Análise | Robocop: Rogue City

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RoboCop: Rogue City resgata o espírito dos anos 80 com um jogo que entende (e respeita) o legado de um ícone da ficção científica. – É aquele tipo de jogo que você termina pensando: “Por que não fazem mais assim?”

  • Lançamento: 2 de novembro de 2023
  • Desenvolvedor: Teyon / Nacon
  • Plataformas: PS5, Xbox Series X/S e PC
Trailer de RoboCop

RoboCop: Rogue City foi, surpreendentemente, um dos jogos mais interessantes de 2023 – e sim, você leu certo. Em uma indústria que recicla fórmulas batidas e despeja lançamentos previsíveis, poucos apostariam que um herói lá dos anos 80, vindo de um estúdio marcado por tropeços, roubaria a cena.

E o mais impressionante é que, talvez vez você não se lembre, mas em 2014, o estúdio Teyon lançou Rambo: The Video Game. Um dos maiores desastres da história dos videogames que ficou marcado.

Ainda assim, o estúdio não congelou no fracasso. Com o tempo, mostrou amadurecimento; em Terminator: Resistance (2019), apesar das limitações, entregou uma experiência muito honesta e fiel ao material original.

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Agora, com RoboCop: Rogue City, a desenvolvedora enfim acerta a mão. O jogo não apenas honra o legado do personagem; ele entrega algo raro: uma experiência autêntica, nostálgica e, ao mesmo tempo, atual. Portanto, vale a chance e vamos explicar o porquê.

Fidelidade ao Universo de RoboCop

Uma das maiores virtudes de RoboCop: Rogue City é a forma como respeita – e amplia – o universo criado por Paul Verhoeven em 1987. O jogo não tenta reinventar a roda e não suaviza o tom satírico e violento do original. Pelo contrário, mergulha na Detroit decadente, onde o crime corre solto e as corporações mandam mais que o governo.

Logo nos primeiros minutos, quem está jogando entra em cenários que parecem ter saído das telas de cinema daquela época. Há letreiros de néon, becos imundos e um clima opressor de distopia urbana. A ambientação funciona como deleite visual e emocional para quem cresceu com as desventuras de Alex Murphy.

Não é só estética. A direção de arte sustenta a ambiguidade moral do universo de RoboCop. Essa atmosfera permanece constante: inteira, fria e suja.

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Outro acerto de peso é a presença de Peter Weller. O ator original foi convidado para reviver o papel com dublagem e captura facial. Esse retorno, por si só, cria uma ponte emocional imediata com os fãs. Esse tipo de respeito à mitologia muda a experiência e fortalece a identidade do jogo.

Além disso, os ambientes trazem easter eggs, referências sutis, e outras nem tanto, ao material original. Surgem jingles de propagandas fictícias, logos da OCP e notícias absurdas na TV. Esses detalhes sustentam a imersão de viver uma história nova no mesmo universo distorcido que, décadas atrás, apresentou um dos heróis mais icônicos da ficção científica.

Jogabilidade e Mecânicas – O ponto alto do jogo

A primeira coisa que chama atenção em RoboCop: Rogue City é a movimentação. Não espere corridas alucinadas ou pulos acrobáticos. RoboCop se move como um tanque: cada passo pesa e cada virada ocorre de forma deliberada. Essa lentidão não é algo ruim – define a condição do personagem. Você não controla um soldado comum de carne e osso; você controla um policial cibernético blindado que impõe respeito apenas ao aparecer.

Combate direto

Esqueça a fórmula frenética de Call of Duty ou Doom. Em Rogue City, o tiroteio é brutal, direto e visceral. Correr de um lado para o outro raramente faz diferença. Claro, evite posições onde você é o centro das atenções, ou seja, alvo por todos os ângulos. Não dê as costas pra ninguém!

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Em vez disso, assuma posições vantajosas. Mesmo exposto, RoboCop aguenta o tranco, e logo você reconhece essa característica. Poucos são os momentos em que deve se preocupar.

Auto-9: a arma suprema

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A icônica Auto-9 dita o ritmo do combate. Outras armas existem, são até legais, mas perdem relevância rapidamente. A pistola principal evolui com um sistema de melhorias baseado em placas de circuito. Cada placa adiciona módulos que alteram dano, recarga e capacidade de munição, entre outros aspectos.

O sistema exige atenção, pois certos circuitos trazem desvantagens severas. Surge quase um minigame de otimização dentro do gameplay – e vicia, para falar a verdade!

Evolução cibernética – um “RoboRPG”

Além das melhorias na Auto-9, RoboCop recebe pontos de habilidade que expandem suas capacidades. Você investe em coisas como força, durabilidade, percepção, entre outros atributos. O sistema segue o modelo clássico de progressão em RPGs, porém funciona muito bem. Mais importante: você sente, na prática, o personagem ficando cada vez mais poderoso.

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Um FPS com viés investigativo

Apesar do foco na ação, RoboCop: Rogue City inclui missões com elementos investigativos. Em momentos específicos, você vasculha cenas de crime, reúne pistas e acessa bancos de dados. Essas pausas oferecem respiro e reforçam a dualidade do herói: máquina de combate, sim, mas também detetive e símbolo de justiça. Afinal, servimos a OCP ou a População?

Rogue City fps investigativo

A delegacia serve como hub central entre missões. Nesse espaço, o jogo brilha em ambientação e construção de mundo. Os NPCs não atuam como figurantes: têm nome, história e personalidade. Com o tempo, você reconhece rostos, se importa com pequenas tragédias pessoais e toma as decisões morais com mais cuidado.

Ao longo da campanha, decisões alteram o rumo da história. A “bússola moral” do RoboCop entra em cena em diálogos e ações. Suas escolhas conquistam aliados ou fazem inimigos, mudam o destino de personagens e influenciam o final do jogo.

Por exemplo, em uma rota mais justa, RoboCop fortalece laços e transforma vidas – não apenas com balas, mas com empatia e presença.

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O jogo não busca ser desafiador ou punitivo. Salvo momentos pontuais, morrer é raro – e isso ocorre por design.

Catarse

É interessante como a Teyon parecia saber exatamente para qual público estava fazendo este jogo. RoboCop: Rogue City é para o gamer mais velho que chega de um dia cansativo e quer apenas relaxar – “sentando o dedo” em vagabundo.

Rogue City - Catarse

E, convenhamos, deu muito certo. O jogo desestressa, envolve com uma boa história familiar e entrega a sensação de pertencimento à corporação policial.

Na delegacia, colegas passam de coadjuvantes a amigos ao passo que você investiga e observa. Você cria laços, se importa com eles e leva esse sentimento para as escolhas de campanha. Essa conexão puxa decisões mais humanas e pesa em cada missão. No fim, você não apenas vence tiroteios; você protege pessoas com quem se importa.

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Narrativa envolvente

Em RoboCop: Rogue City, a narrativa não funciona como pano de fundo – ela compõe o núcleo da experiência. Posicionada entre RoboCop 2 e RoboCop 3, a história ocupa um espaço pouco explorado do cânone.

A narrativa de RoboCop: Rogue City se divide em atos que representam dias de patrulha pelas ruas de Detroit. Cada etapa aprofunda a violência crescente da cidade e o conflito interno de Alex Murphy. A campanha começa com a investigação de um novo chefão do crime, o “Novato”. Aos poucos, a história se expande e revela um esquema maior que envolve drogas, conspirações corporativas e um projeto secreto.

Ao longo da jornada, RoboCop enfrenta falhas de sistema que, na verdade, resgatam memórias de sua vida humana. Sessões terapêuticas provocam a programação do herói e expõem dilemas pessoais. As escolhas do jogador moldam relações com personagens e alteram o destino de Murphy.

No clímax, um confronto épico coloca sua humanidade à prova. Por fim, o desfecho – que varia conforme suas decisões – conecta a trama aos eventos de RoboCop 3.

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O brilho está nos detalhes

O enredo respeita a cronologia oficial e, ao mesmo tempo, constrói novidades. O ritmo avança de forma gradual, revelando peças de um quebra-cabeça que se completa nas horas finais, sem pressa e sem atropelos. Tudo em um ritmo muito bom.

O tom permanece fiel à essência dos filmes. Está tudo lá – a crítica ao corporativismo, a hiperviolência estilizada, o jornalismo sensacionalista que transforma tragédia em espetáculo e o conflito entre humanidade e máquina. Inclusive, essa distopia continua relevante décadas depois, o que reforça o impacto das cenas e dos diálogos.

Os detalhes sustentam essa força. Personagens secundários exibem motivações claras, histórias comoventes e pequenas evoluções ao longo da campanha. A sensação de pertencimento cresce de maneira natural. Com o tempo, você não apenas controla o RoboCop – você é o RoboCop, e aquele mundo, aquele conflito interno, passa a parecer seu de algum modo.

As decisões morais, conectadas à bússola ética, ampliam a imersão. As escolhas afetam o desfecho e o destino de pessoas com quem você criou vínculos. Nesses momentos, a justiça deixa de soar abstrata e se torna pessoal, o que muda seu olhar sobre cada missão.

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Desempenho Técnico e Gráficos Absurdos

RoboCop: Rogue City impressiona no visual. A Unreal Engine 5 mostra força em cada detalhe e entrega iluminação fantástica, reflexos ambientais convincentes e texturas de alta definição.

Robocop: Rogue City foto realismo

A Detroit decadente, banhada por néons estilizados e luzes artificiais difusas, ganha vida com clima quase cinematográfico.
Mesmo sem ray tracing, a iluminação global da UE5 impressiona totalmente. Por exemplo, em dias nublados, a ambientação poderia até enganar olhares desatentos por um instantes. Parece filmagem real, é imersivo, sujo e fiel ao universo de RoboCop.

Robocop: Rogue City foto realismo 2

Por outro lado, se o visual convence, as animações decepcionam, sobretudo as faciais. Personagens exibem expressões rígidas e lábios pouco naturais, lembrando a geração do PS3 e X360. Esse talvez seja o ponto que quebra parte da imersão, principalmente em diálogos mais emocionais.

RoboCop: Rogue City deixa a desejar nas animações faciais

Outra ausência que estranha: o corpo em primeira pessoa. Não ver as pernas nem a própria sombra foge do padrão atual dos FPS modernos. Para uma experiência tão focada em imersão, o vazio pesa.

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No PS5 base, onde zeramos o jogo, o modo qualidade roda a 30 fps estáveis e até combina bem com o ritmo mais cadenciado. Ainda assim, quem busca 60 fps no modo desempenho enfrenta quedas perceptíveis de resolução e instabilidades na hora da ação intensa. Isso não arruina a experiência, mas incomoda e distrai em combates longos. Além disso, o delay de renderização das texturas em troca de câmera das cutscenes é um problema persistente.

No PC, o jogo exige bastante do hardware. Mesmo com uma RTX 3060 Ti, manter tudo no máximo cobra caro da performance. A UE5 impressiona, porém ainda consome recursos demais.

Robocop: Rogue City foto realismo 3

Com ajustes finos, e uso de DLSS você alcança um resultado sólido, embora sujeito a quedas ocasionais em áreas complexas. A beleza vem com custo claro de hardware.

Trilha Sonora

A trilha sonora de RoboCop: Rogue City é um grande acerto. Ela equilibra homenagem e originalidade na medida certa. O som carrega o peso dos anos 80, com sintetizadores densos e batidas metálicas. Além disso, a cadência combina com o passo firme do protagonista. A sensação é estar dentro de um longa retrô-futurista – e isso não ocorre por acaso.

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A ambientação sonora amplia a imersão. Durante os combates, os temas ganham força, com riffs eletrônicos que elevam a tensão. Já nas áreas de investigação e exploração, o som desacelera e cria um clima quase melancólico. Desse modo, RoboCop parece vagar entre a humanidade perdida e o dever de proteger a cidade.

O principal compositor é Chris Detyna. A trilha também traz trabalhos de Draco Nared e inclui faixas inspiradas nas obras de Basil Poledouris, autor do tema clássico dos filmes. Com peças inéditas, a composição evoca o estilo original e, ao mesmo tempo, apresenta material novo que sustenta a identidade do jogo.

Entre os destaques, a faixa “Nuke” merece menção especial. Com pegada agressiva e industrial, repleta de distorções metálicas, ela embala momentos memoráveis do jogo. É um “hit chiclete” que continua na cabeça mesmo depois da sessão.

E, sim, o tema clássico aparece nos momentos certos. Esse retorno aciona um gatilho de nostalgia que arrepia até o fã mais cético.

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Por que RoboCop: Rogue City merece uma chance?

Vivemos uma era em que muitos jogos AAA parecem tão reciclados e formatados visando lucro que perdem personalidade. RoboCop: Rogue City segue na contramão – e aí mora seu maior mérito. O jogo não tenta agradar a todos. Em vez disso, fala diretamente com quem importa: fãs de longa data do RoboCop, jogadores mais experientes e nostálgicos de um tempo em que diversão não dependia de velocidade.

RoboCop: Rogue City é fiel ao material original

Isso não é apenas um bom jogo tie-in. É um jogo que entende o que significa ser o RoboCop. Ele acerta no peso da movimentação, no som metálico dos passos e no estrondo da Auto-9. Além disso, captura o olhar vazio e, ao mesmo tempo, humano de Alex Murphy. Aos poucos, a história envolve, cria vínculos e faz você se importar com aquele mundo e com as pessoas que o habitam.

A Teyon evoluiu muito como estúdio. Do desastre de Rambo: The Video Game até aqui, a jornada merece respeito. Mais que isso, Rogue City prova essa evolução com identidade, alma e propósito visíveis em cada missão. A esquipe estudou não só o personagem, mas todo o universo ao seu redor.

Se você busca uma experiência diferente, que valorize ambientação, peso narrativo e uma boa dose de violência estilizada, este título é para você. Vale mencionar que você não precisa ter muito conhecimento sobre a franquia ou o universo de RoboCop para aproveitar o jogo. Mas, aposto como vai ter curiosidade de assistir aos filmes após jogar.

Portanto, RoboCop: Rogue City não só merece uma chance. Ele também merece respeito pela experiência rica que entrega: fiel, brutal e memorável.

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