Os índices consolidados de audiência da cerimônia de entrega do Oscar no Estados Unidos foram divulgados nessa semana e a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS), instituição que entrega a premiação, teve notícias boas e ruins. Por um lado a audiência cresceu, mas esse crescimento foi muito pequeno. Tão pequeno que é até difícil chamar de crescimento. E isso fez com que a Academia fique ainda muito longe de poder sonhar com números de audiência parecidos com os que o Oscar atingia antes da pandemia.
No entanto, o índice de audiência da cerimônia de entrega do Oscar cresceu em determinadas faixas importantes da população norte-americana, o que pode fazer com que a Academia sonhe com tempos melhores para o Oscar. Além disso, transmitir a cerimônia também no streaming parece ter sido uma decisão acertada. Assim como também parece ter sido a escalação de Conan O’Brien como anfitrião da cerimônia. Abaixo falaremos tudo sobre isso.
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Segundo os números oficiais da Nielsen, instituto que mede as audiências televisivas nos Estados Unidos, a cerimônia de entrega do Oscar atraiu uma média de 19.7 milhões de pessoas durante suas quase quatro horas de duração. Isso são 200 mil pessoas a mais dos que as 19.5 milhões de espectadores de média atraídas pela cerimônia do ano passado. Isso significa uma aumento de audiência de apenas 1% em relação a 2025. É claro que um aumento de audiência é sempre algo a se comemorar, independente de seu tamanho.
No entanto, é óbvio que os organizadores do Oscar esperavam que os números de audiência crescessem mais. Ainda mais, porque o sonho deles é tentar pelo menos se aproximar dos números que a cerimônia obtinha antes da pandemia de COVID-19. A última cerimônia do Oscar ocorrida antes da pandemia, em 2020, atraiu uma média de 23.6 milhões de espectadores. Ou seja, a cerimônia desse ano atraiu quase 4 milhões de espectadores a menos do que em 2020.
E olha que a cerimônia daquele ano já registrava um recorde negativo, já que 2020 havia sido o ano de pior audiência em toda a história do Oscar. Sendo que, naquele ano, a queda havia sido de 20% em relação ao ano anterior, quando 29.6 milhões de pessoas assistiram a cerimônia. Ou seja, atualmente, o Oscar briga para tentar ao menos equiparar os piores índices de audiência que sua cerimônia de entrega havia registrado na história, antes da pandemia.
E nem estamos aqui fazendo comparações com a época de ouro do Oscar, quando a cerimônia de entrega passava facilmente dos 50 milhões de espectadores de média. Em 1998, a cerimônia mais vista da história do Oscar desde que as audiências começaram a ser medidas em 1974, foi assistida por mais de 57 milhões de pessoas em média, sendo que mais de 87 milhões de pessoas assistiram pelo menos alguma parte da cerimônia.
Além disso, naquele ano, a festa do Oscar atingiu quase 25 pontos de audiência e mais de 44% de share (ou seja, a porcertagem de espectadores assistindo a um programa televisivo) entre os espectadores de 18 a 49 anos de idade, o público normalmente mais valorizado pelo mercado publicitário nos Estados Unidos. Esses são números inimagináveis para o cenário atual.
Só para se ter uma ideia, há menos de 10 anos atrás, a cerimônia do Oscar atingia traquilamente mais de 30 milhões de espectadores de média e a menos de 20 anos atrás, a audiência média era quase sempre superior há 40 milhões de espectadores. Agora, os organizadores do Oscar brigam para ao menos superar os 30 milhões de média de espectadores, que antes era algo garantido em uma cerimônia de entrega do Oscar.
Boas noticías para o Oscar
Mas não só de notícias ruins vive o Oscar. Além do pequeno aumento em audiência, que apesar de pequeno, é um aumento e, portanto, motivo para comemoração, os números da audiência da cerimônia dessa ano nos Estados Unidos, trazem alguns indicadores que podem dar algumas esperanças aos organizadores do Oscar. O primeiro deles é o crescimento de 19% em relação ao ano passado entre os espectadores de 18 e 49 anos de idade, a faixa etária da audiência mais valorizada pelo mercado, nos Estados Unidos.
Nesse ano, a cerimônia de entrega do Oscar marcou 4.54 pontos de audiência nessa faixa etária contra 3.8 pontos no ano passado. Com isso, o Oscar voltou a ser a cerimônia de premiação mais assistida por pessoas dessa faixa etária, posto que ele havia perdido para o Grammy no ano passado. Além disso, na faixa etária de pessoas entre 18 e 34 anos também houve crescimento de espectadores, registrando a maior audiência do Oscar entre esse público nos últimos cinco anos.
Isso mostra que, provavelmente, os organizadores do Oscar acertaram em também transmitir a cerimônia de entrega da premiação no Hulu. Essa é a primeira vez que a cerimônia é transmitida em uma plataforma de streaming. A Nielsen não revela a porcentagem de espectadores que assistiram a cerimônia através do streaming e a que assistiu através da transmissão regular na televisão.
No entanto, o aumento signficativo de audiência entre a população jovem, que é adepta das plataformas de streaming, mostra que provavelmente essa audiência assistiu a cerimônia no Hulu. Apesar de a transmissão na plataforma ter apresentado problemas técnicos. É sabido que a televisão linear, essa que você liga e assiste a programação que está passando, está em decadência no mundo todo. E além disso, ela foi praticamente abandonada pelo público mais jovem. Muitos deles, inclusive, nunca assistiram a televisão linear na vida.
Dessa forma, se o Oscar conseguir atrair essa população mais jovem e melhorar sua transmissão via streaming, a cerimônia ainda pode ter um futuro longo pela frente. Talvez não um futuro na televisão, mas um futuro justamente no streaming. A ver, no entanto, como serão os índices de audiência nos próximos anos.
Outro motivo de comemoração para os organizadores do Oscar, foi que o pequeno crescimento na audiência consolida o quarto ano de crescimento seguido e a maior audiência do Oscar em cinco anos. E para além disso, o Oscar foi a única grande premiação norte-americada que não perdeu audiência nesse início de 2025 em relação ao ano passado. O Globo de Ouro, principal “concorrente” do Oscar nos Estados Unidos, atraiu uma média de 9.3 milhões de espectadores esse ano, contra uma média de 9.4 milhões no ano passado. Ou seja, 100 mil espectadores perdidos de um ano para o outro.
Já o Grammy, mesmo com todas as suas estrelas pops, também perdeu audiência em relação ao ano passado. Em 2025, a sua cerimônia de premiação atraiu em média 15.4 milhões de espectadores contra 16.9 em 2024. Ou seja, uma queda acentuada, que representa a perda de quase 1.5 milhões de espectadores entre um ano e outro. Com isso, o Oscar ainda é atualmente a mais popular cerimônia de premiação nos Estados Unidos.
E mais que isso, o Oscar se mantêm também como o evento não-esportivo mais visto dos Estados Unidos. Todos esses números positivos dão esperança para o futuro e também fornece algo para que os organizadores da cerimônia possam trabalhar, afim de conseguir obter resultados melhores nos próximos anos.
Causas para o momento atual da cerimônia de entrega do Oscar
As causas para o momento atual da cerimônia de entrega do Oscar são muitas. Em primeiro lugar, como dissemos antes, a televisão linear tradicional está em crise. Portanto, o hábito de parar para assistir um evento está cada vez mais em desuso. Até porque, com as plataformas de streaming, é possível reassistir praticamente qualquer coisa em qualquer momento que você quiser. Por isso, é difícil ver a cerimônia de entrega do Oscar atingindo os níveis de audiência que atingia nos anos 1990, por exemplo, onde era comum que as pessoas pausassem suas vidas para assistir determinados eventos na televisão.
Segundo, o próprio cinema mudou muito, assim como também mudou o hábito dos espectadores em relação a cinema. Novamente, o surgimento dos streamings fez com que os espectadores se divissem bastante. Por isso, poucos filmes atualmente conseguem realmente mobilizar o público, como antes. Além disso, mesmo quando o ano possui bons filmes que mobilizam o público e são indicados ao Oscar, isso não parece atrair o público para a cerimônia, como ocorria antes.
Muito da audiência no Oscar de 1998, sintonizou na cerimônia por causa de Titanic, filme que foi o mais visto do ano anterior e acabou vencendo todas as principais categorias do Oscar daquele ano. Dessa forma, todas aquelas pessoas que haviam visto Titanic no cinema, queriam vê-lo vencer o Oscar. No entanto, em 2024 tivemos o fenômeno “Barbenheimer”, mas mesmo com Barbie e Oppenheimer indicados nas principais categorias, isso não conseguiu atrair tanto público assim,
É certo que a audiência aumentou significativamente naquele ano. É quase certo também que se nesse ano houvessem filmes mais comercialmente viáveis na disputa é provável que a audiência fosse maior. Até porque, o favorito a vitória nesse ano era um filme independente que arreacadou apenas cerca de 42 milhões de dólares em bilheterias. No entanto, poucos acreditam que um filme de grande bilheteria poderia fazer com que a audiência da cerimônia do Oscar aumentasse tanto assim. Aliás, nem mesmo um fenômeno do tamanho de Titanic poderia operar esse milagre hoje em dia.
Além de tudo isso, o próprio Oscar mudou. A premiação perdeu muito da magia e da “autoridade” que tinha antes. É claro que ser indicado ou vencer um Oscar ainda é capaz de mudar a carreira de um profissional e também o destino de um filme. Produções independentes, como Anora e O Brutalista, por exemplo, nunca teriam arrecadado a bilheteria que arrecadaram, se não fossem suas indicações ao Oscar. Nem mesmo Ainda Estou Aqui seria o fênomeno de bilheteria que foi sem as indicações ao Oscar. Isso é inquestionável.
No entanto, o Oscar perdeu muito daquele seu poder “garantidor”, digamos assim. Sua capacidade de ser um selo de qualidade. Uma garantia de que os filmes indicados ao Oscar eram de qualidade. Muito disso foi perdido ao longo dos anos. Além disso, a magia do cinema que o Oscar carregava também, em grande medida, foi perdida. Até porque, atualmente, com a internet, todo cinéfilo sabe como as coisas funcionam no cinema e como filmes são feitos. Portanto, esse papel do Oscar também foi perdido.
Tudo isso, também dificulta bastante a tarefa hercúlea que os organizadores do Oscar têm de recuperar sua audiência perdida. Por isso também, muitos especialistas acreditam que o futuro da cerimônia de entrega do Oscar seja longe da televisão aberta e perto das plataformas de streaming. No Brasil, inclusive, o Oscar passou anos sem ser exibido em televisão aberta e voltou esse ano apenas devido as indicações obtidas por Ainda Estou Aqui.
Conclusão
E aí, gostou do nosso texto? Esperamos que sim. Além de apresentarmos os números da audiência nos Estados Unidos da cerimônia de entrega do Oscar desse ano, tentamos também explicar esses números e analisar a situação do Oscar. Se você gostou do nosso texto, não se esqueça de deixar um comentário. Ele é muito importante para nós.