A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça
A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça/ Teaser Oficial - Imagem: Paramount Pictures

Um conto gótico ambientado em 1799, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça narra a história de Ichabod Crane, um policial de Nova York encarregado de investigar alguns assassinatos horríveis que ocorreram em Sleepy Hollow. Os moradores locais suspeitam que o assassino não seja outro senão o fantasma de um soldado hessiano sem cabeça – um mercenário durante a Guerra Revolucionária Americana – que cavalga durante as noites em busca de sua cabeça decepada. Ichabod a princípio não acredita nessas histórias de fantasmas, mas o destino o leva a ficar na casa de Baltus Van Tassel, onde conhece Katrina – uma donzela cuja beleza e charme roubaram seu foco da investigação.

Durante sua investigação, Ichabod descobre que todas as vítimas estão ligadas por um testamento secreto, que muda para sempre o destino do legado da família Van Garrett. Os Cavaleiros Sem Cabeça, controlados por um grupo desconhecido, atacam alvos específicos ligados a esta conspiração. A revelação do motivo dos assassinatos levou Ichabod a acreditar que Baltus van Tassel estava por trás dos crimes.

Uma intriga se aprofunda para Ichabod quando ele descobre que a esposa de Baltus, Lady Van Tassel, não morreu, mas orquestrou o plano para se vingar de seus detratores. Ela é a verdadeira mente por trás de todos esses esquemas, usando o Cavaleiro para eliminar todos os possíveis herdeiros e testemunhas que poderiam impedi-la de continuar o legado de Van Garrett e Van Tassel. No final, Ichabod recupera o crânio do cavaleiro, o que o liberta de estar sob o comando de Lady Van Tassel.

Eventualmente, o Cavaleiro recuperou a cabeça, poupou Katrina e sequestrou a Sra. Van Tassel, retornando ao Inferno com ela. Ichabod, Katrina e o jovem Masbath retornam a Nova York, prontos para começar um novo século e deixar para trás os horrores e mistérios de Sleepy Hollow.

Direção do filme A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça

Tim Burton esteve à frente do filme “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça”, e muitos elementos que tornaram o filme marcante saiu da mente deste cineasta. Quando falamos de adaptações de livros, não dá para negar que há uma simplificação, muitas vezes, excessiva. Por exemplo, “Percy Jackson e o Ladrão de Raios”, “Divergente”, “Eu Sou a Lenda”, entre outros filmes são modificados ao máximo com o intuito de entregar ao espectador uma obra fácil de ser “digerida”.

Nesse sentido, o diretor manteve a complexidade da trama do início ao fim. Posto isso, cada elemento apresentado no filme apontava para um único culpado, por exemplo a introdução da família Arches, a revelação de que o Cavaleiro sem Cabeça não estava sendo manipulado, e as personalidade desconfiadas dos personagens.

Todos esses fatores contribuem fortemente para realçar a atmosfera de mistério que permeia o filme. Além disso, os cenários por si só facilitam uma imersão profunda em Sleepy Hollow. Essa adaptação é a terceira obra deste cineasta que possui aquela identidade visual sombria que marca os melhores filmes dirigidos pelo diretor.

Em última análise, após 24 anos desde que “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça” estreou nos cinemas, o longa-metragem ainda é capaz de nos encantar com uma mistura única de fantasia e terror, e muito disso se deve a perspectiva única de Tim Burton.

Em que foi baseado o filme A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça?

Todos conhecem a lenda do Cavaleiro sem Cabeça, pois essa histórias está presente em várias obras da cultura pop em forma de referências. Por exemplo, esse personagem aparece em filmes como “Shrek 2”, na primeira temporada de “O Show do Scooby-Doo” intitulada “Cavaleiro sem Cabeça do Halloween”, Sleepy Hollow (1911), a lista é infinita. Posto isso, podemos concluir que o personagem era bem popular antes mesmo da adaptação dirigida por Tim Burton.

Mas a origem desse personagem é bem mais antiga do que imaginamos, pois ele surgiu no ano de 1819-1820, com a publicação do conjunto de contos intitulado “The Sketch Book of Geoffrey Crayon, Gent.”. Só para ilustrar, o autor genial por trás dessa obra se chama Washington Irving.

Ademais, a história original é bem mais simples, e no decorrer dos séculos, recebeu diversas adaptações, e cada versão apresenta elementos novos. Em última instância, é impressionante como um conto tão simples cativou pessoas do mundo todo no decorrer dos séculos.

Diferenças entre o filme e o conto

A versão do filme “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça” lançada em 1999 foi bastante fiel ao conto original, e nisso Tim Burton “acertou na dose”. Contudo, no longa-metragem há algumas liberdades criativas que divergem do conto criado por Washington Irving. Algumas das diferenças mais gritantes são:

Romance frustrado:

  • No conto original, Ichabod Crane é um professor. Ele tem um interesse amoroso latente por Katrina Van Tassel, a mesma não corresponde adequadamente ao seu amor. E ainda por cima se casa com Brom Van Brunt.
  • No filme, Ichabod e Katrina desenvolvem um interesse amoroso mútuo e ficam juntos no final. E Bron é cortado ao meio pelo Cavaleiro sem Cabeça.

A Morte do Cavaleiro:

  • No conto original, o cavaleiro perde a sua cabeça na guerra da independência americana quando é atingido por uma bala de canhão.
  • No filme, o cavaleiro é perseguido por soldados em meio a uma densa floresta, e o chão coberto por neve. Ao ser cercado ele é decapitado por um dos soldados inimigos. 

O que acontece com Ichabod:

  • No conto original, Ichabod é perseguido pelo cavaleiro e antes de descobrirmos o que o Cavaleiro iria fazer o conto corta para outro momento. Ichabod se dá por desaparecido.
  • No filme, apesar de travar várias batalhas arriscadas, não sofre nada além de arranhões.

Essas mudanças parecem modificar diretamente a essência da obra e construindo atmosferas diferentes. Particularmente, muito me agrada a adaptação de 1999, a visão de Burton é sensível e construiu uma narrativa bem amarrada e satisfatória.

Melhores momentos do filme A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça

Apesar dos efeitos do filme estarem um pouco datados nos dias de hoje, a qualidade ainda supera a de muitos filmes com direções ruins. A combinação de efeitos visuais estéticos e uma direção de arte digna de um Oscar rendeu várias cenas memoráveis.

A revelação do culpado: No último ato é revelado a mente maliciosa por trás dos assassinatos em Sleepy Hollow, que é ninguém menos que Lady Mary Van Tassel. A revelação liga todos os pontos mostrados no filme fazendo juz ao gênero mistério intricado no filme.

A morte mais criativa: Quando todos se refugiam na igreja de Sleepy Hollow, em meio a confusão generalizada, Baltus Van Tassel é atravessado por uma estaca, lançada pelo cavaleiro, e puxado para fora da igreja. Em seguida ele é decapitado. A conclusão de que as cenas brutais dos assassinatos dão ao filme um tom chocante só não é mais precisa do que a própria pontaria do Cavaleiro sem Cabeça.

Arrastado pela floresta: No último ato, o investigador Ichabod Crane e o cavaleiro percorrem em meio a floresta a carruagem e a cavalo, respectivamente. A cena de perseguição tem um ritmo muito rápido e tenso. Tudo fica ainda mais empolgante quando estamos cientes de que Jack Sparrow, de fato, foi arrastado de verdade e não um dublê.

De volta ao inferno: Quando o Cavaleiro finalmente recupera a sua Cabeça, ele nota a presença da mulher que vendeu a própria alma para trazer o cavaleiro de volta à vida, a toma com esposa e os dois voltam para “casa”.

Só para ilustrar, esses momentos estão organizados por ordem de evento. Por fim, essas são as cenas que mais me chamou atenção, e a dificuldade de selecioná-las em meio a outras tão boas quanto existe. Qual é a sua cena favorita? Deixe nos comentários!

Crítica

Acima de tudo, “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça” foi lançado nos cinemas no ano de 1999, e esse fator deve ser levado em consideração ao julgarmos a obra, visto que o mesmo conquista fãs até os dias de hoje.

O filme apresenta vários pontos fortes que não dificultam em nada boas críticas. Contudo, vamos começar destacando algo negativo no filme, a falta de suspense. O filme é do gênero terror e suspense, mas logo de início vemos a perseguição do Cavaleiro sem cabeça dilacerando vários personagens. As cenas viscerais são entregues muito rápidas, bem como o ritmo do filme, e por isso a obra fica menos impactante.

Por outro lado, essa falta de suspense é compensada por uma narrativa empolgante e cheia de ação. O filme se destaca tanto pela linda direção de fotografia quanto pelo estilo visceral. Essa mistura de fantasia e sangue não parecia ser uma combinação tão coerente até assistir “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça”. Os cenários de época são muito bem aproveitados para construir uma atmosfera tenebrosa, algo bem semelhante com o que vemos em “O Lobisomem”.

Porém, esse tom gótico logo é quebrado por momentos inusitados e de comicidade. E as cenas cômicas ficam realmente divertidas por conta do elenco carismático. Particularmente, se o filme desse mais enfoque nos sustos é no suspense, seria uma das obras  de terror mais incríveis já adaptadas. 

Em última análise, o público adorou o trabalho do diretor Tim Burton. A prova disso é a classificação notória que o filme alcançou no Rotten Tomatoes, de 80% de aprovação por parte da audiência em uma escala de mais de 250 votos. Por fim, essa adaptação é verdadeiramente deslumbrante.

Desempenho do filme nas bilheterias? 

O filme custou US$ 100 milhoes, é notório como um orçamento relativamente modesto nas mãos do diretor certo pode render ambientes, roteiros, e performances incríveis. Como resultado, o longa teve um ótimo desempenho nas bilheterias, arrecadando uma bagatela de US$ 206 milhões. 

Ademais, A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça disputou com produções bem famosas a atenção do público. Por exemplo, novembro de 1999 foi o mês de lançamento de filmes bem famosos na época como “Toy Story 2” e “007 O Mundo não é o Bastante”. Apesar do alcance gigantesco, o filme não está nem entre as 10 maiores bilheterias daquele ano. Por fim, “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” foi um verdadeiro sucesso nas salas de cinema da época.

Trilha sonora do filme

Danny Elfman e Tim Burton já trabalharam juntos no filme “Batman” lançado em 1989, no filme “Os Fantasmas se Divertem”, “O Estranho Mundo de Jack”, “Edward Mãos de Tesoura”, entre outros. A combinação desses dois artistas traz resultados incríveis e no filme “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça” não poderia ser diferente.

Podemos começar pela faixa ”Introduction” que cria um clima fantasmagórico logo no início do filme. Algo muito característico em algumas faixas é o ressoar angelical de uma voz feminina, como por exemplo “Young Ichabod”, “Sweet Dreams”, “Into The Woods”, entre outras. Esse tipo vocal (Contratenor) parece criar um misticismo na narrativa, tornando-a ainda mais envolvente.

As melodias fogem da repetitividade, evitam que a nossa experiência se torne cansativa. O maestro Danny Elfman contribuiu grandiosamente para o sucesso dessa adaptação e virada do milênio marcou o cinema com chave de ouro.

Conclusão

Os magnatas do filme morreram não simplesmente pela lâmina do Cavaleiro sem Cabeça mas pelas suas próprias ambições, luxúrias e medos, isso me chamou bastante atenção. Cada um carrega consigo um pecado, por exemplo o Reverendo Steenwyck que fornicou com Lady Mary Van Tassel, esposa de Baltus Van Tassel. Ou até mesmo Baltus Van Tassel que não ofereceu ajuda à família desamparada de Lady Mary anos atrás.

No fim das contas, a desolação que recaiu sobre os magnatas de Sleepy Hollow nada mais foi do que fruto de seus próprios pecados. Além disso, a razão que tece os pensamentos de Ichabod e o sobrenatural presente em Sleepy Hollow cria um contraste fascinante. 

A colisão do sobrenatural e a realidade no filme, expõe o lado cético que está presente em cada um de nós. Nesse sentido, somente quando Ichabod presenciou Bron ser literalmente cortado ao meio, passou a acreditar no que os habitantes daquele lugar falavam. 

Após explorar um lugar desconhecido, batalhar contra o mal encarnado, e se apaixonar, ele se libertou de seu ceticismo e arrogância. A jornada de transformação de Ichabod (Johnny Depp) remete ao épico conto do herói, e nos ensina a não nos cegar pela arrogância e incredulidade. Até a próxima!

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