Séries televisivas são um sucesso desde praticamente os anos 1940, quando a televisão começou a se popularizar nos Estados Unidos, e são uma herança do rádio, onde elas já existiam e faziam sucesso há muito tempo. A partir dos anos 1950, com a televisão se tornando o principal meio de comunicação e entretenimento nos Estados Unidos e em vários países do mundo, as séries televisivas foram adquirindo os formatos que até dominam o gênero e fazem sucesso com o público.
Com a fundação da Netflix e subsequente popularização do streaming como plataforma de entretenimento, as séries televisivas foram se adaptando a esse novo meio, se reinventando e se adequando ao novo gosto do público. Se nos anos 1950 e 1960, as séries televisivas tinham perto de 40 episódios por temporada (ou, em alguns casos, até mais que isso) e eram exibidas durante o ano quase todo. A partir dos anos 1970, as produções passaram a ter, geralmente, pouco mais de 20 episódios por temporada, sendo normalmente exibidos durante seis ou sete meses por ano.
Esse formato perdurou por todas as décadas seguintes, salvo excessões ou produções em outros formatos, como as minisséries, até a chegada do streaming há menos de 20 anos atrás. Isso porque, os streaming acabaram popularizando as produções com pouquíssimos episódios, geralmente, entre 8 e 13 episódios por temporada. Esse formato acabou agradando ao público que não precisava dedicar muitas horas de sua vida a assistir uma temporada inteira de uma série.
Além disso, a popularização da Netflix e dos streamings, mudou completamente a forma como as séries televisivas eram distribuídas. Tradicionalmente, desde que elas começaram a fazer sucesso nas televisões do mundo todo, um episódio era exibido por semana. Assim, terminado aquele episódio, o espectador tinha que esperar até a próxima semana para assistir ao próximo.
No entanto, com as plataformas de streaming, onde a programação era não-linear e sob demanda, as temporadas das séries televisivas passaram a ser disponibilizadas todas de uma vez só. Dessa forma, o espectador poderia assistir quando e da forma que quisesse, sem ter que esperar para assistir a um determinado capítulo em um determinado dia e horário. É notório que, atualmente, muitas plataformas de streaming tem voltado ao estilo de exibição antigo, disponibilizando capítulos das séries de forma semanal ou, então, disponibilizando-os (sozinhos ou em grupos) em datas específicas.
Séries televisivas – Sucessos e fracassos
É inegável que as séries de televisão sofreram muitas mudanças nos últimos 80 ou 90 anos. O que não mudou é o fato de que elas continuam a atrair o público, gerando bons números de audiência e, com isso, trazendo grandes lucros para as empresas de mídia que as produzem e distribuem. A série televisiva em voga é sempre assunto em conversas e discussões, gerando com isso repercussão na mída.
Nesse texto, no entanto, não falaremos das séries televisivas de sucesso, mas sim daquelas que não foram tão bem sucedidas assim. É notório que algumas séries foram tão bem sucedidas que foram exibidas anos a fio. Exemplos não faltam. O drama novelesco Dallas, por exemplo, foi exibido durante 14 temporadas, entre 1978 e 1991. Já o drama médico Plantão Médico (ou “ER”) durou ainda mais, 15 temporadas, sendo exibida entre 1994 e 2009. Já outro drama médico, Grey’s Anatomy, que ainda está no ar, já teve 21 temporadas exibidas, tendo estreado em 27 de março de 2005.
Isso pode parecer muito, mas temos exemplos de produções ainda mais longevas. A série de animação Os Simpsons, já está em sua 36ª temporada. Tendo estreado em 17 de dezembro de 1989 e sendo exibida continuamente desde então. Já as séries policiais Lei & Ordem e Lei & Ordem: Unidade de Vítimas Especiais estão, respectivamente, em sua 24ª e 26ª temporadas.
Já a série de ficção-científica britânica Doctor Who, estaria em sua 40ª temporada se contarmos suas duas “encarnações”. A produção foi exibida continuamente por 26 temporadas entre 23 de novembro de 1963 e 6 de dezembro de 1989, até ser cancelada. Contudo, ela reestreou com uma nova roupagem em 26 de março de 2005 e desde então está no ar, totalizando mais 14 temporadas no total.
No entanto, nem todas as séries de televisão têm a sorte de permanecer tanto tempo no ar. A maioria delas, quando muito, conseguem sobreviver por algumas temporadas. E essas, especialmente em um mercado competitivo como o norte-americano, podem ser consideradas bem-sucedidas. Isso porque, muitas séries televisivas não conseguem sobreviver nem a sua primeira temporada, já outras tem desempenho ainda pior, ficando no ar apenas por alguns epísódios antes de serem canceladas.
Existem também aquelas produções que não conseguem sobreviver nem sequer ao piloto, ou seja, aquele primeiro episódio experimental que é produzido apenas para ser vistos por produtores e executivos da indústria televisiva, afim de que eles possam, eventualmente, aprovar (ou não) a produção da série. Muitas dessas séries, inclusive, nem sequer vão ao ar e esses pilotos, em muitos casos, são arquivados ou descartados. No entanto, nesse texto, vamos falar de um tipo especial de séries televisivas. Aquelas que foram canceladas assim que seu primeiro episódio foi exibido ou disponibilizado para o público. Abaixo, explicaremos como a nossa lista foi concebida e compilada.
Como essa lista de séries foi compilada
A lista a seguir consiste de oito séries televisivas que foram canceladas logo após a exibição ou disponibilização de seu primeiro episódio para o público em geral. É importante notar que todas as produções dessa lista são séries de ficção, roteirizadas. Portanto, não entram nessa lista reality shows, game shows, nem nenhum outro tipo de programa televisivo não-ficcional e/ou não-roteirizado. Esse tipo de produção televisiva ficará para uma próxima lista.
Além disso, para entrar nessa lista, a série tem que ter tido ao menos um episódio exibido ou disponibilizado ao público. Dessa forma, não entram aqui produções onde só o piloto foi produzido, mas nunca exibido ao público, ou séries que nunca chegaram efetivamente a ir ao ar, sendo canceladas antes ou depois da produção desse piloto (ou episódio experimental). Também não contabilizamos casos de episódios produzidos para serem exibidos, mas que foram posteriormente transformados em filmes depois que a exibição da série foi cancelada.
Esse é o caso, por exemplo, de Segundas Intenções 2 (2000). A produção é, na verdade, um compilado dos dois únicos episódios da série “Manchester Prep”, que deveria ser um prequel do filme Segundas Intenções (1999). O canal Fox, no entanto, desistiu de exibir a série antes mesmo que o primeiro episódio fosse ao ar e para não perder o material que já havia sido filmado, resolveu transformá-lo em um filme que foi lançado apenas em VHS.
Também é importante deixar claro que para a compilação dessa lista, não levamos em consideração se mais episódios da série, além do primeiro, foram produzidos ou mesmo, eventualmente, exibidos ou disponibilizados ao público. Dessa forma, para estar nessa lista, consideramos apenas se a produção foi, ou não, cancelada após a exibição de seu primeiro episódio. Em algumas casos, episódios posteriores ao primeiro já estavam prontos e foram ao ar em algum momento. Já em outros casos, esses episódios foram engavetados, nunca sendo exibidos para o público.
É importante destacar também que esses cancelamentos tão prematuros são bastante raros e, geralmente, são resultado da combinação de críticas negativas e números de audiência baixíssímos. Existem também casos em que o cancelamento se dá pelo fato de a produção tocar em temas extremamente controversos e sensíveis ao público.
No mais, também existem casos em que o cancelamento ocorre por fatores que vão além do controle da emissora ou plataforma que exibe a série televisiva. De qualquer forma, nessa lista, explicaremos o motivo que levou ao cancelamento de todas as oito produções aqui presentes. Devido ao fato de que essas produções tiveram pouco tempo de vida, a grande maioria delas não foram exibidas no Brasil e, por isso, não tem nome em português. Sem mais delongas, vamos a lista.
The Melting Pot (1975)
Em 1975, a BBC, principal emissora do Reino Unido, resolveu produzir uma sitcom sobre um homem paquitanês, que junto com seu filho, resolve imigrar ilegalmente para Londres, na Inglaterra. Na produção, Mr. Van Gogh, um homem paquitanês, e seu filho chegam em uma praia da Inglaterra, que eles acreditam ser o famoso cruzamento de Piccadilly Circus, em Londres. Depois de muita confusão, eles conseguem chegar em Londres e vão parar em uma pensão, que é gerenciada por um irlandês e sua filha voluptuosa, cujo nome é Nefertiti.
Entre os hospedes do local, estão um homem negro da região de Yorkshire, um chinês do leste de Londres e um árabe escocês. Eles formam o tal “caldeirão cultural” ou “melting pot”, que dá nome a série. Para além das muitas piadas de cunho racial, que são o centro da série, o personagem principal de The Melting Pot, que é um imigrante ilegal paquistanês é, na verdade, interpretado por um comediante branco britânico utilizando maquiagem para escurecer a sua pele. O chamado “brown face”, que hoje é praticamente proibido em boa parte do mundo.
The Melting Pot foi concebido, escrito e protagonizado por Spike Milligan, um famoso comediante, ator e escritor britânico conhecido por ter criado e estrelado a famosa série de comédia Q…, que, inclusive, influenciou fortemente a criação da também série cômica Monty Python’s Flying Circus, que ficaria famosa no mundo todo. Milligan era conhecido por seu estilo de comédia nonsense e surrealística, que ele aplica com vigor em The Melting Pot. Contudo, se em outras produções esse estilo foi bem sucedido, aqui as coisas não sairam como planejado.
The Melting Pot foi exibido originalmente pela BBC1, principal canal televisivo da Inglaterra, em 1 de junho de 1975, em horário nobre, as 21h25. Após a exibição desse primeiro episódio, a BBC chegou a encomendar a produção de mais seis episódios, que seriam exibidos no ano seguinte. No entanto, eles foram engavetados e nunca foram exibidos em lugar algum. O motivo do cancelamento nunca foi explicitado pela emissora.
O próprio Milligan especulou que talvez a série não fosse engraçada o suficiente e, por isso, foi cancelada ou mesmo que as mudanças no elenco e também na direção entre a exibição do piloto e a produção dos novos episódios tenham sido o causador do cancelamento. Contudo, a maioria dos especialistas concorda que The Melting Pot foi cancelada depois que a BBC percebeu o quão sensível e controverso o tema da série era. Pelo que consta, a emissora ainda tem arquivados tanto o episódio que foi exibido quanto aqueles produzidos, mas que nunca foram ao ar.
Co-Ed Fever (1979)
Em 1978, o filme de comédia Clube dos Cafajestes havia sido um enorme sucesso de bilheteria nos cinemas. Por esse motivo, diversas emissoras de televisão tentaram lucrar em cima desse sucesso, produzindo séries que tivessem uma temática parecida com a do filme. Uma dessas séries foi a sitcom Co-Ed Fever, que era um espécie de versão feminina de Clube dos Cafajestes e acompanhava o dia a dia de um dormitório, chamado de Brewster House, em uma universidade que, até pouco tempo atrás, só aceitava estudante mulheres.
Co-Ed Fever estreou, como uma “exibição especial”, em 4 de fevereiro de 1979. Quando foi ao ar seu primeiro episódio, chamado de “Pepperoni Passion”, que foi exibido as 22h30 logo após a exibição do filme Rocky, um Lutador (1976). A série deveria estrear oficialmente em 19 de fevereiro daquele mesmo ano. No entanto, os índices de audiência ruins, as críticas desastrosas e as muitas reclamações dos espectadores fizeram com que a CBS, emissora que exibia a série, cancelasse sua exibição imeditamente.
Seis episódios de Co-Ed Fever foram produzidos, mas apenas esse primeiro foi exibido nos Estados Unidos, enquanto que os outros cinco foram engavetados. Os seis episódios, no entanto, foram exibidos no Canadá pelo canal BCTV, de Vancouver. No final, os sets utilizados em Co-Ed Fever, acabaram sendo reuitilizados em Vivendo e Aprendendo, uma sitcom que fez bastante sucesso e ficou quase 10 anos no ar.
South of Sunset (1993)
Quais as chances de uma série policial com toques de comédia e protagonizada por um famoso roqueiro dar certo? Aparentemente, nenhuma. Em 1993, a CBS, uma das principais emissoras dos Estados Unidos, resolveu produzir uma série, que misturasse a investigação de casos policiais com uma generosa pitada de comédia.
O enredo, se passaria em Beverly Hills e acompanharia o dia a dia de um ex-chefe de segurança de um grande estúdio de Hollywood, que resolveu abandonar tudo e abrir uma agência de investigação particular na famosa Sunset Boulevard, em Beverly Hills. Daí, inclusive, o nome da série “Ao Sul da Sunset”, já que o escritório da agência ficava justamente ao sul da Sunset Boulevard.
Para o papel principal, a CBS resolveu chamar Glenn Frey, um músico consagrado e membro fundador da banda Eagles, uma das mais importantes e bem-sucedidas bandas de rock da história da música mundial. Frey, que já tinha alguma experiência com atuação, resolveu aceitar o desafio. South of Sunset era uma criação de John Byrum, que, inclusive, escreveu todos os da série que foram efetivamente produzidos. Ele e Stan Rogow assumiram também o papel de showrunners da série.
No total, a CBS encomendou a produção de seis episódios, sendo que os roteiros de sete episódios, no total, teriam sido escritos. Contudo, se sabe apenas que cinco episódios de South of Sunset foram efetivamente produzidos. Antes de sua estreia, a produção foi bastante promovida pela CBS durante as transmissões da chamada “World Series”, as finais do campeonato de beisebol norte-americano, de 1993. Um dos eventos esportivos mais populares e assistidos dos Estados Unidos.
South of Sunset estreou em 27 de outubro de 1993, uma semana após a transmissão do último jogo da World Series, em horário nobre. No entanto, os indíces de audiência da série ficaram muito abaixo do esperado pela emissora. Além disso, a produção nem sequer foi exibida em todo o pais, já que diversas emissoras da CBS na costa oeste norte-americana acabaram por não exibir o episódio afim de cobrir os incêndios florestais que, na época, devastavam a região de Malibu, na Califórnia.
Depois dessa primeira exibição, a CBS imediatamente cancelou a série e mandou engavetar os outros quatro episódios já produzidos. O cancelamento teria irritado bastante a Glenn Frey. Além disso, South of Sunset já havia sofrido diversos reveses durante a produção, como atrasos na estreia causados pela incapacidade de finalizar os episódios a tempo. Aliás, esses atrasos acabaram por fazer com que a CBS nem sequer disponibilizasse o piloto para que jornalistas e críticos de televisão pudesem assistí-lo antes da estreia oficial da série, como é de costume.
Esse, aliás, foi um dos fatores que, segundo Stan Rogow, ajudaram no insucesso da série, já que a não disponibilização do piloto, dava a entender que os produtores de South of Sunset tinham “algo a esconder”, ou seja, que a série era tão ruim que eles não queriam que os críticos e jornalistas a vissem antes. Além disso, houve também quem argumentassem que a série não teve tempo sequer de construir uma base de telespectadores, sendo prejudicada pelos incêndios em Malibu e sendo cancelada antes mesmo de ser exibida em algumas partes da costa oeste norte-americana.
Os executivos da CBS, no entanto, alegaram que South of Sunset praticamente não tinha base de telespectadores para construir e que os indíces de audiência do primeiro episódio foram tão ruins que prejudicaram até mesmo a audiência do programa documental 48 Hours, um campeão de audiência do canal.
Os episódios de South of Sunset ficaram engavetados por cerca de um ano, até serem exibidos no canal por assinatura VH1, que também pertence ao mesmo conglomerado da CBS, em 1994. Como parte de uma programação especial em homenagem a banda Eagles, o VH1 exibiu o piloto da série e também outros quatro episódios inéditos que nunca tinham ido ao ar e que havia sido engavetados pela CBS.
Public Morals (1996)
Outra produção da CBS, Public Morals era uma sitcom que acompanhava o dia a dia de um “esquadrão da moralidade” da Polícia de Nova York, ou seja, uma unidade da policia nova-iorquina que combatia crimes “contra a moral”, tais como uso ilícito de drogas, jogatina e prostituição. O nome da série “Moral Pública” (em tradução livre para o português), inclusive, vem desse fato.
O objetivo da série, era fazer graça explorando as muitas diferenças entre os personagens que compunham o tal esquadrão. Public Morals foi uma criação do produtor Steven Bochco, famoso pela criação de dramas procedimentais e séries policias de sucesso, como Chumbo Grosso (1981-1987), L.A. Law (1986-1994) e Nova York Contra o Crime (1993-2005).
O elenco de Public Morals também tinha bons nomes, sendo estrelado por Peter Gerety, Donal Logue e Bill Brochtrup. Esse último, inclusive, interpreta em Public Morals o mesmo personagem que ele interpretava em Nova York Contra o Crime, o assistente administrativo John Irvin. Personagem que ele voltaria a interpretar na série, assim que Public Morals foi cancelada.
A CBS encomendou a produção de 13 episódios de Public Morals. O episódio piloto, chamado de “The White Cover”, deveria ser, como normalmente ocorre, o primeiro a ser exibido. Contudo, ao assistí-lo, diversas afiliadas da CBS país a fora se recusaram a exibí-lo por considerá-lo vulgar demais. Críticos e jornalistas também não gostaram dele e a CBS resolveu então escolher outro episódio entre os 13 já filmados para ser o primeiro a ir ao ar, deixando “The White Cover” como o quinto episódio da série.
A troca, no entanto, não surtiu efeito e quando Public Morals estreou em 30 de outubro de 1996, o resultado foi desastroso. Os números da audiência ficaram bem abaixo do esperado e a crítica especializada considerou que a série tinha personagens superficiais e unidimensionais e se sustentava em piadas de mal gosto e estereótipos raciais. Diante disso, em pouco tempo, a CBS decidiu cancelar a série. No entanto, a emissora ainda exibiu os outros 12 episódios de Public Morals que haviam sido produzidos e depois tentou esquecer que a série havia existido.
Lawless (1997)
Quais as chances de uma série policial estrelada por um ex-jogador de futebol americano dar certo? Bem, em 1997, a Fox achou que poderia fazer essa combinação funcionar. Na época, a emissora estava no auge, após emplacar diversas séries de sucesso, como Arquivo X, Os Simpsons e
O Rei do Pedaço. Já o ex-jogador de futebol americano Brian Bosworth, havia se aposentado da NFL, a principal liga de futebol americano do mundo, após apenas duas temporadas, devido a uma grave contusão e havia se aventurado no mundo do cinema e da televisão.
Bosworth havia estrelado alguns filmes de ação e tentava emplacar um grande sucesso para, finalmente, consolidar sua carreira como ator. Foi nesse contexto, que a emissora e o ex-atleta se juntaram para produzir Lawless. Na série, Bosworth interpreta um ex-soldado das forças especiais, chamado John Lawless, que resolve se mudar para Miami e se tornar um investigador particular. Ao lado de um amigo, Reggie (Glenn Plummer), eles oferecem seus serviços para quem precisa.
Lawless é um tipo rebelde que gosta de andar por aí em sua motocicleta. Bem clichê, né? Pois é, foi isso que a crítica e público acharam também. A série estreou na Fox em 22 de março de 1997 e foi um fracasso total de audiência. Além disso, jornalistas e críticos televisivos também odiaram a série que, segundo eles, era tão ruim que faria Esquadrão Classe A parecer uma produção sofisticada.
Em meio a tudo isso, a Fox não teve dúvidas e cancelou imediatamente a série, ordenando, inclusive, que a produção do resto dos episódios da primeira temporada fosse imediatamente paralisada. Dessa forma, Lawless teve apenas seis episódios produzidos, sendo que apenas um foi ao ar e os outros cinco foram engavetados, nunca sendo disponibilizados para o público.
Emily’s Reasons Why Not (2006)
Aqui temos um caso interessante, isso porque, a ABC, uma das principais emissoras dos Estados Unidos, encomendou uma temporada inteira de Emily’s Reasons Why Not, sem nem sequer ver os roteiros dos episódios. A série, produzida pela Sony Pictures Television e estrelada por Heather Graham, é baseada em um livro de Carrie Gerlach e conta a história de Emily Sanders, uma mulher de Los Angeles incapaz de manter relacionamentos amorosos. Seguindo os conselhos de um terapeuta, Emilydecide que se ela puder listar cinco razões para terminar com um namorado, ela o fará. Daí, inclusive, o título da série “As Razões de Emily Para Não” (em tradução livre para o português).
Tanto a ABC quanto a Sony tinham tanta fé no sucesso de Emily’s Reasons Why Not, que a promoveram incessantemente em todos os meios de comunicação disponíveis na época, pagando por espaço publicitário em revistas, jornais, no rádio e na televisão. Segundo consta, a ABC teria gasto milhões somente para promover a série, que a emissora considerava um eixo central de sua programação nas segundas-feiras a noite, após a exibição do tradicional Monday Night Football, onde jogos de futebol americano são transmitidos ao vivo.
Emily’s Reasons Why Not foi propagandeado como sendo uma versão mais leve e familiar da série Sex and the City, que havia feito muito sucesso na HBO. Emily’s Reasons Why Not estreou em 6 de janeiro de 2006 e no primeiro (e único) episódio exibido pela ABC, Emily conhece um homem que pratica jiu-jitsu brasileiro (descrito na série como o “esporte mais gay do mundo”) e é um mórmon devoto e, por esse motivo, preza pela castidade e pelo sexo após o casamento. Emily, no entanto, se convence de que ele é gay.
O episódio foi extramente mal-visto tanto pelo público quanto pela crítica especializada. Conseguindo obter uma audiência média de apenas cerca de 6 milhões de telespectadores, a produção foi considerada um retumbante fracasso de público. Já a crítica especilizada considerou Emily’s Reasons Why Not apenas um cópia mal feita de Sex and the City e uma produção que se sustentava apenas em piadas ruins, de mal-gosto e que estereotipavam a comunidade LGBT.
Após assistir ao primeiro episódio de Emily’s Reasons Why Not, o próprio presidente da ABC chegou a conclusão de que a série era ruim e que não tinha muito como melhorar. Diante disso, ele ordenou o seu cancelamento imediato. Até aquele momento, seis episódios da série já haviam sido produzidos, mas a ABC desistiu de exibir os cinco que ainda não haviam sido exibidos. Dessa forma, eles foram engavetados e a série nunca foi completamente exibida na televisão norte-americana.
No entanto, os seis episódios de Emily’s Reasons Why Not que foram produzidos, o piloto e os cinco que ficaram sem exibição nos Estados Unidos, acabaram por serem exibidos em outros países do mundo. O primeiro país a exibir a série completa foi a Espanha, através do canal pago Cosmopolitan. Por lá, a série se chamou “Cinco razones (para no salir contigo)”. Depois, Emily’s Reasons Why Not ainda foi exibida na Aústria, na Eslovênia e no Japão. Os seis episódios também foram lançados em DVD nos Estados Unidos em 2012.
Monstro do Pântano – Uma das poucas séries canceladas apesar agradar a público e crítica
Aqui temos o único caso em nossa lista de uma série que foi cancelada apesar de ter sido bem recebida pela crítica especializada e também pelo público. Aliás, Monstro do Pântano foi cancelada por questões relacionadas a conflitos envolvendo a WarnerMedia, empresa que distribuiria a série. Na verdade, esses problemas vinham desde o início dos trabalhos e a produção de Monstro do Pântano foi, inclusive, encurtada por esse motivo. A primeira temporada, que deveria ter 13 episódios, passou a contar apenas com 10.
Monstro do Pântano é baseada no famoso herói da DC Comics de mesmo nome e conta a história de uma cientista do Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, que decide retornar a sua cidade natal, na Louisiana, para investigar um vírus mortal que parece ter sua origem nos pântanos da região. É nesse contexto, que ela tem contato com uma criatura feita de material orgânico e que habita aquela região pantanosa.
Monstro do Pântano contava com um bom elenco e também com uma boa equipe. A série foi desenvolvida por Mark Verheiden, um dos produtores executivos da série Falling Skies, e Gary Dauberman, que foi roteirista de inúmeros filmes de terror de sucesso, como Annabelle (2014), A Freira (2018) e It – A Coisa (2017). No elenco estavam, Crystal Reed, Virginia Madsen, Andy Bean e Derek Mears. O episódio piloto de Monstro do Pântano foi dirigido por Len Wiseman, que foi responsável pela franquia Anjos da Noite, e que também era um dos produtores executivos da série Além disso, James Wan, provavelmente o maior nome do cinema de terror atual, também era um dos produtores executivos da série.
Por tudo isso, Monstro do Pântano tinha tudo para dar certo. Contudo, desde o início da produção da série ocorreram desavenças criativas entre WarnerMedia, conglomerado de mídia que iria bancar e distribuir Monstro do Pântano, e os produtores da série. Isso fez com que Monstro do Pântano tivesse três episódios cortados ainda durante o período de produção, com a série passando a ter 10 episódios ao invés dos 13 inicialmente planejados. Além disso, Monstro do Pântano também teria sofrido com a falta de orçamento que, segundo algumas reportagens, teria afetado não apenas o número de episódios, mas também a decisão de cancelar a série
Ademais, na época, a WarnerMedia estava passando por uma reformulação total. Em 2021, a empresa se fundiria com a Discovery, Inc. e formaria a Warner Bros. Discovery. Além disso, a WarnerMedia também estava lançando sua própria plataforma de streaming, a HBO Max, que seria inaugurada em 2020. Com isso, a DC Universe, plataforma de streaming que exibiria Monstro do Pântano, foi dissolvida em janeiro de 2021 e todos os seus produtos começaram a ser integrados ao acervo da HBO Max em junho de 2020.
Tudo isso, afetaria o destino de Monstro do Pântano. O fato é que a série estreou em 31 de maio de 2019, uma sexta-feira, no DC Universe. A recepção tanto da crítica especializada quanto do público foi muito boa e a série, atualmente, mantêm uma aprovação de 92% no Rotten Tomatoes, principal agregador de críticas especializadas da internet. Contudo, na quinta-feira seguinte, menos de uma semana após a estreia de Monstro do Pântano, a DC Universe anunciou que a série estava cancelada, depois da exibição de um único episódio. Nenhuma explicação foi dada para o cancelamento e o fato pegou muita gente de surpresa.
Apesar do cancelamento, a DC Universe continuou a liberar um episódio da série por semana até 2 de agosto de 2019 quando os 10 episódios produzidos da série ficaram disponíveis para o público. Os fãs de Monstro do Pântano ainda tentaram organizar um movimento na internet para salvar a série e em 2020, o canal The CW, que também era parte do grupo WarnerMedia, anunciou a acquisição dos direitos de exibição da série na televisão norte-americana. Isso deu esperanças aos fãs de que uma segunda temporada da série poderia ser eventualmente produzida. Contudo, em janeiro de 2021, o presidente do canal deixou claro que as chances disso acontecer eram mínimas.
Com isso, Monstro do Pântano continuou a contar apenas com os 10 episódios que foram produzidos para a DC Universe. Dessa forma, a série passou a ser a única, pelo menos em tempos modernos, série cancelada depois da exibição do primeiro episódio, mesmo sendo bem recebida por público e crítica especializada. Além disso, a série é uma das poucas dessa lista que foram lançadas comercialmente no Brasil e, por isso, possuem nome em português,
Heil Honey I’m Home! (1990) – Provavelmente o caso mais emblemático entre séries canceladas após o primeiro episódio
Esse é talvez o pior dos casos listados aqui. Imagine uma sitcom que mostrasse Adolf Hitler e Eva Braun vivendo como um casal normal na Berlim de 1938 e tendo como vizinhos de lado um casal de judeus. Pois é exatamente essa a premissa de Heil Honey I’m Home!, uma série britânica criada em 1990. A produção tinha como objetivo fazer piada não apenas com Hitler, mas principalmente, com as sitcoms norte-americanas dos anos 1950, 1960 e 1970 e, por isso, parodiava muito do modus operanti de I Love Lucy, um dos maiores sucessos desse período.
Heil Honey I’m Home! foi escrita pelo comediante britânico Geoff Atkinson, tendo sido encomendada pela Galaxy, um canal de televisão britânico que havia acabado de ser inaugurado e que era parte da British Satellite Broadcasting (BSB). A série deveria ter 11 episódios em sua primeira temporada, mas apenas oito foram produzidos antes de seu cancelamento. Heil Honey I’m Home! estreou em 30 de setembro de 1990 e logo de cara causou controvérsia.
Nesse primeiro episódio Hitler tenta receber em sua casa o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain, sem que seus vizinhos judeus saibam, para que os dois assinem o famigerado Acordo de Munique. A reação ao episódio foi imediata e a série foi acusada de ter péssimo gosto e de tentar trivializar temas sérios, como o nazismo, a Segunda Guerra Mundial e o Holocauto. Os criadores da série ainda tentaram argumentar que a produção era um sátira e que grande parte do elenco era formado por judeus, mas os argumentos não convenceram.
Diante da polêmica, Heil Honey I’m Home! foi imediatamente tirada do ar. Em 2 de novembro de 1990, a British Satellite Broadcasting se fundiu com a Sky Television plc, formando a British Sky Broadcasting e Heil Honey I’m Home! foi cancelada de vez. Dos oito episódios produzidos, apenas o piloto foi exibido enquanto que os outros sete foram engavetados e nunca foram exibidos integralmente em nenhum lugar do mundo. Atualmente, a série é considerada uma das piores sitcoms já criadas.
Conclusão
E aí, gostou do nosso texto? Esperamos que sim. Você conhece alguma outra série que foi cancelada de forma tão repentina? Se sim, deixe escrito nos comentários abaixo. Como sempre, seu comentário é muito importante para nós.