Michael Keaton em Batman (1989). Distribuição: Warner Bros. Pictures.
Michael Keaton em Batman (1989). Distribuição: Warner Bros. Pictures.

Batman é um dos mais icônicos filmes baseados em quadrinhos de toda a história do cinema. Dirigido pelo talentoso cineasta Tim Burton, o filme representou uma virada de página tanto na carreira de Burton, quanto também na história de adaptações de quadrinhos para o cinema. Pela primeira vez, o grande público era apresentado a um anti-heroí, obscuro e sinistro e quase tão perturbado quanto os vilões que ele combatia.

O resultado foi um sucesso de público e crítica. Produzido a um custo de 48 milhões de dólares, o filme terminou sua passagem pelos cinemas do mundo todo com uma bilheteria acumulada de mais de 411 milhões de dólares. Ou seja, quase 10 vezes mais do que seu custo de produção. A crítica também gostou da obra. Atualmente, Batman mantêm uma taxa de aprovação de 76% no Rotten Tomatoes, principal agregador de criticas especializadas do mundo.

Na época do seu lançamento, o filme também recebeu elogios de críticos renomados, como Roger Ebert e Gene Siskel. O sucesso de crítica e público, fez com que a obra se tornasse um fenômeno cultural, gerando milhões de dólares em vendas de produtos ligados ao filme e iniciando um movimento que foi chamado de “batmania”. Além disso, o sucesso também deu origem a uma franquia que, de uma forma ou de outra, dura até os dias atuais.

Por tudo isso, essa é uma produção que vale a pena ser assistida por todos aqueles que curtem filmes clássicos e adptações dos quadrinhos para o cinema. Por esse motivo, nós assistimos a Batman e trazemos uma análise completa para você. Se você já assistiu ao filme, nossa análise pode ajudá-lo a eventualmente enxergar aspectos da obra que você não havia visto antes. E se você ainda não assistiu a Batman, esperamos que nossa análise te encoraje a assistí-lo, Por isso, não deixe de ler esse texto até o final. Um aviso, se você ainda não viu o filme, esse texto contêm alguns spoilers.

Batman: uma superprodução com muitas complicações

Para os padrões da época, Batman foi uma superprodução, a primeira da carreira de Tim Burton que, até aquele momento, havia dirigido apenas dois longas-metragens. Inicialmente, o filme deveria custar cerca de 30 milhões de dólares, mas terminou custando 48 milhões. Batman foi filmado entre outubro de 1988 e fevereiro de 1989 nos Estúdios Pinewood, na Inglaterra. A produção era tão grande que chegou a usar 18 estúdios em Pinewood, com sete deles sendo constantemente ocupados pela produção, incluindo, o estúdio em que foi construído Gotham City.

Jack Nicholson e Michael Keaton em uma das cenas finais de Batman (1989). Distribuição: Warner Bros. Pictures.
Jack Nicholson e Michael Keaton em uma das cenas finais de Batman (1989). Distribuição: Warner Bros. Pictures.

Esse set ocupava 51 acres e era, na época, um dos maiores sets já construídos na Pinewood. Por tudo isso e devido a inexperiência de Burton, os executivos da Warner Bros. Pictures, estúdio que estava bancando e que distribuiria o filme, não confiavam em sua capacidade de dirigir um filme daquele tamanho.

Por isso, a experiência de produção de Batman para Burton foi horrível, com o diretor sendo incapaz de inserir todo o seu estilo no filme, coisa que ele só conseguiria fazer em Batman – O Retorno (1992). “Tortura. O pior período da minha vida!”, disse Burton depois sobre o produção do filme. Só para se ter uma ideia, da desconfiança da Warner Bros., o diretor foi contrato para dirigir Batman logo depois do sucesso de As Grandes Aventuras de Pee-wee, dirigido por Burton em 1985. Contudo, o estúdio só deu a luz verde para o início dos trabalhos após o sucesso do segundo filme do diretor, Os Fantasmas se Divertem, de 1988.

Além das preocupações do estúdio, a produção de Batman foi atormentada por diversos imprevistos. O roteiro teve que ser mudado algumas vezes. Por exemplo, Dick Grayson, o Robin, deveria aparecer no filme, mas de última hora, foi decidido que ele não tinha importância no enredo e que, portanto, sua aparição seria irrelevante para a história. Já o personagem Alexander Knox deveria morrer no filme, mas Burton e os roteiristas gostaram tanto do personagem que resolveram poupá-lo

Além disso, o final do filme, onde Batman segue o Coringa até o alto de uma catedral era diferente. O vilão deveria matar Vicki Vale, a “namorada” do Batman, fazendo com que o Homem Morcego saísse em uma vingança contra ele. Contudo, o designer de produção do filme, Anton Furst, teve a ideia da catedral e construiu um modelo de 12 metros dela a um custo de 100 mil dólares.

A princípio, Burton não gostou da ideia, mas depois foi convencido a adotá-la e o final do filme foi mudado, com Vale sobrevivendo e o vilão despencando do alto da catedral em direção a morte. Também ocorreram mudanças no elenco. Vicki Vale seria interpretada por Sean Young. No entanto, a atriz se feriu com alguma gravidade andando de cavalo. Assim, uma busca incessante por uma substituta foi iniciada.

Kim Basinger foi escalada para o papel porque estava disponível para começar a filmar imediatamente. Aliás, a escolha de atores para o filme foi outro pesadelo enfrentado por Tim Burton. O único ator cuja escalação era considerada quase unânime era Jack Nicholson para o papel de Coringa. Até houveram outros interessados no papel, mas o estúdio há anos cortejava o ator para interpretar o personagem. Ele aceitou interpretar o vilão, mas fez diversas exigências para isso.

Já a escolha do ator que interpretaria Batman foi uma enorme epopeia. Inúmeros atores do primeiro time de Hollywood foram cogitados para o papel, incluindo, Mel Gibson, Kevin Costner, Charlie Sheen, Tom Selleck, Bill Murray, Harrison Ford, Dennis Quaid, Pierce Brosnan (que depois viveria James Bond no cinema) e até mesmo Willem Dafoe. Burton, no entanto, defendeu a escalação de Michael Keaton para o papel de Batman.

Burton havia trabalhado com o ator em Os Fantasmas se Divertem e estava convencido que ele seria capaz de atuar em um “filme sério” depois de ver sua atuação no drama Marcas de Um Passado (1988). A escalação de Keaton para o papel, no entanto, não recebeu apoio de ninguém da produção e foi questionada pelo roteirista principal, pelos produtores do filme e até mesmo por Bob Kane, criador do Batman e que era consultor criativo do filme.

Quando a notícia de que Michael Keaton interpretaria o Batman se tornou pública, houve enorme rejeição por parte dos fãs de quadrinhos. A Warner Bros. chegou a receber mais de 50 mil cartas de protesto de fãs contra a escalação do ator. Isso porque, Keaton era, na época, conhecido por seus papéis em filmes de comédia. Além disso, o ator não tinha o físico apropriado para interpretar um heroí de ação. O estúdio tentou convencer Burton a escolher outro ator, mas ele insistiu na escolha de Keaton.

Com sua escalação, os fãs de quadrinhos passaram a acreditar que o que estava sendo produzido era um filme “cômico”, no estilo da série dos anos 1960. E tudo que os fãs esperavam era um filme obscuro com um heroí com profundidade, como aquele que aparecia nos quadrinhos de sucesso dos anos 1980, como Batman: A Piada Mortal (1988) e O Cavaleiro das Trevas (1986).

Jack Nicholson, Michael Keaton e o diretor Tim Burton durante as filmagens de Batman (1989).
Jack Nicholson, Michael Keaton e o diretor Tim Burton durante as filmagens de Batman (1989).

O mais interessante é que no final dos anos 1970, quando os produtores Benjamin Melniker e Michael E. Uslan compraram os direitos de adaptação de Batman para o cinema, eles enfretaram enorme resistência dos estúdios justamente por querer produzir um filme sério e obscuro e não uma comédia, como a série dos anos 1960. Uslan e Melniker foram rejeitados por diversos estúdios e só no início dos anos 1980, a Warner Bros. aceitou financiar a produção de um filme “sério” sobre o Batman.

Outra dificuldade enfrentada durante a produção do filme foi com o assédio da imprensa. A produção seria, inicialmente, filmada nos estúdios da Warner Bros., em Burbank, na Califórnia. Contudo, as filmagens tiveram que ser mudadas para a Inglaterra justamente para fugir do assédio dos fãs e da imprensa. As filmagens de Batman tiveram que ser conduzidas no mais absoluto segredo e um acessor de imprensa do estúdio chegou a ser subornado pela imprensa para vazar fotos de Jack Nicholson caracterizado como Coringa.

Ele, no entanto, recusou uma oferta de suborno de 10 mil libras pelas fotos. Em determinado momento das filmagens, a polícia teve que ser inclusive chamada já que dois rolos de filme contendo cerca de 20 minutos de imagens do longa-metragem foram roubados dos Estúdios Pinewood. A resistência em relação ao filme e em relação a Michael Keaton só foi quebrada quando a produção estreou nos cinemas norte-americanos em 23 de junho de 1989 e os fãs puderam ver com seus próprios olhos o que havia sido feito.

Direção de arte elogiada e um estilo único para Gotham City

Um dos aspectos mais elogiados de Batman é seu visual. Tanto fotografia quanto direção de arte e figurinos combinaram para criar um clima obscuro e uma Gotham City que parece inóspita e distópica. É interessante observar como a fotografia de Batman é quase sempre escura com tons foscos e um ar meio retrô, que faz com que Batman pareça até mesmo um filme cuja narrativa se passa no passado. Quase um filme noir dos anos 1930.

O figurino também colabora para isso, assim como igualmente o design de produção. O figurino dos personagens como chapeús, sobretudos, ternos e vestidos elegantes realmente nos faz crer que estamos em uma história em quadrinhos dos anos 1930 ou 1950. Além disso, há uma diferença clara entre os figurinos de Bruce Wayne e Coringa. Wayne se veste quase sempre de preto ou de tons sóbrios, sempre com roupas clássicas e elegantes.

Equipe de Batman trabalhando em miniaturas para o filme.
Equipe de Batman trabalhando em miniaturas para o filme.

Já Jack Napier, assim que se torna Coringa, passa a se vestir sempre de forma colorida e chamativa, uma característica clássica do personagem. Aliás, todas as cenas com o Coringa são mais vibrantes e coloridas. Um contraponto é seu rosto quase sempre branco e quase fantasmagórico. A direção de arte também ajuda a dar esse ar de filme noir. Tanto nos cenários quanto nos objetos de cena.

Batman parece misturar passado e futuro em apenas um filme. Nesse sentido, seu maior destaque é realmente Gotham City. Tanto Tim Burton quando Anton Furst decidiram criar uma Gotham grandiosa, mas ao mesmo tempo decadente. Uma cidade que apesar de ter prédios em estilo art deco, combina vários estilos de arquitetura de forma totalmente caótica. Isso foi feito a fim de, segundo Furst, “fazer de Gotham City a metrópole mais feia e sombria que se possa imaginar”. “Uma cidade governada pelo crime, com uma profusão de estilos arquitetônicos. Um ensaio sobre a feiúra. Como se o inferno irrompesse pela calçada e continuasse”, completou ele.

O efeito desejado por Furst e Burton foi alcançado. Ao ver Gotham pela primeira vez, a sensação do espectador é realmente de espanto com sua grandiosidade, mas também, ao mesmo tempo, sua sujeira e caos. Tanto para construir essa Gotham grandiosa quanto para criar diversas cenas de ação presentes no filme, Batman fez uso extensivo de matte painting e miniaturas. Em uma época em que as imagens geradas por computador (o famoso CGI) eram quase que inexistentes, essas técnicas eram comumente utilizadas para criar cenarios que seriam impossíveis (ou muito difíceis) de serem criados em um set de filmagens.

O matte painting nada mais é do que é a representação pintada de uma paisagem, cenário ou local distante que permite ao cineasta criar a ilusão de um ambiente que não está presente no local de filmagem. Em Batman todas as vezes em que Gotham City é mostrada de longe, isso é feito através do uso dessa técnica. Assim como quando prédios são mostrados em sua integridade, com os personagens entrando neles há uso de matte patting. Geralmente, nesses casos, os prédios são bem menores e a técnica é usada para fazer com que eles pareçam bem maiores do que são.

Também para construção dos prédios de Gotham City foram usadas diversas modelos em miniatura desses locais, como a catedral onde ocorre a luta final entre Batman e Coringa. Além disso, em cenas de ação também foram usadas miniaturas. Em diversas cenas veículos como o Batmóvel e o Batwing são miniaturas. No final do filme, diversas cenas em que o Batwing aparece, incluindo aquela em que ele cai em Gotham City, foram feitas com o uso de miniaturas.

Além disso, em Batman também existe uso de técnicas de animação. A primeira cena em que o heroí aparece, por exemplo, foi feita com o uso de animação. Assim também como a cena final em que o Coringa cai para sua morte, da mesma forma, foi feita com uso de técnicas de animação. Isso não é surpreendente se pensarmos que Tim Burton começou sua carreira como animador na Disney.

O trabalho de design de produção foi tão bem feito que Gotham City se tornou também um personagem do próprio filme, sem a qual a narrativa de Batman seria quase impossível de ser construída. “Gotham City, apesar de ter sido filmada em um estúdio é literalmente outro personagem do roteiro. Tem a presença humilhante do expressionismo alemão e da arquitetura fascista, olhando de cima para os cidadãos”, escreveu o crítico de cinema Richard Corliss, em sua crítica para a Revista Time.

Cenas de Batman (1989) que fazem uso de matte painting.
Cenas de Batman (1989) que fazem uso de matte painting. A técnica foi bastante utilizada no filme.

E realmente, sem a Gotham City de Burton e Furst, Batman seria outro filme. Não a toa, essa Gotham virou modelo para outras adaptações do Homem Morcego tanto para o cinema quanto para a televisão e a sua presença é talvez ainda mais forte em Batman – O Retorno (1992), segundo filme da franquia e que também foi dirigido por Tim Burton. Aliás, por seu trabalho no filme, Anton Furst e o decorador de sets Peter Young ganharam o Oscar de Melhor Direção de Arte em 1990.

Elenco de primeira e atuações elogiadas

Além dos aspectos técnicos sobre os quais já falamos acima, outro aspecto muito elogiado de Batman é a qualidade de seu elenco e as atuações que eles entregaram. Principalmente, Michael Keaton e Jack Nicholson. O mais irônico é que, como já dissemos acima, ninguém além de Tim Burton, queria Keaton no papel de Batman e sua escolha gerou resistência até mesmo dentro da equipe de produção do filme e protestos de fãs do Homem Morcego.

Contudo, assim que a obra estreou no cinema, a performance do ator foi bastante elogiada, com muita gente, até hoje, considerando ele o “melhor Batman” de todos. Seu olhar profundo o ajudou a passar emoção até mesmo quando estava caracterizado (e mascarado) como Homem Morcego e sua aparência “comum” ajudou a passar a ideia de que “qualquer um” pode ser Batman. O que é uma das característas do super-herói que não tem nenhum superpoder especial, além é claro, de uma fortuna inesgotável.

O papel de Batman mudou para sempre a carreira de Keaton, não apenas passou a ser seu personagem mais famoso, mas também representou uma mudança em como as pessoas o enxergavam. A partir de Batman, Keaton passou a ser considerado um “ator sério” e também a fazer parte do primeiro time de Hollywood. Prova disso, é que se no primeiro filme seu nome nem sequer era o primeiro a aparecer nos créditos, no segundo ele recebeu a bagatela de 10 milhões de dólares para voltar a viver o herói nas telonas.

Michael Keaton em Batman (1989). Distribuição: Warner Bros. Pictures.
Michael Keaton em Batman (1989). A expressividade dos olhos de Keaton foi um dos aspectos elogiados de sua atuação. Distribuição: Warner Bros. Pictures.

Igualmente, a atuação de Jack Nicholson foi bastante elogiada. Contudo, na época do filme, o ator estava em uma posição totalmente diferente da de Keaton. Nicholson já era uma ator respeitadíssimo em Hollywood. Já naquela época, com mais de 30 anos de carreira, ele já tinha vencido dois Oscars e sido indicado nove vezes ao prêmio mais importante do cinema. Além disso, ao contrário de Keaton, era o favorito entre quase todo mundo para viver o papel de Coringa.

Por isso, Nicholson fez diversas exigências para aceitar o papel. Entre elas, que seu nome fosse o primeiro a aparecer nos créditos e também no material de divulgação do filme. Além disso, ele também exigiu seu próprio calendário de filmagens com horários de folga nos dias de jogos de seu time de beisebol favorito. Suas cenas deveriam ser filmadas em apenas três semanas, mas acabaram levando mais de 100 dias para serem concluídas.

Contudo, provavelmente a decisão mais sábia que Nicholson tomou na época, foi reduzir seu cachê de 10 milhões para seis milhões e aceitar receber uma parte, não só da bilheteria, mas também da venda de produtos relacionados ao filme. Com o sucesso da obra e a subsequente “batmania” que se seguiu, Nicholson acabou se tornando um dos atores mais bem pagos da história do cinema. Devido a sua decisão, acredita-se que ele tenha recebido mais de 50 milhões de dólares por seu papel em Batman. Seu biógrafo, no entanto, alega que ele recebeu bem mais, cerca de 90 milhões de dólares.

A dinâmica entre Batman e Coringa foi descrita por muitos como uma espécie de “duelo de malucos”. Isso porque, a principal característica do vilão é justamente sua loucura levada as últimas consequências. Para ele tudo é uma grande piada que, por vezes, pode se tornar mortal. “O Coringa é um personagem tão bom porque há total liberdade para ele. Qualquer personagem que opera fora da sociedade e é considerado uma aberração e um pária tem a liberdade de fazer o que quiser. A insanidade é, de alguma forma assustadora, a maior liberdade que você pode ter, porque você não está sujeito às leis da sociedade”, disse Tim Burton sobre o personagem.

Batman também não fica atrás. Um bilionário traumatizado pelo assassinato dos pais e que busca vingança a todo custo combatendo de todas as formas possíveis a escória de Gotham City, uma cidade dominada em todos os níveis pelo crime. Nesse sentido, Batman nem sempre obedece as leis e convenções sociais. Por isso, ele sempre foi considerado mais um anti-herói do que um herói no sentido clássico da palavra. Ou seja, alguém que combate o mal mais porque tem que fazê-lo ou por uma busca pessoal, do que alguém que combate o mal simplesmente porque é bom e está fazendo o que é certo pensando no coletivo.

Em Batman, de 1989, é claro que o lado sombrio do Homem Morcego fica um pouco mais escondido. Até porque, o estúdio queria que o filme fizesse sucesso nas bilheterias e, naquele época, o anti-herói ou mesmo os heroís falhos não estavam ainda “na moda”. Pode-se até mesmo dizer que foi justamente Batman que mudou o gosto do público e também abriu as portas para filmes com heróis mais profundos e com personalidades mais complexas.

Jack Nicholson como Coringa em Batman (1989). Distribuição: Warner Bros. Pictures.
Jack Nicholson como Coringa em Batman (1989). Distribuição: Warner Bros. Pictures.

Além de Nicholson e Keaton, cabe também elogiar as atuações de outros atores no filme. Kim Basinger está magnifica no papel de Vicki Vale. Apesar de a personagem ser, infelizmente, um pouco superficial e carecer de mais desenvolvimento. Aqui, ela não é nada mais do que o “interesse romântico” do Batman. Contudo, esse tipo de papel feminino era muito comum naquela época. A “mocinha em perigo” que estava alí apenas para ser capturada pelo vilão e ser salva pelo herói.

Michael Gough no papel do mordomo Alfred Pennyworth está brilhante. Não a toa, sua interpretação do personagem se tornou quase que um padrão de como o personagem deveria ser. O mais interessante é que Tim Burton escalou Gough para o papel devido admiração que tinha por ele da época em que o ator apareceu nos filmes do famoso Estúdio Hammer, nos anos 1950 e 1960. O ator apareceria em todos os quatro filmes dessa primeira série de filmes da franquia Batman.

Robert Wuhl também está muito bem no papel de Alexander Knox. Um jornalista que, no início do filme, é o único que acredita na existência de Batman e que se junta a Vicki Vale para provar que ele existe de verdade. Knox funciona como uma espécie de escape cômico para o filme e também como uma espécie de galanteador sem esperança, sempre tentando de alguma forma ter alguma chance com Vicki Vale que, obviamente, está sempre muito mais interessada em Batman e em seu alter-ego, Bruce Wayne.

Temos também a participação relativamente breve de Jack Palance como o mafioso Carl Grissom. “Dono” da cidade, Grissom é o chefe de Jack Napier, mas ao descobrir que ele está dormindo com sua namorada arma a emboscada que o transformará no vilão Coringa. Obviamente, assim que Napier, já como Coringa, “volta dos mortos”, a primeira coisa que ele faz é matar Grissom. Contudo, mesmo com pouco tempo de tela, Palance é brilhante como sempre, dando o tom exato a seu personagem.

Por último, temos a discreta participação de Pat Hingle como Commissário Gordon e Billy Dee Williams como Harvey Dent. Interessante, que desde o início, Burton e o roterista de Batman, planejavam introduzir Dent nesse primeiro filme, para que nos próximos filmes da franquia ele pudesse aos poucos se tornar o vilão Duas-Caras. Essa transformação deveria ocorrer já em Batman – O Retorno. Contudo, no fim, optou-se por usar o Pinguim como vilão do segundo filme e um outro personagem (Max Shreck) foi criado para, de qualquer forma, ocupar o espaço que Dent ocuparia na narrativa.

No terceiro filme da franquia, no entanto, o vilão Duas Caras aparece. Lançado em 1995, Batman Eternamente foi dirigido por Joel Schumacher e não por Tim Burton. Por isso também, optou-se por escalar um ator de renome para o papel, no caso Tommy Lee Jones, fato que deixou Dee Williams bastante chateado.

Kim Basinger como Vicki Vale em Batman (1989). Distribuição: Warner Bros. Pictures.
Kim Basinger como Vicki Vale em Batman (1989). Distribuição: Warner Bros. Pictures.

Já o Comissário Gordon tem uma papel relativamente apagado não apenas nesse primeiro filme, mas também em quase todos os outros três filmes dessa primeira série de filmes do Homem Morcego. Funcionando basicamente como uma espécie de ligação entre Batman e as forças policiais de Gotham City. Em outras adaptações de Batman para a telona, como a trilogia dirigida por Christopher Nolan e lançada entre 2005 e 2012, o personagem teria um papel muito mais proeminente.

Críticas a Batman

Apesar do sucesso de Batman, o filme não escapou de ser alvo de diversas críticas. Algumas delas, inclusive, vieram do próprio Tim Burton que, como dito antes, não teve total autonomia na direção da obra. Em uma entrevista concedida a Revista Empire em 1992, ele disse: “Gostei de algumas partes, mas o filme todo é entediante para mim. Ele é bom, mas foi mais um fenômeno cultural do que um grande filme”. Escrevendo sobre Batman, o crítico de cinema James Berardinelli disse que o filme era divertido e que a direção de arte era a melhor parte da obra e concluiu afirmando: “a melhor coisa que pode ser dita sobre Batman é que ele levou a Batman – O Retorno, que foi um filme muito superior”.

Alguns aspectos do roteiro de Batman também foram bastante criticados. Principalmente, a falta, para alguns, de realismo em algumas partes da narrativa. Como, por exemplo, quando o mordomo Alfred deixa Vicki Vale entrar na Batcaverna. Até o próprio roteirista principal da obra, Sam Hamm, concordou que se isso realmente acontecesse o mordomo seria demitido por Bruce Wayne: “Seria o último dia de Alfred na Mansão Wayne”, disse ele.

Contudo, Hamm disse que ele não foi o culpado por isso. Na época, o Sindicato dos Roteiristas estava em greve e ele não pôde trabalhar em mudanças no roteiro. Assim, outros três roteiristas (Warren Skaaren, Jonathan Gems e Charles McKeown) foram chamados para reescrever algumas partes do roteiro. Hamm também disse que foi Burton quem teve a ideia de o jovem Jack Napier (que depois se tornaria o Coringa) ser o responsável pelo assassinato dos pais de Bruce. Esses aspecto do roteiro também foi fortemente criticado pelos fãs do Homem Morcego, já que nos quadrinhos quem é o responsável pelas mortes é Joe Chill.

Michael Keaton em Batman (1989). Distribuição: Warner Bros. Pictures.
Michael Keaton em Batman (1989). Distribuição: Warner Bros. Pictures.

Ainda nesse sentido, o próprio Michael Keaton estava preocupado que se Batman existisse na vida real, sua identidade seria facilmente descoberta pelas pessoas. Por esse motivo, ele teve a ideia de falar com uma voz mais grave quando estivesse caracterizado como Homem Morcego. Essa característica de sua interpretação foi, posteriormente, copiada por diversos outros atores que interpretaram o herói, incluindo, Christian Bale, que interpretou Batman na trilogia de Christopher Nolan.

Apesar de a trilha sonora do filme, composta por Danny Elfman, ter sido bastante elogiada com, inclusive, o tema principal de Batman se tornando mundialmente conhecido e sendo usado em outras produções envolvendo o herói, um aspecto da parte musical da obra não foi tão bem recebida por alguns, as canções compostas por Prince. Na época, o músico precisando reavivar sua carreira, aceitou compor e cantar diversas canções para a trilha sonora do longa-metragem.

Apesar de muita gente achar que as canções não combinavam com o filme, elas foram extremamente bem-sucedidas comercialmente. O álbum contendo as canções compostas para a trilha de Batman, o 11º da carreira de Prince, ficou em primeiro lugar nas paradas de sucesso dos Estados Unidos por seis semanas consecutivas. Já a canção “Batdance” também chegou ao topo das paradas de sucesso, ajudando Prince a alcançar um sucesso comercial que ele não alcançava há vários anos.

Não obstante todas essas eventuais críticas, Batman elevou as alturas a fama do Homem Morcego, transformando-o em um produto comercial viável e dando lucros milionários a Warner Bros. Pictures, estúdio que aceitou financiar o filme. Batman também iniciou uma franquia de sucesso e foi o pontapé inicial de toda uma serie de adaptações, tanto em live-action quanto em animação, para cinema e televisão de histórias do universo do Homem Morcego.

Tema de Batman (1989), composto por Danny Elfman.

Além de tudo isso, o filme representou o início de uma nova era de filmes baseados em quadrinhos e filmes de super-heroís que atingiria o seu auge nos últimos anos com franquias e “universos compartilhados”, como Universo Cinematográfico Marvel, dando lucros bilionários aos estúdios de Hollywood. É possível afirmar que muito disso não existiria hoje da forma como existe se não fosse por Batman. Por isso, o filme é tão icônico e um dos maiores clássicos da história recente do cinema.

Conclusão

Esperamos que você tenha gostado da nossa análise. Tentamos nos aprofundar o máximo possível nos diversos temas do filme e também analisar todos os seus aspectos técnicos e artísticos. Se você gostou, não esqueça de deixar o seu comentário, pois ele é muito importante para nós.

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