Bruce Lee foi um dos maiores responsáveis por levar as artes marciais para as telas do cinema na década de 1970. Suas grandes façanhas, somadas a trágica morte prematura, o transformaram em uma verdadeira lenda do cinema.
O ator e roteirista sino-americano, mostrou seu prodigioso talento em filmes que ajudaram a popularizar técnicas como o Karatê e o Kung Fu entre o público ocidental.
Além de seu estilo único e inconfundível, ele foi um lutador incansável, que superou diversos desafios na carreira, até chegar a ser considerado um ícone cultural, como conhecemos nos dias de hoje.
Mesmo não sendo um mestre da atuação, Bruce conquistou plateias de todo o planeta, lutando vários tipos de artes marciais de forma graciosa e praticamente inigualável até os dias de hoje.
Ele se tornou conhecido no mundo inteiro, especialmente entre os chineses, com base em sua representação do nacionalismo entre asiático-americanos, por desafiar os estereótipos associados ao homem de origem asiática.
Dessa forma, Bruce Lee é considerado por muitos especialistas, críticos, mídia e outros artistas marciais, como o mais influente artista marcial de todos os tempos, e um legítimo ícone da cultura POP.
Além disso, responsável por fazer uma ponte importante entre o Oriente e o Ocidente, ajudando a mudar definitivamente a maneira como os asiáticos eram representados nos filmes americanos.
Ele treinou na arte do Wing Chun (Kung Fu), e mais tarde o associou a outras influências de sua filosofia pessoal, um estilo que apelidou de Jeet Kune Do (O Caminho do Punho Interceptador).
Infelizmente, o ator morreu precocemente no auge da fama, com apenas 32 anos, em 20 de julho de 1973, vítima de um edema cerebral, causado por uma reação medicamentosa.
A infância de Bruce Lee
Lee Jun-fan nasceu no dia 27 de novembro de 1940, na área de Chinatown, na cidade de São Francisco, Califórnia, quando os pais viajavam em turnê com um circo oriental.
Um fato interessante, é que ele foi concebido na hora e ano do dragão, segundo a astrologia chinesa, o que segundo as tradições, denota o forte presságio de ele se tornaria um homem poderoso.
Bruce morou na China durante toda sua adolescência, nas cidades de Foshan, e na vizinha Hong Kong, locais que foram importantíssimos para sua formação.
O pai de Bruce, Lee Hoi-cuen, era um dos líderes da “Cantonese Opera Company“, e um ator de cinema chinês, que ficou em turnê nos Estados Unidos durante um ano.
Ele esteve realizando apresentações em inúmeras comunidades chinesas, mas ainda em 1940 decidiu voltar para Hong Kong depois que sua esposa deu à luz ao primeiro filho do casal.
O jovem Lee Jun-fan foi apresentado ao mundo do cinema desde muito cedo, aparecendo em vários filmes quando criança. Lee teve seu primeiro papel ainda quando era um bebê, no filme “Golden Gate Girl”.
Aos nove anos, ele coestrelou com seu pai, em “The Kid” de 1950, que foi baseado em um personagem de quadrinhos e foi seu primeiro papel principal.
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Aos 18 anos, o garoto já havia atuado como coadjuvante ou em papeis menores, em cerca de 20 filmes, geralmente escalado para atuar como um delinquente juvenil.
A mãe de Bruce, chamada Grace Ho, pertencia a um dos clãs mais ricos e poderosos de Hong Kong, que era conhecido como os Senhores de Ferro.
Ela era a sobrinha de Sir. Robert Ho-tung, o patriarca do clã, e um importante empresário euro-asiático de Hong Kong. Dessa forma, o jovem Bruce Lee cresceu num ambiente que pode ser considerado até mesmo privilegiado.
Quando Bruce Lee estava com três meses de idade, sua família retornou para Hong Kong, então colônia britânica. Ainda criança, levado pelo pai, apareceu em vários filmes.
A adolescência de Bruce Lee e o treinamento com o Mestre Yip Man
Foshan era uma cidade famosa pelas cerâmicas artesanais, surgindo ao norte do rio Pérola, e se tornando o porto mais importante da China, que na época, exportava chá, porcelana e seda para o Ocidente.
Contudo, foi por lá que a Inglaterra infiltrou seu ópio proveniente da Índia durante anos, a fim de evitar sua própria falência, o que alimentou cada vez mais o vício na população chinesa.
Nessa época o país importava cerca de 4.500 malotes com 15 quilos da droga por ano, quantidade que aumentou absurdamente até 1835, chegando a cerca de 450 toneladas até 1839.
Para defender a economia e a saúde popular, o governo proibiu o consumo de ópio, perseguindo vendedores e prendendo traficantes. Insatisfeita com a medida chinesa, a Inglaterra declarou guerra à China duas vezes.
São as chamadas Guerras do Ópio, uma ocorrendo entre 1839 e 1842, e a outra de 1856 a 1860. As consequências disso pertencem à história que nos leva ao começo do treinamento de Bruce Lee.
A partir da Revolução Chinesa, o governo comunista começou a combater a cultura dos mestres das artes marciais. Muitos deles foram executados, outros enfrentaram o exército antes de serem mortos, e alguns fugiram ou se esconderam.
Soldados invadiam os templos para assassinar os mestres, e foi nesta época que o famoso Sifu Yip Man acabou fugindo às pressas para Hong Kong, onde seu caminho enfim se cruzaria com o de Bruce Lee.
Também por este motivo, a cidade se encheu com pessoas que tentavam escapar do governo comunista repressivo, o que a levou à superlotação, à pobreza e aos altos índices de criminalidade.
Aos 13 anos de idade, o jovem Lee foi brutalmente atacado por uma gangue, fato que o levou a procurar por alguém que pudesse lhe ensinar Kung Fu. Mal ele sabia, que essa atitude faria dele um vencedor em meio àquelas ruas violentas.
O problema é que naquela época, os mestres se recusavam a treiná-lo, devido a ele se tratar de um mestiço. Mas Yip Man deixou o preconceito de lado, e decidiu fazer de Lee Jun-fan, o seu aluno pessoal, para quem ele passaria todo o seu conhecimento.
Logo o garoto mostrou que tinha muito potencial entre os outros alunos, apesar de só treinar inicialmente com o seu colega Wong ShunLeung, pois os demais se recusavam a dividir aulas com um “meio americano”.
Nessa época, o jovem não somente aprendeu kung fu, como também praticou boxe, jiu-jítsu, shotokan, savate, esgrima, judô, tae kwon do, wrestling, hapkido, aikido e tai chi chuan.
Por volta de seus 15 anos, Lee passou a integrar uma gangue chamada Tigres de Junction Street, e até o final de sua adolescência, as brigas de rua se tornaram muito frequentes, com o garoto chegando a se envolver em problemas com uma temida tríade familiar.
Nessa época, ele também espancou um rapaz, ao ponto de lhe arrancar um dente, com sua mãe precisando ir à delegacia assinar um documento, onde assumia total responsabilidade pelas ações de Bruce se o libertasse sob sua custódia.
Foi então que Grace Ho sugeriu que ele voltasse para os Estados Unidos, e o pai de Lee concordou, uma vez que as perspectivas para o ingresso do garoto na faculdade, caso ele permanecesse em Hong Kong, não eram as mais promissoras.
O início da carreira e o sucesso nos EUA
Ao chegar nos EUA Bruce ficou hospedado na casa de amigos da família, em San Francisco, e depois de alguns meses se mudou para Seattle onde terminou o ensino médio, enquanto também trabalhava como garçom em um restaurante.
No início da década de 60 ele se matriculou em uma universidade no curso de Filosofia e não por acaso, deixou várias mensagens e ensinamentos que servem como fonte de inspiração até os dias de hoje.
“Esvazie sua mente, não tenha forma, assim como a água. Se você colocar a água em um copo, ela se torna um copo. Se você colocar a água em uma garrafa, ela se torna uma garrafa. Seja como a água, meu amigo.”
Nessa época Lee começou a ensinar artes marciais para alguns amigos que conheceu em Seattle, onde também abriu sua primeira escola de artes marciais, chamada Instituto Lee Jun-fan Kung Fu.
Bruce acreditava que o conhecimento deveria ser compartilhado entre todos, e aceitou estudantes caucasianos e negros em sua turma, mesmo sofrendo represálias por parte da comunidade chinesa.
Como ator ele conseguiria alguns papéis em programas de TV americanos e filmes, incluindo a icônica série “O Besouro Verde” (1966-1967). Ainda assim, sua carreira não chegou a despontar completamente, devido ao racismo existente na época.
A maioria dos executivos de TV e produtores de cinema na década de 60, não estavam dispostos a correr o risco de lançar um ator asiático em um papel principal.
Apesar disso, Lee atraiu grande atenção de famosos que estavam dispostos a aprender com suas técnicas de luta. Entre seus alunos, podemos citar celebridades como, Steve McQueen, Joe Lewis, Chuck Norris, James Coburn e Kareem Abdul-Jabbar.
Bruce tentou desencorajar educadamente esses astros, elevando bastante o valor de seus honorários.
Ele não queria passar a impressão de que Kung Fu poderia ser dominado apenas com algumas lições simples. Mas quanto mais ele aumentava os preços, mais alunos o procuravam.
Em 1970, Bruce Lee estava em busca de papéis, e dessa forma tentou trazer sua própria ideia para estúdios de TV. A proposta era sobre um seriado, onde um artista marcial chines andaria pelo Velho Oeste, usando kung fu para lidar com os malfeitores.
Infelizmente, os estúdios não mostraram interesse, por acharem que a ideia não funcionaria se a estrela principal do programa fosse “chinês demais”.
Seu projeto foi recusado na época, mas alguns anos depois, a clássica série Kung Fu, protagonizada por David Carradine, acabou sendo produzida e se tornando, de fato, um enorme sucesso.
Contudo, o nome de Bruce Lee não está nos créditos, e muito menos ele recebeu algo por ter colaborado na sua criação, pois de acordo com o próprio estúdio, o programa não foi baseado no projeto dele.
Bruce Lee estrelou apenas cinco filmes no início dos anos 1970, sendo eles, O Dragão Chinês (1971) e A Fúria do Dragão (1972) de Lo Wei, O Voo do Dragão (1972), da Golden Harvest, dirigido e escrito por Lee, Operação Dragão da Warner Bros. e Golden Harvest (1973), e Jogo da Morte (1978), ambos dirigidos por Robert Clouse.
Os projetos que foram produzidos em Hong Kong e Hollywood, ajudaram a elevar a qualidade das tradicionais produções de artes marciais para um novo nível de popularidade e aclamação.
Além disso, os longas protagonizados por ele despertaram grande interesse por parte da nação chinesa, assim como chamou a atenção do Ocidente para a cultura oriental na década de 1970.
A direção e o tom de suas produções, influenciaram dramaticamente no formato dos filmes do gênero, e surpreendentemente, a morte prematura de Bruce Lee realmente ajudaria a criar uma nova vertente de filmes.
Infelizmente, o ator não pôde presenciar o sucesso e a influência de “Operação Dragão“, provavelmente o seu projeto mais aguardado e o mais querido também.
O filme faturou 350 milhões de dólares nas bilheterias mundiais, valor equivalente hoje, quando ajustado à inflação, a cerca de 1 bilhão de dólares. Com um orçamento de apenas 850 mil dólares, o longa se tornou um dos mais lucrativos de todos os tempos.
Bruce Lee ficou tão popular nesta época, que os cineastas perceberam que praticamente qualquer coisa lançada com o seu nome ou imagem iria vender extraordinariamente, mesmo depois de sua morte.
A morte do ator também impediu o controle do seu legado, e segundo Anna Trowby da revista Variety, a morte do astro deixou uma lacuna no gênero das artes marciais, a qual os estúdios estavam dispostos a explorar apenas por razões comerciais.
Para se ter uma ideia do absurdo, na tentativa de esticar o filme Jogo da Morte, os cineastas chegaram a utilizar cenas de tiros reais e do funeral de Bruce Lee.
Essa prática iria continuar durante anos, com o surgimento de muitos sósias horríveis aparecendo em uma série de filmes ruins, em títulos que eram apenas remixes de antigas produções do ator.
Os mistérios envolvendo a morte de Bruce Lee
Em 10 de Maio de 1973, Bruce Lee estava trabalhando na finalização de um dos projetos mais importantes de sua carreira, o filme Operação Dragão, considerado até os dias de hoje, como um dos melhores longas de artes marciais já produzidos.
O ator estava gravando a dublagem do filme no Estúdio Golden Harvest, quando sofreu um colapso repentino e começou a convulsionar. Lee foi levado ao Hospital Batista de Hong Kong, mas foi liberado após alguns dias de observação e repouso.
O episódio foi súbito, chocante e misterioso, uma vez que Bruce Lee era considerado um exemplo perfeito de saúde e estava no ápice de seu vigor físico.
Para se ter uma ideia, antes de ser ator, Bruce Lee era um atleta muito disciplinado, obsessivo com força e elasticidade, treinando cerca de 8 horas diárias, entre exercícios de calistenia, corrida e a prática de artes marciais.
Ainda assim, depois de passar por uma série de exames, foi constatado que o astro teve um edema cerebral (acúmulo excessivo de líquido no cérebro) que pode causar o aumento da pressão dentro do crânio e levar à compressão direta do tecido cerebral e dos vasos sanguíneos.
No episódio, os médicos foram capazes de reduzir o inchaço com a administração de alguns medicamentos específicos, mas esses mesmos sintomas ocorreriam também no dia da sua morte.
Em 20 de julho de 1973, Bruce Lee foi à cidade de Hong Kong, para um jantar onde se encontraria com o ator George Lazenby (“007: A Serviço Secreto de Sua Majestade“- 1969), com quem pretendia fazer um filme.
Segundo sua esposa, Linda Lee, eles se encontraram com o produtor Raymond Chow por volta das 14 horas, em sua casa, para discutir alguns detalhes sobre a produção do filme “Jogo da Morte“.
Eles conversaram até as 16 horas, e depois foram para a casa da colega Lee Betty Ting, uma atriz de Taiwan. Os três estudaram o roteiro do longa, e mais tarde, Lee voltou a se queixar por estar sentindo fortes dores de cabeça.
Ting lhe ofereceu um analgésico chamado Equagesic, que incluía aspirina e um relaxante muscular, e depois disso ele foi se deitar. Quando Bruce não apareceu para o jantar, eles repararam que ele não acordava.
Um médico foi chamado e passou dez minutos tentando reanimá-lo antes de chamar uma ambulância, mas Lee foi dado como morto no momento em que chegou ao hospital.
O ator tinha 32 anos e a única substância encontrada durante a autópsia foi somente o Equagesic. O produtor Raymond Chow declarou em uma entrevista, que Lee morreu devido a uma reação anafilática ao medicamento.
Inevitavelmente a súbita morte de Bruce Lee, deu origem a várias teorias da conspiração. Em uma biografia do ator, o escritor Matthew Polly afirma que Lee não morreu devido ao edema cerebral, mas por insolação.
Meses antes de morrer, Bruce Lee removeu cirurgicamente as glândulas sudoríparas das axilas, pois não gostava de aparecer nos filmes com marcas de suor.
O dia em que ele morreu fez parte de um dos meses mais quentes na história de Hong Kong, até então, e o ator estava passando por um treinamento vigoroso quando começou a se sentir mal.
Uma teoria bem mais contraditória afirmava que Bruce Lee havia sido assassinado pela máfia chinesa, ideia que foi compartilhada pelo rapper Kanye West, que nunca apresentou provas concretas para essa afirmação.
Contudo, no programa “Autópsia de Famosos“, do Discovery Channel, o médico legista Richard Shepherd, concluiu que houve uso excessivo de cortisona, por conta da hérnia de disco que Bruce Lee sofria há 3 anos, o que ocasionou uma crise adrenal.
De fato, as circunstâncias sobre a morte de Bruce Lee são um tema bastante controverso até os dias atuais, mas de fato, todos os boatos e contradições nunca irão apagar o belíssimo legado deixado por um dos maiores artistas marciais da história do cinema.
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