Após ser barrado na Arábia Saudita e em diversos outros países do Oriente Médio devido à presença no filme de uma personagem lésbica, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura pode também não estrear na China. Dessa vez o motivo seria outro. Segundo reportagem do site norte-americano Deadline, um “frame” de uma sequência inicial do filme seria responsável por toda a polêmica. Assista abaixo, a cena que teria causado a polêmica e veja se você consegue perceber onde está o “problema”.
A cena mostra Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) lutando contra Gargantos nas ruas de Nova York. A certa altura, no fundo da cena, é mostrado um quiosque de jornais, em que aparece, em chinês, uma menção ao jornal Epoch Times. O veículo de imprensa é um forte opositor do Partido Comunista Chinês, que governa o país desde 1949.
Para qualquer expectador “comum” a menção ao jornal é praticamente imperceptível, já que dura menos de um segundo no ar. Contudo, “netizens” chineses (cidadãos muito ativos na internet e que, muitas vezes, colaboram com o governo chinês) teriam feito uma análise quadro-a-quadro da cena, que em sua integridade tem pouco mais de um minuto, e teriam percebido a menção.
O fato causou burburinho e polêmica nas redes sociais chinesas e seguramente chegou aos ouvidos das autoridades do governo da China. Segundo a reportagem do Deadline, o governo chinês ainda não teria emitido o certificado para a exibição do filme no país e depois dessa polêmica, a emissão parece bastante improvável. A Disney, estúdio que é dono da Marvel e responsável pela distribuição mundial da obra, ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso, mas seus diretores devem estar, seguramente, bastante frustrados.
Isso porque, nenhum filme da Marvel estreia na China desde Vingadores: Ultimato, em 2019. Diversas super-produções do estúdio ficaram fora do país, incluindo, Viúva Negra, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, Eternos e Homem-Aranha: Sem Volta para Casa. Por isso, tanto a Marvel quanto a Disney, esperavam que Doutor Estranho no Multiverso da Loucura quebrasse essa sequência e fosse exibido no país. Além da pandemia de COVID-19, fatores políticos também foram responsáveis pelo fato de nenhum desses filmes ter estreado em território chinês.
Eternos, por exemplo, foi dirigido pela diretora Chloé Zhao que, apesar de ser chinesa, é “persona non grata” no país. Já Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, apesar de ser completamente baseado em elementos da cultura chinesa, teria sido prejudicado por uma declaração polêmica dada por seu protagonista, o ator chino-canadense Simu Liu. Em uma entrevista em 2017, ele teria dito que, quando era criança, seus pais diziam que a China era “um país de terceiro mundo” onde as pessoas “morriam de fome”. Já no caso de Viúva Negra, o problema teria sido a forma negativa como o comunismo, de forma geral, é retratado no filme.
Atualmente, o mercado chinês é um dos maiores do mundo para filmes e os produtores hollywoodianos, obviamente, querem explorá-lo. Só para se ter uma ideia, o primeiro filme do Doutor Estranho (2016), por exemplo, arrecadou mais 100 milhões de dólares só no mercado chinês. O filme fez quase 700 milhões em bilheterias no mundo todo. Já Vingadores: Ultimato (2019) arrecadou, só no país, 629 milhões de dólares de um total de quase 2,8 bilhões de dólares que o filme arrecadou no mundo todo.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é um dos filmes mais aguardados do ano e a pré-venda de seus ingressos já superou os recordes de The Batman e de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa. Especialistas do mercado esperam que o filme lidere com folga as bilheterias em seu fim de semana de estreia e arrecade pelo menos 490 milhões de dólares, só nos Estados Unidos, durante sua passagem pelas salas de cinema norte-americanas. O filme, se todas as previsões se confirmarem, deve superar The Batman e se tornar a obra cinematográfica mais vista do ano.