Quando Watch Dogs foi anunciado em 2012, parecia que a próxima geração dos jogos de mundo aberto chegaria chutando a porta da frente.
A Ubisoft prometia uma experiência ousada e inédita, em um universo onde cada câmera de segurança, semáforo e smartphone pudesse ser manipulado ao toque de um botão.
O jogador, no papel de Aiden Pearce, teria o poder de transformar uma cidade inteira em sua arma pessoal, tudo isso envolto em uma narrativa deliciosamente misteriosa sobre vingança, vigilância e o controle da tecnologia sobre nossas vidas. – Neste último ponto, devemos admitir que o jogo praticamente previu o futuro.
No entanto, a trajetória de Watch Dogs é uma daquelas histórias que dividem opiniões até hoje.
Quando finalmente foi lançado, em 2014, o jogo enfrentou críticas duras por não entregar tudo o que havia prometido. Gráficos “capados” em relação à inesquecível demonstração da E3, mecânicas de hacking que nem sempre exploram seu potencial e um protagonista taxado de ser genérico, deixaram uma mancha em sua recepção.
Para muitos, Watch Dogs é uma obra que prometeu revolucionar o gênero, mas tropeçou sob o peso de suas próprias ambições.
Mas será que o veredito foi justo? Ou o jogo foi vítima de expectativas irreais e de um marketing que, como tantas vezes na indústria, vendeu sonhos difíceis de concretizar?
A verdade, como sempre, parece estar em alguma linha no meio do código-fonte do jogo do capitalista.
Deixando trocadilhos de programação de lado, nesse artigo queremos explorar Watch Dogs mais a fundo, analisando como ele inovou no gênero de mundo aberto, suas influências culturais e tecnológicas, e como ele envelheceu em comparação a seu concorrente direto da época.
Dez anos depois, chegou a hora de revisitar a Chicago hackeada de Aiden Pearce e responder à pergunta que muitos ainda fazem: foi um jogo memorável ou apenas mais uma vítima do hype?
O Hype e a Polêmica de Watch Dogs
Em junho de 2012 a Ubisoft não apenas apresentou um jogo next-gen; apresentou uma experiência cinematográfica viva e pulsante.
Na E3, a Chicago distópica do jogo parecia tão real quanto o mundo lá fora: iluminação dinâmica, chuva que escorria pelas ruas com precisão fotográfica, multidões reagindo organicamente às ações do jogador e um sistema de hacking sensacional. A promessa era gigante — Watch Dogs não seria apenas um jogo de mundo aberto, mas a reinvenção do gênero.
Dois anos depois, o lançamento. O que era para ser uma coroação se tornou um escândalo. A versão final de Watch Dogs não se parecia tanto com o espetáculo técnico apresentado anteriormente.
Muitos efeitos desligados ou reduzidos, iluminação simplificada e uma Chicago muito menos populosa deixaram os jogadores confusos e até irritados. Aquilo que parecia um marco tecnológico agora era chamado de “o maior downgrade da história dos videogames“.
Por que o Downgrade Aconteceu?
Apesar das teorias de conspiração que circulam até hoje, a história por trás do downgrade é mais complexa do que simplesmente “enganar” os jogadores. Veja bem, Watch Dogs foi desenvolvido durante uma transição de gerações de consoles, com versões planejadas para PS3, PS4, Xbox 360, Xbox One e PC.
Essa abordagem ambiciosa, visando alcançar o maior público po$$ível, teve um custo alto: a paridade entre plataformas limitou o que podia ser entregue no produto final.
O Dilema do do Cross-gen: Os consoles da geração obviamente anterior não tinham capacidade para lidar com os gráficos impressionantes da demo da E3.
Para garantir que o jogo fosse viável em todas as plataformas, a Ubisoft precisou reescalar texturas, iluminação e outros recursos. Isso acabou afetando até mesmo as versões mais poderosas, como PS4, Xbox One e PC, que foram “niveladas por baixo”.
Problemas no PC: Mesmo os jogadores com hardware de ponta enfrentaram problemas de desempenho.
Tecnicamente falando, no PC Watch Dogs exigia uma quantidade anormal de VRAM para manter a estabilidade, e as máquinas da época, mesmo com 4, 6 ou até mesmo 8GB, apresentavam stuttering (pequenos engasgos) e quedas na taxa de quadros por segundo.
Parte disso pode ser atribuída à falta de otimização, já que o jogo precisou se adaptar a uma grande variedade de configurações de hardware.
O resultado? Embora Watch Dogs ainda fosse visualmente impressionante para 2014, ele não conseguiu entregar a experiência revolucionária prometida, o que deixou muitos jogadores decepcionados.
Os Gráficos da E3 Ocultados
O escândalo do downgrade foi intensificado quando modders descobriram, algum tempo após o lançamento, que os gráficos impressionantes da E3 ainda estavam escondidos dentro do código do jogo.
Simplesmente, usando ferramentas de modificação, é possível reativar as texturas de alta qualidade, iluminação volumétrica, desfoque de horizonte, sombras avançadas e outros efeitos desativados no lançamento.
Essa descoberta alimentou teorias de que a Ubisoft teria deliberadamente “capado” a versão final de PC para evitar disparidades muito grandes entre plataformas ou por razões comerciais.
Mesmo que seja impossível confirmar essas intenções, o fato de os gráficos da E3 estarem tecnicamente acessíveis no jogo só aumentou a sensação de traição.
A controvérsia em torno de Watch Dogs não apenas impactou a recepção do jogo, mas também deixou uma marca profunda na indústria.
O jogo se tornou o exemplo definitivo do que acontece quando o hype supera a realidade técnica de um produto. A falta de transparência na comunicação com o público transformou o “downgrade gráfico” em um termo amplamente associado à Ubisoft até hoje.
Curiosamente, essa polêmica não foi suficiente para impedir o sucesso comercial de Watch Dogs, que vendeu milhões de cópias e lançou uma franquia duradoura. Ainda assim, esses precedentes permanecem relevantes.
No final, Watch Dogs não foi só mais um jogo. Ele se tornou um caso de estudo sobre expectativas, tecnologia e o delicado equilíbrio entre ambição e entrega.
A expectativa exagerada pode ser uma aliada nas vendas, mas cobra um preço alto na confiança dos jogadores e de 2014 para cá, vimos inúmeros exemplos.
A Jogabilidade
Se há um elemento que definiu Watch Dogs, foi a promessa de colocar o poder do hacking futurista nas mãos do jogador.
Em um mar de jogos de mundo aberto, a Ubisoft apresentou um diferencial interessante aqui: você não era apenas um criminoso ou um herói, mas alguém capaz de manipular a cidade ao seu redor com um simples toque no smartphone.
“Conexão é poder. Hackear é sua arma.”
Semáforos, câmeras de segurança, pontes e até contas bancárias tornaram-se ferramentas ao seu alcance. Algo visionário, levando em conta que em 2014, os smartphones ainda estavam ganhando popularidade.
Mas a questão que permanece é se esse sistema de Hacking foi tão revolucionário quanto parecia ou apenas uma mecânica superficial disfarçada de inovação?
No centro de tudo está Chicago, ou pelo menos uma versão condensada da cidade, controlada pelo sistema centralizado ctOS.
Essa infraestrutura de tecnologia integrada serve como um playground para o jogado e permite usar o hacking para resolver missões de forma criativa ou simplesmente causar caos até ficar entediante.
Watch Dogs permite abordar objetivos de maneiras variadas. Você pode entrar atirando e enfrentar uma resposta à altura, usar o hacking para sabotar inimigos, como explodir canos ou distrair guardas com alarmes falsos.
É possível também se manter em modo furtivo, similar a Splider Cell e ir nocauteando os inimigos um a um ou até mesmo passar despercebido. Fica a critério do jogador.
Um ponto que, a primeira vista, podia decepcionar em Watch Dogs era a ausência de mecânicas de tiro enquanto dirige. Para jogadores acostumados a perseguições intensas com troca de tiros, essa caracteristica pode parecer uma limitação.
No entanto, ela serve para destacar o diferencial do jogo que era o uso criativo das habilidades de hack.
À medida que você avança na árvore de habilidades, novas ferramentas são desbloqueadas e melhoradas, incentivando estratégias mais sagazes e menos dependentes de força bruta, apesar do jogo oferecer um arsenal de armas de fogo considerável.
Exploração no mundo aberto: Fora das missões principais, o hacking oferece pequenas diversões aleatórias, como espionar NPCs por meio de câmeras, acessar perfil, ler conversas privadas ou até mesmo roubar dinheiro diretamente de contas bancárias deles.
Cada NPC possui um nome, idade e ocupação. Essas interações tornam Chicago um cenário vivo, mas muitas vezes carecem de profundidade a longo prazo.
Explorar as ruas de Chicago a pé proporciona uma experiência consideravelmente mais satisfatória do que dirigir. A dirigibilidade e a física dos veículos em Watch Dogs deixam a desejar, parecendo mal implementadas e comprometendo a sensação de fluidez durante as perseguições ou deslocamentos pela cidade.
Hacking de Watch Dogs
No core da jogabilidade está o hacking, e aqui surgem as divisões de opinião.
Manipular o ambiente é intuitivo e, em muitos casos, proporciona um senso de poder único. Imagine usar câmeras para traçar o movimento dos inimigos ou criar armadilhas tecnológicas. Isso dá ao jogador a sensação de estar um passo à frente.
Mas, apesar de parecer robusto à primeira vista, o sistema de hacking muitas vezes se limita a interações predefinidas. Não há tanto espaço para a criatividade que o conceito sugeria, e as ações acabam se repetindo, transformando o que era novidade em algo previsível.
Para entender grau de inovação no quesito Hacking do Watch Dogs, vale compará-lo com outros jogos que também exploraram o conceito de manipulação tecnológica:
Deus Ex: Human Revolution (2011): Enquanto Watch Dogs usa o hacking como uma ferramenta ambiental, Deus Ex o integra mais profundamente na narrativa e nas escolhas do jogador. A flexibilidade de Deus Ex supera a de Watch Dogs em termos de profundidade.
Cyberpunk 2077 (2020): Embora lançado anos depois, e ainda mais polêmico que Watch Dogs, Cyberpunk oferece uma visão mais complexa de hacking, onde o jogador pode personalizar suas habilidades e usá-las de maneiras variadas, elevando a experiência a outro patamar.
O Modo Online
Watch Dogs trouxe um modo online diferenciado, integrado ao mundo aberto. O destaque era o sistema de invasões, onde jogadores podiam hackear uns aos outros em tempo real, tentando roubar dados sem serem detectados.
Isso adicionava uma camada de imprevisibilidade à exploração de Chicago, com perseguições e estratégias envolvendo o ambiente e NPCs.
Outro diferencial era o aplicativo complementar para dispositivos móveis, que permitia a jogadores no app assumir o controle da polícia e dos helicópteros na cidade, perseguindo adversários no jogo principal. Essa integração muito inovadora para a época expandia a experiência e reforçava o tema central do hacking.
Além disso, o jogo oferecia corridas online caóticas, onde o hacking podia ser usado para manipular o tráfego e criar obstáculos, e um modo de exploração livre para causar caos com amigos.
Para aqueles que não quisessem receber visitas inesperadas de outros jogadores, era possível desabilitar no menu de configurações, porém, isso zeraria seu progresso no modo online.
Embora limitado em variedade, o online complementava bem a experiência principal, mantendo o foco no tema central do hacking.
Vale a Pena?
Deixando de lado os problemas técnicos do período de lançamento, um dos principais pontos fracos de Watch Dogs talvez tenha sido seu protagonista, Aiden Pearce.
Isso porque, enquanto o conceito de vigilante hacker era intrigante, a execução deixou a desejar. Aiden carece de carisma, e suas motivações — ainda que compreensíveis — não criam uma conexão emocional forte com o jogador.
Em um jogo onde a interação com NPCs e o impacto no ambiente são tão centrais, um protagonista mais marcante poderia ter elevado toda a experiência.
A jogabilidade de Watch Dogs trouxe inovações significativas para o gênero de mundo aberto, mas ficou aquém de suas ambições, principalmente no quesito técnico e desempenho.
O hacking é divertido e oferece alguns momentos genuinamente criativos, mas falta a profundidade para sustentar o jogo por completo.
Apesar disso, o título pavimentou o caminho para abordagens mais ousadas no gênero e serviu como ponto de partida para explorações futuras, tanto em suas sequências quanto em outros jogos.
A Filosofia do Vigilante em Watch Dogs
Na proposta de Watch Dogs surge um tema inquietante: o poder da tecnologia e o quanto ela moldaria nossas vidas.
Enquanto a jogabilidade gira em torno do hacking e da manipulação da infraestrutura urbana, a narrativa explora questões mais profundas sobre vigilância, privacidade e as implicações éticas de usar tecnologia para exercer justiça.
Mas será que o jogo realmente mergulha nesses temas ou apenas os usa como pano de fundo para uma história de vingança?
Aiden Pearce – Herói ou Vilão?
Pearce é apresentado como um vigilante movido pela perda trágica de sua sobrinha em um atentado que ele mesmo provocou, ainda que de forma indireta.
Ele é consumido pela culpa e busca vingança a qualquer custo, mesmo que isso signifique cruzar linhas morais perigosas.
O jogador frequentemente é levado a hackear cidadãos inocentes, invadindo suas vidas privadas para obter informações ou recursos. Isso levanta a pergunta: Aiden é realmente um herói ou apenas mais um criminoso com acesso a ferramentas tecnológicas avançadas?
Embora a história de Aiden seja sombria e pessoal, o jogo nem sempre traduz essa profundidade na interação com o mundo.
Por exemplo, hackear NPCs aleatórios para roubar dinheiro ou acessar dados comprometedores muitas vezes dá a sensação de ser uma mecânica vazia, em vez de uma reflexão sobre as implicações morais das ações.
O Mundo Controlado pelo ctOS
A verdadeira estrela de Watch Dogs é o sistema ctOS, uma infraestrutura de vigilância onipresente que controla tudo em Chicago, de semáforos a informações pessoais. Ele representa a fusão entre tecnologia e poder absoluto, mas também serve como um alerta sobre os riscos de centralizar tantas informações em um único sistema, como ocorre hoje no mundo real.
O jogo se passa em uma era em que os debates sobre vigilância estavam em alta, principalmente após as revelações de Edward Snowden sobre a NSA.
Watch Dogs captura esse tema da época, questionando se a sociedade estaria confortável em sacrificar privacidade em nome da segurança.
A ideia de que Aiden pode virar o jogo contra os opressores usando a mesma tecnologia que o oprime é intrigante, mas o jogo não explora completamente as ramificações dessa dinâmica.
A ideia de um vigilante tecnológico é fascinante, mas Watch Dogs tropeça ao equilibrar a complexidade do tema com sua narrativa de ação. Em vez de questionar mais profundamente as ações de Aiden e o impacto de suas escolhas no mundo ao seu redor, o jogo opta por uma história mais direta de vingança pessoal.
Isso não significa que Watch Dogs não tenha seus momentos de reflexão. Em várias missões, o jogador é confrontado com os dilemas morais de invadir a privacidade ou manipular situações para alcançar seus objetivos. Mas, no geral, essas questões ficam em segundo plano e são ofuscadas pelo ritmo acelerado do gameplay e da narrativa em si.
Relevância nos Dias de Hoje: Dez anos após seu lançamento, os temas de Watch Dogs continuam mais relevantes do que nunca. Com a ascensão de tecnologias como inteligência artificial, reconhecimento facial e vigilância em massa, o jogo quase parece ter antecipado debates que hoje são parte da nossa realidade cotidiana.
Mas, no fim, o impacto filosófico de Watch Dogs é limitado por sua execução. Ele flerta com grandes ideias, mas raramente as explora com profundidade suficiente para causar uma impressão duradoura.
Watch Dogs tentou ser mais do que um jogo de ação; tentou ser um espelho para os dilemas éticos da era digital. E embora tenha levantado questões importantes, ele parou antes de responder a maioria delas.
As Referências e Influências em Watch Dogs
Além de suas mecânicas e gráficos, vale destacar que Watch Dogs trouxe consigo uma atmosfera que bebia diretamente de várias obras da cultura pop.
Filmes, séries e até mesmo outros jogos claramente influenciaram a construção de seu mundo e da narrativa. Ao mesmo tempo, o jogo tentou deixar sua própria marca, mas será que conseguiu?
Watch Dogs surgiu em um período em que a tecnologia e a privacidade eram tópicos quentes na mídia, e suas inspirações culturais refletem isso:
Person of Interest (2011-2016): Essa série explora a ideia de um sistema de vigilância onipresente capaz de prever crimes antes que acontecessem.
O ctOS de Watch Dogs carrega essa mesma essência, colocando o jogador em um mundo onde tudo é monitorado e manipulado digitalmente.
V de Vingança (2005): Assim como o famoso anti-herói mascarado, Aiden Pearce desafia um sistema opressor, embora seu objetivo seja mais pessoal do que revolucionário.
O grupo hacker DedSeC foi inspirado no Anonymous, que, por sua vez faz uso da máscara do V de Vingança.
The Matrix (1999): É impossível deixar de citar a estética de hacking, com telas cheias de códigos e a sensação de manipular uma realidade digital que ecoa diretamente do estilo de Matrix.
Jogos anteriores como Deus Ex e Franquia Driver: Enquanto Deus Ex inspirou o uso do hacking como uma ferramenta de espionagem e manipulação, Driver serviu de base para a construção das dinâmicas de perseguição e direção.
Essas influências deram a Watch Dogs uma identidade híbrida, misturando elementos de ficção científica e ação tecnológica com o clássico estilo Ubisoft de mundo aberto. Pouca gente sabe, mas Watch Dogs descende diretamente da própria franquia Driver do Playstation 1 e 2.
10 Anos Depois: Como Watch Dogs Envelheceu em Relação ao GTA V?
Lançados com apenas alguns meses de diferença, Watch Dogs e GTA V rapidamente se tornaram rivais no imaginário dos jogadores.
Ambos prometiam mundos abertos vastos, interativos e revolucionários, mas com abordagens completamente diferentes. Enquanto GTA V investiu em uma narrativa cinematográfica e personagens marcantes, Watch Dogs tentou capturar a atenção com hacking, uma narrativa sombria e a promessa de um mundo aberto mais “vivo” e tecnológico.
Como diria Jack Joyce (Quantum Break): “O maior assassino de todos é o tempo. Ele é implacável. ”
Então agora, uma década depois, como cada um desses jogos resistiu ao teste do tempo?
GTA V: A história de Michael, Franklin e Trevor é uma montanha-russa de ação, drama e humor ácido. É uma narrativa que equilibra bem os tons e mergulha o jogador em uma trama envolvente, sustentada por três protagonistas extremamente carismáticos. O enredo de GTA V é, até hoje, considerado um dos melhores já criados em jogos de mundo aberto.
Já a história de Aiden Pearce é mais focada na tragédia pessoal e no impacto da tecnologia na sociedade. Apesar de abordar temas relevantes como privacidade e vigilância, a execução foi considerada fria e pouco empática. A complexidade temática não conseguiu sustentar uma conexão emocional tão forte quanto o drama mais direto de GTA V.
GTA V envelheceu como um clássico narrativo, enquanto Watch Dogs se perdeu em uma narrativa que não aprofundou suas ideias.
O hacking e a interatividade eram os diferenciais de Watch Dogs, e mesmo com suas limitações, oferecia momentos genuinamente inovadores. Manipular semáforos, câmeras e dispositivos para resolver missões ou criar caos urbano ainda é divertido, mas a repetitividade pode cansar rapidamente.
A jogabilidade de GTA V é sobre liberdade e destruição. Dirigir veículos terrestres, pilotar barcos e aeronaves, explodir coisas, planejar assaltos e simplesmente causar confusão em Los Santos continuam tão satisfatórios hoje quanto no lançamento.
Sua variedade é um de seus maiores trunfos, garantindo que cada jogador tenha uma experiência única.
A liberdade caótica de GTA V Online deu a ele uma longevidade superior à abordagem mais limitada do Online do Watch Dogs.
Chicago em Watch Dogs impressiona pela interatividade: NPCs têm rotinas, o sistema de hacking permite que você manipule o ambiente, e o ctOS dá a sensação de que tudo está conectado.
Los Santos é gigantesca, rica em detalhes e cheia de atividades, além de Easter Eggs e referencias da cultura Pop.
Cada esquina tem algo a oferecer, e a ambientação realista cria um mundo que parece vibrante. Mesmo depois de 10 anos, a cidade de GTA V ainda é referência em design de mundo aberto.
Apesar da interatividade única de Watch Dogs, a escala e a riqueza de Los Santos tornam o mundo de GTA V mais memorável. GTA V se tornou um fenômeno cultural. Seu impacto vai além do mundo dos games, com referências em filmes, memes e até na música.
Apesar de dar origem a uma franquia, Watch Dogs nunca alcançou o mesmo nível de impacto cultural. Ele introduziu ideias interessantes, mas sua execução inconsistente o impediu de se tornar um ícone como GTA V.
Dez anos depois, GTA V continua a definir o gênero de mundo aberto, enquanto Watch Dogs é lembrado principalmente por suas ambições não realizadas e pela polêmica do downgrade. Ambos têm méritos, mas GTA V é indiscutivelmente o jogo que resistiu melhor ao tempo, tanto em impacto cultural quanto em experiência de jogo.
No fim das contas, Watch Dogs talvez nunca alcance o status de ícone, mas isso não diminui seu valor como um experimento ambicioso. Ele não é perfeito, mas ainda merece um lugar na discussão sobre os jogos de mundo aberto que marcaram a última década.
Talvez não como o jogo que prometeu ser, mas como o jogo que tentou — e, em certos momentos, conseguiu — algo diferente. Não acha?
Obrigado por nos ler até aqui! Qualquer crítica, duvida ou sugestão, compartilhe seu comentário conosco! Até a próxima.