Se você costuma consumir conteúdo relacionado a séries de televisão norte-americanas, você muito provavelmente já deve ter ouvido em algum lugar a expressão “showrunner”, mas o que será isso? Isto nada mais é do que uma posição ocupada por alguém durante toda a produção de uma série. Mas o que exatamente faz um showrunner? Quem está acima dele e quem está abaixo na hierarquia de produção de uma série de televisão e para que eles são necessários? É isso que explicaremos nesse texto. Então, se você quer saber a resposta para todas essas perguntas, fique conosco até o final desse texto.

Lembrando que esse texto é parte da nossa série “O que é“, onde explicamos o significado de vários termos utilizados no mundo do entretenimento. Então vamos aprender o que, afinal de contas, é um showrruner?

O que é um showrunner?

O showrunner ocupa a posição, ou cargo, mais alto dentro da produção de uma série ou programa de televisão. Ele é a autoridade máxima e é responsável por decidir todos os aspectos criativos e “rumos” que uma série irá tomar. Em certo aspecto, sua função é parecida com a dos produtores na fase de ouro do cinema americano ou mesmo com a dos diretores de cinema atuais, que tem direito ao chamado “corte final”, ou seja, de decidir qual “versão” do filme irá ser lançada.

Os Irmãos Duffer, criadores e showrunners da série Stranger Things. Foto: MasterClass.
Os Irmãos Duffer, criadores e showrunners da série Stranger Things. Foto: MasterClass.

É importante notar que em televisão, as coisas funcionam um pouco diferentes do que em cinema. Por isso, existem diferenças não apenas nas funções, mas também na hierarquia dentro dessas produções. Em produções cinematográficas, o roteiro é, geralmente, escrito por um número limitado de pessoas, muitas vezes, inclusive, por apenas uma pessoa. Além disso, nessas produções existe apenas um diretor (muito raramente, um filme tem mais de um diretor).

Continue depois da publicidade

Normalmente, principalmente, no chamado cinema autoral, é ele quem tem a palavra final sobre os aspectos criativos e estéticos do filme. Nesses casos, esse diretor tem o chamado “corte final”, ou seja, é ele quem dá a última palavra sobre qual “corte” (ou “versão”) do filme será lançado para o público. Também temos a figura do produtor. No cinema autoral, o produtor não interfere (ou não deveria interferir) tanto assim, nos aspectos criativos e estéticos do filme.

Já no cinema comercial, é bem comum que os produtores tenham também a última palavra nos aspectos criativos e estéticos do filme e tenham, igualmente, direito ao corte final. Aliás, esse era o arranjo predominante em Hollywood até os anos 1960 e é, um arranjo que ainda existe no cinema comercial atual, principalmente, em grandes produções que custam centenas de milhões de dólares.

David Benioff e D.B. Weiss, criadores e showrunners da série Game of Thrones. Foto de Evan Agostini/Invision/AP/Shutterstock.
David Benioff e D.B. Weiss, criadores e showrunners da série Game of Thrones. Foto de Evan Agostini/Invision/AP/Shutterstock.

Como esses grandes produtores, normalmente desenvolvem diversos trabalhos ao mesmo tempo, existe também a figura do produtor executivo (além de outros tipos de produtores que não falaremos aqui), que é responsável por cuidar do dia a dia de uma produção cinematográfica. É ele quem está diariamente checando o status da produção, lidando com os problemas que surgem, lidando também com atores, com o diretor e com outros profissionais abaixo dele.

Como funciona na televisão?

Na televisão, as coisas são um pouco diferentes. Os roteiristas e diretores são bem mais “descartáveis” se é que podemos dizer assim. Isso porque, séries e programas de televisão, podem durar anos a fio e, dificilmente, seus episódios serão todos escritos pela mesma pessoa, como ocorre em um filme. Normalmente, é uma equipe de roteiristas que escreve os roteiros de cada episódio, às vezes com roteiristas convidados em episódios especiais ou quando a série tem poucos episódios. Além disso, episódios mais importantes para a série, como o piloto (o primeiro episódio) ou episódios finais de temporada, podem ser escritos pelo próprio criador ou pelo “showrunner” da série.

Continue depois da publicidade
Imagem da série Contos da Cripta (1989-1996). Esse é um exemplo de série em formato de antologia, em que cada episódio pode ter uma história e um formato diferente. Por isso, era comum que muitos diretores e roteiristas renomados escrevem e dirigissem episódios da série.
Imagem da série Contos da Cripta (1989-1996). Esse é um exemplo de série em formato de antologia, em que cada episódio pode ter uma história e um formato diferente. Por isso, era comum que muitos diretores e roteiristas renomados escrevem e dirigissem episódios da série.

No caso dos diretores, o caso é o mesmo. Nenhum diretor vai dirigir todos os episódios de uma série, a menos, é claro, que seja uma minissérie com poucos episódios. Isso porque, nenhum diretor vai ficar anos atrelado a um projeto. E também porque a direção de episódios em séries é, normalmente, uma chance para que diretores novatos tenham sua primeira experiência na direção. Inclusive, é comum que até mesmo os próprios atores dirigiam alguns episódios de suas séries.

Mas se as duas principais mentes criativas, diretores e roteiristas, por trás de uma produção audiovisual mudam a cada episódio, como manter uma unidade, um padrão em todos os episódios? Como garantir que cada episódio não seja uma “peça solta”, mas sim parte de uma enorme história? Porque, pense comigo, se todos os roteiristas que trabalham em uma série pudessem escrever a história que quisessem e se cada diretor pudesse dirigir um episódio a seu próprio gosto, a série poderia virar uma bagunça. Um personagem poderia ter uma personalidade hoje e outra no próximo episódio. Ou então, a série poderia ter episódios que não tivessem nada a ver com seu gênero ou estilo, por exemplo.

Isso, certamente, afastaria o público. É aí que entra o showrunner. É ele quem fará esse papel de grande mente por trás de tudo. De autoridade criativa que guia cada episódio e a construção de cada personagem. Assim, ele normalmente não escreverá e nem dirigirá todos os episódios de uma série, mas será ele quem determinará como os episódios serão escritos e também como serão dirigidos.

Cena da série Lost (2004-2010) é um dos casos em que nem todos os criadores desempanhavam a função de showrunners. A série foi criada por Jeffrey Lieber, J. J. Abrams e Damon Lindelof, mas apenas Lindelof ao lado de Carlton Cuse, desempanhavam a função de showrunners.
Cena da série Lost (2004-2010) é um dos casos em que nem todos os criadores desempanhavam a função de showrunners. A série foi criada por Jeffrey Lieber, J. J. Abrams e Damon Lindelof, mas apenas Lindelof ao lado de Carlton Cuse, desempanhavam a função de showrunners.

A maioria das séries, inclusive, tem o que é chamado de “bíblia”, que nada mais é do que um livro que documenta como os episódios devem ser escritos e o que pode ou não ser feito com os personagens, por exemplo. Além disso, também é comum que o enredo principal já esteja pensado desse o primeiro episódio. Detalhes podem ser alterados, mas a coluna principal da história já está lá desde o início. É comum também que já se saiba, desde o início, qual será a evolução (ou “arco” como é chamado) de um personagem. Tudo isso, toda essa liderança, é parte do trabalho do showrunner.

Continue depois da publicidade

Showrunner e criadores da série

Por ter toda essa responsabilidade criativa, é comum que o showrunner de uma série também seja seu criador. Note que nem sempre o criador será o showrunner, mas é bem comum que as duas posições sejam ocupadas pela mesma (ou pelas mesmas) pessoa. Isso acontece por motivos óbvios, já que o criador da série é geralmente a pessoa que teve a ideia original daquela série. E ele também quem, normalmente, escreve o piloto e que convence estúdios, canais de televisão e/ou plataformas de streaming a produzir a série.

Tony McHale, o primeiro produtor britânico a ser creditado como showrunner em 2005 por seu trabalho na série Holby City.
Tony McHale, o primeiro produtor britânico a ser creditado como showrunner em 2005 por seu trabalho na série Holby City.

Por tudo isso, não é de se espantar que normalmente os papéis de showrunner e criador de uma série se confundam. Já que é comum que, quem tenha tido a ideia de criar uma série é também a pessoa que estará criativamente a frente dela durante toda a sua duração e que irá determinar os rumos tanto da história quanto dos personagens dessa série.

Produtor executivo e showrunner

O showrunner é também um dos produtores executivos da série. Por isso, essas posições muitas vezes se confundem. Na verdade, originalmente, a figura que hoje é conhecida como “showrunner” era chamada de “executivo chefe” (ou “chief executive”, no original em inglês). Contudo, como produtor executivo era uma posição muito “geral” com muitas responsabilidades e era, inclusive, um título dado a “qualquer um” que tivesse alguma autoridade na produção, se resolveu criar uma posição para aquela pessoa que realmente tivesse controle criativo sobre a série.

Shane Brennan, criador e showrunner de CSI e NCIS: Los Angeles. Foto de Kazuki Hirata/HollywoodNewsWire.net.
Shane Brennan, criador e showrunner de CSI e NCIS: Los Angeles. Foto de Kazuki Hirata/HollywoodNewsWire.net.

“O título (showrunner) foi criado para identificar o produtor que realmente detinha a autoridade final e o controle criativo do programa, já que o título honorífico de “produtor executivo” era aplicado a uma gama mais ampla de funções. Há também o fato de que qualquer pessoa com algum poder queria o crédito de produtor, incluindo os atores principais, que muitas vezes não faziam mais do que apenas dizer as falas escritas pelos roteiristas. Chegou ao ponto em que era incrivelmente confuso; havia tantos créditos de produção que ninguém sabia quem era o responsável (pela série)”, disse Shane Brennan, showrunner das séries NCIS e NCIS: Los Angeles, em entrevista a revista The Australian.

Continue depois da publicidade

Devido a essa proximidade entre as duas posições, pode acontecer, inclusive, de o produtor executivo e o showrunner serem a mesma pessoa. Contudo, atualmente, é mais comum que séries tenham mais de um produtor executivo e que o showrunner e, também, o criador da série (que, como dissemos antes, na maioria dos casos, é a mesma pessoa) sejam um deles. Como disse Brennan na entrevista que citamos acima, é comum que séries tenham muitos produtores executivos e que até mesmo os protagonistas dessas séries sejam creditados com esse título.

Showrunner em outros países

O showrunner ainda é uma figura que é mais comum na televisão dos Estados Unidos, mas que já começa a aparecer em produções televisivas de outros países do mundo. Desde o início dos anos 2000, a figura do showrunner já existe em países como Canadá e Inglaterra, por exemplo. Essa é uma tendência que deve se fortalecer nos próximos anos e é bem provável que daqui há algum tempo, o showrunner seja uma figura comum nas produções televisivas de todo o mundo.

Conclusão

É isso. Esperamos que você tenha gostado desse texto e que ele possa ter esclarecido quaisquer dúvidas que você eventualmente poderia ter sobre o que é um showrunner e o que ele faz. Tentamos escrever um texto o mais completo possível e que abordasse todos os aspectos dessa figura que é bastante comum nas produções televisivas norte-americanas. Se você gostou desse texto, deixe o seu like e também o seu comentário abaixo.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui