“A Bússola de Ouro”, se passa em uma Terra alternativa, o Magistério exerce controle sobre as crenças, reprimindo o conhecimento sobre a misteriosa Poeira. Nesse mundo, cada pessoa possui um daemon, a manifestação animal de sua alma, que muda de forma na infância e se fixa na puberdade. Lyra Belacqua, órfã criada no Jordan College com seu daemon Pantalaimon, descobre que seu tio, Lorde Asriel, estuda a Poeira no Polo Norte e acredita que ela se conecta a mundos paralelos, o que ameaça o poder do Magistério.
Enquanto isso, sequestradores conhecidos como Gobblers raptam crianças, incluindo Roger, melhor amigo de Lyra. A influente Marisa Coulter a convida para morar com ela, mas Lyra logo descobre que Coulter lidera os Gobblers. Antes de partir, o Mestre do colégio entrega a Lyra um aletiômetro, capaz de revelar a verdade, instruindo-a a mantê-la em segredo. Após ser capturada, Lyra é resgatada pelos egípcios.
Com a ajuda do aletiômetro, Lyra aprende a usá-lo e recebe apoio de Serafina Pekkala. Em Trollesund, ela conhece o aeronauta Lee Scoresby e o urso de armadura Iorek Byrnison, um príncipe exilado que recupera sua honra ao derrotar o usurpador Ragnar Sturlusson. Juntos, seguem até Bolvangar, onde o Magistério realiza experiências cruéis separando crianças de seus daemons através da “intercessão”.
Capturada, Lyra descobre que Coulter é sua mãe e que Lorde Asriel é seu pai. Coulter tenta convencê-la de que a intercessão protege as crianças da corrupção da Poeira, mas Lyra resiste, engana a mãe e destrói a máquina. Com a ajuda de Iorek, Scoresby, os egípcios e as bruxas, as crianças são libertadas. Em fuga, Lyra ouve de Serafina sobre uma profecia que a coloca no centro de uma guerra contra o Magistério, que busca impor seu domínio sobre todos os mundos, ela promete lutar contra essa tirania.
Direção de A Bússola de Ouro
A direção de “A Bússola de Ouro” foi conduzida por Chris Weitz, um cineasta com uma curta filmografia. Apesar de ter dirigido poucos filmes, algumas adaptações de Weitz são bem interessantes, como “Crepúsculo: Lua Nova”. Apesar do diretor não projetar uma identidade visual característica, ele trabalha bem com filmes leves e de comédia. Em “A Bússola de Ouro” ele usou estratégias que saem fora da tangente. Por exemplo, o cineasta apostou em cenários imponentes e efeitos digitais para dar escala ao universo, com destaque para a cidade alternativa de Oxford, os ursos polares guerreiros e as paisagens geladas.
Os diálogos excessivamente expositivos, que parecem artificiais e pouco naturais, são o que prejudica bastante a qualidade do filme. Em vez de permitir que a narrativa se desenvolva de maneira natural, os personagens frequentemente aparentam explicar conceitos ao público de forma artificial, o que prejudica a imersão.
Ademais, mesmo que cada cena tenha sua estrutura básica de início, desenvolvimento e conclusão, as resoluções costumam ser abruptas ou resumidas, criando a impressão de que a sequência foi interrompida no meio. Isso resulta em uma falta de fluidez e provoca transições ainda mais estranhas, entre as cenas, dando a impressão de que o filme é uma colagem apressada de trechos que não se resolvem completamente. Dessa maneira, o cineasta Chris Weitz se destacou pela estética e impacto visual do em A Bússola de ouro, porém deixou muito a desejar no desenvolvimento da narrativa.
Em que foi baseado a Bússola de Ouro?
O filme “A Bússola Dourada” (2007) é uma adaptação direta do livro “Northern Lights” (Luzes do Norte no título britânico; lançado nos EUA como The Golden Compass), primeiro volume da trilogia “His Dark Materials” (Fronteiras do Universo) do autor britânico Philip Pullman. O livro tem um tom. Apesar do livro ser contado através do ponto de vista da pequena Lyra, o tom da narrativa passa bem longe de ser infantil. O livro se aprofunda em temas pesados como perda, manipulação, e opressão.
Outro exemplo é que no livro, o final é sombrio e impactante: Lorde Asriel sacrifica Roger para abrir a ponte para outros mundos, estabelecendo a base da continuação. No filme, essa cena é cortada, encerrando a história de forma otimista com Lyra e Roger.
O primeiro livro da trilogia não ganhou tantos prêmios, mas algumas das conquistas do filme inclui Guardian Children ‘s Fiction Prize. A obra de Philip Pullman se popularizou bastante nos EUA por misturar fantasia, e um sombrio suspense. O livro se tornou um sucesso comercial, e mais de 22 milhões de cópias foram vendidas, entre 50 países. Vale ressaltar que há diferenças entre o livro e o filme, falaremos isso em seguida.
Orçamento e bilheteria de A Bússola de Ouro
“A Bússola de Ouro” estreou em 2007 nos cinemas dos Estados Unidos, e falando somente da bilheteria doméstica o filme ficou bem abaixo das expectativas, arrecadando apenas US$ 70 milhões nos EUA e Canadá. Por outro lado, a medida em que a adaptação estreou nos cinemas mundiais mostrou um desempenho crescente. No final das contas, o filme arrecadou US$ 300 milhões na bilheteria mundial. Apesar de ter arrecadado bem mundialmente, “A Bússola de Ouro” custou US$ 180 milhões.
O bom desempenho internacional de A Bússola Dourada se deveu ao forte apelo visual, à menor relevância da polêmica religiosa fora dos EUA e à já consolidada base de fãs dos livros de Philip Pullman em diversos países, especialmente na Europa.
Naquele mês, “A Bússola de Ouro” disputou a atenção do público com outros filmes bem diferentes como “Encantada”, “A Lenda de Beowulf”, e “Onde os Fracos Não Tem Vez”. Parando para pensar é interessante como o mercado cinematográfico era bem mais distribuído naquela época, diferente de hoje quando todo tipo de sucesso cinematográfico é protagonizado por filmes de super herois, e roteiros praticamente iguais. Por fim, podemos concluir que “A Bússola de Ouro” se saiu bem nas bilheterias.
Crítica
“A Bússola de Ouro” se encontra entre dois extremos, a direção de fotografia e efeitos visuais excelentes, e uma narrativa mal estruturada. Naturalmente esse filme dividiu opiniões entre o público. Por exemplo, no Rotten Tomatoes essa adaptação alcançou 51% de aprovação em uma escala de mais de 250 mil votos. Já no IMDB o filme alcançou 6.1/10 estrelas em uma escala de mais de 200 mil classificações.
As principais críticas negativas giram em torno do ritmo apressado do filme, apesar de ter uma longa duração e bastante espaço para desenvolvimento. Por exemplo, os personagens não receberam tempo suficiente para desenvolvimento emocional, especialmente Lyra e a relação dela com os egípcios e com Iorek. Particularmente, o filme é bom mas poderia ter sido ótimo se houvesse um roteiro mais elaborado.
Por que não houve continuação
A Bússola de Ouro apresenta um universo cativante, tão interessante quanto obras consolidadas como por exemplo “Animais Fantásticos”. Posto isso, a pergunta que fica é: “Por que não houve uma sequência?”. Para começar, o filme enfrentou boicotes religiosos, cortes e suavização impostos pelo estúdio que descontentaram os fãs, além de forte dependência do mercado internacional. Apesar da boa bilheteria global, o fraco desempenho nos EUA desmotivou Hollywood a seguir com a franquia. A soma de todos esses fatores tornou um futuro filme inviável.
Porém, há uma série que adapta a trilogia de livros escrita por Philip Pullman na HBO Max intitulada “His Dark Materials”. A série adapta os três volumes (A Bússola de Ouro, A Faca Sutil e A Luneta Âmbar), sem pular ou suavizar elementos centrais, como a crítica ao Magisterium e o final sombrio. A série é mais madura e lenta, com diálogos que respeitam a densidade filosófica da obra, abordando temas como livre-arbítrio, fé, ciência e poder.
Trilha sonora do filme
A trilha sonora de A Bússola de Ouro (2007) foi composta por Alexandre Desplat. Na época, esse musico já era reconhecido por criar músicas sofisticadas e emotivas em filmes como “A Rainha”, “Pinóquio“, “Harry Potter e as Relíquias da Morte“. Em geral, o álbum composto por Desplat se caracteriza por melodias delicadas e misteriosas associadas a Lyra e ao aletiômetro, transmitindo a sensação de descoberta e inocência.
Em contraste, as faixas ligadas ao Magisterium e a Marisa Coulter trazem tons mais sombrios e ameaçadores, refletindo a opressão do sistema. Além disso, há outros compositores que contribuíram para o álbum do filme como Katie Bush que compôs a faixa principal, “Lyra”. A trilha sonora de “A Bússola de Ouro” ajuda bastante a nos envolver na trama do filme mas não o suficiente para ofuscar os péssimos diálogos.
Conclusão
Philip Pullman, autor da trilogia, sempre disse que sua crítica era dirigida a instituições que concentram poder e controlam pensamento. No livro, o Magisterium é retratado como uma organização totalitária, com traços religiosos, mas funcionando mais como uma metáfora do Estado autoritário (ou qualquer estrutura de poder centralizada que manipula o povo). Particularmente, essa proposta forte faz valer a pena assistir e assistir ao filme. Principalmente, porque o filme “A Bússola Dourada” é uma porta de entrada para uma leitura que aprofunda temas políticos, religiosos, e culturais. Isso tudo torna “A Bússola de Ouro” uma obra atemporal, que alcança e encanta para muito mais além dos livros. Até a próxima!















