John Carmack, o grande gênio por trás das franquias Doom, Quake e boa parte do DNA técnico da era moderna dos games, resolveu atirar onde dói: a ineficiência dos softwares.
Talvez o verdadeiro colapso tecnológico não venha da falta de chips, mas da abundância desnecessária.
Em um post recente no X (antigo Twitter), o lendário programador comentou um experimento mental proposto por LaurieWired, engenheira do Google, que especulava um futuro onde a humanidade simplesmente… esquecesse como fabricar novos chips.
I have also run this fun thought experiment! More of the world than many might imagine could run on outdated hardware if software optimization was truly a priority, and market price signals on scarce compute would make it happen. Rebuild all the interpreted microservice based… https://t.co/lmE9oF07YQ
O chamado “Z-Day” — dia zero de tape-out — marcaria o fim da produção de novos processadores. A partir dali, o planeta teria que sobreviver apenas com o que já foi fabricado. Nada de upgrades, nada de novas gerações. Um apocalipse técnico.
Então, Carmack viu aí uma oportunidade de reflexão. E disparou:
“Boa parte do mundo continuaria funcionando com hardware antigo se a otimização de software fosse realmente uma prioridade.”
A crítica é certeira — e desconfortável para a indústria.
Obsolescência Programada
Na visão de Carmack, vivemos num universo digital construído sobre camadas e mais camadas de código inflado, bibliotecas genéricas e frameworks preguiçosos, tudo empilhado como um castelo de cartas sobre máquinas cada vez mais caras.
Quando falta poder de fogo, inventa-se IA para remendar performance, como no caso de DLSS e FSR. Mas e se, em vez disso, escrevêssemos código de verdade, mais enxuto, mais eficaz?
Enquanto sistemas modernos exigem gigabytes de RAM para abrir um navegador e jogos AAA precisam de placas gráficas de quatro dígitos para rodar a 60 fps, Carmack nos lembra que há uma escolha sendo feita — e não é tecnológica, é cultural.
Escolhemos desperdício, porque ficou mais fácil comprar poder de processamento do que pensar em eficiência.
O cenário imaginado por LaurieWired — de mercados clandestinos de CPUs, governos racionando chips e a população sobrevivendo com Game Boys e Commodores — soa distópico, mas a metáfora é clara: a escassez tornaria a otimização uma necessidade urgente, e não uma opção negligenciada.
Para John Carmack, esse futuro é evitável — mas apenas se tivermos coragem de romper com o ciclo vicioso da obsolescência programada. Em vez de depender de upgrades constantes, ele propõe uma mudança de mentalidade: voltar às raízes da engenharia de software, à elegância do código enxuto, à maximização do que já temos.
É uma crítica que ecoa além dos bits e bytes. Toca o consumismo acelerado, a superficialidade do desenvolvimento moderno e a crise de sustentabilidade digital que ninguém quer encarar.
Afinal, se nossos sistemas já fazem tanto com tanto… imagine o que poderiam fazer com menos, se fossem realmente bem feitos.