Seguindo o que temos feitos nos últimos apresentaremos nesse texto mais uma das listas de melhores filmes da história do cinema norte-americano organizadas e compiladas pelo American Film Institute (AFI). Como muitos já sabem, essas listas são resultado da votação de centenas de especialistas da indústria cinematográfica norte-americana. Aqui no Proddigital Pop, nós já apresentamos aqui as listas de melhores animações, ficções científicas, faroestes, fantasias, épicos e filmes de tribunal compiladas pelo AFI. Agora, apresentaremos a vocês a lista de melhores de mistério da história segundo o American Film Institute.
Esse gênero cinematográfico, quase sempre envolve um (ou mais) crime ou mistério que precisa ser desvendado durante o decorrer do filme. Por isso, é comum que os filmes de mistério contem com enredos muito bem elaborados e muitas vez também com um filme surpreendente e inesperado. Pode-se dizer que esse gênero teve seu auge nos anos 1940 e 1950, com ascenção do chamado “film noir” e também com o auge da carreira do grande Alfred Hitchcock. No entanto, por ser um gênero bastante popular, filmes de mistério são comumente produzidos até os dias atuais.
Devido ao fato de esse gênero ter servido como base para os filmes noir e também para o cinema do genial cineasta inglês Alfred Hitchcock, a relação de filmes que apresentaremos abaixo contará com grandes clássicos do cinema mundial. No entanto, antes de apresentarmos esse lista, discorreremos um pocuo sobre o American Film Institute, sobre a lista em si e também sobre como ela foi feita. Sem mais delongas, vamos lá.
O que é o American Film Institute
Como mencionamos acima, a lista que você vai conferir nos próximos parágrafos foi compilada e organizada pelo American Film Institute (AFI) (ou Instituto Americano de Cinema, em tradução para o português). O AFI é uma organização sem fins lucrativos e que é uma das mais importantes da indústria cinematográfica, tendo sido que foi criada para ajudar na formação de novos cineastas e também com a função de homenagear a herança das artes cinematográficas nos Estados Unidos.
O Instituto foi criado em 1967 por mandato de Lyndon B. Johnson, que era então presidente dos Estados Unidos. A missão oficial do AFI é preservar a herança cinematográfica norte-americana, trabalhar na formação da próxima geração de cineastas, além de também homenagear os artistas de cinema e seu trabalho, principalmente aquele produzido nos Estados Unidos.
Para poder conseguir cumprir essa missão, o American Film Institute promove diversos programas e desenvolve diversos trabalhos. Entre eles, estão uma escola de cinema, um complexo de salas de cinema, projetos para formação de novos cineastas e profissionais de cinema, a organização de festivais e premiações para reconhecer filmes e profissionais do cinema norte-americano.
Além disso, o AFI também organizou e compilou durante muitos anos listas de melhores filmes da história, a chamada “AFI 100 Years… series” (ou “Série AFI 100 Anos”, em tradução para o português). Essas listas começaram a ser publicadas em 1998 e logo se tornaram bastante famosas, ganhando bastante notoriedade entre o público e também entre os profissionais de cinema. Se você tiver interesse em saber mais sobre o American Film Institute, nós já escrevemos um texto completo sobre ele. Nos parágrafos a seguir falaremos sobre uma dessas listas compiladas pelo AFI.
American Film Institute’s 100 Years… series
Como mencionado nos parágrafos anteriores desse texto, uma das missõs fundamentais do American Film Institute é desenvolver diversos programas e trabalhos. Entre os programas desenvolvidos pelo AFI, o mais notório deles, sem dúvida alguma, é a serie AFI 100 Years (ou “AFI 100 Anos”, em tradução para o português) que compila listas de melhores filmes, atores, frases e etc. A primeira dessas listas foi publicada pelo AFI em 1998 e compilava os 100 melhores filmes da história do cinema norte-americano. A lista, era uma homenagem aos 100 anos de cinema, já que poucos anos antes, em 1995, havia completado 100 anos da primeira exibição pública de um filme. Algo que ocorreu em Paris, na França, em 28 de dezembro de 1895.
Com o enorme sucesso dess primeira lista publicada em 1998, que foi chamada de de “AFI’s 100 Years…100 Movies” (ou “100 Anos…100 Filmes”, em tradução para o português), o American Film Institute passou a publicar diversas outras listas com diversos outros temas relacionadas a cinema. Por cerca de dez anos, entre 1998 e 20028, o AFI publicou inúmeras listas que compilavam melhores filmes em diversos gêneros cinematográficos. Ademais, eles também publicaram inúmeras listas que compilavam melhores atores, atrizes, vilões, heróis, trilhas sonoras, canções e muito mais.
Nesse texte especificamente, utilizaremos a última dessas listas publicadas pelo American Film Institute e chamada de “AFI’s 10 Top 10”. Nela, eles compilam os 10 melhores filmes da história do cinema norte-americano em 10 gêneros cinematográficos diferentes. Nesse texto aqui, como já dissemos acima, trataremos sobre a parte dessa lista que contêm os dez melhores filmes de mistérios de toda a história do cinema norte-americano, segundo os eleitores do American Film Institute
AFI’s 10 Top 10 – Filmes de Mistério
A lista “AFI’s 10 Top 10” foi divulgada em 17 de junho de 2008 em uma cerimônia televisionada pelo canal norte-americano CBS. A cerimônia contou com a presença de diversos grandes nomes do cinema, incluindo Clint Eastwood, Quentin Tarantino, Kirk Douglas, Harrison Ford, Martin Scorsese, Steven Spielberg, George Lucas, Roman Polanski e Jane Fonda. Assim, com todo a pompa e rigor, o AFI anunciaria o que, até os dias atuais, a última de suas famosas listas da série AFI 100 Years.
Assim como todos as obras presentes na lista “AFI’s 10 Top 10” todos os filmes de mistério presentes nessa lista tiveram que obedecer a alguns critérios. O primeiro deles é ser uma produção norte-americana. Isso porque o American Film Institute é uma organização criada nos Estados Unidos para promover o cinema produzido naquele país. Para o AFI, todo “filme em língua inglesa com elementos significativos de produção criativa e/ou financeira dos Estados Unidos” pode ser considerado norte-americano.
Além disso, todos os filmes dessa lista são longas-metragens. O que para o American Film Institute significa que ser um filme em “formato narrativo” e com uma duração igual ou superior a 60 minutos. E por último, mas não menos importante, para estar na seção da “AFI’s 10 Top 10” dedicada a filmes de mistério, o filme tem que pertencer a esse gênero. O que para o AFI significa ser um filme cujo enredo “gira em torno da solução de um crime, problema ou mistério”.
A princípio todo e qualquer produção que cumprisse esses três critérios estaria elegível a integrar essa lista. Para escolher os dez filmes que eventualmente integram as dez seções dessa lista, o American Film Institute promoveu uma votação com 1000 eleitores escolhidos entre membros da indústria criativa norte-americana.
Assim sendo, entre esses eleitores estavam pessoas ligadas a produção cinematográfica, como diretores, roteiristas, produtores, atores, atrizes, etc., críticos de cinema, historiadores e estudiosos da sétima arte. Além disso, para ajudar a esses eleitores, os integrantes do AFI pré-selecionaram 500 produções cinematográficas. Dessas, 100 foram escolhidas para compor a “AFI’s 10 Top 10”, que como dissemos antes, é composta dos dez melhores filmes de dez gêneros cinematográficos diferentes.
Como já mencionamos acima, mas não custa repetir, esse texto especificamente é dedicado a apresentar para vocês apenas as dez produções escolhidas, pelos eleitores do American Film Institute, para integrar a lista de dez maiores filmes de mistério da história do cinema feito nos Estados Unidos. Se você quiser quais são os integrandes das outras nove listas constantes da “AFI’s 10 Top 10” basta dar uma olhada nas listas desse tipo que já publicamos aqui no Proddigital POP. Dito tudo isso, vamos a lista.
10 – Os Suspeitos (1995) – O mais recente integrante dessa lista do American Film Institute
O décimo colocado dessa lista do American Film Institute é também o filme mais recente dessa lista e o único lançado nos anos 1990. O enredo de Os Suspeitos é contado de forma não linear mostrando o interrotório de um golpista (Kevin Spacey) que é o único sobrevivente de um massacre e um incêndio ocorrido em um navio ancorado no Porto de Los Angeles. Através de flashbacks, ele conta aos policiais como todos os eventos teriam ocorrido e o que teria levado ele e seus companheiros criminosos a se meter naquela situação.
Escrito por Christopher McQuarrie e dirigido por Bryan Singer, Os Suspeitos custou apenas 6 milhões de dólares para ser produzido, tendo sido todo rodado em Los Angeles e Nova York. Apesar da famosa cena do interrogatório ter levado cerca de seis dias para ser completada e a cena do reconhecimento ter sofrido atrasos devido ao fato de os atores não conseguirem para de rir, o filme foi rodado em apenas 35 dias.
Apesar do orçamento apertado, Os Suspeitos conta com um elenco de primeiríssima linha, que inclui Stephen Baldwin, Gabriel Byrne, Benicio del Toro, Kevin Pollak, Chazz Palminteri, Pete Postlethwaite e Kevin Spacey. A maioria do elenco, no entanto, aceitou trabalhar por um valor abaixo do valor normal de seus cachês devido a qualidade do roteiro de Os Suspeitos e também devido a qualidade do elenco do filme.
Os Suspeitos estreou no Festival de Cinema de Sundance em 25 de janeiro de 1995 e também foi exibido no Festival de Cannes daquele ano. O filme foi um imenso sucesso de público, arrecadando cerca de 67 milhões de dólares em bilheterias. Os Suspeitos também foi bem recebido pela crítica, apesar de ter tido alguns detratores (como o famoso crítico Roger Ebert) durante seu lançamento original.
O filme venceu dois Oscars, Melhor Ator Coadjuvante, para Kevin Spacey, e Melhor Roteiro Original, ajudando a consolidar as carreiras de Spacey, McQuarrie e Singer. Os Suspeitos ficou bastante conhecido pelo seu final surpreendente e original que até hoje é referenciado, copiado e parodiado.
Além de ter sido escolhido um dos dez melhores filmes de mistério da história pelo American Film Institute, Os Suspeitos também foi escolhido como o 35º roteiro da história do cinema pelo Writers Guild of America, o respeitado Sindicato dos Roteiristas da América, em eleição realizada em 2013. Os Suspeitos é um dos melhores e mais influentes filmes não apenas dos anos 1990, mas da história recente do cinema mundial.
9 – Disque M para Matar (1954)
O nono colocado dessa lista do American Film Institute é também um dos quatro filmes dessa lista a terem sido dirigidos pelo “mestre do suspense”, Alfred Hitchcock. Em Disque M para Matar, Ray Milland interpreta um ex-tenista profissional que é casado com uma rica socialite (Grace Kelly). Ela, no entanto, tem um amante (Robert Cummings). Sabendo disso e temendo um divórcio que pode deixá-lo pobre, ele decide matá-la para ficar com toda a sua fortuna.
Apesar de, atualmente, ser considerado um dos maiores clássicos da filmografia de Hitchcock, Disque M para Matar só foi produzido porque o projeto anterior do famoso diretor acabou não dando certo. Além disso, Hitchcock não nutria muito entusiamo pelo filme e queria terminá-lo rápido para começar seu próximo projeto, o também clássico Janela Indiscreta, que empolgava o diretor e que estrearia naquele mesmo ano.
Além de Ray Milland, Grace Kelly e Robert Cummings, o elenco de Disque M para Matar contava também com Anthony Dawson e John Williams. A atuação desse último, inclusive, foi bastante elogiada pela crítica especializada na época do lançamento do filme. Produzido a um custo estimado em cerca de 1.5 milhão de dólares, Disque M para Matar arrecadou aproximadamente 6 milhões de dólares em bilheterias, se tornando um sucesso comercial.
O filme também foi bem recebido pela maioria da crítica especializada já na época de seu lançamento e com o passar dos anos, acabou se tornando um dos filmes mais elogiados e notórios da filmografia de Alfred Hitchcock. Além de ter sido escolhido um dos dez melhores filmes de mistério da história pelo American Film Institute, Disque M para Matar também foi eleito pelo próprio AFI como o 48° filme mais “excitante” da história do cinema norte-americano, na lista “AFI’s 100 Years…100 Thrills” que reunia 100 dos melhores filmes de suspense, terror, aventura e ação de toda a história da sétima arte.
8 – Veludo Azul (1986)
O oitavo colocado dessa lista do American Film Institute é o único representante dos anos 1980 e também o único filme dirigido pelo genial David Lynch a constar nessa lista. Curiosamente, Lynch dirigiu Veludo Azul logo após Duna (1984). Um superprodução que foi um retumbante fracasso de público e crítica e que fez com que o diretor nunca mais quissesse se envolver com o cinema comercial hollywoodiano.
Apesar do fracasso de Duna, David Lynch conseguiu convencer a De Laurentiis Entertainment Group, com quem ainda tinha obrigações contratuais justamente devido a Duna, a financiar a produção de Veludo Azul, que seria uma de suas obras mais “esquisitas” e originais. O estúdio que não tinha muito a perder, aceitou dar a Lynch seis milhões de dólares, bem menos que os 40 milhões gastos em Duna, para que ele produzisse Veludo Azul.
Lynch procurava por um projeto mais pessoal e utilizou um roteiro que ele havia concebido ainda nos anos 1970 (e que havia sido recusado por inúmeros estúdios devido a seu conteúdo considerado violento e erótico demais) para construir o que seria o enredo de Veludo Azul. Para o papel principal, ele convidou justamente Kyle MacLachlan, que havia protagonizado Duna. Lynch tinha certeza que o ator convencia muito bem no papel de um garoto inocente tentando desvendar um mistério, que é o mote principal de Veludo Azul.
Para o elenco do filme, Lynch ainda convidou Isabella Rossellini, Dennis Hopper e a jovem Laura Dern. Tanto MacLachlan quanto Dern se tornariam figuras frequentes na obra de Lynch aparecendo em diversos de seus filmes. Veludo Azul estreou comercialmente nos Estados Unidos em 19 de setembro de 1986. Inicialmente, a produção causou bastante polêmica e dividiu opiniões de críticos e público.
Segundo relatos da época, em alguns cinemas filas se formaram para assistir ao filme. No entanto, também ocorreram casos de pessoas que deixaram as sessões do filme antes mesmo do final, exigindo, inclusive, que o cinema devolvesse o valor do ingresso. Entre a crítica especializada, também houve intenso debate entre os que gostaram e entre os que odiaram a produção.
Contudo, Veludo Azul recebeu elogios entusiasmados de diversos críticos de cinema importantes, como Janet Maslin, Gene Siskel e Peter Travers. Entre os cineastas o filme também fez sucesso, sendo publicamente elogiado por Woody Allen e Martin Scorsese que o consideraram considerando-a o melhor filme do ano. Por seu trabalho em Veludo Azul, David Lynch recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Direção, a segunda de sua carreira.
No Globo de Ouro, o filme foi indicado a Melhor Roteiro (para o próprio Lynch) e Melhor Ator Coadjuvante, para Dennis Hopper. Veludo Azul, inclusive, ajudou a reavivar a carreira de Dennis Hopper, que estava em baixa desde o final dos anos 1970 e a consolidar a carreira de Isabella Rossellini. Amplamente considerado um dos melhores filmes da carreira de David Lynch, Veludo Azul também é considerado um clássico cult e um dos melhores e mais influentes filmes já feitos em toda a história do cinema norte-americano.
7 – Intriga Internacional (1959)
O sétimo colocado dessa lista do American Film Institute é outro filme dirigido pelo grande Alfred Hitchcock. Lançado em 1959, Intriga Internacional conta a história de um publicitário que é confundido com um espião e é perseguido por todo o território norte-americano por membros de uma organização que querem matá-lo por acreditar que ele tem como missão impedir que a tal organização contrabandeie para fora do país um microfilme com segredos governamentais.
O entedo básico de Intriga Internacional foi concebido pelo próprio Hitchcock, sendo que o roteiro do filme foi escrito pelo premiado roteirista Ernest Lehman. Assim como diversos outros filmes do diretor, Intriga Internacional conta com uma trilha sonora composta pelo genial Bernard Herrmann e uma abertura criada pelo também genial Saul Bass.
Intriga Internacional é protagonizado por Cary Grant e seu elenco conta ainda com as atuações de Eva Marie Saint, James Mason, Jessie Royce Landis, Martin Landau e Leo G. Carroll, entre outros. O filme estreou comercialmente nos Estados Unidos em 1 de julho de 1959 e foi um grande sucesso de público. Somente no país, a obra arrecadou quase 6 milhões de dólares nos chamados “theathrical rentals”, a parte da bilheteria que fica com o distribuidor do filme, se tornando dono da nona maior bilheteria do país naquele ano.
Somada a arrecadação do filme fora dos Estados Unidos, a bilheteria de Intriga Internacional chegou a quase 10 milhões de dólares. Levando em conta que o filme custou pouco mais de quatro milhões de dólares para se produzido, Intriga Internacional acabou dando lucro a Metro-Goldwyn-Mayer, estúdio que financiou e distribuiu a obra. Aliás, esse é o único filme de Alfred Hitchcock a ter sido distribuído pelo estúdio.
Intriga Internacional também foi muito bem recebido pela crítica especializada já na época de seu lançamento original, sendo elogiada pela originalidade e a sofisticação de seu roteiro e também pela qualidade da performance do elenco. O filme foi indicado aos Oscar de Melhor Roteiro Original, Melhor Edição e Melhor Direção de Arte, mas não venceu em nenhuma dessas categorias.
Atualmente, Intriga Internacional é amplamente considerado não apenas um dos melhores filmes da carreira de Alfred Hitchcock, mas também de toda a história do cinema mundial. Só para se ter uma ideia, a produção foi incluída na lista de melhores filmes da história de diversas publicações respeitadas, incluindo as revistas Cahiers du cinéma, Sight & Sound e Empire e o jornal The Guardian.
Em 2020, o Writers Guild of America, o Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos, escolheu o roteiro de Intriga Internacional como o 21º melhor toda história. Enquanto que os votantes do American Film Institute escolheram a produção como o 40º melhor filme de toda a história do cinema norte-americano. Por tudo isso, não é nem preciso dizer que Intriga Internacional é também um dos filmes mais influentes de toda a história da sétima arte.
Isso sem falar que uma das suas cenas, a famosa cena em que o personagem de Cary Grant é perseguido em um milharal por um avião, é seguramente um das cenas mais notórias e icônicas de toda a história do cinema. E olha que estamos falando de apenas uma das muitas cenas famosas do filme. Não à toa, em 1995, Intriga Internacional foi escolhido para preservação no National Film Registry, da Biblioteca do Congresso Americano, devido a sua importância histórica, estética e cultural.
6 – O Falcão Maltês (1941) – O filme mais antigo dessa lista do American Film Institute
O sexto colocado dessa lista do American Film Institute é o filme mais antigo dessa lista. Lançado em 1941, O Falcão Maltês conta a história de um detetive particular em uma busca frenética por uma jóia, o tão falção maltês do título, perdida na cidade de São Francisco, na Califórnia nos Estados Unidos. Escrito e dirigido pelo hoje consagrado cineasta John Huston, o filme foi, na verdade, sua estreia na direção de longa-metragens.
Huston já tinha experiência como roteirista, mas O Falcão Maltês foi seu primeiro trabalho como diretor. Por esse motivo, Huston planejou muito bem as filmagens da obra, cuidado de cada detalhe da produção, estudando o roteiro em detalhes e, inclusive, fazendo desenhos de cada cena do filme.
Isso fez com que O Falcão Maltês foi rodado quase que inteiramente em cerca de um mês, com pouquíssimos diálogos do roteiro tendo que ser excluídos na edição final do filme. Além disso, com exceção de algumas cenas exteriores noturnas, John Huston escolheu rodar as cenas de O Falcão Maltês na mesma sequência em que elas apareciam no filme, o que ajudou bastante o elenco do filme em suas interpretações.
Como Huston também escreveu o roteiro do filme, ele escolheu manter boa parte dos diálogos originais do livro que deu origem ao filme e foi bastante fiel ao enredo do livro, retirando apenas as partes mais sexuais da história para permitir que O Falcão Maltês fosse aprovado pelo Código Hays, uma espécie de censura que existia na época e que afetava todos os filmes produzidos dentre do sistema de estúdio de Hollywood.
Como mencionado assim, O Falcão Maltês é baseado no livro de mesmo nome escrito pelo escritor norte-americano Dashiell Hammett e lançado em 1930. Apesar de hoje ser a adaptação mais famosa do livro, esse filme de 1941 é, na verdade, a terceira adaptação do livro para cinema. A primeira, também chamada de O Falcão Maltês foi lançada em 1931 e era estrelada por Bebe Daniels e Ricardo Cortez.
O filme, no entanto, foi produzido antes da implantação do Código Hays e, por isso, seu conteúdo incluia mais cenas sexuais e nudez. Dessa forma, quando a Warner Bros., que produziu o filme, tentou relançá-lo em 1935, ela não conseguiu justamente porque o código já estava valendo. Dessa forma, o estúdio resolveu produzir um remake desse filme de 1931, mas o estúdio resolveu dar um tom mais cômico a história. O resultado foi Satã Encontrou uma Dama (1936), que foi mal recebido pela crítica especializada e criticado até mesmo por Bette Davis, que estrelou o filme.
Assim, a Warner Bros. resolveu produzir uma nova adaptação do livro para o cinema e o filme lançado em 1941 acabou se tornando a versão definitiva da história. Apesar de O Falcão Maltês (1941) ter transformado o ator Humphrey Bogart em uma estrela global, ele não foi a primeira escolha para estrelar o filme. Na verdade, era George Raft quem deveria estrelar a obra. Contudo, o ator se recusou devido ao fato de que John Huston não tinha experiência na direção e esse era seu primeiro filme como diretor. Além disso, Raft tinha em seu contrato com o estúdio uma claúsula que lhe permitia recusar filmar remakes.
Bogart que no início de 1941 tinha obtido seu primeiro papel principal em Seu Último Refúgio (1941), cujo roteiro havia sido co-escrito por John Huston, aceitou rapidamente estrelar O Falcão Maltês. O diretor ficou bastante grato ao ator pela aceitação e os dois consolidaram sua amizade que duraria a vida toda e resultaria em diversas colaborações no cinema. Além de Bogard, o elenco de O Falcão Maltês conta ainda com Mary Astor, Gladys George, Peter Lorre, Barton MacLane, Lee Patrick e Sydney Greenstreet.
Lançado comercialmente nos Estados Unidos em outubro de 1941, o filme custou menos de 400 mil dólares para ser produzido e arrecadou quase 2 milhões de dólares em bilheterias, se tornando um sucesso comercial. O Falcão Maltês também foi muito bem recebido pela crítica especializada da época, sendo considerado um dos melhores filmes do ano e também uma prova cabal de que o jovem diretor John Huston teria uma carreira brilhante pela frente.
O Falcão Maltês foi indicado aos Oscars de Melhor Filme, Roteiro Adaptado e Ator Coadjuvante (para Sydney Greenstreet). Curiosamente, apesar de já ter 61 anos de idade na época, O Falcão Maltês foi o primeiro papel cinematográfico de Sydney Greenstreet, que até então só havia atuado em produções teatrais.
Como mencionamos acima, O Falcão Maltês transformou Humphrey Bogart em uma estrela, deu a John Huston uma carreira como diretor e teve um impacto positivo na carreira de praticamente todo mundo que participou de sua produção. O Falcão Maltês é considerado a obra fundadora do filme noir, um subgênero do cinema, que envolve histórias de mistério e crime, contadas com um estilo próprio que, geralmente, inclui cenas com pouca luz, personagens enigmáticos, mulheres sedutores e cinematografia em preto e branco.
Apesar de não ser o primeiro filme noir da história, foi O Falcão Maltês quem deu notoriedade ao subgênero. Aliás, O Falcão Maltês é o protótipo do filme noir. Tanto é assim que ele até hoje é amplamente copiado em diversos outros filmes. O detetive interpretado por Humphrey Bogart, a femme fatale interpretada por Mary Astor , a cinematografia de Arthur Edeson, tudo isso serviu de inspiração para diversos outros filmes do gênero.
Não à toa, O Falcão Maltês é amplamente considerado um dos melhores filmes já produzidos em toda a história do cinema. A obra aparecerá em basicamente qualquer lista de melhores filmes da história do cinema mundial que alguém checar. Só para se ter uma ideia, O Falcão Maltês aparece em cinco listas da série “AFI 100 Years… series” do American Film Institute. Incluindo, as duas listas de 100 melhores filmes da história do cinema norte-americano. Aparecendo tanto na lista original, publicada em 1998, quanto na atualizada, publicada em 2007.
Por tudo isso, O Falcão Maltês foi um dos 25 filmes originalmente selecionados para preservação no National Film Registry, da Biblioteca do Congresso Americano, devido a sua importância histórica, estética e cultural, quando o NFR foi inaugurando em 1989. Dessa forma, não surpreende que O Falcão Maltês seja considerado um dos melhores filmes de mistério de toda a história do cinema norte-americano.
5 – O Terceiro Homem (1949)
O quinto colocado dessa lista do American Film Institute é também um filme noir. Um dos grandes representantes desse gênero lançados nos anos 1940, O Terceiro Homem conta a história do escritor norte-americano Holly Martins (Joseph Cotten) que viaja a cidade de Viena, poucos anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, para aceitar um emprego oferecido por seu amigo Harry Lime (Orson Welles). Chegando lá, no entanto, ele descobre que Lime morreu. Intrigado, ele resolve ficar na cidade e investigar a morte do amigo. Ele, contudo, acaba se apaixonando pela namorada do falecido, Anna Schmidt (Alida Valli).
Dirigido e co-produzido por Carol Reed, O Terceiro Homem conta com um roteiro escrito pelo grande escritor britânico Graham Greene. Além disso, o consagrado produtor norte-americano David O. Selznick é também um dos produtores do filme. Além de Cotten, Welles e Valli, o elenco de O Terceiro Homem conta ainda com as atuações de Trevor Howard, Paul Hörbiger e Ernst Deutsch, entre outros.
Filmado todo em locações em Viena e também em estúdios na Inglaterra, a fotografia principal de O Terceiro Homem foi concluída em apenas cerca de seis semanas. Fortemente influenciado pelo cinema expressionista alemão, o diretor de fotografia Robert Krasker caprichou na luz do filme, assim como também no uso da fotografia em preto e branco e, igualmente, utilizou bastante o chamado “ângulo holandês”, um ângulo de câmera que faz com que a cena fique “torna” e que o horizonte na cena não fique paralelamente alinhado a linha do frame do filme.
Além dessas características estésticas que acabaram por ficar muito associadas ao filme, O Terceiro Homem também fez uso extensivo dos “cenários naturais” de Viena e ao estilo do neorrealismo italiano acabou utilizando bastante as construções destruídas da cidade, fazendo com que Viena se tornasse quase que um personagem do filme. Além disso, a trilha sonora de neorrealismo composta pelo músico austríaco Anton Karas também fez bastante sucesso.
Principalmente o tema principal do filme, chamado de “The Third Man Theme”, fez bastante sucesso com o público, chegando a ficar 11 semanas no topo das canções mais tocadas dos Estados Unidos. Com isso, Karas acabou ficando mundialmente famoso devido a se trabalho no filme. Curiosamente, O Terceiro Homem também conta com a atuação de Orson Welles, que é muito mais conhecido por seu trabalho como cineasta. Apesar de ser um dos mais famosos cineastas da história do cinema mundial, Welles teria contribuído muito pouco criativamente com O Terceiro Homem e seu trabalho no filme teria se limitado quase que a apenas atuação.
Apesar de ter sido escrito e dirigido por britânicos, ter contado com uma equipe quase toda a européia e ter sido filmado todo na Europa e na Inglaterra, O Terceiro Homem contou com dinheiro norte-americano, já que David O. Selznick, um dos mais importantes produtores de Hollywood na época, é um dos produtores do filme e também com dois protagonistas norte-americanos (Cotten e Welles). Por isso, O Terceiro Homem é uma produção anglo-americana e, por isso também, ele pode estar nessa lista.
Lançado no Reino Unido em setembro de 1949, o filme foi um enorme sucesso de público se tornando o filme mais visto do ano naquele país. Nos Estados Unidos, O Terceiro Homem só estreou comercialmente em fevereiro de 1950 e com um versão diferente da que estreou em solo britânico. Isso porque, Selznick resolveu cortar cerca de 11 minutos do filme e substituir a narração que na versão original era feita pelo diretor Carol Reed, por uma feita pelo protagonista do filme, Joseph Cotten. O produtor achava que assim, O Terceiro Homem venderia mais nos Estados Unidos.
Anos depois, no entanto, o filme seria restaurado a sua versão original e relançado nos Estados Unidos também nos cinemas quanto em DVD quanto em BluRay com os 11 minutos que haviam sido cortados e a narração de Reed. Com ou sem corte, O Terceiro Homem acabou sendo muito bem recebido tanto pela crítica norte-americana quanto pela crítica britânica da época. O filme acabou sendo indicado a três Oscars, incluindo Melhor Diretor para Carol Reed, vencendo na categoria de Melhor Edição em Preto e Branco.
O Terceiro Homem também foi indicado aos BAFTAs de Melhor Filme e Melhor Filme Britânico, vencendo nessa última categoria. O filme ainda acabou vencendo o Grande Prêmio do Festival de Cinema de Cannes daquele ano, prêmio que hoje é equivalente a Palma de Ouro. O Terceiro Homem ainda foi considerado o terceiro melhor filme “estrangeiro” daquele ano pelo National Board of Review e recebeu uma indicação ao Directors Guild of America Awards.
Atualmente, O Terceiro Homem é considerado um dos melhores filmes da história do cinema. Curiosamente, o filme tem sido sempre integrado tanto lista de melhores filmes britânicos quanto de melhores filmes norte-americanos. Em 1999, o British Film Institute escolheu O Terceiro Homem como o melhor filme britânico da história. Já em 2011, ele foi escolhido pela revista britânica Time Out, como o segundo melhor filme britânico da história do cinema, ficando atrás apenas de Inverno de Sangue em Veneza (1973).
Em 2004, a também revista britânica Total Film, escolheu O Terceiro Homem como o quarto melhor filme britânico da história e, no ano seguinte, o filme também foi escolhido como o quarto na história do cinema britânico pelos telespectadores do programa televisivo Newsnight Review, exibido pela BBC.
Nos Estados Unidos, O Terceiro Homem apareceu no 57° lugar entre os 100 melhores filmes da história do cinema do país, em eleição realizada pelo American Film Institute em 1998. O filme também apareceu nas listas “100 Years…100 Thrills” e “100 Heroes and Villains”, e também nessa lista sobre a qual estamos falando agora (10 Top 10), todas também organizadas pelo AFI. Como você pode perceber, existem muitos motivos para O Terceiro Homem estar em quinto lugar na nossa lista.
4 – Laura (1944)
O quarto colocado dessa lista do American Film Institute é mais um filme noir. Lançado em 1944, Laura conta a história de Mark McPherson (Dana Andrews), um detetive da polícia de Nova York, incumbido de investigar o assassinato de Laura Hunt (Gene Tierney), uma jovem, bela e bem-sucedida executiva da indústria publicitária. Produzido e dirigido pelo genial Otto Preminger, Laura é baseado em um livro de mesmo nome escrito por Vera Caspary.
Apesar de seu sucesso, Laura teve uma produção bastante atribulada. Desde o início, Preminger se interessou na história concebida por Caspary e convidou para colaborarem em um roteiro para cinema. Os dois, no entanto, discordaram em diversos pontos e o projeto não foi para frente. Caspary até tentou levar o projeto para frente sozinha. Ela, contudo, não encontrou ninguém que aceitasse financiar o filme e acabou deixando o projeto de lado e transformando a história que ela concebeu, que inicialmente deveria ser uma peça teatral, em dois livros.
A 20th Century Fox acabou por combrar os direitos sobre os dois livros e o presidente interino do estúdio na época, William Goetz, acabou convidando Otto Preminger para liderar a adaptação dos livros para cinema. No entanto, quando o presidente permanente da 20th Century Fox, Darryl F. Zanuck, reassumiu seu cargo ele ficou furioso com o fato de Goetz ter contratado Preminger, já que os dois não se davam bem.
Zanuck permitiu que Preminger continuasse no projeto, mas apenas como produtor, indo atrás de outra pessoa para dirigir o filme. O único que aceitou a missão foi Rouben Mamoulian. O novo diretor, no entanto, acabou tendo muitos problemas nos bastidores e o trabalho inicial no filme não agradou a Zanuck, que acabou cedendo e permitindo que Preminger dirigisse a obra. Os dois teriam diversos confrontos todos vencidos por Preminger, até que o filme finalmente ficasse pronto e fosse lançado no cinema.
Apesar de tudo isso, as filmagens de Laura foram concluídas dentro do cronograma e só um pouco acima do orçamento inicialmente estipulado. Com a fotografia principal concluída, Otto Preminger contratou David Raksin para compor a trilha sonora do filme. O diretor queria que a canção “Sophisticated Lady” do jazzista Duke Ellington fosse utilizada como tema principal de Laura.
Raksin, no entanto, discordou de Preminger nesse sentido e o diretor foi convencido a lhe dar apenas um final de semana para compor o tema principal do filme, sob pena de ser substituído por outro compositor. Raksin então compôs a canção “Laura” que se tornaria não apenas um sucesso, mas um das canções mais famosas do jazz, sendo regravada por mais de 400 artistas. A trilha sonora de Laura também se tornaria um dos aspectos mais elogiados do filme.
Laura foi lançado comercialmente nos Estados Unidos em 11 de outubro de 1944. Produzido a um custo estimado em pouco mais de 1 milhão de dólares, o filme arrecadou cerca de 2 milhões de dólares nas bilheterias somente nos chamados “theatrical rentals”, ou seja, a parte da bilheteria que fica com o distribuidor do filme, apenas nos Estados Unidos e no Canadá, se tornando assim um sucesso comercial.
Laura também foi muito bem recebido pela crítica especializada, sendo elogiado pela maioria dos principais críticos da época. O filme recebeu ainda cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Direção, Melhor Ator Coadjuvante (para Clifton Webb) e Melhor Roteiro Adaptado. Laura, no entanto, só venceu na categoria de Melhor Fotografia – Preto e Branco, marcando a única ocasião em que o hoje consagrado diretor de fotografia Joseph LaShelle, venceria um Oscar.
Curiosamente, Clifton Webb que foi indicado ao Oscar por seu trabalho em Laura foi uma escolha pessoal de Otto Preminger. Isso porque, nem Darryl F. Zanuck, nem Rouben Mamoulian e nem o diretor de elenco da 20th Century Fox na época, Rufus LeMaire, queriam a escalação do ator para o papel. Isso porque, Webb não atuava em um filme desde 1930 e apesar de seu sucesso na Broadway, seu jeito e maneirismos considerados “afeminados” não agradava aos três. Webb se tornaria um dos mais bem-sucedidos atores de Hollywood nos anos 1940 e 1950.
Atualmente, Laura é considerado uma dos mais importantes e influentes obra do cinema noir. A produção também é considerado é um dos melhores filmes de toda a história do cinema norte-americano. Por isso, Laura foi incluído em três listas compiladas pelo American Film Institute, incluindo essa sobre a qual estamos falando, sendo também considerado pelo AFI como dono da sétima melhor trilha sonora da história do cinema produzido nos Estados Unidos. Não á toa, em 1999, Laura foi escolhido para preservação no National Film Registry, da Biblioteca do Congresso Americano, devido a sua importância estética, histórica e cultural.
3 – Janela Indiscreta (1954)
O terceiro colocado dessa lista do American Film Institute é mais um filme dirigido pelo genial Alfred Hitchcock. Como mencionamos acima, na seção desse texto dedicada a Disque M para Matar (1954), o diretor queria completar logo os trabalhos naquele filme, justamente para começar a rodar Janela Indiscreta, projeto que o empolgava mais. Genial, como só ele sabia ser, Hitchcock acabou dirigindo duas obras primas no mesmo ano.
Em Janela Indiscreta, Alfred Hitchcock conta a história do fotojornalista “Jeff” Jefferies, interpretado por James Stewart, que confinado a uma cadeira de rodas devido a ferimentos graves na parte de baixo do seu corpo observa o mundo da janela de seu apartamento, até ele precisava o que ele acredita ser um crime. Daí para frente, tudo muda e nada parece o que é.
Janela Indiscreta é baseado no conto “It Had to Be Murder”, do escritor norte-americano Cornell Woolrich e além de James Stewart, o elenco do filme conta ainda com Grace Kelly, Wendell Corey, Thelma Ritter e Raymond Burr, entre outros. Apesar de apresentar cenas externas ao apartamento de Jeff, Janela Indiscreta foi todo rodado em estúdio. Para isso, a Paramount Pictures, estúdio que financiou e produziu o filme, teve que construir o maior set de sua história.
O set foi construído em seis semanas e replicatava tanto o apartamento de Jeff quanto a parte exterior ao apartamento onde acontece boa parte da ação do filme. O set contava com quatro esquemas de iluminação diferentes para reproduzir com naturalidade a luz em quatro períodos do dia: manhã, tarde, início da noite e noite. Além disso, o set contava com um enorme sistema de drenagem para evacuar água em cenas de chuva e era extremamente complexo e detalhado, sendo que seu tamanho era tão grande que ia do fundo do depósito do porão até o topo da grade de iluminação no teto do estúdio de filmagens
Janela Indiscreta estreou comercialmente nos Estados Unidos em setembro de 1954. Produzido a um custo estimado em 1 milhão de dólares, o filme arrecadou arrecadou cerca de 5.3 milhões de dólares nas bilheterias somente nos chamados “theatrical rentals”, ou seja, a parte da bilheteria que fica com o distribuidor do filme, apenas nos Estados Unidos, se tornando assim dono da oitava maior bilheteria daquele ano no país.
Calcula-se que de forma geral, Janela Indiscreta tenha arrecadado quase 28 milhões de dólares em bilheterias durante seu lançamento inicial. O filme também foi muito bem recebido pela crítica especializada. Considerado um dos melhores filmes do ano e também da carreira de Alfred Hitchcock até então, Janela Indiscreta recebeu quatro indicações ao Oscar, incluindo uma na categoria de Melhor Direção, sendo a quarta, e penúltima, indicação de Hitchcock nessa categoria do Oscar.
Janela Indiscreta também foi indicado ao BAFTA de Melhor Filme e recebeu indicações ao Writers Guild of America Awards e ao DGA Award, venceu uma categoria do National Board of Review Awards e também concorreu ao Leão de Ouro no Festival de Veneza daquele ano. Atualmente, Janela Indiscreta é amplamente considerado um dos melhores filmes já feitos até hoje. Entre as inúmeras publicações que incluiram o filme em suas listas de melhores da história, estão veículos respeitados como as revistas Sight & Sound, Time Out, Empire e Cahiers du Cinéma.
Janela Indiscreta também foi considerado um dos melhores filmes da história do cinema americano pelos votantes do American Film Institute em ambas as listas do tipo que o AFI divulgou. O filme apareceu tanto na lista original de 1998 quanto na atualizada 2007. Além, é claro, de aparecer em diversas outras listas do AFI, incluindo essa sobre a qual estava falando agora.
O filme também é um dos mais copiados de toda a história da sétima arte, influenciando diretamente o trabalho de diversos cineastas importantes do mundo todo. Por tudo isso, em 1997, Janela Indiscreta foi escolhido para preservação no National Film Registry, da Biblioteca do Congresso Americano, devido a sua importância estética, histórica e cultural.
2 – Chinatown (1974)
O segundo colocado dessa lista do American Film Institute é mais um clássico do filme noir. A qualidade de Chinatown não é a toa, o filme foi escrito por Robert Towne, dirigido por Roman Polanski e produzido por Robert Evans. Todos grandes nomes do cinema. No filme, Jack Nicholson interpreta “Jake” Gittes, um detetive particular da Los Angeles dos anos 1930, que é contratato por uma mulher para seguir seu marido e, eventualmente, descobrir um caso de traição. Claro que como em todo filme noir, nada é o que parece e Gittes acaba se metendo em algo muito maior do que ele imaginou.
O enredo de Chinatown foi concebido pelo próprio Towne e foi inspirado na chamada “Guerras da Água na Califórnia”, uma série de conflitos políticos ocorridos na região de Los Angeles no início do século XX, e também nos trabalhos dos autores Carey McWilliams e Raymond Chandler. Principalmente, o trabalho de McWilliams foi fundamental para que Towne decidisse escrever o roteiro de Chinatown. Aliás, o roteiro do filme já foi escrito tendo Jack Nicholson em mente como protagonista.
Foi Nicholson que trouxe Roman Polanski para o projeto já que os dois buscavam um filme para trabalharem juntos. Polanski ainda traumatizado pelo assassinato de sua esposa, Sharon Tate, em 1969 relutou a voltar a trabalhar em Los Angeles, mas aceitou dirigir o Chinatown ao perceber a genialidade de seu roteiro.
Towne buscou também subverter o lugar-comum encontrado na maioria dos filmes noir, ao transformar a femme fatale, personagem típico desse gênero, em apenas vítima de tudo e não em alguém que manipula e tem controle de todos a sua volta. Além disso, ele resolveu escrever um final que chocasse os espectadores. No entanto, foi esse final que levou ao conflito entre Towne e Polanski sobre qual personagem principal deveria morrer. No final, o diretor teve a palavra final.
Influenciado pelo trabalho de Raymond Chandler, Towne também quis ter certeza que o público e “Jake” Gittes, o detetive interpretado por Jack Nicholson, descobrissem toda a trama do filme juntos. Por isso, toda a história é contada do ponto de vista de Gittes e não existe nenhuma cena do filme onde o personagem não apareça. Até mesmo quando ele desmaia, a tela fica preta. O público sabe somente aquele que Gittes também sabe e nada mais.
Curiosamente, John Huston que dirigiu o sexto filme dessa lista do American Film Institute interpreta o principal vilão de Chinatown. Aqui, Huston está apenas como ator e, aliás, faz um trabalho brilhante na pele de um rico, ganancioso e criminoso que não liga para ninguém, nem para a própria filha. Além de Nicholson e Huston, o elenco de Chinatown conta ainda com Faye Dunaway, John Hillerman, Perry Lopez, Burt Young e Diane Ladd, entre outros.
Chinatown custou cerca de 6 milhões de dólares para ser produzido e estreou comercialmente nos Estados Unidos em 20 de junho de 1974. O filme foi um sucesso de público e arrecadou pouco mais de 29 de dólares em bilheterias. A recepção entre a crítica especializada foi ainda mais calorosa. Considerado uma obra-prima desde seu lançamento, Chinatown recebeu 11 indicações ao Oscar, o maior número de indicações naquele ano ao lado de O Poderoso Chefão: Parte II.
Chinatown foi indicado a Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator (para Nicholson), Melhor Atriz (para Dunaway) e Melhor Roteiro Original, entre outros. O filme, no entanto, acabou vencendo apenas nessa última categoria, em um ano dominado por O Poderoso Chefão: Parte II. No Globo de Ouro, Chinatown recebeu sete indicações, mais do que qualquer outro filme, vencendo nas categorias de Melhor Filme – Drama, Melhor Ator – Drama, Melhor Direção e Melhor Roteiro. O filme foi indicado, mas foi derrotado nas categorias de Melhor Atriz – Drama, Melhor Ator Coadjuvante (para Huston) e Melhor Trilha Sonora (para Jerry Goldsmith).
No BAFTA, Chinatown também recebeu 11 indicações, mais do que qualquer outro filme, e venceu em três categorias: Melhor Direção, Melhor Ator e Melhor Roteiro. O filme também foi indicado, mas foi derrotado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz e Melhor Ator Coadjuvante, entre outros.
Atualmente, Chinatown é amplamente considerado um dos melhores e mais influentes filmes já produzidos em toda a história do cinema mundial. O filme foi último dirigido por Roman Polanski nos Estados Unidos, já que três anos depois, em 1977, ele teve que fugir do país acusado de assédio sexual. Chinatown foi incluído na lista de melhores filmes da história do jornal britânico The Guardian, da revista Sight & Sound e também da emissora de televisão BBC.
O filme também foi incluído em nada menos que sete listas de melhores organizadas pelo American Film Institute, incluindo essa sobre a qual estamos falando, e também as duas listas de melhores de 100 melhores filmes da história. Aparecendo tanto na lista original divulgada em 1998 quanto na atualizada, divulgada em 2007. Por tudo isso, em 1991, Chinatown foi escolhido para preservação no National Film Registry, da Biblioteca do Congresso Americano, devido a sua importância estética, histórica e cultural.
1 – Um Corpo que Cai (1958) – O melhor filme de mistério da história segundo o American Film Institute
Como não poderia deixar de ser o primeiro colocado dessa lista do American Film Institute é mais um filme dirigido pelo genial Alfred Hitchcock. Considerada uma das maiores obras-primas da carreira do diretor, Um Corpo que Cai conta a história de um ex-detetive da polícia de São Francisco, na Califórnia que aposentado devido a seu medo mortal de altura, trabalha agora como investigador. Ele é então contratado para investigar o estranho comportamento da esposa de ex-colega de faculdade.
Um Corpo que Cai é baseado no livro “D’entre les morts” (“De Entre os Mortos”, na tradução literal para o português) escrito pela dupla de escritores franceses Pierre Boileau e Pierre Ayraud e lançado em 1954. Alfred Hitchcock já queria adaptar para o cinema o livro anterior deles, chamado de “Celle qui n’était plus”, mas não havia conseguido obter os direitos.
Por isso, o diretor comprou os direitos de “D’entre les morts” antes mesmo do livro ser traduzido para o inglês e lançado nos Estados Unidos e já encomendou um roteiro baseado nele. Hitchcock fez algumas mudanças na história, mudando principalmente o momento em que um dos principais segredos do enredo é revelado, mas mesmo assim deixando o filme com um final surpreendente.
Assim como outros filmes de Alfred Hitchcock, Um Corpo que Cai é estrelado por James Stewart e seu elenco conta ainda com as atuações de Kim Novak, Tom Helmore, Barbara Bel Geddes, Henry Jones e Raymond Bailey, entre outros. Da mesma forma, assim como outras produções do diretor, a trilha sonora do filme foi composta pelo genial Bernard Herrmann.
Um Corpo que Cai foi filmado em locação na área da baia de São Francisco e também na própria cidade, sendo que diversas cenas internas foram filmadas em estúdio em Hollywood. O filme faz bastante uso das paísagens de São Francisco, incluindo diversas cenas de tirar o fòlego envolvendo a famosa ponte Golden Gate.
Um Corpo que Cai também foi o primeiro filme a utilizar a famosa “dolly zoom”, um efeito de câmera que distorce a perspectiva para criar desorientação. Em Um Corpo que Cai, o efeito é utilizado principalmente para transmitir ao público o grande medo de altura do personagem interpretado por James Stewart.
Um Corpo que Cai estreou comercialmente nos Estados Unidos em 9 de maio de 1958 e ao contrário da maioria das produções dessa lista, o filme não foi um grande sucesso nem de público e nem de crítica. Produzido a um custo estimado em cerca de 2.5 milhões de dólares, Um Corpo que Cai arrecadou aproximadamente 3.2 milhões de dólares nos chamados “theatrical rentals”, ou seja, a parte da bilheteria que fica com o distribuidor do filme. O valor foi suficiente para que o filme desse algum lucro para o estúdio, mas longe de fazer dele um grande sucesso comercial.
Um Corpo que Cai também dividiu a crítica especializada. Apesar de ter sido elogiado por diversos críticos famosos da época, como Bosley Crowther, Richard L. Coe e Éric Rohmer, o filme passou muito longe de ser unanimidade entre a crítica especializada da época. Prova disso é que Um Corpo que Cai só recebeu duas indicações ao Oscar daquele ano, ambas em categorias técnicas, e não levou nenhuma estatueta para casa. O filme foi solenemente ignorado em todas as outras premiações importantes do ano.
Um Corpo que Cai foi ganhando cada vez mais fãs, principalmente, a partir do final dos anos 1960 e, atualmente, é amplamente considerado um dos melhores filmes já feitos. E já, inclusive, apareceu como o melhor filme da história do cinema em algumas listas, incluindo a lista da respeitada revista britânica Sight & Sound, divulgada em 2012.
Nos últimos anos, Um Corpo que Cai tem consistentemente aparecido entre os dez melhores filmes da história nas principais listas do mundo, incluindo aquelas elaboradas pelas revistas Total Film e Cahiers du Cinéma, pelo jornal The Guardian, pela emissora BBC e pelo American Film Institute. Aliás, o filme também aparece em outras cinco lista de melhores compiladas pelo AFI, incluindo essa sobre a qual estamos falando nesse texto.
Por tudo isso, não é surpresa que Um Corpo que Cai tenha sido um dos 25 filmes originalmente selecionados para preservação no National Film Registry, da Biblioteca do Congresso Americano, devido a sua importância histórica, estética e cultural, quando o NFR foi inaugurando em 1989. Um Corpo que Cai é seguramente um dos filmes mais influentes da história da sétima arte e seu final é, até hoje, um dos mais chocantes e “confusos” de toda a história do cinema mundial.
Conclusões sobre a lista do American Film Institute
A primeira coisa que chama a atenção na lista de melhores filmes de mistério compilados pelo American Film Institute é a prevalência de produções dirigidas por Alfred Hitchcock. São quatro filmes dirigidos pelo cineasta britânico. Isso não chega a ser surpreendente, já que Hitchcock era, com toda razão, conhecido como o “Mestre do Suspense”. O genial cineasta dirigiu alguns dos melhores e mais brilhantes thrillers e filmes de mistério de toda a história do cinema mundial.
Também é interessante observar a prevalência de filmes noir na lista. Pelo menos cinco dos dez filmes dessa lista pertence, em alguma medida, a esse gênero. Isso também não surpreende porque esse é um gênero que igualmente depende de roteiros intricados, cheios de mistérios e também de reviravoltas e finais surpreendentes. Portanto, seria esperado que diversos filmes desse gênero conseguissem entrar nessa lista.
Também devido a essa prevalência de filmes noir e produções hitchcockianas, a maioria dos filmes dessa lista do American Film Institute foram produzidos e lançados nos anos 1940 e 1950. São quatro filmes produzidos nos anos 1950 e três nos anos 1940. O ano de 1954 é aquele com mais filmes nessa lista, dois no total. Isso porque nesse ano Alfred Hitchcock lançou duas obras primas: Disque M para Matar e Janela Indiscreta.
Já a década de 1940 possui o filme mais antigo dessa lista, o clássico fundador do cinema noir, O Falcão Maltês. Já as décadas de 1970, 1980 e 1990 possuem apenas um representando cada um. Os representantes dos anos 1970 e 1980 também são representantes do cinema noir, enquanto que o representando dos anos é um thriller e também o filme mais “novo” dessa lista. Além disso, é interessante observar que praticamente todos os filmes dessa lista são dirigidos por grandes nomes do cinema mundial. Além de Alfred Hitchcock, temos ainda Roman Polanski, Otto Preminger, Carol Reed, John Huston e David Lynch.
Também é interessante observar que todos os filmes da lista foram, em alguma medida, sucessos comerciais. Até mesmo aqueles que não venderam tanto assim, não deram prejuízos a seus estúdios. Além disso, a maioria deles foi bem recebido pela crítica ainda na época de seu lançamento. Talvez a grande exceção nesse sentido seja justamente Um Corpo que Cai (1958), que curiosamente encabeça essa lista.
Além disso, a maioria desses filmes receberam indicações ao Oscar e a outras premiações importantes, nenhum deles, no entanto, venceu o Oscar de Melhor Filme. Ademais, seis dos dez filmes dessa lista foram escolhidos para preservação no National Film Registry. Dos quatro que ainda não estão preservados no NFR, dois são filmes relativamente recentes (Veludo Azul e Os Suspeitos) e um é uma produção mais britânica do que norte-americana (O Terceiro Homem).
Além disso, dois dos filmes presentes nessa lista (O Falcão Maltês e Um Corpo que Cai) estavam na lista inicial de produções escolhidas para preservação no National Film Registry, quando ele foi fundado lá em 1989. Por tudo isso, podemos dizer sem medo de errar que temos uma bela lista de filmes para quem realmente gosta de cinema e, principalmente, de filmes de mistério.
Conclusão
E aí, o que você achou da nossa lista? Esperamos que você tenha gostado. Como sempre, tentamos não somente listar os filmes incluídos na lista, mas também explicar, de forma abrangente, porque eles foram escolhidas para estar aqui. Dessa forma, você é capaz de entender melhor os motivos que levaram a inclusão de uma produção na lista. Se gostou da nossa lista, não se esqueça de deixar seu comentário abaixo. Lembre-se sempre que ele é muito importante para nós.