Já explicamos aqui, de forma definitiva, o que é um “reboot”. Como já dissemos antes, os “reboots”, “remakes” e “retcons” são muitas vezes confundidos um com outro. E, principalmente, “reboot” e “remake” são muitas vezes tratados como se fossem a mesma coisa, mas não são. Agora, que você já sabe o que é um “reboot” (se não sabe, basta ler esse texto aqui), chegou a vez de saber o que, afinal de contas, é um “remake”.

As quatro versões mais famosas de A Múmia. Em cima, na primeira imagem, Boris Karloff como Imhotep em A Múmia (1932). Ainda em cima, na segunda imagem, Christopher Lee como Kharis em A Múmia (1959). Em baixo, na primeira imagem, Arnold Vosloo como Imhotep em A Múmia (1999). Ainda em em baixo, na segunda imagem, Sofia Boutella como Ahmanet em A Múmia (2017)

Lembrando que esse texto é parte da nossa série “O que é“, onde explicamos o significado de vários termos utilizados no mundo do entretenimento. Então vamos aprender o que, afinal de contas, significa “remake”?

O que é “remake”

De forma bem simples, um “remake” é o mesmo que uma “refilmagem”. Ou seja, a criação de uma nova versão de uma história que já foi contada antes. Os “remakes” contam, geralmente, com um elenco diferente do filme original e muitas vezes são uma tentativa de “atualizar” um filme mais antigo ou uma tentativa de apresentar aquela história para novas gerações. Por isso também, remakes muitas vezes contam com mudanças (por vezes até grandes e significativas) em relação ao enredo da obra original. O que, inclusive, pode até causar polêmica e rejeição por parte dos fãs da obra original.

Lina Leandersson em Deixa Ela Entrar (2008), Chloë Grace Moretz em Deixe-me Entrar (2010) e Meera Jasmine em Moksha (2013)

Como você pode perceber, existe, portanto, uma diferença significativa entre um “remake” e um “reboot”. Um reboot, como já explicamos antes, é uma tentativa de “recomeçar”, “reiniciar” ou mesmo “renovar” um personagem ou uma série de filmes. Inclusive, ignorando os filmes anteriores sobre aquele mesmo personagem ou tema e deixando de lado tudo que aconteceu no enredo desses filmes. Ou seja, basicamente um “novo começo”.

Já no caso do “remake”, não há essa ambição. A única intenção, no caso do “remake”, é refazer ou “reimaginar” uma obra anterior. Agora que você já entendeu o que é um remake e como ele se diferencia de um “reboot”, vamos dar alguns exemplos e numerar alguns motivos que levam um “remake” a ser feito.

Atualizar obras clássicas

Um dos motivos mais comuns para se fazer um remake é a tentativa de “atualizar” uma obra clássica e apresentá-la para o público atual que pode não conhecer a obra original. Nesse sentido, é possível produzir filmes extremamente fiéis ao filme original ou então completamente diferentes.

Famosa cena de Psicose (1960) de Alfred Hitchock.

No campo de “remakes” bastante fieis ao filme original, talvez um dos exemplos mais conhecidos seja o caso de Psicose. A obra mais conhecida do diretor britânico Alfred Hitchcock foi lançada em 1960 e era baseada em um livro de Robert Bloch lançado no ano anterior. Em 1998, o respeitado diretor americano Gus Van Sant dirigiu um remake da obra que era uma refilmagem praticamente “cena a cena” do clássico de Hitchcock.

Mesma cena em Psicose (1998), de Gus Van Sant

Com exceção de pouquíssimas cenas, atualizações e cenas de nudez que não existiam no filme original devido à censura da época, a versão de Van Sant é quase idêntica ao filme de Hitchcock. Não há nenhuma mudança significativa no enredo e mais, o diretor literalmente filmou sua versão de Psicose enquanto assistia à versão de Hitchcock. Em toda cena, ele utilizava uma tela em que ele assistia aquela cena no filme original e tentava reproduzi-la, da forma mais fiel possível, em seu filme.

Existem produções, contudo, que praticamente só utilizam o nome e alguns de seus personagens, mas mudam, quase que completamente, o enredo do filme original. Um dos casos mais famosos é o de A Múmia. O clássico de 1932, já foi refilmado inúmeras vezes e teve incontáveis continuações e quase sempre com mudanças importantes em seu enredo.

Boris Karloff em cena famosa de A Múmia (1932)

Isso porque, o filme original fez muito sucesso e a Universal Pictures (detentora dos direitos do filme) quis explorá-lo ao máximo. Aqui nesse texto, ignoraremos as continuações e falaremos apenas dos três “remakes” mais famosos do filme original: o de 1959, o de 1999 e o de 2018.

Primeiro, devemos dizer que o filme de 1932 era um filme de terror. A Universal naquela época era conhecida por seus filmes de terror (clássicos como Drácula (1931), Frankenstein (1931), O Homem Invisível (1933) e O Lobisomem (1941) também são do estúdio). A Múmia conta a história de Imhotep, um antigo sacerdote egípcio que mumificado é acordado inadvertidamente por um grupo de arqueólogos ao lerem um papiro e passa a procurar por seu amor perdido. O filme é estrelado por Boris Karloff, que na época era uma grande estrela devido ao sucesso de Frankenstein, lançado um ano antes.

Christopher Lee em cena de A Múmia (1959)

A versão de 1959, também é um terror e foi produzida pelo estúdio britânico Hammer Film Productions que, assim como a Universal, era também conhecido por seus filmes de terror. A versão da Hammer tem o estilo da época e também do estúdio em que foi produzida. Por isso, é muito mais sangrenta e chocante. E, apesar de possuir o título de “A Múmia”, o filme não é um “remake” real do filme de 1932 e até mesmo o personagem principal foi trocado. Agora a múmia, interpretada por Christopher Lee, se chama Kharis. Além disso, o enredo da obra é baseado nos filmes A Mão da Múmia (1940), A Tumba da Múmia (1942) e A Sombra da Múmia (1944) e não no enredo do filme clássico de 1932.

Famosa cena de A Múmia (1999)

Já na versão de 1999, manteve-se o nome do personagem principal (Imhotep), o fato de ele ser acordado por arqueólogos desavisados e também o fato de Imhotep estar atrás de seu amor do passado. Contudo, essa versão de 1999 é muito mais um filme de ação que de terror, sendo recheado de tiroteios, explosões e sem nenhum grande susto.

Já a versão de 2017 seria mais um “reboot” que um “remake”, já que o filme foi uma tentativa da Universal de começar o seu próprio universo compartilhado (que se chamaria “Universal Dark Universe”). Além disso, o filme não tem praticamente nada em comum com a obra original de 1932. Além de ser um filme de ação (apesar de ter tons mais obscuros que o filme de 1999), a película conta, pela primeira vez, com uma múmia mulher chamada “Ahmanet”. Além disso, toda a história da personagem, assim como o enredo do filme são completamente diferentes da versão de 1932. Portanto, o filme de 2017 não tem nada em comum com o de 1932 além do nome e do personagem principal ser uma múmia.

Tom Cruise em cena de A Múmia (2017)

Versões de filmes estrangeiros

Outro motivo comum para se fazer um “remake”, principalmente em Hollywood, é fazer uma versão americana de um filme estrangeiro que tenha feito muito sucesso. Um caso famoso é o do filme Sete Homens e Um Destino (1960), que na verdade é uma refilmagem de outro clássico, o japonês Os Sete Samurais (1954), de Akira Kurosawa. Além dele, temos inúmeros outros exemplos. O Segredo dos Seus Olhos (2009), filme argentino que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro foi refilmado nos Estados Unidos em 2015. O terror japonês Ringu (1998) foi refilmado por Hollywood (inclusive, com muito sucesso) em 2002, sendo lançado aqui no Brasil como O Chamado, e acabou ele próprio se tornando um clássico do cinema de terror. Exemplos desse tipo não faltam.

Em cima, cena de Os Sete Samurais (1954). Em baixo, cena de Sete Homens e Um Destino (1960)

Mas não são só os americanos que fazem isso. É comum que o cinema indiano faça “remakes” de filmes de sucesso de outros países, inclusive muitas vezes, sem a autorização dos “donos” originais do filme. Exemplos disso são: Moksha (2013), que é uma refilmagem do americano Deixe-me Entrar (2010), que por sua vez é uma refilmagem do sueco Deixa Ela Entrar (2008). Ou então, Knock Out (2010) que é uma refilmagem não autorizada de Por um Fio (2002). Ou mesmo, Pournami (2006) que é, em parte, uma refilmagem do brasileiro Abril Despedaçado (2001).

Além disso, existe uma característica especial no cinema indiano que é o fato de um filme poder ser refeito em diversas línguas, já que no país se falam diversas línguas. Por isso, é comum se fazerem filmes idênticos em línguas diferentes, para poder explorar os diversos mercados do país. Mas, os indianos, não são os únicos a fazerem isso. No início, isso também ocorria em Hollywood. Um exemplo, é o clássico de terror Drácula (1931) que teve duas versões produzidas e lançadas ao mesmo tempo. A versão em inglês é um dos maiores clássicos do cinema de terror e fez de Bela Lugosi um astro. Já a versão em espanhol foi praticamente esquecida, apesar de ter sido filmada nos mesmos sets e ter sido lançada no mesmo ano.

Em cima, Bela Lugosi em cena da versão em inglês de Drácula (1931). Em baixo, Carlos Villarías em cena da versão em espanhol de Drácula (1932)

“Remakes” também são comuns na Europa. O cinema italiano sempre foi prolífico nisso. Na época dos filmes “spaghetti”, um dos exemplos mais conhecidos é o de Por um Punhado de Dólares (1964), de Sergio Leone que, na verdade, é um “remake” de Yojimbo (1961), de Akira Kurosawa. Além disso, nos anos 70, 80 e 90 o cinema de terror italiano produzia uma enorme quantidade de filmes que eram refilmagens ou mesmo “rip-offs” de filmes americanos de sucesso e eram feitos para tentar obter ganho financeiro em cima do sucesso desses filmes.

Para isso, os filmes possuiam enredo parecido e nomes quase idênticos para, de alguma forma, enganar o público. Esse tipo de obra é chamada de “mockbuster”. Atualmente, uma empresa que é famosa por essa prática é o estúdio americano “The Asylum”, que produz inúmeros filmes de baixíssimo orçamento, com enredo e título parecidíssimos com os de obras de sucesso do momento. Uma das obras mais conhecidas do estúdio é o filme Transmorphers (2007), cópia descarada do blockbuster Transformers (2007).

Em cima, cena de Transformers (2007), super produção dirigida por Michael Bay. Em baixo, cena de Transmorphers (2007), cópia de baixíssimo orçamento produzida pelo estúdio Asylum.

Segundo o Livro dos Recordes, o filme mais refilmado da história é o italiano Perfeitos Desconhecidos (2016) que já foi base para 18 “remakes” diferentes. E se engana quem pensa que essa é uma prática recente. Na verdade, os “remakes” são parte do cinema desde o seu início. Contudo, no começo do cinema, os “remakes” eram feitos por motivos diferentes.

Como a produção era precária e não havia tantos meios para o público reassistir aos filmes, muitos remakes eram feitos simplesmente para “atualizar tecnicamente” obras antigas. Ou seja, a medida que a tecnologia ia se aprimorando os filmes mais antigos eram refeitos com tecnologias mais recentes. Outro motivo para se fazer “remakes” naquela época, era para refazer filmes que tinham sido perdidos. Sim, isso era comum no início do cinema. Muitos filmes eram simplesmente perdidos e eram refeitos.

Cena de Perfeitos Desconhecidos (2016). O filme já teve 18 remakes.

Apesar de esse ser um tema complexo, acreditamos que se você leu esse texto até o final você já sabe o que é um “remake” e, porque ele difere de um “reboot”. Não se esqueça de deixar um comentário abaixo, nos contanto o que achou desse texto.

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