Em entrevista recente ao British Film Institute, o consagrado diretor norte-americano Tim Burton criticou duramente o uso que os estúdios têm feito atualmente da inteligência artificial. O cineasta, disse que não gostou de ver a versão de Superman com Nicolas Cage aparecendo, mesmo que brevemente, em The Flash e que viu isso como uma espécie de apropriação indevida de seu trabalho (e também de outros diretores), afirmando que isso lhe causa revolta.
“Eles (os estúdios) podem pegar o que você fez, ‘Batman’ ou qualquer outra coisa, e apropriar-se culturalmente, ou como você quiser chamar”, disse Burton. “Mesmo que você seja escravo da Disney ou da Warner Bros., eles podem fazer o que quiserem. Por isso, nos meus últimos anos de vida, estou em uma revolta silenciosa contra tudo isso”, afirmou o consagrado cineasta.
O uso de ferramentas de inteligência artificial para a recriação de personagens ou mesmo para “ressuscitar” atores já falecidos, tem causado bastante discussão em Hollywood. Seu uso extensivo em The Flash, onde vários personagens foram recriados e atores trazidos de volta a vida, causou bastante polêmica na época do lançamento do filme. Nós, inclusive, falamos bastante sobre isso em nosso texto sobre o fracasso de bilheteria da produção.
A questão do uso de inteligência artificial está, inclusive, no centro das preocupações que levaram às greves tanto de atores quanto de roteiristas. Duas categorias que temem serem “substituídos” por ferramentas utilizando tecnologia de inteligência artificial. Também falamos sobre isso aqui. Burton, já havia criticado recentemente, em entrevista ao jornal britânico The Independent, as recriações de personagens que a Walt Disney Pictures tem feito com o auxílio da inteligência artificial.
Filme cancelado há poucas semanas do início das filmagens
A aparição da versão de Superman interpretado por Nicolas Cage em The Flash é uma referência direta ao filme “Superman Lives” que seria dirigido por Tim Burton e teria Cage no papel do homem de aço. O projeto, que contaria com o estilo único do diretor, entrou em pré-produção em 1997 e chegou a estar a ponto de ser rodado, com Cage, inclusive, testando figurinos e se preparando para viver o personagem.
Tanto o ator quanto o diretor já tinha assinado contrato e a Warner Bros. Pictures já havia gasto cerca de 30 milhões de dólares com a produção quando em abril de 1998, há poucas semanas do início das filmagens, o estúdio resolveu desistir do filme. Assim, a história de “Superman Lives” acabou se tornando lendária em Hollywood.
Apesar de todo o drama em relação ao cancelamento do filme, Tim Burton disse, na mesma entrevista ao British Film Institute, que não se arrepende de ter se envolvido no projeto. “Não, eu não me arrependo. Quando você trabalha tanto tempo em um projeto e isso não acontece, isso te afeta para o resto da vida. Porque você se apaixona pelas coisas e cada coisa é uma jornada desconhecida. Mas é uma daquelas experiências que nunca te abandona.”
O diretor e roteirista Kevin Smith, que trabalhou em uma das versões do roteiro de “Superman Lives”, ao contrário de Burton, gostou de ver o filme de alguma forma “homenageado” em The Flash. Principalmente, porque a pequena participação do personagem no filme provaria que sua versão do roteiro (que envolvia Superman lutando contra uma aranha gigante) poderia ter funcionado. E também porque ele finalmente conseguiu ver Nicolas Cage na pele do homem de aço.
“Finalmente consegui ver Nic Cage como Superman. Foi um deleite absoluto para mim”, disse ele em entrevista publicada pela revista Rolling Stone em junho desse ano. Smith ainda completou: “Uma das primeiras coisas que pensei quando vi na estreia foi: ‘Caramba, [a aranha gigante] teria funcionado’”.