Quais são os melhores trabalhos de David Lynch

David Lynch. Fotografia: Camera Press/Sébastien Soriano/Figarophoto
David Lynch. Fotografia: Camera Press/Sébastien Soriano/Figarophoto

No último dia 15 de janeiro, o mundo das artes perdeu David Lynch. O lendário cineasta nos deixou aos 78 anos de idade. Contudo, seu legado é tão grande, que influenciou definitivamente tanto o cinema quanto a televisão mundial. Incrivelmente, Lynch só dirigiu 10 longas-metragens em seus quase 60 anos de carreira. Além disso, ele também esteve a frente da série Twin Peaks, que originalmente teve duas temporadas em 1990 e 1991 e depois retornou para uma terceira temporada em 2017. Parece pouco, mas a genialidade de Lynch era tão grande, que somente esses 12 trabalhos foram suficientes para que ele deixasse para sempre sua marca na televisão e no cinema.

É bom lembrar que, além de cineasta, David Lynch também era fotógrafo, artista visual e músico. Aliás, sua carreira começou justamente nas artes visuais. Lynch também atuava vez ou outra. Aliás, seu último trabalho no cinema foi como ator no filme Os Fabelmans (2022), dirigido por Steven Spielberg, onde ele interpretava o famoso diretor John Ford. Como diretor, seu último trabalho no cinema foi no thriller psicológico Império dos Sonhos (2006), há quase 20 anos atrás. Já na televisão, Lynch dirigiu os 18 episódios de Twin Peaks: O Retorno (2017).

Como forma de relembrar e homenagear esse grande nome da história da sétima arte, ranquearemos seus 12 trabalhos. Dessa forma, listaremos, do “pior” para o melhor, seus 12 longa-metragem e também as duas produções para televisão, Twin Peaks e Twin Peaks: O Retorno, que ele criou durante sua carreira. Além disso, faremos um rápido resumo sobre sua vida e também sobre sua carreira.

David Lynch – Um pintor que se tornou cineasta

David Keith Lynch nasceu em 20 de janeiro de 1946 na cidade de Missoula, no estado do Montana, nos Estados Unidos. Seu pai era um cientista e pesquisador trabalhando para o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Por isso, desde a mais tenra idade, Lynch se acostumou a estar com seu pai em meio a natureza, as florestas, estradas de terra e montanhas o encantavam. Além disso, seu pai as vezes o deixava sozinho na floresta enquanto trabalhava. A sensação de solidão em meio a natureza lhe trazia uma sensação reconfortante, como ele diria anos depois.

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Devido ao trabalho de seu pai, Lynch também se mudava bastante. Contudo, o futuro diretor não tinha grandes dificuldades de adaptação. Ele, no entanto, odiava a escola que ele, futuramente, descreveria como um local que “destruía as sementes da liberdade” e “desencorajava o conhecimento e a atitude positiva”. Apesar isso, Lynch ingressou nos Escoteiros (com o único objetivo de “desistir e deixar isso para trás”) e chegou, inclusive, a visitar a Casa Branca junto com eles para poder assistir a posse do presidente John F. Kennedy.

Ainda na adolescência, David Lynch fez amizade com Toby Keeler, cujo pai era pintor e lhe presenteou com o livro “The Art Spirit” de Robert Henri. O jovem ficou encantando com as pinturas contidas nele e decidiu se tornar pintor. Após se graduar no ensino médio, Lynch ingressou na Corcoran School of the Arts and Design em Washington, D.C. Logo depois, em 1964, ele se transferiu para a Escola do Museu de Belas Artes de Boston. Lynch, no entanto, não se adaptou a instituição e decidiu abandoná-la após um ano de estudos.

O futuro diretor decidiu então viajar para a Europa com seu amigo Jack Fisk. O projeto era “mochilar” pelo continente por três anos e, eventualmente, se encontrar com o pintor expressionista austríaco Oskar Kokoschka. Os dois pretendiam ter aulas com ele, mas quando chegaram em Salzburgo, na Áustria, onde Kokoschka vivia, descobriram que ele não estava disponível. A decepção fez com eles decidissem regressar aos Estados Unidos, tendo passado apenas cerca de duas semanas na Europa.

Retorno aos Estados Unidos

Pouco depois de retornar a seu país natal, David Lynch ingressou na Pennsylvania Academy of the Fine Arts e se mudou para a Filadélfia, a cidade teria uma enorme importância em sua vida e também em sua obra. Dessa vez, ele conseguiu se adaptar a instituição e a cidade, vivendo um dos períodos mais produtivos de sua vida. Na cidade, Lynch conheceu a jovem Peggy Reavey, que também era estudante, e os dois começaram um relacionamento. Reavey acabou engravidando e os dois se casaram em 1967 e compraram uma casa em um dos piores bairros da Filadélfia, na época.

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David Lynch recebe a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1990 pelo filme Coração Selvagem (1990). Fotografia: Jean-Claude Deutsch/Jacques Lange/Paris Match via Getty Images.
David Lynch recebe a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1990 pelo filme Coração Selvagem (1990). Fotografia: Jean-Claude Deutsch/Jacques Lange/Paris Match via Getty Images.

“A cidade estava cheia de medo. Um garoto foi morto a tiros na nossa rua. Fomos assaltados duas vezes, tivemos janelas atingidas por tiros e um carro roubado. A nossa casa foi arrombada pela primeira vez apenas três dias depois que nos mudamos. O sentimento de perigo extremo era tão próximo e o medo era tão intenso. Havia violência, ódio e sujeira. Mas a maior influência em toda a minha vida foi aquela cidade”, disse Lynch em uma entrevista em 2005.

Em 1968, sua filha nasceu e ele passou a trabalhar com impressão para sustentar sua família. Ainda estudando na Pennsylvania Academy, Lynch finalmente dirigiu seu primeiro curta-metragem, chamado “Six Men Getting Sick (Six Times)”. O filme custou 150 dólares para ser produzido, bastante dinheiro para ele na época, mas foi um dos ganhadores do prêmio da exibição de final de ano da instituição.

O curta-metragem impressionou um dos estudantes ricos da Pennsylvania Academy e ele deu a Lynch mil dólares para criar um novo filme para ser utilizado em um instalação privada em sua casa. O futuro diretor gastou quase 500 dólares desse valor em uma câmera que era seu sonho de consumo, mas que estava quebrada e acabou fazendo com que o filme ficasse “um desastre”. O tal estudante rico, no entanto, não fez caso e ainda deixou que Lynch ficasse com o resto do dinheiro que havia sobrado.

Com esse resto de dinheiro, Lynch produziu seu segundo longa-metragem, “The Alphabet”. O diretor então voltou seus olhos para o recém-criado American Film Institute (AFI). A instituição foi criada por mandato presidencial em 1967 e tinha por objetivo apoiar e preservar a produção cinematográfica norte-americana. Por isso, o AFI ajudava a financiar produções de jovens cineastas norte-americanos.

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David Lynch, então, pediu 7,200 dólares para o AFI para produzir seu próximo curta-metragem, chamado de The Grandmother. O Instituto primeiro autorizou a alocação de 5 mil dólares para ele, mas depois acabou autorizando também a concessão dos outros 2,200 dólares que faltavam e assim seu filme foi completado. Empolgado, em 1970, Lynch se mudou para Los Angeles e se matriculou no AFI Conservatory, escola de cinema que pertencia ao próprio American Film Institute e que acabara de ser fundada.

Eraserhead e o início de uma carreira de sucesso para David Lynch

Lá, ele produziria o filme que o revelaria para o mundo, seu primeiro longa-metragem, o hoje clássico cult Eraserhead (1977). A obra custou apenas 100 mil dólares para ser produzido, mas apenas 10% desse valor vieram do American Film Institute. Assim, Lynch teve que conseguir o resto do dinheiro para completar o filme. Por esse motivo, Eraserhead levou cerca de quatro anos para ser completado, com as filmagens se iniciando em maio de 1972 e sendo completadas apenas em 1976, já que sempre que o dinheiro acabava, a produção era paralisada.

Devido a falta de dinheiro, praticamente toda a equipe de produção de Eraserhead era formada por amigos de Lynch, incluindo a atriz Sissy Spacek, seu futuro marido Jack Fisk, o diretor de fotografia Frederick Elmes e o designer de som Alan Splet. Além disso, ainda durante a produção do filme, Lynch se separou de sua esposa e passou a morar em um set de filmagens. Quando Eraserhead foi finalmente completado, o diretor tentou exibi-lo no prestigiado Festival de Cannes.

Contudo, a produção dividiu opiniões e acabou não sendo escolhido para a exibição no festival. Lynch também tentou fazer com que Eraserhead fosse exibido no Festival de Cinema de Nova York, onde a produção também foi rejeitada. Até que os organizadores do Festival de Cinema de Los Angeles, aceitaram exibir o filme. Lá, entre os que ficaram impressionados com Eraserhead, estava Ben Barenholtz, distribuidor do Elgin Theater, em Nova York. Ele se interessou em distribuir o filme, que acabou se tornando um sucesso das “sessões da meia-noite”, sendo considerado um dos maiores sucesso desse circuito nos ano 1970.

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Com o sucesso de Eraserhead, David Lynch atraiu muitos interessados em financiar seu próximo projeto. Entre eles, Stuart Cornfeld, um dos produtores executivos do famoso comediante e cineasta Mel Brooks. Foi Cornfeld quem encontrou o roteiro de O Homem Elefante (1980), que seria o próximo filme de Lynch. A obra, que conta a história real de Joseph Merrick, um homem nascido na Inglaterra no século XIX e que sofria de severas deformidades físicas, foi estrelada por Anthony Hopkins, John Hurt e Anne Bancroft. A produção do filme ficou a cargo da Brooksfilms, produtora de Mel Brooks.

Sucesso comercial e primeira indicação ao Oscar

O Homem Elefante foi um enorme sucesso de público e crítica, sendo indicado a oito Oscar, incluindo Melhor Filme, Direção, Ator e Roteiro Adaptado. O sucesso do filme fez de David Lynch uma figura internacionalmente conhecida. Além disso, a obra também acabaria por se tornar uma das mais “convencionais” e “acessíveis” de toda a filmografia de Lynch. O trabalho do diretor no filme impressionou a muita gente, inclusive, George Lucas, que o convidou para dirigir O Retorno de Jedi (1983), terceiro capítulo da saga Star Wars. Lynch, no entanto, recusou, argumentando que o próprio Lucas deveria dirigir o filme, já que a obra deveria refletir a sua visão e não a de outro diretor.

David Lynch, no entanto, não ficaria longe do cinema comercial. Ainda no início dos anos 1980, ele seria contratado pelo lendário produtor Dino de Laurentiis para adaptar para o cinema o clássico da literatura de ficção científica Duna (1965), de Frank Herbert. No afã para desenvolver o projeto, o diretor aceitou algumas condições que lhe causariam problemas depois. Ele não teria o corte final do filme e também teria que dirigir outros dois filmes para de Laurentiis após a estreia de Duna.

A produção de Duna foi marcada por diversos problemas, incluindo conflitos entre Lynch e os produtores, que tinham direito ao corte final do filme. O resultado foi uma obra desconexa e que se tornaria um grande fracasso de público e crítica. A experiência com Duna fez com que Lynch se afastasse de vez do cinema comercial e nunca mais quisesse dirigir uma superprodução ou “filme de estúdio”. Nos anos 1980 ele ainda dirigiria Veludo Azul (1986), um thriller estrelado por Kyle MacLachlan, Isabella Rossellini, Dennis Hopper e Laura Dern, filme que também foi produzido pela De Laurentiis Entertainment Group.

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Depois disso, Lynch se dedicaria a televisão. Ele criaria a série de mistério Twin Peaks, que acabaria também por se tornar um de seus trabalhos mais conhecidos e elogiados. Ele escreveria e dirigiria pessoalmente diversos episódios das duas temporadas da série, que foram ao ar nos Estados Unidos entre 8 de abril de 1990 e 10 de junho de 1991. No cinema, os anos 1990 seriam a década mais produtiva da carreira de David Lynch, que dirigiria quatro filmes: Coração Selvagem (1990), Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (1992), Estrada Perdida (1997) e Uma História Real (1999).

David Lynch em 2019 recebendo o Oscar Honorário pelo conjunto de sua obra. Fotografia: Kevin Winter/Getty.
David Lynch em 2019 recebendo o Oscar Honorário pelo conjunto de sua obra. Fotografia: Kevin Winter/Getty.

Esse último, que conta com um estilo de cinema mais convencional e menos “lynchiano”, acabou sendo laureado pela crítica especializada, recebendo indicações ao Oscar, ao Globo de Ouro e a outras premiações importantes. Nos anos 2000, David Lynch dirigiria apenas dois filmes: Cidade dos Sonhos (2001), que se tornaria um de seus filmes mais cultuados, e Império dos Sonhos (2006), que seria sua última contribuição para o cinema. Lynch ainda voltaria a televisão, onde dirigiria todos os 18 episódios de Twin Peaks: O Retorno (2017). A produção funcionou como uma terceira temporada das série dos anos 1990 e foi extremamente elogiada, fechando com chave de ouro a carreira de uma das mais importantes figuras do audiovisual norte-americano.

Ranqueando os trabalhos de David Lynch

Agora que já demos um panorama geral sobre a vida e a carreira de David Lynch, vamos ao que interessa: ranquear seus trabalhos. É importante destacar que para essa lista, consideramos apenas filmes dirigidos por David Lynch e produções televisivas sobre as quais ele teve pleno controle criativo. Por esse motivo, não consideramos séries televisivas onde ele dirigiu um ou outro episódio, mas não esteve tão envolvido assim com o desenvolvimento da produção. Assim como também não consideramos aqui os trabalhos de Lynch em curtas-metragens, clipes musicais, comerciais, etc.

Além disso, também não levamos em consideração seu trabalho fora do audiovisual, como fotógrafo, pintor e artista visual. Como dissemos antes, Lynch era uma artista multifacetado que se envolveu com diversas expressões artísticas. Por motivos óbvios também não consideramos seu trabalho como ator. Assim sendo, iremos listar aqui, do “melhor para o pior”, os dez longas-metragens dirigidos por David Lynch, assim como também as duas “encarnações” da série Twin Peaks, constituindo assim, uma lista de 12 trabalhos. Sem mais delongas, vamos lá.

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12 – Duna (1984) – O maior fracasso de David Lynch

É difícil chegar a consensos em relação a obra de David Lynch devido a sua natureza única e original, o que faz com que muitos de seus filmes sejam amados por alguns e odiados por outros. No entanto, aqui temos um dos poucos consensos em relação a sua filmografia: Duna é seu pior trabalho. A produção que tem características únicas na filmografia de David Lynch acabou também por se tornar seu maior fracasso como diretor. Mal recebido pela crítica especializada e também pelo público, a produção acabou sendo renegada até pelo próprio diretor, que preferiu não ter seu nome atrelado a ela.

Duna é o terceiro longa-metragem da carreira David Lynch. Na época, no início dos anos 1980, ele acabara de dirigir O Homem Elefante, que havia sido um grande sucesso de público e crítica. Aos 34 anos de idade, Lynch era considerado a “grande novidade” em Hollywood. Por esse motivo, ele recebeu propostas de diversos grandes estúdios. George Lucas, por exemplo, queria que ele dirigisse O Retorno de Jedi (1983), terceiro capítulo da franquia Star Wars.

Foi nesse cenário que Lynch aceitou a proposta de Dino De Laurentiis para adaptar para o cinema o livro Duna (1965), de Frank Herbert, considerado um clássico da literatura de ficção científica. De Laurentiis, que era um grande produtor na época, queria construir uma saga espacial ao estilo de Star Wars, aproveitando assim o sucesso que os filmes da franquia criada por George Lucas faziam na época. Por isso, inclusive, Lynch e os atores de Duna haviam assinado contrato para mais de um filme.

David Lynch, contudo, queria como sempre fazer um filme com seu estilo. Não é nem preciso dizer que a combinação não deu certo. O desafio de condensar todo o livro de Herbert em um filme de apenas cerca de duas horas foi enorme até mesmo para Lynch. Os conflitos em relação a duração do filme, fizeram com que ele fosse todo repicado e reeditado pelos produtores, já que o jovem diretor não tinha o direito de corte final sobre a obra. Além disso, Duna também sofreu com inúmeros outros problemas e desafios em sua adaptação.

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A produção tumultuada e conflituosa resultou em um filme desconexo, com um enredo confuso e que ás vezes parece estar correndo contra o tempo para conseguir terminar dentro de seu tempo de duração. O resultado disso, foi um tremendo fracasso de público e crítica. Produzido a um custo estimado em cerca de 40 milhões de dólares, disparado o maior orçamento de toda a carreira de Lynch, Duna arrecadou cerca de 30 milhões de dólares em bilheterias nos Estados Unidos e Canadá.

Kyle MacLachlan e Sting em cena de Duna (1984). Distribuição: Universal Pictures.
Kyle MacLachlan e Sting em cena de Duna (1984). Distribuição: Universal Pictures.

Além disso, o filme também foi extremamente mal visto pela crítica especializada e é amplamente considerado o pior da carreira do genial diretor. Apesar disso, Duna acabou se tornando um clássico cult e influenciando outros filmes, inclusive, a mais recente adaptação do livro de Frank Herbert, dirigida por Denis Villeneuve, essa sim, um sucesso de público e crítica. Além disso, alguns aspectos do filme de Lynch, como a presença do cantor e compositor Sting em um dos papéis principais e a trilha sonora da banda Toto, como participação de Brian Eno, são lembrados até hoje.

Duna acabou com a ilusão que Hollywood tinha de que David Lynch poderia se tornar o próximo grande diretor do cinema comercial norte-americano e também fez com o que o próprio Lynch nunca mais quisesse dirigir uma superprodução de estúdio. Além disso, o diretor nunca mais abriria mão do seu direito ao corte final. Ademais, foi em Duna que ele conheceu Kyle MacLachlan, que estrelaria diversos de seus filmes em uma parceria muito bem-sucedida.

11 – Coração Selvagem (1990)

Estrelado por Nicolas Cage e Laura Dern, e contando com um elenco de grandes nomes que incluía Willem Dafoe, Crispin Glover, Diane Ladd, Isabella Rossellini e Harry Dean Stanton, Coração Selvagem estreou em 19 de maio de 1990, no Festival de Cannes daquele ano. Desde o início, o filme polarizou público e crítica, sendo odiado por alguns e amados por outros. Apesar disso, a produção rendeu a Lynch sua primeira Palma de Ouro, em uma decisão do júri liderado pelo diretor Bernardo Bertolucci, que causou muita polêmica na época.

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Uma mistura de comédia dramática e romântica com thriller criminal, com pitadas de road movie, Coração Selvagem conta com doses generosas de violência e muitas homenagens ao filme O Mágico de Oz (1939), do qual Lynch sempre foi grande fã, e também ao rei do rock, Elvis Presley. Coração Selvagem, estreou comercialmente nos Estados Unidos em agosto de 1990 e nas seções de teste muita gente deixou a sala de cinema em uma das cenas, que continha tortura e foi considerada violenta demais.

Nicolas Cage e Laura Dern em cena de Coração Selvagem (1990). Distribuição: The Samuel Goldwyn Company.
Nicolas Cage e Laura Dern em cena de Coração Selvagem (1990). Distribuição: The Samuel Goldwyn Company.

David Lynch resolveu então cortar a cena do filme. Coração Selvagem custou 10 milhões de dólares para ser produzido e acabou arrecadando quase 15 milhões de dólares em bilheterias no mundo todo. A produção recebeu indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante para a atriz Diane Ladd. Coração Selvagem também foi indicado ao BAFTA de Melhor Som.

Atualmente, a produção é vista com melhores olhos pela crítica especializada e mantêm uma taxa de aprovação de 66% no Rotten Tomatoes, principal agregador de criticas especializadas da internet. Além disso, publicações importantes, como a Rolling Stone, a IndieWire e a Complex, incluiram Coração Selvagem em suas listas de melhores filmes dos anos 1990.

10 – Estrada Perdida (1997)

Mais um filmes de David Lynch que divide opiniões de público e crítica, Estrada Perdida estreou em 1997 e se seguiu ao sucesso televisivo de Twin Peaks, série que havia sido criada por Lynch. A produção é estrelada por Bill Pullman, Patricia Arquette e Balthazar Getty e conta com a última aparição em um filme de três grandes nomes do cinema: Robert Blake, Jack Nance, que trabalhou com Lynch em Eraserhead, e o genial comediante Richard Pryor.

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Estrada Perdida estreou comercialmente na França, antes de ser exibido no Festival de Sundance e estrear comercialmente nos Estados Unidos em 21 de fevereiro de 1997. O filme rodou apenas no circuito alternativo norte-americano, sendo exibido em apenas 212 salas de cinema no país inteiro e por apenas três semanas. Mesmo assim, Estrada Perdida conseguiu arrecadar pouco menos de 4 milhões de dólares em bilheterias no mundo todo.

Como acontece com diversos filmes de David Lynch, Estrada Perdida polarizou a crítica assim que foi lançado, sendo odiado por alguns e amados por outros. Assim como Coração Selvagem, o filme foi acusado de estar mais preocupado em criar imagens e emoções do que necessariamente desenvolver enredo e personagens. O que, aliás, é uma marca do cinema de Lynch.

Patricia Arquette e Balthazar Getty em cena de Estrada Perdida (1997). Distribuição: October Films.
Patricia Arquette e Balthazar Getty em cena de Estrada Perdida (1997). Distribuição: October Films.

Com o tempo, no entanto, Estrada Perdida acabou se tornando um clássico cult e passou a ser mais bem avaliado e entendido pela crítica, desenvolvendo, inclusive, interesse acadêmico em torno de seu estilo cinematográfico. Estrada Perdida serviu de inspiração para o vídeo-game Silent Hill 2 e sua trilha sonora conta com canções de grandes nomes do rock, como Nine Inch Nails, David Bowie, Marilyn Manson, Rammstein e Smashing Pumpkins. Aliás, Trent Reznor, vocalista do Nine Inch Nails, produziu a trilha sonora do filme. Além disso, Estrada Perdida é o primeiro de três filmes de Lynch que foram rodados e se passam em Los Angeles.

9 – Império dos Sonhos (2006)

Império dos Sonhos foi o último filme em longa-metragem de David Lynch, se não considerarmos Twin Peaks: O Retorno um filme (muita gente considera) e é um dos únicos dois filmes que ele dirigiu nos anos 2000. O genial diretor passaria quase 20 anos sem dirigir longa-metragens até falecer em 2025. Império dos Sonhos é também um dos trabalhos mais experimentais da carreira de David Lynch, tendo sido filmado quase todo em vídeo digital de baixa qualidade, e não em película como a maioria dos filmes profissionais, utilizando uma câmera digital portátil da Sony que na maioria das cenas era operada pelo próprio diretor.

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Aliás, em Império dos Sonhos, David Lynch voltou aos seus tempos de “cinema amador” cuidando ele próprio de quase todos os aspectos do filme. Lynch dirigiu, produziu e escreveu a obra, além de também ter composto grande parte de sua trilha sonora e ter editado ele próprio o filme. Destacando ainda mais o caráter experimental de Império dos Sonhos, a produção foi rodada praticamente sem um roteiro pronto.

Laura Dern em cena de Império dos Sonhos (2006). Distribuição: 518 Media Absurda.
Laura Dern em cena de Império dos Sonhos (2006). Distribuição: 518 Media Absurda.

Apesar de todo esse caráter quase amador de Império dos Sonhos, o filme conta com um elenco de primeiríssima linha, que inclui diversos dos intérpretes preferidos de David Lynch, como Laura Dern, Harry Dean Stanton, Justin Theroux e Diane Ladd, além de outros nomes famosos, como Jeremy Irons, Karolina Gruszka, Peter J. Lucas, Krzysztof Majchrzak e Julia Ormond. Como sempre acontecia com os filmes de Lynch, Império dos Sonhos dividiu opiniões da crítica especializada na época de seu lançamento.

Além disso, a produção foi exibido apenas no circuito de alternativo e de festivais (sendo mostrado nos Festivais de Veneza e de Nova York) tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Apesar de uma modesta exibição comercial nos Estados Unidos, a produção conseguiu arrecadar cerca de 4.4 milhões de dólares em bilheterias, superando os cerca de 3 milhões de dólares que o filme custou para ser produzido. Império dos Sonhos foi escolhido como o segundo melhor filme de 2007 pela prestigiada revista francesa Cahiers du cinéma, um dos 30 melhores filmes dos anos 2000 pela respeitada revista britânica Sight & Sound e um dos 10 filmes mais subestimados da década de 2000 pelo jornal inglês The Guardian.

8 – Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (1992)

Depois do sucesso da série televisiva Twin Peaks (1990-1991), David Lynch aceitou o desafio de dirigir um filme para cinema que serviria como um prequel da série, contando os últimos dias da vida de Laura Palmer, personagem que é o foco principal de Twin Peaks, e mostrando finalmente detalhes de seu assassinato. Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer estreou em 16 de maio de 1992 no Festival de Cannes onde concorreu a famosa Palma de Ouro, que Lynch já havia ganho dois anos antes.

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Kyle MacLachlan e Sheryl Lee em cena de Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (1992). Distribuição: New Line Cinema
Kyle MacLachlan e Sheryl Lee em cena de Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (1992). Distribuição: New Line Cinema

Nem é preciso dizer que assim como quase todos os filmes de David Lynch, Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer dividiu opiniões da crítica especializada. O filme, inclusive, foi durante criticado por críticos de renome, como Janet Maslin, Todd McCarthy e Peter Travers. Vincent Canby, do jornal The New York Times, inclusive, chegou a chamar Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer de um dos piores filmes da história.

Comercialmente a produção também foi uma decepção. Produzido a um custo estimado em cerca de 10 milhões de dólares, o filme arrecadou apenas cerca de 4 milhões de dólares nos Estados Unidos, apesar de a obra ter ido melhor em outros países. Como também sempre acontece com a maioria dos filmes de Lynch, com o tempo Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer foi melhorando bastante sua reputação, a ponto de ser atualmente considerado uma “obra-prima” por diversos críticos de cinema, além de um dos melhores filmes dos anos 1990 e um dos melhores na filmografia de David Lynch.

7 – Uma História Real (1999) – O filme mais convencional da carreira de David Lynch

Uma História Real é um ponto fora da curva na filmografia de David Lynch. Considerado seu filme mais “convencional”, a produção não possui grandes mistérios, violência explícita, esquisitices ou um enredo complexo e excêntrico, como é típico do cinema lynchiano. Ao invés disso, temos apenas um filme “convencional” Hollywoodiano contando a história real de Alvin Straight, um idoso de 73 anos que em 1994 resolveu viajar quase 400 quilômetros, entre os estados americanos do Iowa e Wisconsin, em um cortador de grama para visitar seu irmão mais velho que havia sofrido um derrame.

Contando com um roteiro muito bem escrito e amarrado e uma atuação poderosíssima do veterano ator e dublê Richard Farnsworth, o filme foi amplamente elogiado pela crítica especializada. Uma História Real estreou em 21 de maio de 1999 no Festival de Cannes, onde concorreu a Palma de Ouro. Nos Estados Unidos, o filme estreou comercialmente em 15 de outubro do mesmo ano, mas teve distribuição apenas limitada, arrecadando pouco mais de 6 milhões de dólares em bilheterias no país.

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Richard Farnsworth em cena de Um História Real (1999). Distribuição: Walt Disney Pictures.
Richard Farnsworth em cena de Um História Real (1999). Distribuição: Walt Disney Pictures.

Por sua atuação em Uma História Real, Richard Farnsworth foi indicado ao Oscar de Melhor Ator e aos 79 anos de idade se tornou a pessoa mais velha até então a ser indicada ao Oscar nessa categoria. Farnsworth também foi indicado ao Globo de Ouro e a diversas outras premiações. Já Uma História Real foi incluído em listas de melhores do ano de diversas publicações e associações de críticos, incluindo a Cahiers du Cinéma, o National Board of Review e a Village Voice. O filme é o único da filmografia de David Lynch a ter sido distribuído pela Walt Disney Pictures.

6 – Twin Peaks (1990-1991) – David Lynch muda a televisão para sempre

Após o sucesso de Veludo Azul, David Lynch foi contratado pela Warner Bros. para desenvolver um filme sobre a vida de Marilyn Monroe. Apesar de o projeto nunca ter ido para frente, foi nele que o diretor conheceu o escritor e roteirista Mark Frost, que já tinha experiência com o desenvolvimento de séries policiais. Juntos os dois criariam o que seria uma das produções comercialmente mais bem-sucedidas da carreira de Lynch, a série de mistério Twin Peaks. A produção que revolvia em torno das investigações do assassinato de uma jovem garota de uma pequena cidade dos Estados Unidos, acabou se tornando um fenômeno da televisão norte-americana do início dos anos 1990.

Como é comum na obra de Lynch, o diretor misturou diversos elementos de inúmeros gêneros televisivos, cinematográficos e literários para criar algo que tivesse um estilo único. Tão único, inclusive, que apesar das diversas tentativas, ninguém nunca conseguiu recriar. Aliás, é possível dizer que o que foi feito em Twin Peaks nunca mais poderia ser recriado, nem mesmo pelo próprio David Lynch. Por isso, inclusive, o diretor foi em outra direção com Twin Peaks: O Retorno.

Apesar de sua originalidade, Twin Peaks foi abraçado pelo público. A série estreou com um episódio de duas horas, que se tornou o mais visto de toda a temporada 1989-1990 da televisão norte-americana, marcando 22 pontos de audiência, com 33% das televisões ligadas e quase 35 milhões de pessoas assistindo ao episódio. A série continuou a ter boa audiência durante toda a primeira temporada. Com o interesse diminuindo a partir da segunda temporada, quando diversos mistérios importantes da série foram revelados.

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Twin Peaks foi também foi unanimemente elogiado pela crítica especializada e recebeu diversas indicações ao Primetime Emmy Awards e ao Globo de Ouro. A primeira temporada da série é, até hoje, considerada um dos melhores trabalhos de David Lynch. A partir da segunda temporada, o diretor se distanciou criativamente um pouco da série, devido a discordâncias em relação aos rumos que o enredo estava tomando e, com isso, Twin Peaks caiu um pouco em qualidade.

Kyle MacLachlan e Lara Flynn Boyle em cena de Twin Peaks (1990-1991). Distribuição: ABC
Kyle MacLachlan e Lara Flynn Boyle em cena de Twin Peaks (1990-1991). Distribuição: ABC

Apesar disso, Twin Peaks ainda é considerada uma das melhores, mais importantes e mais influentes produções de toda a história da televisão norte-americana. Sua influência foi tão grande que remoldou os rumos da televisão do país na época e até hoje influencia novas produções para televisão e streaming. Alguns especialistas, inclusive, argumentam que seria até mesmo possível dividir a televisão norte-americana em antes e depois de Twin Peaks. Só isso, já mostra a qualidade e importância da série.

5 – O Homem Elefante (1980)

O Homem Elefante foi o filme que realmente revelou David Lynch para o mundo. Após o sucesso de Eraserhead no circuito alternativo, Lynch foi procurado por Stuart Cornfeld, que trabalhava como produtor executivo para o comediante e diretor Mel Brooks. Cornfeld, queria que Lynch dirigisse um filme para a produtora de Mel Brooks. Após assistir Eraserhead, Brooks concordou em contratar o jovem diretor.

Baseado em fatos reais, O Homem Elefante conta a história real de Joseph Merrick, um inglês que viveu no século XIX e que sofria de deformidades extremas que o faziam ter uma aparência horrenda. Por isso, Merrick não apenas sofria preconceito, mas também checou a ser exibido como atração em circos ao redor da Europa. O filme foi estrelado por John Hurt, no papel de Merrick, e por Anthony Hopkins, no papel de Frederick Treves, um médico que tentou ajudar Merrick e estudar seu caso.

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O Homem Elefante estreou comercialmente nos Estados Unidos em 10 de outubro de 1980 e foi um grande sucesso de público e crítica. Produzido a um custo estimado em cerca de 5 milhões de dólares, o filme arrecadou aproximadamente 26 milhões de dólares somente nos Estados Unidos e no Canadá. A produção também foi unanimemente elogiado pela crítica especializada, recebendo oito indicações ao Oscar daquela temporada, incluindo indicações a Melhor Filme, Ator (para Hurt), Roteiro Adaptado e Direção, a primeira da carreira de David Lynch.

Além disso, O Homem Elefante também foi indicado a quatro Globos de Ouro e a sete BAFTAs. Nessa última premiação, inclusive, a obra venceu a categoria de Melhor Filme. O enorme sucesso de O Homem Elefante fez de David Lynch um diretor internacionalmente conhecido. Além disso, o filme deu a John Hurt sua segunda (e última) indicação ao Oscar e se tornou um dos seus papéis mais conhecidos.

John Hurt em cena de O Homem Elefante (1980). Distribuição: Paramount Pictures.
John Hurt em cena de O Homem Elefante (1980). Distribuição: Paramount Pictures.

A produção também ajudou a elevar o nome de Anthony Hopkins que a partir dos anos 1990 receberia seis indicações ao Oscar e se tornaria um dos atores mais aclamados de sua geração. Além disso, o trabalho de maquiagem do filme foi tão bom, que “forçou” a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas a criar uma nova categoria no Oscar especialmente pensada para reconhecer trabalhos de maquiagem em filmes, categoria essa que hoje é chamada de “Melhor Maquiagem e Penteado”.

4 – Eraserhead (1977)

Primeiro longa-metragem da carreira de David Lynch, Eraserhead foi responsável por dar a ele uma carreira como cineasta. Produzido a um custo de apenas 100 mil dólares, durante a época em que o diretor ainda era aluno da AFI Conservatory, o filme levou quatro anos para ser concluído. Além disso, a produção contou com financiamento vindo do próprio bolso de Lynch e também de amigos, como a atriz Sissy Spacek, para ser completado. Aliás, quase toda a equipe de Eraserhead era formada por amigos e conhecidos de David Lynch.

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Após o filme estar completo, o diretor tentou exibi-lo em diversos festivais grandes, como o Festival de Cannes e o Festival de Cinema de Nova York, sem sucesso, até que o Festival de Cinema de Los Angeles aceitasse exibi-lo. Lá, Eraserhead foi visto por Ben Barenholtz, um distribuidor ligado ao Cinema Elgin, em Nova York, que se interessou em distribuí-lo. Após atrair poucos espectadores nas suas sessões convencionais em Los Angeles, a exibição de Eraserhead foi mudado para a sessão de meia-noite, onde o filme finalmente encontrou seu público.

Eraserhead passou anos sendo exibido em sessões da meia noite em diversos cinemas de diversas cidades dos Estados Unidos até se tornar um dos mais bem-sucedidos filmes desse circuito, arrecadando cerca de 7 milhões de dólares em bilheterias e se tornando também uma sucesso comercial. Como aconteceu com grande parte das obras de David Lynch, Eraserhead dividiu a opinião da crítica especializada na época de seu lançamento. No entanto, o filme conseguiu demonstrar o talento de Lynch e abriu as portas para que ele pudesse dirigir O Homem Elefante (1980) e consolidar sua carreira como diretor.

Jack Nance em cena de Eraserhead (1977). Distribuição: Libra Films.
Jack Nance em cena de Eraserhead (1977). Distribuição: Libra Films.

Atualmente, Eraserhead é considerado um clássico cult e também um dos melhores filmes da carreira de David Lynch. A produção também se tornou extremamente influente e é considerado um dos mais importantes filmes do cinema independente norte-americano no século XX, influenciando diretamente diversos outros diretores e cineastas importantes do cinema mundial. Por esse motivo, em 2004, Eraserhead foi escolhido para preservação no National Film Registry, da Biblioteca do Congresso Americano, devido sua importância cultural, histórica e estética.

3 – Twin Peaks: O Retorno (2017)

David Lynch fechou sua carreira com chave de ouro com Twin Peaks: O Retorno. A produção que é uma minissérie e que funciona como uma terceira temporada da série Twin Peaks (1990-1991) estreou nos Estados Unidos em 2017. Dessa vez, Lynch escreveu (ao lado de Mark Frost) e dirigiu todos os 18 episódios da série, tendo assim controle criativo total sobre ela. O resultado não poderia ser melhor, uma obra-prima digna do cinema lynchiano.

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Contando com o retorno de diversos membros do elenco original da série, incluindo o protagonista Kyle MacLachlan, Twin Peaks: O Retorno subverte muito do que tinha sido feito até então no que tange ao retorno de séries dos anos 1980 e 1990. Como não poderia deixar de ser, Lynch traz para a produção todas as suas idiossincrasias e todo o seu estilo, canalizando toda a sua obra e energia criativa para criar algo diferente, mas familiar, em Twin Peaks: O Retorno. Devido a seu formato, com 18 episódios interconectados, escritos e dirigidos pelas mesmas pessoas, muita gente considerou a produção mais um filme do que uma série televisiva.

Twin Peaks: O Retorno foi extremamente bem recebida pela crítica especializada, sendo considerada a melhor produção televisiva do ano por diversos veículos importantes, como as revistas Rolling Stone, Collider, Esquire e o jornal The Washington Post, entre outros. Twin Peaks: O Retorno também entrou na lista de 10 melhores produções televisivas do ano de praticamente todos os veículos de entretenimento importantes dos Estados Unidos.

Kyle MacLachlan, Laura Dern e David Lynch em cena de Twin Peaks: O Returno (2017). Distribuição: Showtime.
Kyle MacLachlan, Laura Dern e David Lynch em cena de Twin Peaks: O Returno (2017). Distribuição: Showtime.

Além disso, a obra também foi considerado o segundo melhor “filme” do ano pela revista britânica Sight & Sound e o melhor “filme” do ano pela revista francesa Cahiers du cinéma. Anos depois, a revista francesa consideraria Twin Peaks: O Retorno, o melhor “filme” da década. A produção também seria indicada a diversas premiações importantes, incluindo o Primetime Emmy Awards e o Globo de Ouro.

Infelizmente, Twin Peaks: O Retorno seria a última produção dirigida por David Lynch, já que o diretor não estaria mais criativamente envolvido com nada relevante até sua morte em 2025. Felizmente, no entanto, Twin Peaks: O Retorno é uma produção a altura da genialidade de Lynch e fecha sua carreira como cineasta com chave de ouro.

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2 – Veludo Azul (1986)

Uma das produções mais “esquisitas” e geniais de David Lynch, Veludo Azul foi lançado em 1986, logo após o fracasso e decepção de Duna (1984). Decepcionado com a experiência que teve nesse último filme, Lynch queria encontrar um “projeto pessoal” e convenceu a De Laurentiis Entertainment Group, com quem ainda tinha obrigações contratuais devido a Duna, a financiar o filme cuja ideai inicial Lynch havia tido ainda nos anos 1970 e cujo roteiro havia sido recusado por diversos estúdios devido a seu conteúdo considerado violento e erótico demais.

Lynch convidou Kyle MacLachlan, como quem havia acabado de trabalho em Duna, para protagonizar o filme, por achar que ele se encaixava bem no papel de um garoto inocente tentando desvendar um mistério. Além dele, também estão no elenco, Isabella Rossellini, Dennis Hopper e Laura Dern, que ainda era muito jovem e que se tornaria uma habitué nas produções do diretor. Depois do fracasso de Duna, a De Laurentiis Entertainment Group alocou apenas 6 milhões de dólares para a produção de Veludo Azul, mas o valor foi suficiente para concluir o filme.

Veludo Azul estreou comercialmente nos Estados Unidos em 19 de setembro de 1986. A produção dividiu opiniões de críticos e público. Em alguns cinemas houve filas para assistir ao filme, mas também houve relatos de pessoas que deixaram as sessões do filme antes mesmo do final, exigindo, inclusive, que o cinema devolvesse o valor do ingresso. Entre a crítica especializada, também houve intenso debate entre os que gostaram e entre os que odiaram a produção.

Kyle MacLachlan, Isabella Rossellini e Laura Dern em cena de Veludo Azul (1986). Distribuição: De Laurentiis Entertainment Group.
Kyle MacLachlan, Isabella Rossellini e Laura Dern em cena de Veludo Azul (1986). Distribuição: De Laurentiis Entertainment Group.

Veludo Azul, no entanto, foi elogiado por diversos críticos importantes, incluindo, Janet Maslin, Gene Siskel e Peter Travers. Os cineastas Woody Allen e Martin Scorsese também defenderam a produção, considerando-a o melhor filme do ano. Apesar de toda a polêmica, Veludo Azul deu a David Lynch sua segunda indicação ao Oscar de Melhor Direção. O filme, no entanto, não recebeu nenhuma outra indicação a premiação. No Globo de Ouro, contudo, a produção teve mais sorte, sendo indicada em duas categorias, Melhor Ator Coadjuvante (para Dennis Hopper) e Melhor Roteiro (para o próprio Lynch).

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Veludo Azul ajudou a tornar Isabella Rossellini uma atriz reconhecida, já que até então ele era muita mais conhecida por seu trabalho como modelo, e também a reavivar a carreira de Dennis Hopper, que estava em baixa desde o final dos anos 1970. Atualmente, Veludo Azul é amplamente considerado um dos melhores filmes da carreira de David Lynch e também um dos melhores filmes produzidos nos anos 1980.

1 – Cidade dos Sonhos (2001)

David Lynch iniciou os anos 2000 com tudo, dirigindo o que seria considerado por muitos o melhor filme de sua carreira. Curiosamente, Cidade dos Sonhos foi concebida primeiramente como uma série de televisão a ser exibida na ABC, mesma emissora que havia trabalhado com Lynch em Twin Peaks. O diretor, então escreveu e filmou o que deveria ser o episódio piloto da série. No entanto, ao exibi-lo para a emissora ela não gostou do que viu e não aprovou o projeto.

Lynch, contudo, não desistiu e consegui financiamento da produtora e distribuidora francesa StudioCanal para transformar o piloto da série em um longa-metragem. Essa origem televisiva de Cidade dos Sonhos colaborou bastante para que o filme tivesse o final aberto que encantou tanta gente. Além disso, a produção tem tudo que um bom filme lynchiano tem que ter, um roteiro único, original, complexo e com muitas pitadas de surrealismo, fantasia e, claro, mistério. Uma estética que só Lynch sabe dar a seus filmes e também grandes atuações de seus intérpretes principais.

Cidade dos Sonhos estreou no Festival de Cannes, em 16 de maio de 2001, onde venceu o prêmio de Melhor Direção. Desde o início o filme foi extremamente bem recebido pela crítica especializada que o elogiaram entusiasticamente. Até mesmo o lendário crítico de cinema Roger Ebert, que nunca foi muito fã da produção de Lynch, rendeu elogios a Cidade dos Sonhos, dizendo: “David Lynch trabalhou para chegar a Mulholland Drive durante toda a sua carreira, e agora que ele chegou lá eu o perdoo por Coração Selvagem e, até mesmo, por Estrada Perdida. Finalmente seu experimento não destruiu os tubos de ensaio”.

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A produção foi considerada uma das melhores filmes do ano por diversas publicações importantes e anos depois seria, inclusive, considerada o melhor filme da década pelas revistas Cahiers du cinéma, IndieWire, Slant Magazine, Reverse Shot, The Village Voice e Time Out New York e também pela Associação de Críticos de Cinema de Los Angeles. Cidade dos Sonhos também foi indicado ao Oscar de Melhor Direção, sendo essa a terceira e última indicação que David Lynch recebeu nessa categoria.

Naomi Watts e Laura Harring em cena de Cidade dos Sonhos (2001). Distribuição: Universal Pictures.
Naomi Watts e Laura Harring em cena de Cidade dos Sonhos (2001). Distribuição: Universal Pictures.

No Globo de Ouro, Cidade dos Sonhos recebeu indicações em quatro categorias, Melhor Filme – Drama, Direção, Roteiro e Trilha Sonora Original. No BAFTA, o filme recebeu duas indicações, vencendo na categoria de Melhor Montagem. Atualmente, Cidade dos Sonhos não só é considerado um dos melhores filmes já dirigidos por David Lynch, mas também uma dos melhores filmes do século XXI e também de toda a história do cinema mundial.

Conclusão

E aí, gostou da nosso lista. Como sempre, tentamos não apenas listar os filmes, mas também falar um pouco sobre cada um deles, afim de deixar claro a importância de cada uma das produções presentes na lista. Se você gostou do nosso texto não se esqueça de deixar seu comentário Você mudaria alguma coisa em nossa lista? Já assistiu algum filme de David Lynch? Deixe seu comentário abaixo. Como sempre, ele é muito importante para nós.

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