Depois de praticamente uma década no forno, Lost Soul Aside finalmente chegou às mãos dos jogadores. A recepção, no entanto, foi tudo, menos unânime.
O título, que começou como um projeto solo promissor, chamou atenção pelo visual inspirado em Final Fantasy XV e pela jogabilidade acelerada ao estilo Devil May Cry. Na prática, porém, o resultado ficou aquém das expectativas.
Com críticas mistas, bugs frustrantes e memes inesperados, o jogo se transformou em um estudo de caso. Ele oferece lições valiosas sobre os desafios do desenvolvimento de jogos ambiciosos.
Se você é jogador curioso ou desenvolvedor indie no inicio de projeto, vale a pena prestar atenção nessas cinco lições que Lost Soul Aside nos deixou.
1 – Ambição sem gestão vira armadilha
Tudo começou de forma quase cinematográfica: um estudante de desenvolvimento chinês, Yang Bing, chamou a atenção do mundo gamer em 2016 ao divulgar um trailer incrivelmente bonito de um jogo feito por uma única pessoa. A internet foi ao delírio. Mas conforme o tempo passou e o escopo cresceu, ficou claro que transformar aquela demo num jogo completo de verdade seria um desafio titânico.
Em outras palavras, Yang Bing mordeu mais do que poderia mastigar. E a versão final de Lost Soul Aside mostra que a ambição continuou viva – mas sem uma estrutura sólida de produção e gerenciamento, até os melhores conceitos podem se tornar um problema.
O visual é bonito? Sim. Mas isso sozinho não sustenta um projeto. Ter uma ideia incrível é só o começo. Sem gestão de tempo, escopo e recursos, o sonho pode virar um pesadelo.
2 – Quanto mais tempo passa, maior o tombo
Foram praticamente 10 anos de espera, desde o primeiro trailer até o lançamento oficial . Durante esse tempo, a indústria evoluiu MUITO, os padrões subiram e o público ficou mais exigente.
A cada novo trailer, o hype crescia. Por isso, quando o jogo finalmente foi lançado, os reviews mistos soaram como uma ducha de água fria.
Casos como Duke Nukem Forever e Cyberpunk 2077 mostram o mesmo padrão: expectativa acumulada demais cobra um preço alto. Tempo demais pode virar inimigo. A demora aumenta a pressão e torna mais difícil atender às expectativas.
3 – Jogabilidade pode salvar (ou derrubar) um jogo
Apesar dos tropeços técnicos e narrativos, o combate recebeu elogios. Estiloso, rápido e cheio de possibilidades, o gameplay de Lost Soul Aside é seu maior destaque.
As lutas contra chefes chamam atenção pela intensidade e coreografia. Para quem gosta de ação frenética, há momentos realmente divertidos.
Mesmo com problemas ao redor, uma boa jogabilidade ainda consegue manter o jogador engajado. Isso reforça uma regra fundamental dos games.
Lição mais importante de todas, talvez: A Jogabilidade é a base de tudo. Afinal, é VIDEOGAME, e não filme interativo. Sem diversão, não importa o quão bonita a direção de arte ou bem escrito o roteiro de um jogo seja. Ele será chato e poderá ser “jogado” pelo Youtube.
4 – Bugs e falta de polimento arruínam o encanto
Infelizmente, o lançamento veio recheado de pequenas falhas. Framerate instável, animações quebradas, colisões bugadas e travamentos aleatórios incomodaram bastante.
Além disso, os menus são rígidos, a movimentação em mundo “aberto” é travada e as cutscenes parecem coladas às pressas.
No Steam, as primeiras avaliações foram “mistas” e, até agora, nada mudou. A maioria apontou justamente a falta de polimento como um problema central.
Polimento técnico é essencial. Um lançamento bagunçado pode afundar até mesmo uma boa ideia. E o público não costuma perdoar. Até mesmo jogos como Batman: Arkham Knight, que hoje são considerados clássicos cult, mancharam a imagem dos desenvolvedores por conta de lançamento desastroso.
5 – Preço elevado exige entrega equivalente
Na prática, Lost Soul Aside é um jogo de escopo AA – ou seja, está entre um indie e um blockbuster AAA. Ele não teve o suporte robusto da Sony, tampouco apresenta o polimento técnico de um Death Stranding 2 ou Horizon Fobidden West, por exemplo.
O projeto ambicioso de Yang Bing recebeu ajuda da Sony por meio do Playstation China Hero Projet. O desenvolvimento custou apenas 8 milhões, o que é pouco se comparado a títulos similares. Mesmo assim, o preço de lançamento ficou muito próximo ao de títulos de alto orçamento (de R$300 a 340 no Brasil).
Isso gerou uma certa indignação entre os jogadores. Afinal, mesmo sem esperar perfeição, quem paga preço de jogo AAA espera uma entrega proporcional.
Quando o produto parece inacabado ou com cara de demo estendida, a frustração é muito maior. E, embora o sistema de combate funcione bem, a narrativa genérica, os problemas técnicos e os gráficos obsoletos complicam a justificativa do valor cheio.
Portanto, se o preço for de AAA, a experiência também precisa ser. O jogador avalia o custo-benefício – e isso pesa, muitas vezes, mais do que qualquer trailer bonito.
Timing perdido aliado a conteúdo não salva
O caso de Lost Soul Aside serve como um lembrete brutal de que, no desenvolvimento de games, o timing é tudo. Quando um jogo demora demais para chegar, ele não precisa apenas ser bom. Precisa ser candidato a GOTY – ou, no mínimo, bom o bastante para justificar todos os anos de espera.
Infelizmente, esse não foi o caso aqui. O jogo estreou com um certo “cheiro de velho”. Visualmente datado e preso a escolhas de design e narrativa que lembram outra era. Pior ainda: mesmo com toda a ambição, não entregou o conteúdo necessário para construir uma base sólida de fãs.
O resultado foi claro basicamente frustração, memes e o clássico sentimento de “era só isso?”.
O contraste fica ainda mais gritante ao comparar com Hollow Knight: Silksong que acabou de lançar. Após anos em desenvolvimento, o game chegou com uma entrega redondinha, profunda e artisticamente inspirada. Além disso, chegou com um preço acessível (apenas 20 dólares).
Silksong não apenas honrou a espera – transformou o tempo em recompensa. Mostrou que, quando o jogo é verdadeiramente especial, o tempo deixa de ser vilão. Ele vira aliado.
Lost Soul Aside tinha potencial para ser algo realmente grande. Mas potencial não entrega jogo. Planejamento e execução sim.
Se há uma lição final aqui, ela é simples: mais importante do que trailers bonitos é criar experiências que resistam ao tempo – e não sejam devoradas por ele, pois desenvolvimento indie é um caminho difícil.