Montagem com filmes clássicos.
Montagem com filmes clássicos, feitos em live-action, ou seja, com a utilização de atores reais de carne e osso.

Se você lê bastante sobre cinema, televisão ou entretenimento de uma forma geral, você já deve ter visto, em algum lugar, a expressão “live-action” ou “filme em live-action”. Nós mesmos aqui no ProddigitalPOP, utilizamos muito essa expressão, mas você sabe o que ela significa? Se você não sabe, está em dúvida ou quer saber mais sobre isso, fique com a gente e leia o texto abaixo, porque nele, explicaremos de uma vez por todas, de forma completa e com exemplos, o que é um live-action.

Esse texto é parte da nossa série “O que é“, onde explicamos o significado de vários termos utilizados no mundo do entretenimento. Então vamos aprender o que significa live-action? É só continuar lendo esse texto.

Mas afinal de contas, o que é “live-action”?

De forma bem resumida, em cinema ou televisão, tudo que não é animação é live-action. Ou seja, todos os filmes ou séries feitos com “pessoas reais” e filmadas com algum equipamento de captura, como câmeras, por exemplo, são produções em formato “live-action”. Portanto, quando você ouve dizer que a Walt Disney Pictures fará uma “versão live-action” de uma de suas animações clássicas, isso basicamente quer dizer que o estúdio fará uma versão da animação utilizando atores reais de carne e osso. De forma bem simplificada, segundo a definição do dicionário de Cambridge, live-action envolve “pessoas ou animais reais, não modelos ou imagens desenhadas, ou produzidas por computador”.

Cena de Cidadão Kane (1941).
Cena de Cidadão Kane (1941), considerado um dos maiores clássicos do cinema mundial, o filme foi feito todo em live-action, ou seja, filmado com atores reais.

Agora que você já tem uma ideia geral do que é um filme ou série em live-action, vamos nos aprofundar um pouco mais no tema, explicá-lo com mais detalhes e te dar alguns exemplos de produções em formato “live-action”.

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Filmes em live-action

De forma geral, a grande maioria dos filmes produzidos desde a “invenção” do cinema moderno no século XIX são live-action, ou seja, é resultado da captura, em filme ou outro meio, de pessoas reais em ação e/ou movimento. Por esse motivo, na maioria dos casos, o uso da expressão “live-action” é dispensável. Lembrando sempre que a animação, outro processo utilizado para produção de filmes, existe desde antes da “invenção” do cinema moderno. Contudo, elas costumavam ocupar um espaço menor na indústria cinematográfica e, por isso, eram meio que deixadas de lado.

Prof. Stampfer's Stroboscopische Scheibe No. X (Trentsensky & Vieweg 1833)
Prof. Stampfer’s Stroboscopische Scheibe No. X (Trentsensky & Vieweg 1833), uma das animações mais antigas da história.

Nos últimos anos, no entanto, animação e live-action vem se misturando cada vez mais e por isso, a expressão “live-action” vem sendo utilizada cada vez mais frequentemente. Isso tem ocorrido, especialmente, nos últimos 10 anos, quando a Walt Disney Pictures passou a produzir “versões live-action” de suas animações clássicas. E só para deixar as coisas bem claras, se live-action envolve “pessoas ou animais reais, não modelos ou imagens desenhadas, ou produzidas por computador”, animação envolve justamente “modelos ou imagens desenhadas, ou produzidas por computador”.

Geralmente, na animação (diferente do que ocorre no live-action) são usadas técnicas diversas para dar movimento (ou impressão de movimento) a imagens que estão paradas. Na animação clássica, essas imagens eram desenhadas, muitas vezes, a mão por artistas, uma a uma e depois “colocadas juntas” para parecer que estão em movimentos. Em outro texto da nossa série “O que é” falaremos mais sobre animação e suas várias técnicas.

Cena de Roundhay Garden (1888).
Cena de Roundhay Garden (1888), o filme em live-action mais antigo de se tem notícia.

Já no live-action, tracionalmente, a “impressão de movimento” é obtida através da captura de diversas fotografias (normalmente 24 por segundo) de uma imagem real que está em movimento na vida real. Tradicionalmente, essa captura é feita por câmeras especialmente desenvolvidas para isso. Depois, no processo tradicional, essas imagens eram projetadas também a 24 frames/fotografias por segundo, gerando para quem assiste a impressão de que aquela imagem está em movimento. Atualmente, esse processo é normalmente feito de forma totalmente digital, sem o uso de filmes de celuloíde, como ocorria até pouco tempo atrás.

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Filme de animação e live-action

Os filmes de animação e live-action são aqueles filmes em que existe a combinação de técnicas de animação com live-action. Ou seja, de forma bem simplificada, são filmes que combinam “pessoas reais” com personagens ou cenários animados ou gerados atráves de alguma técnica de animação. Alguns exemplos bem conhecidos são os filmes Uma Cilada para Roger Rabbit (1988) e Space Jam: O Jogo do Século (1996). No primeiro exemplo, o filme se passa em uma realidade alternativa em que humanos e desenhos animados existem e convivem no mesmo universo. Já no segundo exemplo, o grande jogador de basquete Michael Jordan é “sequestrado” pelos personagens do Looney Tunes, para ajudá-los a vencer um jogo de basquete contra alienígenas malvados que querem transformá-los em escravos.

Bob Hoskins e Roger Rabbit em cena de Uma Cilada para Roger Rabbit (1988).
Bob Hoskins e Roger Rabbit em cena de Uma Cilada para Roger Rabbit (1988), provavelmente o filme mais famoso a misturar atores reais com personagens e cenários animados.

Uma Cilada para Roger Rabbit é provavelmente o filme mais conhecido a misturar animação e live-action e a obra, inclusive, foi escolhida em 2016 para ser preservado no National Film Registry, da Biblioteca do Congresso Americano (o acervo contendo os mais importantes filmes norte-americanos) por sua importância cultural, estética e artistica. Contudo, engana-se quem pensa que essa mistura é uma coisa nova. Ela existe desde praticamente o início do cinema moderno.

A Walt Disney Pictures, inclusive, é uma das pioneiras na mistura entre animação e live-action. Nos anos 1920, por exemplo, o estúdio lançou uma série de curtas-metragens chamada “Alice Comedies”, em que as histórias se constituíam basicamente de uma garotinha chamada Alice e seu gato animado chamado Julius, interagindo com outros personagens animados em cenários totalmente animados. A Disney produziu 57 curtas da série que foram lançados entre 1923 e 1927. O estúdio também lançou diversos longas-metragens utilizando essa técnica.

Nos anos 1940, por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial, a Disney lançou dois longas-metragens, como parte do esforço diplomático de guerra, direcionados ao público latino-americano, Alô, Amigos (1942) e Você Já Foi à Bahia? (1944). Nesses filmes, alguns dos personagens mais famosos do estúdio na época, interagem com artistas famosos da América Latina. Em Você Já Foi à Bahia?, por exemplo, o Pato Donald dança com a atriz e cantora brasileira Aurora Miranda (irmã de Carmem Miranda) e até é beijado por ela.

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Michael Jordan, Bill Murray e Pernalonga em cena de Space Jam (1996).
Michael Jordan, Bill Murray e Pernalonga em cena de Space Jam (1996), filme que mistura atores reais com personagens e cenários animados.

Ainda nos anos 1940, a Disney lançou A Canção do Sul (1946), que também faz uso extensivo de personagens e cenários animados. Outra grande obra do gênero é Mary Poppins (1964), também produzido pela Disney. Nele existe uma enorme seção do filme em que quatro personagens humanos são transportados para um mundo animado e interagem com personagens animados. Nos anos 1970, o estúdio lançou outro filme que misturava animação e live-action, era Meu Amigo o Dragão (1977). Aqui, no entanto, temos algo diferente. Apenas um personagem é animado, justamente o dragão protagonista do filme. Como se pode ver, a ideia de misturar animação e live-action é tão antiga quanto o próprio cinema.

Animações fotorealísticas

Além das interações entre animação e live-action, com a evolução das imagens geradas por computador (ou CGI, na sigla em inglês) surgiram também as animações fotorealísticas, que muitas vezes são confundidas com obras em live-action. O principal exemplo de animação fotorealística é O Rei Leão (2019). Lançado em 2019 e promovido pela Disney com a “versão live-action” da clássica animação de mesmo nome, lançada em 1994, o filme, na verdade, não tem nenhuma cena filmada em locação e nenhum personagem “de carne e osso”. Tudo que é visto no filme foi gerado por computador, incluindo, os animais que aparecem na obra.

Cena de O Rei Leão (2019).
Cena de O Rei Leão (2019), que utiliza técnicas de animação fotorealística para criar personagens e cenários extremamente realísticos.

A equipe responsável pela produção de O Rei Leão, utilizou milhares de fotografias de locais e animais reais para recriá-los da forma mais realisticamente possível no filme. Além disso, eles também estudaram os movimentos e o comportamento dos animais para reproduzí-los no filme, assim com também o movimento natural de árvores e arbustos sob a ação do vento, para deixar tudo com a aparência de ter sido filmado em locação. O resultado é tecnicamente impressionante. Porém fica a pergunta, O Rei Leão é animação ou live-action?

Tanto o pessoal da Disney quanto o diretor do filme, Jon Favreau, consideram a obra um live-action. Contudo, a maioria dos profissionais e jornalistas da indústria consideram O Rei Leão de 2019 uma animação. O filme, inclusive, está no topo de animações mais vistas da história, com uma arrecadação de quase 1,7 bilhão de dólares (falamos um pouco mais sobre isso em um dos nossos textos sobre a animação Super Mario Bros.). O mais interessante é que apesar do sucesso, O Rei Leão não foi indicado ao Oscar de Melhor Longa-Metragem de Animação de 2020.

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Cena de As Aventuras de Tintin (2011).
Cena de As Aventuras de Tintin (2011), que combina técnicas de captura de movimento, CGI e animação computadorizada para criar os personagens, cenários e cenas do filme.

Isso porque, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (AMPAS), instituição que entrega o prêmio, não considera filmes feitos a partir de técnicas de captura de movimento e CGI como sendo elegíveis a concorrer nas duas categorias destinadas a premiar animações. É por esse motivo também, que filmes como Final Fantasy (2001), O Expresso Polar (2004), Os Fantasmas de Scrooge (2009) e As Aventuras de Tintim (2011) não poderiam nunca ser indicados ao Oscar de Melhor Longa-Metragem de Animação, mesmo sendo considerados animações no sentido estrito da palavra.

Animações e efeitos visuais em filmes live-action

Além da mistura de animação e live-action de forma explícita, da qual já falamos mais acima, onde os responsáveis pela produção não apenas querem que o espectador perceba a presença da animação, mas ela também faz parte da estética do filme, existem casos em que essa animação é “escondida”. Ou seja, os produtores não querem que você perceba que ela está ali. Esses casos ocorrem normalmente quando as animações são utilizadas nos efeitos visuais do filme. É sobre isso que falaremos nesse tópico do nosso texto.

Cena de Vingadores: Ultimato (2019).
Cena de Vingadores: Ultimato (2019). Apesar de ser um filme em live-action, ou seja, com atores reais e de carne e osso, a obra faz uso extensivo de imagens geradas por computador.

Desde o início do cinema moderno, as animações são usadas em filmes em live-action para gerar determinados efeitos visuais desejados pelos produtores dessas obras. A técnica de animação mais usada nos primórdios do cinema era o stop-motion, que consiste em fotografar um objeto imóvel, movendo-o pouco a pouco, para assim, de fotografia em fotografia, dar a impressão de que ele está em movimento. Essa técnica foi muito utilizada no cinema, para criar seres e personagens que não poderiam existir na vida real e inserí-los em filmes live-action.

Um dos primeiros filmes a utilizar essa técnica, foi O Mundo Perdido, de 1925. Em que todos os dinossauros e criaturas pré-históricas eram produzidas por meio de animação stop-motion e inseridas no filme, dando a impressão de que estavam em cena com os atores de carne e osso. King Kong, de 1933, também utilizou essa mesma técnica justamente para criar o gorila gigante, que protagoniza o filme. Ray Harryhausen se tornou, provavelmente, o maior e mais famoso especialista no uso dessa técnica. Entre suas obras mais famosas estão, Sinbad e a Princesa (1958), Jasão e os Argonautas (1963) e Fúria de Titãs (1981).

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Cena de  Jasão e os Argonautas (1963).
Cena de Jasão e os Argonautas (1963). Apesar de ser um filme em live-action. O filme faz uso de animação em stop-motion para criar personagens que não poderiam existir na vida real.

Apesar de essa técnica de misturar stop-motion com atores reais ter sido praticamente abandonada, devido à popularização das imagens geradas por computador (CGI), ela era amplamente utilizada no cinema até poucos anos atrás. Outras instâncias em que animação e live-action se misturam, é quando se quer criar em um filme em live-action, efeitos simples, como raios, choques-elétricos, pedras preciosas brilhando ou até mesmo o brilho de um ricocheteio de uma bala em algum lugar. Até pouco tempo atrás, a maioria desses efeitos visuais, eram criados simplesmente utilizando animações sobrepostas ao que tinha sido filmado na vida real.

Cena de Avatar: O Caminho da Água.
Cena de Avatar: O Caminho da Água. Filme todo feito com o uso de CGI e captura de movimentos.

Até mesmo as imagens geradas por computador (CGI) são consideradas por muitos especialistas e críticos de cinema como um tipo de animação. Já que essas imagens são criadas totalmente em ambiente digital, na maioria das vezes sem que nenhuma “imagem real” seja capturada. Portanto, aqui também temos uma instância em que animação e live-action se misturam para se criar algum efeito visual desejado pelos produtores de um filme. Nesse caso, o debate entre o que é animação e o que é live-action passa pela “intenção” dos produtores de uma obra e também pelo realismo gerado pela técnica utilizada. O famoso crítico de cinema Roger Ebert, certa vez, inclusive disse que “na minha opinião, não é animação, a menos que pareça animação”.

Existem também os casos de filmes em live-action que utilizam técnicas de captura de movimento (ou “motion capture” em inglês). Nesses casos, existem atores reais interpretando personagens. Essa interpretação é feita em um estúdio especial e utilizando vestimentas especiais que capturam todas as expressões e movimentos do ator, que são então transferidos para um computador, que recria digitalmente todas essas imagens. Essa técnica é extensivamente utilizada no cinema atualmente, inclusive, com filmes sendo produzidos inteiramente utilizando-a. O caso mais famoso é o da franquia Avatar, cujos filmes são todos produzidos utilizando técnicas de captura de movimente e imagens geradas por computador.

Técnica de captura de movimentos debaixo d’água inventada exclusivamente para ser usada em Avatar: O Caminho da Água (2022).
Técnica de captura de movimentos debaixo d’água inventada exclusivamente para ser usada em Avatar: O Caminho da Água (2022).

De qualquer forma, em todos esses casos, os produtores da obra não querem que o público perceba que existe a presença de animação, ou objetos animados, no filme em live-action. Diferentemente da seção anterior em que falamos sobre filmes em que essa mistura é deixada clara e evidente para que o público perceba, aqui, a intenção é literalmente iludir o público. Ou seja, criar a aparência de que aquilo que está na tela é real. Criar objetos, seres e movimentos que não existem, e muitas vezes nem sequer poderiam existir, na vida real.

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Limites entre animação e live-action

Como você pode notar pelo que dissemos até aqui, está cada vez mais difícil fazer a distinção entre o que é live-action e o que é animação. Essas duas formas de se produzir conteúdo audiovisual estão cada vez mais misturadas e de uma forma que a maioria do “público comum” nem sequer consegue perceber. Por isso, é cada vez maior o debate entre os especialistas sobre o que pode ser considerado live-action e o que pode ser considerado animação.

Técnicas como a captura de movimentos e o CGI tem cada vez mais desafiado os limites entre animação e live-action.
Técnicas como a captura de movimentos e o CGI tem cada vez mais desafiado os limites entre animação e live-action.

Filmes animados cada vez mais realísticos e técnicas cada vez mais apuradas geram reproduções tão perfeitas da realidade, que chegam até mesmo a confundir a maioria das pessoas. E isso não apenas no cinema ou na televisão, mas também em outros meios, como os videogames, por exemplo, em que os jogos têm ficado cada vez mais realísticos em todos os sentidos, desde a aparencia dos personagens até seus movimentos e comportamentos.

Se você chegou até o final desse texto, esperamos que você agora tenha uma boa ideia do que sejam produções em live-action e também as diferenças entre o live-action e a animação. Esse é um tema complexo, mas esperamos que nosso texto tenha sido capaz de tocar nos principais pontos sobre esse assunto. Se você gostou da nossa explicação, não esqueça de deixar seu like e também seu comentário abaixo.

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