “X” não era marca registrada da Motion Picture Association of America e, por esse motivo podia ser usado livremente por qualquer um que quissesse. Dessa forma, qualquer produtor e distribuidor poderia classificar seu próprio filme como X sem nem ao menos submetê-lo a aprovação da MPAA.
Segunda fase do sistema de classificação (1970 – 1984)
A partir de 1970, começaram a acontecer algumas modificações importantes no sistema de classificação da MPAA. A primeira delas, foi o aumento de idade de 16 para 17 anos para as categorias “R” e “X”. Depois, decidiu-se também mudar a nomenclatura da categoria “M”, que na época causava confusão no público, que não sabia se os filmes que recebiam aquela classificação era adequados a crianças e adolescentes. Assim, essa categoria passou a se chamar “GP”, de “ General audiences, Parental guidance suggested” ou “Público em geral, Orientação parental sugerida”, em português.
Em 1971, a MPAA começou a colocar um aviso em alguns filmes que recebiam a classificação GP, alertando que que “alguns conteúdos” poderiam não ser “adequados para pré-adolescentes”. Logo depois, em 11 de fevereiro de 1972, a MPAA mudou o nome dessa classificação para “PG”, de “Parental guidance suggested” ou “Orientação parental sugerida “, em português.
Dessa forma, entre 1970 e 1984, o sistema de classíficação da Motion Picture Association of America contou com quatro categorias: G, GP/PG, R e X. G, para filmes que podiam ser vistos pelo público geral. GP/PG, para produções que poderiam conter conteúdo não adequado para crianças e adolescentes. R, para filmes com conteúdo “restrito” e que não podiam ser vistos por adolescentes abaixo de 17 sem a companhia de um pai ou responsável adulto. E, finalmente, X, que não podiam ser vistos, de nenhuma forma, pessoas com menos de 17 anos de idade.
Terceira fase do sistema de classificação (1984 – 1990)
Em 1984, uma nova categoria foi introduzida por sugestão de Steven Spielberg. Na época, a MPAA estava sendo criticada, porque diversas produções que haviam recebido a classificação PG e que haviam feito muito sucesso entre os adolescentes, como Gremlins e Indiana Jones e o Templo da Perdição, por exemplo, foram consideradas violentas demais para crianças e, portanto, teoricamente, não adequados para serem classificados como “PG”.
Dessa forma, a Motion Picture Association of America teve que lidar com um tipo de filme que não era adequado para crianças pequenas, mas que podia ser adequado para adolescentes e, mesmo, pré-adolescentes. Dessa forma, por sugestão de Spielberg se criou a categoria PG-13, onde os pais eram “fortemente advertidos”, já que o filme poderia conter material “inapropriado para crianças menores de 13 anos”. Assim sendo, até 1990, o sistema de classificação da MPAA permaneceu o mesmo que estava em vigor desde 1970, com adição dessa nova categoria voltada aos adolescentes. Dessa forma, nesse período as categorias existentes eram: G, PG, PG-13, R e X.
Quarta fase do sistema de classificação (1990 – 1996)
Em 1990, uma nova mudança importante aconteceu no sistema de classificação da Motion Picture Association of America. A categoria “X”, foi substituida pela “NC-17”. Isso aconteceu porque, o X havia ganhado uma “má fama” e estava irremediavelmente associada a indústria pornográfica, prejudicando assim, ainda mais, produções não-pornográficas que recebiam essa classificação.
A partir dos anos 1970, a indústria pornográfica norte-americana experimentou um boom de popularidade. Pela primeira vez, as pessoas consumiam e falavam abertamente sobre filmes pornográficos e essas produções arrecadavam milhões de dólares em bilheterias, foi a chamada “Era de Ouro do Pornô”. Nessa época, filmes desse tipo começaram a utilizar a classificação “X”, já que a MPAA não possuía sua marca registrada e, dessa forma, ele poderia ser utilizado livremente, por quem quisesse, sem necessidade de autorização da MPAA.
Com o tempo, os produtores de filmes pornográficos perceberam que o “X” ajudava a aumentar a arrecadação dos filmes e seu usou se transformou em uma ferramenta promocional. Nessa época, muitos produtores, começaram a, inclusive, lançar produções classificadas por eles mesmos, como “XX” ou mesmo “XXX”, para demonstrar que esses filmes tinha conteúdo ainda mais pesado e explícito.
Dessa forma, no final dos anos 1980, o “X” estava irremediavelmente associada a indústria pornográfica no imaginário popular norte-americano. Isso fazia com que filmes não-pornográficas, classificados com o “X” fossem confundidos com filmes pornográficos. Com isso, algumas produções artísticas com forte conteúdo adulto, como o drama O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante (1989) e o terror Retrato de um Assassino (1986), por exemplo, escolhessem serem lançados nos Estados Unidos sem serem submetidos ao crivo da MPAA, justamente para fugir da má-fama resultante de serem classificados como filmes “X”.
Isso gerou críticas dentro da indústria, o que fez com que a Motion Picture Association of America tivesse que tomar uma atitude. Dessa forma, em setembro de 1990, entrou em vigor uma nova classificação, a “NC-17” para substituir a “X”. Essa nova classificação era concedida a filmes que não podiam ser assistidos por ninguém abaixo de 17 anos. Dessa forma, a MPAA buscava criar novas oportunidades comerciais a esse tipo de filme.
A partir de 1990 também, a Motion Picture Association of America começou a adicionar pequenas descrições as classificações para explicar aos espectadores o motivo que levou um filme a receber aquela classificação específica. Acima, nós já falamos mais detalhadamente sobre isso. A princípio essas descrições estavam presentes apens em produções classificadas como “R”.
Quinta fase do sistema de classificação (1996 – Dias atuais)
Em 1996, aconteceu a última grande mudança no sistema de classificação indicativa da Motion Picture Association of America (atual Motion Picture Association). A idade mínima para poder assistir a um filme classificado como “NC-17” foi aumentado para 18 anos. Afim de evitar a mudança da nomenclatura que havia entrado em vigor apenas alguns anos antes, a MPAA simplesmente modificou a descrição que acompanha a categoria. Sendo assim, onde antes de lia: “Não permitido para menores de 17 anos”, passou a ler-se: “Não permitido para ninguém com 17 anos ou menos”. Dessa forma, até mesmo pessoas com 17 anos passaram a ser proibidos de ver filmes que recebiam essa classificação.
A partir dos anos 2000, as descrições que acompanhavam os filmes classificados como “R”, passaram também a acompanhar todas as outras classificações, com exceção da “G”. Isso porque, essa última é classificação mais “baixa”, da MPAA e, portanto, filmes que recebem ela podem ser vistos por todos os públicos sem restrições. Dessa forma, a falta de restrição também torna inútil alguma explicação sobre uma eventual restrição inexistente.
Efeitos e influência do sistema de classificação da Motion Picture Association
Como já explicamos as classificações da Motion Picture Association são indicativas, voluntárias e não têm poder de lei. Sendo assim, como também explicamos, qualquer filme pode ser lançado em solo americano sem ser submetido a MPA e sem receber qualquer classificação. Da mesma forma, a MPA não tem qualquer poder de forçar cortes ou modificações em produções cinematográficas.
No entanto, isso não significa que o sistema da MPA seja desprovido de poder ou que ela não exerça influência sobre a indústria cinematográfica norte-americana. Na verdade, pelo contrário, esse sistema tem forte influência e muito poder em Hollywood. Como e porque isso acontece? É isso que explicaremos para você nos próximos parágrafos desse texto.
Apesar do sistema de classificações da Motion Picture Association não ser impositivo, seu enorme poder e influência está no fato de que ele é respeitado por todos os maiores estúdios e também exibidores dos Estados Unidos. Isso porque, todos os cinco maiores estúdios de Hollywood, mais Amazon MGM Studios e as plataformas de streaming, Netflix e Amazon Prime Video são membros do MPA. Dessa forma, praticamente todas as produções que passarem por esses grandes estúdios terão que respeitar esse sistema de classificação indicativa.
Além disso, praticamente todos os principais exibidores dos Estados Unidos, normalmente, se recusam a exibir produções que não tenham recebido classificação do MPA, incluindo, as três maiores cadeias de cinemas do pais, a AMC, a Regal e a Cinemark. Assim, o mercado fica muito restrito para aquelas produções que resolvem não se submeter a esse sistema. Isso sem falar que muitos veículos de mídia também se recusam a vender espaço publicitário para filmes sem classificação;
Dessa forma, com um sistema que é praticamente universalmente aceito pela indústria cinematográfica norte-americana não há muito para onde se correr, principalmente, para filmes que querem arrecadar pelo menos algum valor minimamente significativo nas bilheterias. Da mesma forma, apesar de a MPA não ter qualquer poder de obrigar cineastas, produtores e estúdios a fazer cortes ou modificar suas obras, isso acaba acontecendo “voluntariamente”.
Isso porque, pensando comercialmente, cineastas e estúdios acabam por fazer essas modificações afim de que seus filmes possam ser financeiramente viáveis. Da mesma forma, muitas vezes, os filmes já são pensados para conseguir determinada classificação e isso acaba influenciando, inclusive, aspectos da produção da obra, como seu roteiro. Nós já falamos sobre isso acima, quando demos o exemplo de A Cor Púrpura, onde o diretor Steven Spielberg decidiu praticamente eliminar o relacionamento lésbico entre duas personagens para que seu filme obtivesse a classificação PG-13.
Até porque, para um filme “mais comercial” qualquer classificação acima de PG-13 pode ser considerado um “suicídio”. Atualmente, como também já falamos, filmes como essa classificação têm atraido cada vez mais público e se tornado cada vez mais financeiramente viáveis. Contudo, ao se produzir um filme assim, deve se ter em mente bem claro o que se está fazendo para que a obra não se torne um grande fracasso comercial.
Já no caso dos filmes classificados como NC-17 o “buraco é mais embaixo”. Esse tipo de produção tem pouquíssima viabilidade econômica e, por isso também, em raríssimas ocasiões os grandes estúdios estão dispostos a investir quantias significativas em filmes que iram eventualmente, receber essa classificação. Isso porque, além de seu público ser limitado a apenas adultos, muitos exibidos (incluindo alguns dos grandes) se recusam a exibir esse tipo de produção em suas salas de cinema, assim como também existem veículos de imprensa que se recusam a vender espaço publicitário para filmes que recebam essa classificação.
Por isso, a maioria dos produtores e estúdios fazem de tudo para que seus filmes escapem a sina de serem classificados como “NC-17”. Um caso emblemático é o do clássico do terror O Exorcista (1973), que tem um conteúdo considerado bastante “forte” e polêmico. No entanto, quando ele foi lançado, o presidente da MPA na época, lhe concedeu uma classificação “R”, permitindo que os filme chegasse ao cinema sem cortes e que pudesse ser assistido por crianças e adolescentes.
A decisão causou polêmica na ocasião e levantou suspeitas de favorecimento aos grandes estúdios. Isso porque, a obra deveria, em tese, ter recebido a famigerada classificação “X” (precendente do NC-17), o que diminuiria bastante seu potencial comercial. No entanto, O Exorcista era uma produção de um grande estúdio, a Warner Bros., e tinha custado 14 milhões de dólares para ser produzido, uma valor alto para a época. Portanto, o estúdio tinha um enorme interesse em recuperar o valor investido e com uma classificação “X”, isso seria quase impossível.
No final, O Exorcista foi um enorme sucesso de público, sendo a maior bilheteria de 1973. No entanto, muita gente saiu das sessões do filme traumatizada, incluindo, crianças e adolescentes que assistiram a obra em companhia dos pais, mas que não estavam preparados para o que é mostrado em algumas cenas do filme.
Por tudo isso, normalmente, somente filmes independentes, de caráter mais artístico e com orçamentos modestos conseguem ser financeiramente viáveis carregando uma classificação NC-17. Muitos filmes artísticos europeus conseguem ser comercialmente viáveis nos Estados Unidos, mesmo sendo classificados como NC-17, devido a seu custo baixo e o forte apelo exercido pela fama de seus diretores. Exemplos recentes são as obras, Má Educação (2004), de Pedro Almodóvar e Os Sonhadores (2003), de Bernardo Bertolucci.
Para ilustrar essa dificuldade comercial enfrentada por produções que recebem uma classificação NC-17 temos o caso do drama erótico Showgirls (1995), que foi distribuído por um grande estúdio, a MGM, e custou entre 40 e 45 milhões de dólares. Contudo, o fato de ter recebido um classificação NC-17 dificultou bastante sua exibição por grandes cadeias de cinema. Mesmo sendo exibido em mais de 1,300 salas de cinema dos Estados Unidos, um recorde para esse tipo de filme, Showgirls foi um enorme fracasso de bilheteria.
Incrivelmente, contudo, a produção vendeu milhões de cópias ao ser lançada em VHS, DVD e Blu-ray, mostrando que havia interesse do público no filme. O filme, inclusive, se tornou um dos lançados em VHS mais vendidos da história da MGM. Isso mostra que, provavelmente, se a produção tivesse sido lançada com uma classificação “R”, por exemplo, ela poderia ter ido melhor nas bilheterias.
Só para se ter uma ideia, segundo o The Numbers e o Box Office Mojo, os dois maiores “rastreadores” e agregadores de bilheterias do mundo, o filme NC-17 com maior bilheteria de toda a história é o romance histórico taiwanês Desejo e Perigo (2007), de Ang Lee, que arrecadou cerca de 67 milhões de dólares no mundo todo, sendo que apenas cerca de 5 milhões desse montante nos Estados Unidos. Já se formos levar em conta apenas valores arrecadados em solo norte-americano, o campeão é o drama erótico Último Tango em Paris (1972) , que arrecadou pouco mais de 36 milhões de dólares somente nos Estados Unidos. É muito pouco se compararmos à outras classificações do MPA.
Por isso, muita gente, incluindo, o Sindicato de Diretores dos Estados Unidos (DGA), chama a NC-17 de um grande fracasso e clama pelo seu filme, alegando que ela só serve para inviabilizar comercialmente e retalhar a obra de alguns cineastas. Além disso, esses críticos também alegam que, assim como a antiga classificação X, a NC-17 acaba por funcionar como um chamariz para o público menor de idade, que é atraído pela curiosidade em relação ao proíbido. Dessa forma, segundo eles, a NC-17 aumenta as chances que filmes produzidos para um público adulto, acabem sendo mais visto por crianças e adolescentes.
Críticas ao sistema de classificação da Motion Picture Association
Como não poderia deixar de ser, o sistema de classificação da Motion Picture Association tem seus detratores e também sofre diversas críticas. Algumas delas já foram esparsamente apresentados durante esse texto. No entanto, nessa seção, traremos de forma resumida algumas das principais críticas que esse sistema sofre.
Tolerância em relação a violência e intolerância em relação a linguagem, sexo e nudez
Muitos críticos do sistema de classificação da Motion Picture Association alegam que ele é muito tolerante com violência, mas pouco tolerante com sexo, nudez e linguagem. Dessa forma, filmes com enorme quantidade de violência tem boas chances de conseguir uma classificação mais baixa, como PG ou PG-13, enquanto que qualquer cena contendo sexo, nudez ou linguagem chula pode elevar enormemente a classificação de um filme.
Dessa forma, o sistema seria “moralista”, tentando conter a ocorrência, mesmo que trivial, de palavrões e cena de sexo e nudez nos filmes, ao mesmo tempo em que não se importa que as pessoas, mesmo crianças e adolescentes, tenha contato com enormes quantias de violência através do cinema. Por esse motivo, críticos do sistema, como o famoso jornalista e crítica de cinema Roger Ebert defendem, inclusive, que sejam criados dois sistemas de classificação, um para filmes pornográficos e outro para filmes não-pornográficos.
Segundo o documentário Este Filme Ainda Não Foi Classificado (2006), o números de filmes classificados com o temível NC-17 devido a presença de cenas de sexo é quatro vezes maior do que o números de produções que receberam a mesma classificação devido a presença de cenas de violência explicita. O documentário alega ainda, que filmes com conteúdo sexual de caráter homossexual tem ainda mais chances de receberem classificações mais altas do que filmes com o mesmo conteúdo, mas de caráter heterossexual.
Duplo padrão em relação a filmes independentes
Outra crítica recorrente em relação ao sistema de classificação da Motion Picture Association é que ele é mais tolerante com filmes produzidos por grandes estúdios do que produções independentes. Um caso clássico é o do filme O Exorcista, sobre o qual já falamos acima. Isso ocorreria, porque os estúdios são membros do MPA e são também responsáveis por sua manutenção, o que explicaria por seus membros tendem a “pegar mais leve” ao classificar esses filmes.
Já no caso de produções independentes, que não tem esse mesmo poder junto a MPA, as coisas são diferentes e assim, ela costuma pesar a mão um pouco mais em suas classificações. Além disso, o interesse econômico também pesa. Filmes produzidos por grandes estúdios tendem a ter orçamentos maiores e, obviamente, existe um interesse dos estúdios em recuperar esse investimento.
Assim, uma classificação NC-17 ou mesmo R poderia diminuir bastante o potencial comercial desses filmes e, por isso, os estúdios usam todo o seu poder para evitar que esses filmes recebam essa classificação. Já no caso dos filmes independentes, a história é diferente. Seu orçamento, assim como seu potencial comercial, já é limitado e, por isso, os integrantes do Motion Picture Association não teriam nenhuma preocupação ao dar a eles classificações mais altas, como NC-17 e R.
Padrão inconsistente entre G e PG
Muitos críticos, acusam a Motion Picture Association de não manter um padrão consistente entre produções classificadas como G ou PG. Para esses críticos, alguns filmes com padrões de violência mais alto e linguagem mais forte recebem uma classificação G, enquanto que outros filmes que não possuem esses “problemas” acabam sendo classificados como PG. Entre os exemplos apontados estão as animações O Corcunda de Notre Dame (1996) e Carros 2 (2011), que possuiriam padrões de violência mais alto que o esperado para esse tipo de filme, mas que foram classificados como G. Enquando que filmes familiares, como Frozen (2013) e Procurando Dory (2016) receberam uma classificação PG.
Falta de transparência
Outra crítica recorrente ao sistema de classificação da Motion Picture Association é em relação a sua falta de transparência. Esses críticos alegam que a MPA deveria tornar público todas as regras, políticas e componentes de suas classificações. Enfim, deixar claro para o público como que cada filme é classificado e o que exatamente (e com detalhes) é levado em conta na hora de se classificar uma produção.
Segundo o documentário Este Filme Ainda Não Foi Classificado (2006), a Motion Picture Association não revela nenhuma informação sobre como ou por que certas decisões são tomadas e que eles nem mesmo revelam aos cineastas as cenas específicas que precisam ser cortadas para que um determinado filme receba uma classificação alternativa, no caso de obras que já passaram pelo crivo da MPA.
Falta de relevância
Por fim, alguns críticos do sistema de classificação da Motion Picture Association alegam que ele perdeu relevância ao longo do tempo e que o público não precisa mais dele. Segundo o editor-chefe do site de cinema Slashfilm, David Chen, “Estamos caminhando para uma era em que não precisamos mais de uma organização parecida com uma mãe para ditar a que nossas delicadas sensibilidades podem ou não ser expostas. Espero profundamente que a irrelevância da MPAA seja iminente”.
Já o crítico de cinema Michael Phillips, escrevendo para o jornal Chicago Tribune em 2010, disse que o sistema de classificações da MPA “tornou-se tolo e irrelevante” e que os membros da organização não defendem os interesses do público, concluindo com uma crítica em relação ao, alegado, duplo padrão do sistema em relação a violência e nudez: “Eles peguem muito leve com a violência, mas são bizarramente reacionários quando se trata de nudez e linguagem”.
Conclusão
E aí gostou do nosso texto? Esperamos que sim. Nele tentamos explicar com detalhes como o sistema de classificação indicativa norte-americano funciona e como ela afeta a vida de quem gosta de cinema, mesmo daqueles que não moram nos Estados Unidos e que, teoricamente, não seriam atingidos diretamente por ele. Esperamos que após ler nosso texto você tenha uma boa ideia de como esse sistema funciona. Se você gostou do nosso texto, não esqueça de deixar um comentário, eles são muito importantes para nós.