The Matrix é um filme que mistura ficção científica, muita ação e artes marciais super bem coreografadas, para abordar diversas conotações filosóficas, dissertando sobre o destino da humanidade e as condições que podem conduzi-la ao seu fim.
Extremamente perturbador e intrigante, o longa marcou uma geração inteira, não só pelos efeitos especiais e cenas inovadoras, mas principalmente por sua temática que consegue ser futurista e ao mesmo tempo envolvente.
Matrix é bem mais do que uma obra de ficção comum, pois definiu uma série de elementos, que seriam utilizados em diversas outras produções futuras, e que na verdade, estão presentes até os dias de hoje no cinema.
O filme contém numerosas referências a ideias filosóficas e religiosas, e homenageia textos como a “Alegoria da Caverna” de Platão, “Simulacros e Simulação“ de Jean Baudrillard e “Alice no País das Maravilhas“ de Lewis Carroll.
Parte de uma trilogia que inclui ainda, “Matrix: Reloaded” e “Matrix: Revolutions”, o filme se tornou um ícone dentro do universo “cyberpunk”, um subgênero de ficção científica caracterizado principalmente pelo avanço da tecnologia e a precariedade da vida.
A trama mostra um futuro completamente desolado e sem nenhuma esperança para os humanos, que esgotaram todos os recursos do planeta para deter as máquinas que eles próprios criaram.
The Matrix se caracteriza como uma distopia, ou seja, um tipo de narrativa que se passa em um universo regido por um sistema opressor e totalitário, onde a população não tem liberdade ou controle sobre suas ações.
Na história, a humanidade se encontra aprisionada em uma realidade simulada, embora não tenha consciência disso. Esse mundo virtual, chamado “A Matriz” ou “The Matrix”, foi desenvolvido pelas máquinas, para manter a população sob seu domínio.
Os humanos se tornaram tão dependentes da tecnologia que acabaram sendo completamente subjugados por ela, se tornando apenas baterias para alimentá-las, sem sequer saber disso.
Lançado em março de 1999, pouco antes do “bug do milênio”, que na verdade não passava de especulação, a obra expressa as preocupações e as angústias de uma sociedade que se encontra em constante evolução digital.
O filme foi responsável por popularizar o efeito conhecido como Bullet-time, no qual a percepção de certos personagens, permite que a ação dentro de um curto espaço de tempo aconteça em câmera lenta, enquanto o ponto de vista da câmera parece se mover pela cena em velocidade normal.
Matrix foi dirigido pelas irmãs Lilly e Lana Wachowski, que também assinam o roteiro, sendo produzido por Joel Silver (“A Casa de Cera“- 2005) e distribuído pela Warner Bros., com trilha sonora composta por Donald Romain (“Jurassic Park 3“- 2001).
O longa obteve uma arrecadação de US$ 171 milhões, somente nos Estados Unidos e Canadá, e US$ 292 milhões em outros países, com um total mundial na casa dos US$ 465 milhões nas bilheterias.
The Matrix foi aclamado pela crítica especializada, com 87% de aprovação no Rotten Tomatoes, e acabou faturando os quatro Oscars a que foi indicado, nas categorias, “Melhor montagem”, “Melhor mixagem de som”, “Melhor edição de som”, “Melhores efeitos visuais”.
Personagens Principais de Matrix
Neo
Thomas A. Anderson (Keanu Reeves) é um hacker que utiliza o nome Neo para não ser detectado pelas autoridades. Ele é recrutado por Morpheus e Trinity para ajudar a salvar a humanidade da escravidão.
Morpheus
Morpheus (Laurence Fishburne) é o líder da resistência humana contra a dominação das máquinas que conhece todos os truques da Matrix e tem a certeza de que encontrará o Escolhido. Ele se torna o mestre de Neo.
Trinity
Trinity (Carrie-Anne Moss) é uma hacker famosa, que assim como Thomas Anderson, também escapou da realidade simulada Matrix. Ao longo da trama ela acaba ficando muito próxima de Neo e se apaixonando por ele.
Agente Smith
Agente Smith (Hugo Weaving) representa a autoridade na Matrix, a sua responsabilidade é manter a ordem e neutralizar a ação da resistência. Ele possui habilidades que o tornam um inimigo quase impossível de se derrotar.
Cypher
Cypher (Joe Pantoliano) faz parte do movimento de resistência, mas não gosta nem um pouco das durezas da vida real. Ele carrega um ressentimento contra Morpheus, que lhe mostrou a verdade sobre a Matrix, mesmo sabendo que não poderia voltar atrás.
O Oráculo
O Oráculo (Gloria Foster) é uma mulher que aparenta ter meia idade, mas está ao lado da resistência desde o começo. Sua clarividência permite que ela adivinhe o futuro, profetizando que Morpheus irá encontrar o Escolhido e que Trinity vai se apaixonar por ele.
O Enredo de Matrix
Thomas A. Anderson é um programador que trabalha para uma companhia de softwarers. A noite ele se transforma em um hacker, invadindo sistemas de computador ilegalmente, para roubar informações confidenciais sob o apelido de Neo.
Neo depara-se frequentemente com uma pergunta: “O que é a Matrix?”. Na busca por respostas, ele se vê no encalço de um suposto “terrorista” conhecido apenas como Morpheus.
Quando Neo finalmente consegue contata-lo, acaba sendo perseguido e capturado por agentes muito estranhos, que parecem pertencer a alguma organização do governo que descobriram as suas atividades ilegais.
Perante a recusa em cooperar, eles implantam um software eletrônico no seu corpo para poderem monitoriza-lo. Logo ele conhece Trinity, uma famosa hacker que o incentiva a procurar a verdade sobre a Matrix.
Ela remove o localizador e o leva até Morpheus que o recebe e lhe oferece uma escolha, manter-se na sua vida quotidiana e no seu mundo, ou saber finalmente o que existe por trás da Matrix. Neo aceita a segunda opção, tomando um comprimido vermelho ao invés do azul.
Ele acorda desorientado, fraco, sem pelos e nu em uma cápsula cheia de líquido, com uma série de conectores implantados na sua pele, ligados a cabos. À sua volta vê apenas um número incontável de cápsulas iguais à dele, sob um céu constantemente negro.
Uma máquina o desliga do sistema, onde Morpheus e Trinity, vestidos com outras roupas, o resgatam e o levam para Nabucodonosor, a nave onde operam, juntamente com uma equipe de vários membros.
O corpo de Neo precisa se recuperar dos anos que passou dentro da cápsula, e logo que ele ganha consciência e capacidade motora, Morpheus conta-lhe finalmente a verdade.
O capitão da nave revela que o mundo que ele conhece não existe na realidade, mas faz apenas parte de uma simulação interativa neural, chamada Matrix.
Na realidade, a humanidade vive um futuro pós-apocalíptico, onde as máquinas dotadas de Inteligência Artificial foram aperfeiçoadas ao ponto de adquirirem auto-consciência.
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Desse modo, uma grande guerra foi iniciada, com os humanos tentando desesperadamente destruir as máquinas, pois temiam ser ultrapassados por elas.
Perante a derrota eminente, a humanidade tentou sua última estratégia, cobrindo o céu quimicamente com nuvens negras, de forma a bloquear o acesso das máquinas ao Sol, sua principal fonte de energia.
O plano falhou, e os seres humanos passaram a ser “cultivados” em enormes campos, dentro de cápsulas, servindo como fonte de bioeletricidade para as máquinas. A Matrix foi criada para elas poderem controlar as suas consciências.
Os poucos, aqueles que conseguiram se libertar criaram uma resistência, que se concentra em uma cidade subterrânea chamada Zion, onde as pessoas ainda podem nascer livres.
Morpheus fala para Neo sobre a profecia de que um humano denominado “O Escolhido” ou “The One”, iria liderar a resistência e ganhar a guerra contra as máquinas. Ele acredita cegamente que Neo é esse homem.
Os humanos libertados da Matrix, criaram um modo de entrar e sair dela, conectando os seus cérebros e percorrendo a simulação. Cabe a eles agora, descobrir se Neo é realmente o Escolhido, e juntos encontrarem um modo de derrotar o sistema opressor imposto pelas máquinas.
Análise filosófica de Matrix
O bem e o mal
Um dos pontos interessantes de Matrix, é que o enredo nos leva à uma reflexão intensa sobre as nossas próprias atitudes enquanto espécie dominante no planeta.
Embora exista uma resistência que simboliza a luta pelo bem e pela libertação da espécie humana, a abordagem utilizada por Smith, aponta os efeitos devastadores que a humanidade deixou na Terra.
“Os seres humanos são como uma doença… São um câncer para este planeta!”
Segundo Sócrates, o bem não é algo superficial, mas sim, algo que deveria ser buscado através da razão e do exame crítico e reflexivo das crenças tidas como boas por si mesmas.
Já o mal, é a ausência da sabedoria, de modo que ninguém seria mal por vontade própria, e sim apenas por ignorância, e por não entender que seria o verdadeiro bem.
A narrativa do filme sempre busca abordar essa divisão singela entre bem e do mal, que muitas vezes aparenta não se aplicar, pois apesar de tudo que estão passando no momento, no passado os homens também oprimiram, mesmo tendo consciência disso.
Contudo, as Wachowski brincam com a ideia de comparar o comportamento dos indivíduos presos na Matrix, ao das inteligências artificiais de hoje, que foram criadas somente para cumprir a sua função, sem perceber que estão sendo explorados.
Penso, logo existo
O filósofo francês René Descartes, que viveu entre os séculos XV e XVI, é mais um dos pilares em que Matrix se sustenta. Ele é autor de uma das expressões mais famosas da filosofia ocidental, “Cogito, ergo sum” ou “Penso, logo existo”.
A capacidade de raciocínio, não só lógico, mas também intuitivo, é o que diferencia os seres humanos das máquinas. Neo foi capaz de duvidar de seus próprios sentidos e da “programação” enquanto estava vivendo na Matrix, e se libertou por causa da sua intuição.
Todas as experiências de sua vida, como sabores, texturas e ruídos, de fato haviam sido geradas artificialmente, mas as máquinas não o privaram da capacidade de pensar, e foi isso que ele utilizou, para sair daquela situação.
Na verdade, essa é mais uma das várias lições que o enredo é capaz de proporcionar, tendo em vista que a humanidade nos dias atuais, parece estar vivendo no automático, e deixando de utilizar a capacidade de raciocínio para se libertar das imposições de um sistema cada vez mais corporativo.
Vale lembrar que o filme foi lançado em 1999, com essa analogia se encaixando perfeitamente no contexto social vivido duas décadas depois, e ainda aparenta aproximar-se cada vez mais da realidade.
Simulacros e Simulação
Nos primeiros minutos do filme, Neo esconde um disquete contendo conteúdos ilegais, no interior de um livro, que foi escrito pelo sociólogo francês Jean Baudrillard, intitulado Simulacros e Simulação.
Na verdade, se trata de um tratado filosófico, publicado em 1981, que defende a ideia de vivermos em uma sociedade onde os símbolos e as representações abstratas, se tornaram mais importantes do que a própria realidade.
Dessa forma, todos nós estaríamos sob o domínio do simulacro, uma espécie de cópia que representa elementos que nunca existiram ou que não possuem mais o seu equivalente na realidade, mas que se tornam mais atraentes do que a verdade.
Contudo, a partir do momento que se ganha a consciência de estar em um ambiente simulado, é possível tentar controlá-lo, mudando as suas regras e usando a sua plasticidade contra ele.
As irmãs Wachowski sempre admitiram a influência da obra de Jean Baudrillard no roteiro, mas estranhamente o autor pareceu não ter gostado muito da utilização de sua composição, como um dos elementos do filme.
Mesmo que Matrix tenha transformado um tratado filosófico que se opõe à cultura produzida para as “massas”, em mais conteúdo de “massa”, é inegável que o filme tenha feito a “massa” pensar sobre a ideia que o autor tentou passar em sua obra.
Siga o Coelho Branco
Desde o início da aventura de Neo, são inseridas diversas referências à obra infantil escrita por Lewis Carroll, “Alice no País das Maravilhas”, publicada em 1865.
Tal como a protagonista da história, nosso herói está entediado com a sua vida e com a realidade que o rodeia. Por esse motivo ele atua durante a noite como um hacker, cometendo delitos informáticos que sequer são bem remunerados.
Um dos detalhes mais marcantes, que faz o elo entre as duas obras, se passa enquanto ele está dormindo sobre o teclado, e acaba sendo acordado por duas mensagens que aparecem na sua tela.
A primeira ordena que ele acorde, e a segunda lhe passa a informação:
“Siga o coelho branco”
Simultaneamente, Choi e Dujour, um casal de conhecidos acompanhados por alguns amigos, batem à sua porta para oferecer um trabalho.
Quando eles estão se despedindo, Neo repara que a mulher possui um coelho branco tatuado no ombro. Por esse motivo, decide aceitar o convite deles para uma festa, e lá acaba tendo seu primeiro contato com Trinity.
Por sua curiosidade, Neo pode ser comparado à Alice, pois ambos são movidos pela existência de algo que está oculto, e a possibilidade de interagir com uma nova realidade, completamente diferente.
Além disso, os nomes “Choi” e “Dujour” unidos, formam a palavra choi du’jour, que pode ser traduzida em um francês coloquial, como “Escolha do Dia”.
Isso nos leva a entender que mesmo com o caminho sendo apontado, somente nossas ações podem determinar onde e como iremos chegar ao destino.
Na verdade, Matrix é recheado de detalhes, quase subliminares, e poderíamos ficar discutindo por muitas linhas, sobre cada um deles.
Por exemplo, Neo é um anagrama de One ou “The One”, como eles chamam “O Escolhido”, e Zion, a única cidade humana de resistência ao império das máquinas, tem esse nome em alusão ao Reino de Deus, para onde vão os justos após a destruição da Terra.
A nave de Morpheus no filme se chama Nabucodonosor, uma referência ao rei da Babilônia, que era obcecado por interpretar os sonhos que o atormentavam.
Mas particularmente, acreditamos que a ideia principal das autoras, seja fazer o público pensar sobre a maneira como cada ser humano lida com as próprias escolhas.
A realidade é construída a partir das opções que são colocadas a todo instante em nossas vidas, com uma capacidade inimaginável de variáveis possíveis, onde temos a capacidade de moldar cada aspecto de nossa existência.
Entretanto, mesmo tendo a noção de que tudo ao nosso redor depende das atitudes que tomamos, utilizando o livre arbítrio que nos foi concedido, é impossível prever como as mudanças irão interagir com o meio, e quais serão as consequências dessa ação.
E aí cinéfilo, qual pílula você escolheria no lugar de Mr. Anderson, azul ou vermelha? Deixe sua opinião nos comentários e continue seguindo as notícias e análises feitas pela equipe Proddigital POP e nos ajude a continuar crescendo!