Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades! Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa chega para re-significar uma das maiores frases dos quadrinhos, além de fazer uma grande homenagem à toda a trajetória de sucesso do “Amigão da Vizinhança” nos cinemas.
Não é por acaso que essa foi a produção mais aguardada dos últimos anos, tendo em vista que ela serviu para devolver a verdadeira identidade, daquele que provavelmente é o herói mais importante e popular de toda a história da Marvel.
Um filme feito por fãs, e um grande presente para os fãs, que transita muito bem entre ficção, drama, comédia, romance, entre outros, se aproveitando de cada gênero para trazer um fechamento de ciclo digno e impecável para o personagem.
Desde 2002, o cinema vem acompanhando as mudanças de fase do herói, que no decorrer de duas décadas foi interpretado por Tobey Maguire, na aclamada trilogia de Sam Raimi, depois por Andrew Garfield nos dois filmes dirigidos por Marc Webb, e finalmente por Tom Holland, onde se uniu definitivamente aos personagens do UCM.
Apesar do sucesso, as diferentes versões do “Cabeça de Teia” nas telonas acabaram causando um certo desconforto no público em geral, que tem pouco ou nenhum contato com as histórias em quadrinhos.
Contudo, vale lembrar que essa trajetória do herói no cinema é bem parecida com o que acontece nas HQ’s, onde os leitores já estão acostumados com vários artistas trabalhando com o mesmo personagem de formas diferentes.
A verdade é que a Marvel dedicou muitos anos tentando expandir a marca Homem Aranha para além de Peter Parker, com diferentes homens, mulheres e até mesmo alguns animais interpretando o “Amigão da Vizinhança”.
Essas versões distintas do herói puderam ser vistas juntas em Aranhaverso, uma saga das HQ’s publicada no ano de 2014, durante as edições 9 a 15 da revista “The Amazing Spider-Man”.
O arco se estendia também a outros títulos que são voltados para versões alternativas do herói, como Miles Morales do universo Ultimate e a Mulher-Aranha (Jessica Drew), por exemplo.
Um evento que foi responsável por resgatar e reunir, praticamente todas as versões do Homem-Aranha que já foram vistas na mídia, incluindo quadrinhos, séries televisivas, filmes e games.
A ideia era prestar homenagem à criatividade de todos aqueles que já trabalharam com o personagem ao longo dos anos, até mesmo em suas versões mais bizarras, e ao mesmo tempo, uni-los em uma grande aventura.
Assim como foi feito nas HQ’s, o cinema conseguiu trazer uma verdadeira celebração ao legado que foi deixado pelos atores, diretores e equipes técnicas no geral, que trabalharam com o Homem Aranha durante esses 20 anos de produções cinematográficas.
Como foi bom assistir à adaptação de Sam Raimi, muito fiel ao material original dos quadrinhos, e seu Peter Parker interpretado por Tobey Maguire, sempre carismático, mas carregando o peso dramático típico do personagem nas páginas.
Na verdade, Maguire foi a única referência na época, de como poderia ser um Homem-Aranha em live-action, e essa versão seria responsável por mostrar para Hollywood, que os filmes de super-heróis poderiam ser muito populares e lucrativos, mesmo com sua paleta colorida característica e seus conceitos extraordinários.
A versão trazida pelo diretor Sam Raimi para o Homem Aranha é super aclamada por público e crítica, e com certeza fez com que a popularidade do herói fosse muito além dos amantes de histórias quadrinhos.
Com a conclusão da trilogia, os planos para novos filmes caminharam em ritmo acelerado, e em apenas 5 anos, o herói estava retornando às telas, em O Espetacular Homem-Aranha, desta vez dirigido por Marc Webb e interpretado por Andrew Garfield.
Garfield já demonstrava na época, que era um ator muito competente, mas infelizmente sua versão sofre comparações até os dias de hoje, com a desvantagem de não ter conseguido completar seu próprio arco.
Depois de uma longa negociação, a Sony decidiu que emprestaria o herói para os filmes do UCM, consequentemente nos apresentando a terceira versão do Homem Aranha nos cinemas em menos de dez anos, interpretada por Tom Holland.
De fato, isso gerou uma rivalidade entre os fãs do personagem, e provavelmente a briga para decidir qual é a melhor interpretação do Homem Aranha nos cinemas seja maior do que entre Star Wars e Star Trek, ou Marvel e DC em relação aos quadrinhos.
Precisamos admitir que Sam Raimi é um diretor completo, que tem uma criatividade absurda para transições de planos e movimentos impossíveis de câmera, além de carregar uma identidade visual muito impactante.
Contudo, Tom Holland é muito carismático e sempre foi bem aproveitado nos filmes dirigidos pelos Irmãos Russo, como “Capitão América: Guerra Civil”, de 2016 ou “Vingadores: Guerra Infinita”, de 2018.
Particularmente, o ator não foi explorado da melhor maneira sob a direção de Jon Watts, mas isso provavelmente pode ser uma consequência de ele precisar trabalhar sob o manto de Sony e Disney.
O projeto da Sony de expandir o universo cinematográfico do Aranha, somado ao controle cronológico da Disney, que sabe como o Homem Aranha é capaz de atrair espectadores, pode ter sido um fator que impedia o diretor de trazer uma identidade para seus filmes.
Confesso que gosto muito das participações de Tom Holland junto dos Vingadores, mas nunca consegui me conectar com seu Peter Parker nos filmes solo. Sempre tive medo de essa versão do personagem, que é tão interessante nos filmes de equipe, fosse desperdiçada em suas próprias sagas.
O Homem Aranha sempre foi um herói auto-suficiente dentro de seu universo particular e essa característica precisava ser transportada para as telas, principalmente quando falamos de uma geração que aprendeu a aceitar conceitos cartunescos, como o Multiverso e as viagens interdimensionais, por exemplo.
Mas felizmente, a espera por uma adaptação que fizesse justiça ao legado do personagem foi compensada e Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é tudo aquilo que sempre esperamos de um filme solo do “Amigão da Vizinhança”.
Nostalgia na medida certa, momentos de ação bem dirigidos, interação perfeita entre os personagens, mas principalmente, um grande trauma que faz com que Peter Parker aprenda com seus erros e se torne o herói que ele precisa ser.
Desta vez o Homem Aranha precisará lidar com as consequências diretas de sua última aventura, “Longe de Casa” de 2019, onde Quentin Beck, o vilão conhecido como Mysterio (Jake Gyllenhaal), revelou a sua identidade secreta ao mundo.
O longa parte do exato gancho deixado pela conclusão do filme anterior, com toda a população sabendo a identidade secreta do herói, o que não deveria ser um grande problema.
Isto porque as únicas pessoas que importam para ele já sabem de suas atividades como um dos Vingadores, e basicamente todos os outros heróis não fazem questão de esconder suas identidades também.
Mas essa situação se torna cada vez mais insustentável, ainda mais se considerarmos que Peter Parker foi exposto e está sendo apontado como o principal culpado pela morte de Quentin Beck.
Peter procura a ajuda de um advogado, e temos a primeira de muitas participações especiais desse filme. É muito legal ver como Charlie Cox será realmente aproveitado pela Marvel, depois da ótima série do Demolidor ser cancelada pela Netflix.
Além do mais, isso traz uma série de possibilidades, tendo em vista que Vincent D’Onofrio também fez sua estréia em “Hawkeye” do Disney+, abrindo as portas do UCM para outros personagens, como a Jessica Jones de Krysten Ritter, ou o Justiceiro de Jon Bernthal.
Charlie Cox tem dois minutos de tela, mas é o suficiente para deixar claro que esse filme será como Vingadores: Ultimato, um evento que tem o peso de uma recompensa para quem tem acompanhado a trajetória do Homem Aranha por tanto tempo.
Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa consegue tratar alguns dos problemas que essa versão do personagem tem enfrentado até agora. A necessidade de estar atrelado à imagem de Tony Stark tem sido um grande obstáculo para o crescimento de Peter, por diversos motivos.
O Homem de Ferro esteve ligado ao Homem Aranha desde o início, sendo compreensível que se crie uma relação emocional entre os dois.
Isso funciona muito bem nos filmes dos Vingadores, mas em suas aventuras solo, Peter Parker tem sido como um tipo de coadjuvante, uma vez que todas as tramas partem de pontas soltas deixadas pelo Homem de Ferro.
A construção do Aranha de Holland dependia demais do envolvimento de Tony Stark, essa abordagem fazia com que suas atitudes parecessem não ter tanta importância para o desenrolar da história.
Para entender isso, é só dar uma olhada com mais atenção em filmes anteriores, onde todo obstáculo de Peter era resolvido pela tecnologia deixada por Tony Stark, chegando ao absurdo de o Homem Aranha ter um jato particular à sua disposição, para viajar de um continente a outro.
Esse tipo de abordagem vai contra tudo que o personagem sempre representou nos quadrinhos da Marvel, afinal de contas, não é por acaso que ele tem o apelido de “Amigão da Vizinhança”.
As narrativas do Homem Aranha geralmente lidam com dilemas do cotidiano, com as dificuldades em lidar com a vida adolescente, ou mesmo com a falta de grana, mas a versão de Holland não havia passado por uma verdadeira prova de fogo, até agora.
Felizmente, tivemos o papel de Ben preenchido pela própria Tia May, que teve a tarefa de entregar a icônica frase:
Peter, Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades!
Aparentemente, essa é uma simples frase, mas no fundo ela carrega toda a essência do personagem. Resumindo em poucas palavras, este é um dos grandes segredos por trás de o Homem Aranha ter se tornado um dos maiores heróis de todos os tempos.
O peso dramático e o trauma que existe em perder uma pessoa que ama por causa de uma escolha errada, é o que movimenta todas as ações de Peter dali em diante e faz parte de seu crescimento como pessoa.
Além disso, são esses momentos que fazem com que o público se conecte com o personagem de uma forma tão intensa, que passamos a sentir a sua dor e entender os motivos que levam ele a lutar pelo bem.
A decisão de matar a Tia May (Marisa Tomei) pode ter sido parte do “pedido de desculpas” do filme, ainda assim funciona não só como um jeito de movimentar a trama, mas fortalecer tematicamente um debate que realmente nunca foi abordado nos filmes anteriores.
Tio Ben é o personagem responsável por levar Peter para uma jornada de vingança, forçando-o a confrontar o significado de ser um herói.
Isso nunca foi explorado de verdade, e não importa se o público está cansado de histórias de origem, pois a do Homem Aranha não serve apenas para mostrar como ele ganhou seus poderes, mas para estabelecer o dilema da vida de Peter Parker.
Vale lembrar que a tentativa de fazer com que todos esqueçam a sua verdadeira identidade, faz referência a um dos piores arcos das HQ’s do herói, chamado “Um Dia a Mais“, quando Peter decide fazer um pacto com Mephisto (o diabo da Marvel) para que isso aconteça.
O longa utiliza os mesmos elementos da polêmica história publicada em 2008, como base para criar uma narrativa diferente, mesmo não sendo a mais bem amarrada de todas.
De fato, em Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa a escolha funciona bem, talvez devido ao vilão pouco conhecido pelo grande público, ter sido substituído pelo Dr. Estranho, sempre impecavelmente retratado por Benedict Cumberbatch.
Contudo, Jon Watts ainda é muito previsível nos seus erros com o personagem, e insiste na necessidade de terminar todas as cenas dramáticas com uma piada, o que tira instantaneamente o peso delas.
Ele também falha ao usar a câmera em vários momentos importantes, tendo em vista que as sequências do Aranha se balançando na teia sempre foram um ponto alto dos filmes de Sam Raimi e Marc Webb (que particularmente, é impecável nesse quesito).
As tomadas carregadas de CGI e uma câmera com medo de mostrar os ângulos mais abertos, deixam Tom Holland como se estivesse preso em um enquadramento apertado, sem liberdade para se movimentar.
Talvez a única cena em que a combinação entre CGI e a câmera de Watts tenha funcionado perfeitamente, seja durante a batalha entre o Homem Aranha e o Dr. Estranho na Dimensão Espelhada, que dependia muito dos efeitos visuais.
Ainda assim, precisamos admitir que a interação entre os vilões é um ponto alto do longa, e aqui, o diretor consegue compensar as falhas de fotografia, com muito carisma e ótimos momentos de nostalgia.
Com o “defeito” no feitiço do Dr. Estranho, temos o retorno dos principais antagonistas de Maguire e Garfield, com Alfred Molina reprisando seu papel de Otto Octavius, que recebe mais tempo de tela, e parece estar se divertindo em retornar para o personagem.
Willem Dafoe continua tão intimidador quanto antes com seu Duende Verde, finalmente sem a máscara, tendo em vista que ele consegue ser mais assustador que qualquer fantasia.
Na verdade Norman Osborn acaba ganhando o status de grande ameaça, sendo responsável pela maior tragédia do longa, e consequentemente por causar um grande trauma na vida de Peter Parker.
Molina e Dafoe tiveram mais espaço no enredo e foram responsáveis pelas sequências mais emocionantes do filme, mas podemos dizer que isso provavelmente é um crédito obtido pelos filmes de Raimi, que entregaram personagens bem mais desenvolvidos.
De fato, Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa teve a tarefa simples de explorar dramas já bem estabelecidos, mas não podemos negar que o grande hype em torno da produção se deu por conta do suspense sobre o possível retorno de Tobey Maguire e Andrew Garfield.
E sim, os dois atores estão mesmo de volta, ainda que a presença deles seja reduzida em alguns aspectos, muito por conta de todo o segredo que foi feito em torno das filmagens.
Dessa forma, a direção fica limitada à agenda apertada do elenco e aos cenários restritos, mas é inevitável dizer que existe uma enorme satisfação em rever esses atores reprisando seus papéis e interagindo entre si.
As cenas mais emocionantes envolvendo os três Homens Aranha, acontecem muito mais pelo repertório antigo que temos com eles, do que por algo implementado pelo roteiro de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa.
Cenas memoráveis, como Tobey Maguire incentivando Andrew Garfield a dizer que era “espetacular”, funcionam muito bem, por conta da bagagem que temos com os filmes do passado.
Também foram inseridas muitas falas recicladas e reencontros, que são ótimos mecanismos para prender o emocional do público, além de entregar grandes doses daquele fan-service tão afetivo que todos nós adoramos.
Quando Maguire vê Molina pela primeira vez, dá pra sentir todo o peso que os seus personagens representam para a franquia, e como os atores pareciam genuinamente emocionados com o encontro.
Mas talvez o maior acerto de todos os retcons que esse filme acabou fazendo, foi o de adicionar uma conclusão digna ao arco extremamente dramático do Peter Parker de Andrew Garfield.
A maneira como sua jornada foi interrompida no segundo filme, sempre nos pareceu como uma injustiça à performance do ator, e além disso, hoje conseguimos enxergar que existem alguns pontos altos no trabalho de Marc Webb.
O longa traz linhas de diálogo para fechar o arco do Espetacular Homem Aranha, além de incluir a ótima cena em que ele salva MJ de uma queda, ficando emocionado por ter feito o que não conseguiu no passado.
A jornada de Tobey Maguire, de certa forma foi concluída nos filmes anteriores, e não há muito o que fazer com seu personagem desta vez, a não ser utilizá-lo como um membro mais experiente da equipe.
Felizmente, Jon Watts manteve seu Peter Parker bastante consistente com a versão de Sam Raimi, e podemos notar isso durante a batalha final com o Duende Verde, quando ele impede que Tom Holland de se vingar do vilão, da pior maneira possível.
No final, conseguimos ter uma base de como será o Homem Aranha daqui pra frente, se ele realmente continuar no MCU, que é basicamente um retorno aos traços originais do Peter Parker das HQ’s.
É ótimo ver que ele não depende mais da tecnologia de Tony Stark para existir, e a decisão de deixar seus amigos sem memória, como uma maneira de se sacrificar por aqueles que ele ama, foi a última cartada de mestre.
Na verdade, isso foi quase como um pedido de desculpas para os fãs mais conservadores, que não suportavam ver um Peter Parker tão mimado, e nada parecido com o herói bad-ass que estávamos acostumados.
De fato, Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é um evento tão grande, ou até maior do que “Vingadores: Ultimato”, e provavelmente você verá essa comparação sendo feita por muito tempo.
A batalha contra o Titã Louco é um fechamento digno para uma década de filmes no Universo Cinematográfico da Marvel, mas a bagagem do Homem-Aranha nas telonas é bem maior, na verdade é o dobro disso.
Sem contar que este longa estabelece de uma vez por todas, o conceito do Multiverso no UCM, que com certeza ainda será muito utilizado daqui pra frente, não só pelos filmes da Marvel, mas também por outros estúdios, como a DC por exemplo.
Mesmo que Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa precise de 20 anos de contexto para alcançar o peso que têm, o longa estrelado por Tom Holland é um verdadeiro presente para os fãs do Homem-Aranha.
A proposta da Marvel ao realizar este filme em parceria com a Sony, foi exatamente mostrar a importância que o personagem representa para sua história, e ao mesmo tempo, trazê-lo de volta às suas origens.
Essa é uma daquelas produções em que precisamos observar e comentar cada cena, para não deixar escapar nenhuma referência ou easter-egg, e muito disso se deve à extrema popularidade do Homem-Aranha, construída ao longo do tempo.
Porém, muito mais do que apenas fan-service, Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa representa a transformação de Peter Parker em um herói independente, e que a partir de agora, deverá traçar seu próprio caminho no UCM.
E aí cinéfilo, o que achou da nossa crítica de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa? Tem algum ponto de vista diferente? Ou vários?
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