The Wolf of Wall Street ou O Lobo de Wall Street, é particularmente, uma das obras mais insanas na carreira de Martin Scorcese, e coroada com uma das mais brilhantes atuações de Leonardo Dicaprio, que se superou em todos os sentidos.
O longa foi distribuído pela Universal Pictures nos EUA, lançado em 25 de dezembro de 2013. No Brasil, a Paris Filmes acabou adquirindo os direitos, com a produção chegando por aqui apenas um mês depois, em 24 Janeiro de 2014.
Considerado como um dos clássicos da nova geração de Hollywood, o longa conta com roteiro assinado por Terence Winter, baseado na autobiografia de Jordan Belfort, que por sinal, foi escrito durante o tempo em que ele esteve cumprindo pena por seus crimes.
Na vida real, Belford foi corretor da bolsa de valores durante um bom tempo, assim como muitos outros. Mas seu nome ficaria amplamente conhecido em 1999, após ele se declarar culpado por fraudar e manipular ações do mercado.
Condenado, passou 22 meses preso, como parte de um acordo do qual concordou testemunhar contra vários parceiros e subordinados em seu esquema de corrupção. Anos depois, em 2007, publicou sua biografia chamada O Lobo de Wall Street.
O livro se tornou um best-seller publicado em mais de 40 países e o filme foi indicado a cinco Oscars em 2014, além de faturar um Globo de Ouro na categoria “Melhor Ator de Comédia ou Musical” para Leonardo DiCaprio.
No longa, Scorsese rompe qualquer laço que já teve com a moral e os bons costumes, onde palavrões, sexo e drogas são utilizados, não só para chocar o público, mas também para criar o contexto de uma realidade intensa e sem limites.
Independente do que faça, o diretor já tem seu nome gravado na história do cinema por clássicos como, “Cassino“, “Os Bons Companheiros”, “Touro Indomável“, “Taxi Driver” e outros.
Contudo, aqui ele se reinventa, ao trazer à tona, uma das histórias mais amorais e insanas já feitas em Hollywood, e talvez por isso, O Lobo de Wall Street tenha seu lugar de destaque na galeria de Scorcese.
Jordan Belfort e seus amigos levam uma vida em busca do prazer absoluto, não se importando com as pessoas que estão prejudicando com seus atos deploráveis, ou com as consequências que isso poderia acarretar para o seu próprio futuro.
Politicamente incorreto e sem nenhum tipo de pudor, o longa oferece sequências impensáveis, sem se preocupar em esconder a nudez de suas personagens, com direito até mesmo a uma orgia gay.
Para alcançar tamanho impacto no público, Scorsese se cercou de um time capaz de ir além do que era esperado, e Leonardo DiCaprio é o maior representante desse compromisso com a insensatez.
Particularmente, não tenho palavras para me expressar sobre um galã de Hollywood, que se submete a uma cena onde está tão chapado, a ponto de se arrastar pelo chão até chegar em seu carro, o que deu origem a uma das sequências mais absurdas do filme.
Mais do que corajoso, DiCaprio é verdadeiramente brilhante quando está com o microfone em mãos, regendo a orquestra da Stratton Oakmont com seus discursos icônicos, que sem dúvidas entraram para a história do cinema.
Sem falar de todos os coadjuvantes que fazem parte da equipe de Jordan Belfort, com destaque para o personagem de Jonah Hill, que se supera e entrega um trabalho a altura da insanidade proposta pelo longa.
Margot Robbie também carimba uma ótima versão de Nadine Caridi, no seu primeiro papel de destaque em um filme de Hollywood. Sempre belíssima, podemos dizer que a atriz australiana estreou em grande estilo.
De fato, alguns desavisados podem se chocar ao assistir O Lobo de Wall Street, afinal de contas, o longa foi pensado e executado com esta finalidade, e precisamos concordar que isto foi feito com maestria.
Trata-se de um soco na cara do puritanismo, em uma obra que não tem medo de ser subversiva ao extremo. Esta coragem de Scorcese deu origem a mais uma joia rara, que com certeza vale a pena ser contemplada.
O enredo de O Lobo de Wall Street
A história acompanha Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio), um jovem ambicioso de classe média, que sonha com a riqueza acima de tudo, disposto a fazer qualquer coisa para alcançar seus objetivos.
Em 1987, ele se torna um corretor de ações em uma empresa estabelecida em Wall Street. Seu novo chefe, Mark Hanna (Matthew McConaughey), o incentiva a ter uma atitude mais agressiva nos negócios e um estilo de vida menos ortodoxo, se quiser conquistar algum sucesso no ramo.
Durante seis meses, Jordan Belfort trabalhou duro, seguindo os ensinamentos de seu mentor, até que passou no Exame Série 7 e ganhou sua licença de corretor.
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No dia em que ele finalmente conseguiu ser contratado pela empresa, aconteceu o o maior tombo da história das bolsas de valores no mundo inteiro, um evento que ficou conhecido como Black Monday.
Sem opção no mercado de trabalho para corretores, Belfort considera tentar a sorte em uma outra carreira, mas sua esposa Teresa Petrillo (Cristin Milioti) encontra um anúncio nos classificados que parece ser interessante.
Sem emprego, e bastante ambicioso, ele acaba trabalhando para uma empresa de fundo de quintal que lida com ações que estão fora do pregão, que negociam seu capital fora da bolsa de valores.
São empresas de pequeno porte que não têm a menor chance de crescimento, vendidas por um valor baixo, mas que pagam uma comissão bem mais atrativa para seus corretores.
Ali Jordan descobre a mina de ouro que precisava para alavancar seus ganhos, e com sua lábia afiada, não demora muito para que ele se dê muito bem em seu novo emprego, até conhecer Donnie Azoff, um vendedor que mora no mesmo complexo de apartamentos.
Jordan Belfort e seu mais novo parceiro, acabam fundando, juntamente com velhos amigos (todos traficantes de maconha experientes), sua própria empresa, focada neste tipo de negócio, a Stratton Oakmont.
Eles montam todo um esquema, com roteiros preparados para iludir e enganar seus clientes, utilizando o dinheiro deles para realizar operações ilegais, com retornos muito mais vantajosos.
O estilo de venda agressivo faz com que a Stratton Oakmont, logo torna-se uma empresa de bilhões de dólares, e Belfort traz seus pais, os contabilistas “Mad” Max (Rob Reiner) e Leah Belfort (Christine Ebersole), para ajudar a lidar com suas finanças.
Com seu patrimônio aumentando consideravelmente, Belfort passa a financiar festas gigantescas para seus empregados, além de trair sua esposa com várias garotas de programa, e se viciar em álcool e drogas.
Contudo, tantos gastos descontrolados chamam a atenção do agente Patrick Denham do FBI (Kyle Chandler), que começa a investigar a vida do empresário e a rotina da Stratton Oakmont.
Em uma de suas festas, Jordan Belfort conhece Naomi LaPaglia (Margot Robbie) e se apaixona perdidamente por ela. Eles engatam um romance às escondidas e como resultado, sua esposa decide se divorciar.
Jordan pede a mão de Naomi e os dois acabam se casando, enquanto a investigação do FBI continua, com a ajuda da Comissão de Títulos e Câmbio dos Estados Unidos.
Por conta disso, Belfort decide abrir uma conta bancária na Suíça, com Jean-Jacques Saurel (Jean Dujardin) no nome de um laranja, que seria a tia de Naomi, Emma (Joanna Lumley).
Ela e outros não-americanos regulamentados em Genebra, levam o dinheiro para o depósito, ajudando a lavagem de dinheiro de capitais de fraudes de títulos de Belfort Stratton.
O esquema é quase exposto por um incidente em que Donnie Azoff entra em uma briga com Brad Bodnick (Jon Bernthal), um traficante de drogas que também está ajudando na transferência de dinheiro para a Suíça.
Agora, Jordan Belfort terá que usar toda sua destreza para que o esquema não seja desmantelado pelo Detetive Patrick Denham não consiga reunir as provas que precisa para colocá-lo atrás das grades, o que não será uma tarefa nada fácil.
Personagens
Jordan Belfort
Jordan Belfort, interpretado por Leonardo DiCaprio, é o protagonista da história, baseado no corretor de valores condenado a quatro anos de prisão pelos golpes que aplicou, que totalizavam um prejuízo de investidores.
Belford começa a enriquecer vendendo ações de pequenas empresas fora do pregão, e logo acumulou um patrimônio gigantesco, devido às altas comissões, além de várias outras operações fraudulentas.
Diferentemente do que foi mostrado no filme, nunca ocorreram disputas de arremesso de anões no escritório da companhia, nem um chimpanzé foi levado para lá.
Além disso, o apelido do executivo que dá nome ao filme e à autobiografia não exisita até a publicação do livro. O artigo da Forbes mostrado no longa, não o chamava de Lobo de Wall Street.
Por outro lado, segundo o próprio Belfort, uma de suas funcionárias realmente raspou o cabelo em troca de US$ 10 mil, assim como ele também quase bateu um helicóptero no seu jardim.
Donnie Azoff
Donnie Azoff, interpretado pelo ator Jonah Hill, é o melhor amigo e o primeiro sócio de Jordan Belfort, que larga seu antigo emprego para se tornar co-fundador da empresa Stratton Oakmont.
Completamente alucinado e sem noção, Donnie é o grande parceiro de Belfort em todas as ações fraudulentas, assim como nas gigantescas festas, regadas a álcool, orgias, drogas e medicamentos controlados.
Ele foi inspirado em Danny Porush, que sempre declarou não concordar com a realidade mostrada no livro de Belfort e no filme, pois os fatos foram completamente distorcidos, principalmente em relação ao personagem dele.
Contudo, mesmo com afirmando isso, diversos acontecimentos narrados no filmes são verdadeiros. Porush realmente engoliu um peixe de verdade no escritório, assim como ele realmente casou com sua prima de 1º grau.
Naomi Lapaglia
Naomi Lapaglia, interpretada pela atriz Margot Robbie, é a segunda esposa de Jordan Belfort, com quem ele mantém um caso durante o primeiro casamento. Uma mulher belíssima, por quem Belfort se apaixona à primeira vista.
A personagem foi inspirada em Nadine Caridi, que gostava muito do estilo de vida que o marido lhe proporcionava, mas se viu no meio de um furacão, quando tudo aquilo terminou e coincidiu com o vício dele em drogas.
Entre os fatos mostrados no longa, ela realmente foi agredida pelo marido durante uma briga, onde ele tentou fugir com a filha deles. Além disso, Belfort deu um iate com o nome dela como presente de casamento.
Mark Hanna
Mark Hanna, interpretado pelo ator Matthew McConaughey, é a grande inspiração para Jordan Belfort. É com ele que Jordan aprende uma nova filosofia de vida e grande parte de suas técnicas de venda são baseadas na destreza de Hanna.
O personagem aparece apenas no início do filme e, de acordo com Belfort, Hanna realmente afirmou que o segredo para o sucesso está na masturbação, cocaína e prostitutas, além de ensinar como fazer os clientes reinvestirem seus ganhos para que eles ganhassem mais em comissões.
Na vida real foi um lendário corretor e vendedor nas mais famosas (e infames) firmas de Wall Street nos anos 80 e 90. Ainda conhecido hoje por seus insights prolíferos e charme instantâneo, ele é considerado um dos maiores contadores que o mundo já viu.
Patrick Denham
Patrick Denham, interpretado pelo ator Kyle Chandler, é o detetive do FBI que consegue unir as peças para encurralar Jordan Belfort. Mesmo com todas as artimanhas do protagonista, para se livrar em pune de seus crimes, ele não desiste de colocá-lo atrás das grades.
Determinado, o Detetive Denham se manteve convicto de que Belfort mantinha operações fraudulentas, e conseguiu desmantelar um esquema que rendeu bilhões de dólares em transações ilegais.
O personagem foi inspirado em Gregory Coleman, que rastreou as atividades da corretora por seis anos e afirmou que a ostentação, a arrogância de suas atividades, além do grande número de pessoas reclamando da empresa foram os motivos que chamaram sua atenção para a investigação.
Max Belfort
“Mad” Max Belford, interpretado pelo ator Rob Reiner, é o pai de Jordan Belfort, que mais tarde se torna o gestor das finanças do filho, quando a Stratton Oakmont, tornou-se uma empresa bilionária.
Max odeia perder os capítulos de seu seriado favorito, e fica extremamente irritado quando precisa atender o telefone bem na hora de sua cena favorita. Ele também dá conselhos importantes para Jordan, sobre as mulheres, mas está desatualizado quanto ao visual das vaginas atuais.
A verdadeira história de Jordan Belford
Nascido em uma família de origem judia, Jordan Belford foi criado em Bayside, no Queens. Entre o ensino médio e início da faculdade, ele e seus amigos de infância ganharam cerca de 20 mil dólares vendendo Italian Ice na praia.
Belford usou todo o dinheiro para pagar sua faculdade de odontologia, e assim matriculou-se na Faculdade de Odontologia da Universidade de Maryland, mas esta estratégia não duraria por muito tempo.
Isso porque, logo no primeiro dia de aula, o reitor da universidade disse que a era de ouro da odontologia havia acabado.
“Se você está aqui simplesmente para ganhar dinheiro, está no lugar errado.”
Mais tarde ele viria a conseguir uma vaga como corretor estagiário na empresa LF Rothschild, mas acabou sendo demitido após a empresa enfrentar dificuldades financeiras em virtude do crash da bolsa, na Black Monday de 1987.
A segunda-feira negra foi a maior quebra do mercado financeiro na história, severamente impactante pela magnitude das perdas sofridas por diversas empresas.
Os tombos começaram já na abertura das bolsas asiáticas e se espalharam pelo mundo, sendo que o grande destaque ficou para a variação do índice acionário norte-americano Dow Jones, que despencou 22,6% naquele dia.
Depois de amargar mais um fracasso em sua carreira, Belford decidiu fundar a empresa Stratton Oakmont junto de outros dois sócios no ano de 1989.
Eles faturaram milhares de dólares através da negociação fraudulenta de penny stocks, que são ações de pequenas empresas e que estavam em baixa no mercado.
Durante seus anos de glória, o empresário desenvolveu um estilo de vida completamente baseado em grandes festas luxuosas e uso recreativo intensivo de drogas.
A empresa chegou a contar com uma equipe de mais de mil corretores movimentando ações que totalizavam cerca de US$ 1 bilhão. Nesse momento, ele já estava envolvido em diversas transações ilegais e negociações fraudulentas.
Em 1996, Belford foi indiciado pelas autoridades federais por todas as atividades ilícitas, que incluíam lavagem de dinheiro, estelionato e diversas fraudes de valores mobiliários.
Ele cumpriu 22 meses de uma sentença de quatro anos na Taft Correctional Institution em Taft, Califórnia, onde fez um acordo judicial com o Federal Bureau of Investigation pelos golpes que aplicou.
Todas os golpes aplicados totalizavam um prejuízo de investidores calculado em mais de 200 milhões de dólares, sendo que Belford foi obrigado a devolver cerca de 110 milhões.
Quando esteve preso, dividiu cela com o ator e ativista Tommy Chong, que o encorajou a escrever sobre as experiências que viveu como corretor da bolsa de valores.
A amizade entre os dois continuou fora da prisão e Jordan creditou sua nova alçada como palestrante motivacional, ao seu parceiro Chong.
O Lobo de Wall Street
O Lobo de Wall Street é um filme agressivo, provocativo e arrojado, onde Martin Scorsese, desafia as barreiras da sanidade e dos bons costumes da sociedade.
Mas tirando todo o excesso do filme, a história de Jordan Belfort carrega muitas lições sobre vida, trabalho, dinheiro e capitalismo, talvez por esse motivo seja tão fácil se conectar com o personagem.
“A única coisa que separa você dos seus objetivos são as desculpas que você dá a você mesmo para evitar o sucesso”
Jordan Belfort veio do nada, e se tornou uma pessoa completamente obstinada por mudar de vida e aos 26 anos de idade já faturava 49 milhões de dólares ao ano.
Se colocarmos de lado os métodos que Belfort utilizou para enriquecer, precisamos admitir que ele simplesmente não ficou parado esperando as oportunidades caírem do céu.
Talvez, um dos maiores trunfos de Jordan, seja sua grande capacidade oratória, pois diferentemente das táticas que a grande maioria dos executivos usam para motivar as suas equipes, Jordan sempre fala com o coração.
A sua autenticidade é destruidora, sua emoção é intensa, e sua convicção naquilo que acredita é extremamente contagiante.
Na verdade, a jornada de Jordan Belfort nos revela os dois lados de uma mesma moeda, onde a glória de se tornar uma pessoa muito poderosa, pode ser ofuscada pela vergonha quando todos os golpes são revelados à sociedade.
Para quem acompanha o trabalho de Martin Scorsese, é fácil perceber como o diretor está em casa à frente do longa, e como ele imprime sua identidade de forma única.
Talvez por esse motivo que temos uma condução exemplar que, particularmente, pode ser considerada como uma das melhores execuções de toda a sua carreira.
Vale lembrar que o diretor recebeu carta branca dos produtores, com total liberdade para fazer o filme como bem entendesse e o resultado foi uma sequência de cenas absurdas.
Moral e ética, aliás, são valores que dão as caras no filme, somente para serem massacrados, e de fato, por alguns momentos somos forçados a nos questionar se andar na linha é realmente o certo a fazer.
Contudo, ver um filme de Scorsese é ter a certeza de que tudo estará em seu lugar, e inversão de valores acontece, na medida em que os personagens começam a se afundar cada vez mais, seja nas drogas, ou pelas mancadas que levam à investigação do FBI.
O diretor consegue trabalhar visualmente, dinâmicas que trabalham em direções opostas, onde, quanto mais esses indivíduos ficam ricos, mais crimes cometem, e mais se entregam aos seus vícios.
Conduzindo um grande time de atores através de cenas icônicas, Martin Scorcese transforma o material original, que já é imponente por si só, em uma obra cinematográfica impecável e digna de aplausos.
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