Como vicê deve ter notado, o lançamento de Hollow Knight: Silksong sacudiu o mercado de games como poucos títulos conseguiram. Após anos de espera, o jogo finalmente chegou e rapidamente se transformou em sucesso de vendas e crítica.
O feito consolidou o Team Cherry como um dos estúdios mais influentes do cenário indie mundial. No entanto, um detalhe surpreendeu mais que qualquer elogio à jogabilidade ou à direção de arte: o preço.
Tudo na PSN é mais caro
Na Steam e no Switch, Hollow Knight: Silksong chegou ao Brasil custando cerca de R$60, graças à política de preços regionais. Esse sistema adapta o valor dos jogos à realidade econômica de cada país.
Para os jogadores, foi uma surpresa positiva – um título aguardado, com qualidade de produção comparável a muitos Jogos AAA, vendido por menos que muito indie mediano.
Mas a história muda de figura no PlayStation. Na PSN brasileira, o valor disparou para R$115, quase o dobro do praticado nas outras plataformas.
E o motivo? Veja bem, ao contrário de Steam, Xbox e Nintendo, a loja da Sony não permite precificação regional. Em vez disso, converte o valor diretamente do dólar, usando a cotação atual sem ajustes. Ou seja, conversão automática e ponto final.
Essa disparidade causou revolta. Jogadores criticaram nas redes sociais. Youtubers e sites especializados levantaram o tema. A pergunta voltou com força: por que tudo é mais caro no PlayStation?
A prática não é nenhuma novidade, mas os recentes reajustes só aumentaram a percepção de abuso. Casos como Lost Soul Aside, vendido a preço de jogo AAA, e edições premium como a de Warhammer 40,000: Space Marine 2, chegado aos ridículos R$740, só aumentam a indignação. – E não é pra menos…
Desenvolvedores indie Criticam Preço de Silksong
Para os consumidores, a discussão gira em torno do custo. Para os desenvolvedores indie, o problema vai além. O preço baixo de Silksong agradou o público, mas gerou desconforto nos bastidores da indústria.
Muitos criadores apontaram que cobrar tão pouco é insustentável para a maioria dos pequenos estúdios. Produzir algo do porte de Silksong exige anos de trabalho, equipe qualificada, tecnologia e marketing – investimentos altos, difíceis de recuperar com um preço tão acessível.
O Team Cherry conseguiu bancar isso porque o primeiro Hollow Knight vendeu mais de 15 milhões de cópias, garantindo estabilidade financeira. Já estúdios menores não têm essa margem. Lançar um jogo grande por US$20 (aproximadamente R$60 no Brasil) pode comprometer a viabilidade do negócio.
Para se ter uma ideia, segundo o criador de Lone Fungus, a situação já começa a impactar diretamente outros estúdios independentes. Ele revelou que pretendia lançar seu jogo por US$20, mas após a chegada de Silksong exatamente nesse valor, passou a duvidar de como poderia justificar o mesmo preço diante de um título tão aguardado e de escala muito maior.
A preocupação é compartilhada por Daryl Banner, produtor de UNBEATABLE, que defende que o Team Cherry deveria ter cobrado ao menos o dobro. Para ele, a decisão de manter Silksong tão acessível pode distorcer a percepção de valor dos jogadores e acabar gerando efeitos negativos em toda a indústria indie, onde cada dólar a mais pode significar a sobrevivência ou o fracasso de um projeto.
A realidade brasileira
O caso de Silksong escancara dois dilemas centrais. De um lado, os jogadores brasileiros lidam com a desvalorização do Real frente ao dólar. Ao mesmo tempo, os preços em dólar continuam subindo.
Sem uma política de adaptação à economia local, o PlayStation acaba se tornando a plataforma mais cara – e reforça a percepção de que a Sony ignora as dificuldades do público nacional.
Do outro lado, os desenvolvedores indies enfrentam uma pressão implícita. Se os jogadores começarem a esperar que todo grande indie custe o mesmo que Silksong, o mercado corre sérios riscos. Estúdios menores podem se ver obrigados a cortar conteúdo, reduzir o escopo dos projetos ou, no pior cenário, encerrar suas atividades.
Entre o acessível e o insustentável
Hollow Knight: Silksong é, sem dúvida, um marco nos videogames – tanto pela excelência técnica quanto pelo impacto cultural. Mas o maior legado do jogo talvez não esteja apenas na sua jogabilidade meticulosa ou trilha sonora primorosa. Ele reacendeu um debate crucial: quanto realmente vale um jogo?
Para os consumidores, a diferença entre Steam, Xbox, Nintendo e PSN escancara a negligência da Sony com o público brasileiro.
Para os indies, o preço de Silksong serve como um alerta sobre a sustentabilidade da indústria. No fim, a obra do Team Cherry se tornou mais que um sucesso comercial – virou um espelho das desigualdades que marcam o mercado de games no Brasil e no mundo.
É de se refletir se esse movimento não poderia preceder um crash do mercado de videogames, semelhante ao que vimos por volta de 1984. Mas, dessa vez, não pela qualidade, mas pelos valores proibitivos.